quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

A CHAMADA DA MAÇONARIA

Todo aquele que sente os ideais do Franco-Maçonaria deve ter se perguntado, alguma vez, por que esta Ordem o atrai, e o que nela o retém. Em realidade, somos muitos os que fazemos esta pergunta continuamente e formulamos respostas que não afetam senão as bordas do problema, porque sempre há um elemento que se nos escapa: algo intangível e indefinido que podemos localizar, definir ou analisar, apesar de que é absolutamente real, de que está definido de um modo perfeito, e que existe, sem dúvida alguma, algo que exerce inconfundível sedução; algo que, ao mesmo tempo em que acalma o homem interior, aumenta-o em grau extraordinário algo misterioso, sedutor e estimulante; que nos impele perpetuamente para diante, como finito impulso para um infinito objetivo.
Mais notável, entretanto, é que, muito tempo antes de sabermos o que é, na realidade, a Franco-Maçonaria (que, não obstante, sentimos no fundo de nosso coração), já nos damos conta disso. Pois, ainda que a maioria dos candidatos à Maçonaria tenha uma ideia vaga e geral de que esta é digna de respeito e creem que é uma venerável instituição que inculca elevados ideais relativos à vida, não lhes é possível saber muito mais acerca desta associação. Pouco ou nada pode saber o profano de suas cerimônias, embora saiba que estas existam. Não obstante, a absoluta ignorância dos ensinamentos e métodos da Franco-Maçonaria – não é obstáculo para que os homens se iniciem em sua Fraternidade.  Tão pouco explica o problema, a cínica afirmação de que à atração que os homens sentem pela Ordem, se deve mera curiosidade, pois quase todos os MM sabem, por experiência própria, que isto não é verdade.
Em todas as demais coisas costumamos olhar, antes de dar um salto e procuramos nos informar antes de dar um passo definido ou lançar-nos a alguma empresa. A mais elementar prudência nos aconselha que averiguemos em que consiste a instituição a qual desejamos nos aderir, ou o plano que havemos de seguir. Não obstante, pouco ou nada podemos saber de antemão a respeito da Franco-Maçonaria, pois até os mesmos MM seriam as últimas pessoas do mundo a revelar algo referente a eles ou à sua instituição. Apesar de tudo isso entra em sua Fraternidade convencido, plenamente, de que não vai por mau caminho, e nos submergimos nas trevas sem sentir escrúpulos nem timidez, respondendo a uma chamada interior que não sabemos explicar nem compreender.
Ainda mais; sabido é que nenhum homem sensato é capaz de opinar sobre os assuntos da corrente da vida, antes de haver feito um detido exame.  Pois bem, quando se trata da Franco-Maçonaria, ocorre o contrario, porque todo costumou ter uma ideia favorável e preconcebida de nossa Ordem que e a que nos induz a penetrarmos nela. Isso prova que a Franco-Maçonaria tem um selo característico que a diferencia de todas as demais coisas do mundo, mesmo antes que dê começo nossa vida maçônica.
No entanto, antes de sondarmos profundamente este fator misterioso e intangível que constitui o coração e a entranha da atração que nos impulsiona para a Maçonaria, é conveniente que passemos revista a uns quantos dos demais aspectos desta atração, cujo isola- mento e exame não são difícil fazer.
O ritual simples, dignificado e belo, já desapareceu quase por completo do mundo moderno.  É certo que a Igreja Católica e a alta Igreja Anglicana conservam ainda grande parte do ritual. Na vida cívica, subsistem ainda algumas cerimônias, como as de abertura do Parlamento, coroações, jubileus, inaugurações de está tuas e algumas outras, porém estes acontecimentos são relativamente escassos, além disso, nada há em sua natureza que forme parte da vida regular do cidadão corrente. Com efeito, durante muitas gerações, a crescente influência do materialismo procurou eliminar de nossa vida as cerimônias, como se tratasse de uma superstição. 
