domingo, 29 de dezembro de 2013

A MORTE

Então Almitra falou, dizendo: "Gostaríamos de interrogar-te a respeito da Morte."
        E ele disse:
        "Quereis conhecer o segredo da morte.
        Mas como poderíeis descobri-lo se não o procurardes no coração da vida?
        A coruja, cujos olhos, feitos para a noite, são velados ao dia, não pode descortinar o mistério da luz.
        Se quereis realmente contemplar o espírito da morte, abri amplamente as portas de vosso coração ao corpo da vida.
        Pois a vida e a morte são uma e a mesma coisa, como o rio e o mar são uma e a mesma coisa,
        Na profundidade de vossas esperanças e aspirações dorme vosso silencioso conhecimento do além;
        E como sementes sonhando sob a neve.
        Assim vosso coração sonha com a primavera.
        Confiai nos sonhos, pois neles se ocultam as portas da eternidade.
        Vosso temor da morte é semelhante ao temor do camponês quando se encontra diante do rei, e este estende-lhe sua mão em sinal de consideração.
        O camponês não se regozija, apesar do seu temor, de receber as insígnias do rei?
        Contudo, não está ele mais atento ao seu temor que à distinção recebida?
        Pois, que é morrer senão expor-se, desnudo, aos ventos e dissolver-se no sol?
        E que é cessar de respirar senão libertar o hálito de suas marés agitadas, a fim de que se levante e se expanda e procure a Deus livremente?
        É somente quando beberdes do rio do silêncio que podereis realmente cantar.
        É somente quando atingirdes o cume da montanha que começareis a subir.

        É quando a terra reivindicar vossos membros que podereis verdadeiramente dançar."

In "O Profeta" - GIBRAN KHALIL GIBRAN

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