segunda-feira, 25 de julho de 2016

Impressões

O Grande Arquiteto Do Universo usa um compasso misterioso, simples e complexo, paradoxal ao nosso entendimento, mas perfeito em seu desenho. Já foi dito que “Deus é um círculo cujo centro está em toda a parte e a circunferência em parte alguma”, a partir da cada ínfima partícula e estendida ao infinito. E isso é justo e perfeito, sem ou com a nossa compreensão. Vislumbramos essa exatidão sem erros, onde o recolhimento, mesmo pela destruição, tem o seu porque, a escuridão que nos reforça a Luz opera no equilíbrio do movimento constante e não para obscurecer as almas.
A falta de chão que nos dá a incapacidade de compreender o todo, isso é cegueira nossa, humana, fraquezas que nos esforçamos em vencer utilizando as medidas das nossas capacidades, e para a retidão da nossa conduta, para a doma dos impulsos irracionais usamos o esquadro da ética e da moral. Temos uma batalha por dia, iniciada no raiar do sol e uma guerra por vida, que é contra um dragão poderoso que se chama ego e só dá trégua ao anoitecer de cada encarnação. E nessa caminhada temos muita sorte quando encontramos irmãos do bem.
Do primeiro passo vendado, onde me senti já vulnerável, vou lembrar para sempre de duas vozes, uma masculina e uma feminina que me passaram uma paz e uma confiança  reconfortantes, uma segunda caminhada no escuro e uma pausa para começar a refletir sobre o que estava fazendo ali, senti meu coração batendo forte, ouvi a voz que oferecia ajuda e conforto a uma irmã com frio, ia crescendo minha emoção, mista de bem estar e expectativa aflita das provas que estavam por vir.
Primeiro foi o testamento na Câmara da Reflexão, desvendar os olhos por um momento, que seria um alívio, mas que exigiu mais olhar para dentro. Quais os meus deveres? Devoção, obediência, gratidão, amor, respeito, honra, palavra. As advertências. O juramento, afinado com os dizeres sobre o V.I.T.R.I.O.L., entrega incondicional à verdade, ao que é certo, ao respeito e discrição, ao reverente silencio e diligente trabalho em prol dos necessitados. Uma certeza de que não é pequeno o esforço para entrar ali, ficar ali, mesmo por poucos instantes, a pirâmide, o galo, o pão, a ampulheta, o sal e a água, a lâmina e a pena e o tinteiro, o crânio, a vela, minha mão sobre a mesa, minha cabeça pesada, um espelho invisível me mostrou a mim mesmo uma verdade dura, firme, irreversível. Meu nome e minha assinatura. Tudo simbólico e tudo real, as rédeas das minhas responsabilidades, só as minhas próprias mãos podem segurar, mas não estou sozinho.
Veio depois, a escuridão novamente, dessa vez total. Perdi a noção do tempo, encarei alguns medos, orei e mentalizei tudo de mais importante que há na minha vida, os verdadeiros motivos por buscar tudo aquilo. A certeza de que é para o meu aprimoramento e a melhoria da minha atuação em todos os momentos.
As vozes ao fundo questionavam, conduziam para um destino diferente, novo, um renascer, que era pedido por mim e mais 3 irmãos futuros aprendizes, e testados por quem tinha esse poder, os Mestres, Venerável, irmãs e irmãos maçons de verdade preparavam o processo. Eram pessoas que eu já conhecia, em sua maioria, pelo menos os seus rostos, reconheci suas vozes, mas estavam revestidos de papéis atemporais, encarnações vivas da hierarquia da arte real.
Me senti numa queda, pedi para estar ali, para ser aceito, jurar e honrar minha palavra, poucas vezes na vida senti algo parecido. Epifania e catarse. As provas, da água, sua limpeza e frescor, do fogo, seu símbolo de purificação do espírito, o salto no desconhecido, de novo com uma confiança cega e absoluta em quem me amparava, o calor no coração, as repetidas afirmativas, “Sim”, Sim, “Sim”, a água doce e amarga na taça da verdade, o corpo no caixão, mais uma advertência da punição à traição, a lembrança de São João Batista, as três batidas nos altares, os três, os quatro degraus, tudo passou muito rápido. Os sons, chaves, metais, portas e madeiras, a música, os aromas, de quem estava perto, dos incensos.
Chegou a hora então, como Neófito, de receber a luz, a nossa frente estava o Templo, reconheci a maioria dos símbolos. Entre Colunas, vi todos encapuzados, espadas apontadas para nós não como ameaça, mas como emissão de boas energias e bons votos. Logo em seguida, os rostos iluminados, todos transmitiam satisfação e alegria em receber novos irmãos a quem vão conceder aos poucos, nas doses e no tempo certo, fragmentos do grande conhecimento que tem, de história, de ritos e rituais e da experiência de ser Maçom. De joelhos , sob a espada, no altar dos juramentos, confirmei minha iniciação.
Por fim, acompanhar a primeira sessão, receber a palavra, a esquadria, os sinais, os gestos e o abraço fraternal. Começar a polir a pedra bruta com a orientação do 2º vigilante, conhecer a hierarquia e a ordem dos movimentos e admirar a arte, debaixo da abóboda celeste e sobre o mosaico quadriculado, tudo belo e harmonioso. Ouvir as boas vindas do Orador, acompanhar a condução perfeita do Venerável Mestre.
Irmãos Maçons, sou o I.’. M.’. Luís, Aprendiz e daqui por diante estou à total disposição  da Augusta e Respeitável Loja Maçônica Mista Triangulo da Fraternidade.
Or.’. de Porto Alegre, 11 de Maio de 2016 da E.’. V.’.
Ir.’. Luís Fernando
 Apr.’. M.’.


Bibliografia:BARRETO, Edgar Mena. Manual de Instruções Maçônicas de Aprendiz. Porto Alegre, 1999, 2ª edição
Ritual do Aprendiz Maçom; Loja Maçônica Mista Triangulo da Fraternidade
http://www.noesquadro.com.br/