Não cabe dúvida de que esta tendência é sã e boa, enquanto impedem que os homens tomem parte em cerimônias ritualísticas que, não tendo senão aparato externo, não se baseia em nenhuma realidade interna, nem se fundamentam no que, nos tempos primitivos, recebia o nome de magia e se considerava como a chamada, para que estudassem as forças mais ocultas e internas da natureza, e os seres pertencentes a um mundo distinto do nosso.  
No entanto, é indubitável que quase todo o mundo abriga um secreto amor pelas cerimônias ou o ritual. Prova disso é a adesão do povo a certas instituições, como por exemplo, a extravagante e desconcertante guarda de corpos, as procissões do Lorde Maior, as perucas dos Juízes e coisas deste estilo. O entusiasmo pelas exibições históricas, assim como os caprichosos vestidos que as mães idealizam para seus filhos, e a perene fantasia do traje dos jovens e dos anciãos, são outros tantos exemplos deste irreprimível amor pelas cerimônias. Este é, indubitavelmente, um dos principais atrativos que tem a Maçonaria para a maioria de seus iniciados. Há na vida moderna tanto bulício, tanta precipitação, tanta barafunda, tanta indecência, tanta o atividade, tanta insistência pelos direitos próprios, tão pouca consideração pelos sentimentos alheios e tão pouca dignidade ou cortesia que brota espontaneamente de bondosos corações, que nos causa extraordinário prazer, o fato de entrar na atmosfera tão oposta das Lojas, onde reina a dignidade e a ordem em vez da indigna inquietude a que estamos acostumados no mundo externo. Maravilhoso tônico para os nervos fatigados pela tensão da vida ordinária e a entrada no recinto de uma Loja maçônica, onde tudo é quietude, ordem e paz; onde cada cargo da Oficina e cada irmão têm o seu lugar fixo e o seu dever prescrito; onde ninguém usurpa as funções alheias, onde uma vez que tenha sido eleita ou determinada à forma do drama, todos cooperam harmoniosamente e de bom grado, para levar a cabo as cerimônias, de tal forma que, se crie o ambiente que algum dia há de caracterizar até mesmo o mundo externo, quando os homens cessem sua disputa, aprendam a lição da fraternidade, e cooperem para a suprema Vontade da evolução, a fim de ordenar todas as coisas, bela, forte e sabiamente. 
  Também é agradável o gozo estético que produz o tomar parte em uma cerimônia bem dirigida, em que todos os irmãos, não só tenham estudado intensamente os atos e palavras que lhes correspondem, mas também, que compreendam sua significação e ponham o melhor de sua alma em tudo quanto façam ou digam. A própria disposição da Loja, a ordenada e digna colocação das colunas, os Oficiais e suas insígnias especiais que enfeitam a assembleia com pinceladas de cores agradáveis, a situação das Luzes e todas as demais coisas adjuntas com as quais estamos familiarizados, contribuem para formar “um tout ensemble” que conforta a vista, agrada aos sentidos, apraz à mente, satisfaz à natureza religiosa e, ao mesmo tempo em que contrasta com a maioria, com a maior parte de nossa vida diária, e uma esperança para o porvir do nosso mundo. 
  Outro elemento de grande beleza que move todo aquele que sente a poesia e a música, é o esquisito ritmo de eufonia de nosso antigo ritual, cujas palavras e frases não há igual na literatura inglesa com exceção da Bíblia e das obras de Shakespeare. O antigo provérbio inglês de que “uma coisa bela proporciona gozo eterno” pode aplicar-se às simples e profundas palavras de nosso ritual, porque, apesar de serem ouvidas continuamente, todos os anos, nas diferentes cerimônias, nunca perdem seu atrativo, nem cansam, nem envelhecem; melhor, sua beleza, sua majestade, sua significação, aumentam à medida que nos familiarizamos com elas que são verdadeira prova de suprema literaturas de satisfação ética e de religioso significado. 
  Quão admirável é a tradição de que as palavras de nosso ritual hão de repetir-se sem acrescentar, omitir nem alterar nada, porque, a maioria das sentenças; foram redigidas de torna tão perfeita que, qualquer variação romperia sua sonoridade e corromperia sua significação. 
  A formosura da linguagem contra boa tanto com os demais fatores para que as palavras do ritual os produzam intensa impressão. Estes amplos e profundos ensinamentos não devem seu poder a sutilezas metafísicas nem a análises filosóficas, nem a sua novidade intrínseca, senão melhor, à sua simplicidade, concisão e universalidade. Propriedade comum de os sistemas religiosos conhecidos e a identidade dos preceitos éticos, não obstante, o método de apresentação às antigas verdades de moral e de amor fraternal, assim como a franqueza, a restrição, a grandeza e verdadeira sinceridade do ritual maçônico, com seu transcendental significado, fazem com que estes ensinamentos nos pareçam sempre novos, vividos, inspiradores e práticos. 
   Muitos intelectuais modernos que acha m curas, estreitas e anticientíficas as ideias de certas ortodoxias religiosas, aceitam com verdadeira complacência e carência absoluta de dogmas teológicos e de outros gêneros de que se jacta a Maçonaria. Grande parte dos pensadores de cultura média reconhece a fraternidade, aceitam, uma lei ética e um código moral baseado na fraternidade; porém não deriva esta de preceitos religiosos externos, senão dos ditames de seus corações e da inata benevolência que sentem por seus camaradas. A Franco-Maçonaria expõe estes ensina mentos com tanta universalidade e catolicidade, que os homens pertencentes a qualquer dos credos assim como os que não aceita m nenhum podem aceitá-los sem escrúpulos, reconhecendo-os como norma de verdade que eles conhecem por experiência interna, sem necessidade de apoio de muletas teológicas. 
   Além disso, já não é possível negar que nos tempos modernos existe muita gente que não professa uma fórmula definida de crença religiosa, quiçá, porque está convencida, de que não pode aceitar honradamente os credos que satisfaziam os homens ao passado. A necessidade de expressão de fé religiosa que esta gente experimenta sem podê-lo evitar e que todos sentimos praticamente, pode satisfazer-se em grande parte com a sinceridade simples da ética maçônica e sua declaração de fraternal benevolência. 
 O conjunto desta ética, verdadeiro coração e nervo da Franco-Maçonaria, constituem a palavra Fraternidade, a palavra sem par em todos os idiomas. Se o maçom a aceita sem evasivas, equívocos nem reservas mentais de nenhuma espécie, alcançará o pleno desenvolvimento maçônico; porém, se a rechaça, não terá direito de penetrar no sagrado recinto do Templo ainda que ostente o mais elevado dos graus. A fraternidade é para o maçom o que a luz do sol é para os seres vivos; e, assim como a luz do sol pode dividir-se em infinitos matizes e cores, e seu poder transmutar-se em incontáveis forças e manifestações de vida, assim o espírito de Fraternidade resplende no coração do homem, pode iluminar sua natureza e inspirar suas ações de modos tão infinitos como as areias do mar e tão diversos como as flores do campo. O espírito fraternal é tão penetrante como o éter existente em todas as formas de matéria, porque se infunde em toda a vida do franco-maçom, iluminando-a com sua Sabedoria, sustentando-a com sua Força e fazendo com que sua Beleza se irradie até os confins mais longínquos da terra.
 Os homens seguidamente se veem obrigados a agir sob normas éticas de nível inferior às que desejariam por inumeráveis razões. Os motivos a que se deve este estado de coisas são sutis e complexos.  Assim, por exemplo, muitos temem que sua bondade se tome por debilidade ou a sua generosidade por sentimentalismo. Outros têm medo de que se acredite que são mais virtuosos que seus camaradas e, violentando suas ideias e emoções,  não  desenvolvem a virtude que sentem pulsar em seu  coração. Muitas vezes os homens não se atrevem  a  realizar  um  ato  virtuoso  em  público,  porém experimentariam  grande  alegria  se  pudessem  realizá-lo sem que ninguém se inteirasse dele. 
 A    Franco-Maçonaria proporciona aos    homens deste gênero – dos quais há muitos no mundo  - um  meio de  expressão  seguro  e  secreto.  O  fato  de  que  a  Loja esteja a   coberto   de   profanos  - o   que    constitui   o primeiríssimo e constante dever de todo o franco-maçom -  dá  uma  sensação  de  segurança  e  de  reserva,  pois impede que possa penetrar os olhares do  mundo externo e proporciona ao maçom a  oportunidade de "soltar" as rédeas que lhe restringem e de ser seu eu real, esse Eu Superior que teme apresentar-se livre e francamente, em todas as partes,  menos nos sagrados recintos do Templo, onde os homens confiam nele e lhe chamam de Irmão. Porque o nome de Irmão é altamente mágico. 
 Assim como  “todo o  mundo é um  cenário e todos os  homens  são  comediantes”,  assim  o  maçom  tem  que representar um papel em sua Loja, na qual pode tirar a falsa  máscara que, forçosamente, há de levar no mundo  e  colocar  a outra  muito  mais  nobre de  maçom.  E desta maneira, ao mesmo tempo em que se regozija de  que o modo de  maçom  lhe  permita  falar  e  agir  como  muitas vezes  -  houvesse  desejado  fazer  no  mundo, se tivesse atrevido,  encontra  em  sua  Loja  tal  oportunidade  para manifestar  qual  a  verdadeira  natureza  de  seu  ser  que, raríssimas vezes, poderia encontrá-la em outra parte. De maneira que o elemento de ficção, associado a algo de caráter dramático, torne possível que o homem real seja, por uns momentos, aquilo que pretendia ser. 
 Deve haver  muitos MM que anelam a chegada de um dia em que seja possível sentir e agir no mundo externo do mesmo modo como o fazem na Loja, e em que as normas  desta seja m as do  mundo. A  bondade, a tolerância, a benevolência e a amizade mútuas, a cortesia e a ajuda, a camaradagem e a fidelidade são os verdadeiros elementos de  nossa  obra  na  Loja, são  os fundamentos do Templo que, cimentados  na  virtude,  há de ser erigido pela Ciência, cada vez com maior Sabedoria. Porém, estas coisas não podem existir mais que  parcialmente no mundo, porque  o  coração  dos homens é ainda duro e a ignorância lhes cega. Por isto, termos  de  cerrar  à  força nossas Lojas,  para  evitar que suas  sagradas  coisas  sejam  maculadas  e  que  seja manchada a alfombra do Templo. 
 O ideal da Maçonaria constitui um fator imenso na vida  de  todo  o  verdadeiro   maçom,  porque  se  enraíza mais profundamente do que qualquer  “sprit de corps” e é o espírito  mesmíssimo da vida.  Para o  maçom, a Ordem e uma Divindade que não pode ser  maculada jamais com a mais leve mancha, é uma estrela eterna, um imóvel sol dos  céus,  um  centro  do  qual  não  pode  afastar -se,  a menos que seja falso consigo mesmo. 
 Quanta  poesia  encerra  o  nome  da  Ordem!  Os homens  têm  sentido  através de  todas  as  épocas  sua ideologia   em   todos   os   países   do   mundo   têm   feito cerimônias semelhantes às que fazemos agora e às que os filhos dos nossos filhos ensinarão a seus descendentes. A celebração dos ritos maçônicos remonta à noite dos tempos pré-históricos. As cerimônias da  qual  as  nossas  se  derivam,  foram  celeradas  por homens de  todas  as  raças  e  centenas  de idiomas  e dialetos, em cli mas escalonados desde o tórrido Equador até  os  pólos  gelados,   na  cidade,  bosque,  e m  férteis planícies  e áridos  desertos  e  sobre  as  montanhas mais altas e os vales mais profundos. A Franco-Maçonaria tem existido  onde  quer  que  hajam  vivido  os  homens  e suas eternas tradições e “landmarks” tem sido transmitidos de geração em geração, enlaçando o passado com o presente, e este com o futuro em uma humana solidariedade e ligando     tudo em uma indissolúvel umidade  com  o  GADU  que do centro traçou  as  linhas em  que   temos  de  construir   seu   Sagrado   Templo  e ordenou a seus fiéis obreiros que trabalhassem nele  para completar a obra de Suas Divinas Mãos. 
  A poesia da Franco-Maçonaria sobrepuja todas as outras  poesias;  porque  estas  são  temporais  e  fugazes, enquanto que aquela não tem em  conta o transcorrer do tempo, nem as mutações modificam  em  nada  seus antigos e imutáveis  fundamentos (landmarks). Que mistério  encerra  isto?  Que   mistério  se  oculta  por  trás destas  singelas e profundas   cerimônias?  Pode  alguém satisfazer  satisfatoriamente  esta  pergunta ?  Será  algum homem capaz  de dar uma resposta satisfatória antes de chegar a ser  mais que homem e de ler estes verdadeiros ss dos quais unicamente ouvimos em nossas lojas os segredos substituíveis? 
  Assim retorna mos como sempre a esse misterioso e  intangível  elemento  que  nos  prende  com garra  mais poderosa que a do leão; e este elemento que  constitui a verdadeira razão para que os  homens se façam Franco-Maçons  e  que  “uma  vez  que  alguém  seja  franco-maçom, o seja para sempre!”  Cada segredo comunicado  é  o  prelúdio  de  ulteriores  segredos;  cada novo  toque  não   é,  em  realidade  senão  as  chaves  de passe  que  nos  abre  a  porta  de  regiões  cada  vez  mais próximas  do  coração  ocultam,  de  que  se  sustenta  o esoterismo da Franco-Maçonaria. 
  Todos os diversos ele mentos de que temos falado em particular, dizendo que fazem chamamentos isolados ao maçom, não são mais que os instrumentos individuais que formam uma orquestra;  considerada em si a grande sinfonia  é  mais  sublime  que  todas  as  partes  apesar  de que  a  harmonia  combinada  destas  é  a  que  a  torna audível. Ela nos murmura coisas que nenhum instrumento  do  mundo  pode  expressar,  a  não  ser  em fragmentos, em sucessões de notas que interpretem na terra,  sub metidas  às  leis  do  tempo  e  do  espaço,  as melodias do céu, as quais só os celestes ouvidos podem escutar em toda sua íntegra. 
  Antes  de  nos  fazemos  Franco-Maçons,  devemos sentir   um   leve   rumor  que,  infiltrando-se  através  dos espessos muros da Loja cerrada, desperte esses tênues estremecimentos  melódicos  em  nossos  corações.  Isto  é o que aviva esse secreto estímulo que nos arrasta para o esquadro,   onde   nosso   primeiro   passo   é   dado   em ignorância, se bem que tendo a certeza interna de que a luz   há   de   chegar  com  toda  a  segurança.  Enquanto damos os nossos primeiros passos secretos, descobrimos  muitos,   elementos   agradáveis   no   Ritual maçônico que nos produzem  estranho assombro e tanta satisfação  que,  jamais  nos  arrependeremos,  de  haver posto  a  proa  para  a  aventura.  As  magníficas  frases antigas,  a  dignidade  e  a  harmonia  dos movimentos, da cor  e  da  eufonia,  comprazem  aos  sentidos  e  às  almas dos  homens  fatigados  pela  tensão  e  peIa distração das coisas mundanas. A ampla e singela filosofia  de vida, a simples declaração de fraternidade,  a ética de fidelidade e amizade, a verdade sem dogmas, a religião sem seita, a  reverência  sem  sacrifícios  da  dignidade,  o  amor  sem sentimentalismo; todos estes são  elementos importantes a contribuírem para despertar a Maçonaria no coração do Maçom.   E   o   gosto   de   viver   em um   ambiente   de fraternidade,  a  oportunidade  de  livrar-se  da  armadura que, por necessidade, há de vestir o homem nos campos de luta do mundo exterior da Loja, o livre intercâmbio de sentimentos fraternais, sem temor às más inteligências e repulsas,  constituem, também, valiosos  elementos  da chamada Maçonaria. 
         Alguns  dos  fatores  que   unem  o  Maçom  com  a Ordem  através  de  laços  que  nada  pode  romper,  nem afrouxar,  são  as  seguintes:  uma  troca  de  máscara,  um novo papel a aprender, um pretexto que e nosso secreto ideal, um  conhecimento antecipado do futuro que temos a certeza de chegar um dia,  uma homenagem gloriosa a uma sublime Divindade, uma submersão no mais grandioso sonho que  o  mundo tem  conhecido,  um  laço secreto que nos  ume  com  todas  as  classes  de homens que  a  terra  produziu  e   uma  tradição  mais  antiga  e venerável que todas as havidas e por haver. 
  Porém,  que  é  a  chamada  em  si?  Todas  estas coisas  não  são  senão  nomes  e  acessórios:  qual  é  a substância  de  que  todas  elas  são  sombras?  Que  coisa há na selva  virgem que chama os seres selvagens? Que são essas sagradas coisas que murmuram as montanha ao ouvido do  homem, das alturas, de forma tão silenciosa e tão sonora, que apaga o estrépito dos demais cânticos da Terra;  essas coisas que o mar sussurra ao marujo; o deserto  ao  árabe;  o  gelo  ao  explorador  dos  pólos; as estrelas ao  astrônomo; a sã filosofia ao observador e os materiais do ofício ao artesão? 
  No homem existe algo que é mais que o homem, o qual se  chama a Franco-Maçonaria. Esta chamada vem do  mais  santo  e  maior  que  nele  existe,  ao  que  só  ele poderá conhecer, quando se converta no Mestre da Loja de  sua   própria   natureza,   quando  chegue  a  ser  ele mesmo. Assim  como o golpe do malhete, que o M dá, repercute  em  todo  o  T,  encontrando  eco  no  ocidente, sul e noroeste e transpassando até mesmo os muros da L  para  chegar  ao   mundo  externo,  assim  também,  a Franco-Maçonaria lança uma chamada  aos mais recônditos  santuários  do  sacratíssimo ser humano;  uma chamada  que  há  de  ser  respondida,  que  não  admite rechaço,  que  lhe  ordena  voltar-se para enfrentar a Luz. Assim  como  todos  os  irmãos  respondem  à  ordem  do M pelo  s,  assim  responde  o  homem  à  chamada da Franco-Maçonaria, ainda que não conheça em que esta consiste,  e  responde  com  sua  vida.  Ele  não pode fazer outra   coisa   que   obedecer;   abandonar   a   empresa   e morrer; ele deve responder e prosseguir na eterna busca da palavra perdida, que não  é  nenhuma palavra, porém algo que está oculto no c. 
  De maneira que, a chamada da Franco-Maçonaria é  complexa  e  múltipla,  ao mesmo tempo em que é simples e única. Na Franco-Maçonaria existem muitas coisas  que hão  de  acalmar  os  anelos  dos  corações humanos, e, no entanto, a Franco-Maçonaria em si, isto é, em sua esplêndida perfeição,  é uma coisa que nunca poderá  encher-nos  até transbordar,  até que o  homem deixe  de  ser  homem,  para  converter-se  em  um  Ser Divino, o que há de ocorrer seguramente, na consumação dos tempos.
        A  Franco-Maçonaria  é  virtude  e  ciência, ética  e filosofia, religião e fraternidade; porém , nenhuma destas coisas, por si só,  é ela. Não há multidão de células que possa fazer um organismo vivo, nem galáxia de estreIas que  possa  formar  um  cósmos,  nem raios de luz que possam fazer um sol. Do mesmo modo, nenhum agrupamento de elementos de beleza ou de fraternidade pode fazer a  Franco-Maçonaria;  esta  cria  todas essas coisas,  dá   ao  ser   muitos  pontos  de  perfeição,   mas continua  sendo   um mistério  que  se  pode  descrever perpetuamente, porém jamais se explicar. A isto se deve que a chamada da  Maçonaria seja o que  é, e que nós a amamos,  porque  o homem é  também  um  ser  que  se pode descrever perpetuamente, porém, jamais, explicar-se. De  modo  que,  na  Franco-Maçonaria,  o  homem  se busca   a   si   mesmo,   e   através de   seus   mistérios   e cerimônias, "Júpiter faz aceno a Júpiter".

In "A magia da Maçonaria" – Arthur Powell - 1924

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