sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

TRÊS MAUS COMPANHEIROS



“Diz-me com quem andas que te direi quem és.”

IGNORÂNCIA
Ignorar: não saber, não conhecer. Logo, a ignorância é a qualidade de quem não sabe ou não conhece. (saber=conhecer, ser ou estar informado sobre algo; conhecer=perceber e incorporar à memória algo, tomar ou ter consciência de alguma coisa).

Na ignorância não conseguiríamos, como não conseguiremos, enxergar o caminho real que Deus traçou a cada um de nós na Terra. Todos nós, sejamos crianças ou jovens, adultos ou já muitíssimo maduros, devemos estudar sempre.                                                                             Chico Xavier

O indivíduo ignorante vive ou atua de acordo com a ignorância, muitas vezes baseando a sua vida em preconceitos, superstições, e ideias sem fundamento. Desta forma, ele constrói um mundo falso, com noções errôneas a respeito dele mesmo e do mundo que o envolve.
O influente filósofo grego Aristóteles afirmou: "O ignorante afirma, o sábio duvida, o sensato reflete." Esta afirmação revela que uma das bases da aquisição do conhecimento é ter dúvida. Se existe dúvida, há vontade de estudar, pesquisar, pensar sobre um determinado assunto. Isso é o que faz uma pessoa sábia e sensata. Alguém que pensa que já sabe tudo, não tem motivação para aprender e para evoluir, e revela acima de tudo, uma atitude ignorante. Como diria o sábio filósofo Sócrates: "Só sei que nada sei". Só quem não é ignorante é capaz de fazer uma afirmação dessas. Em outras palavras, o ignorante não faz uso da régua.
Assim como em muitas espécies de seres da natureza, a  vida humana só se tornou perene pela convivência em sociedade, ou seja, em comunidades de indivíduos. Porém, diferente dos demais seres vivos deste planeta, a espécie humana é racional, capaz de buscar a verdade sobre os fenômenos e reconhecer como eles funcionam. Desta capacidade, surgiu a exigência de todos de um mínimo de aceitação do bom senso, da restrição de direitos absolutos em detrimento de deveres relativos garantidos, que se expressam através de regras básicas de conviver, escritas ou não, cuja base é transmitida pela educação. A educação principia em nossos lares, pelas famílias, em suas mais variadas formas, e continua pelo aparato social através do sistema escolar.
Mas o que vemos hoje é a falência progressiva da educação, fruto de uma realidade socioeconômica perversa, onde a maioria da população não tem um ambiente familiar propício e o sistema educacional público falido amarga repetidas baixas nos índices de qualidade. E tudo isto acaba por desaguar em nós, sem o percebermos. Somos testemunhas diárias desta realidade em todos os ambientes sociais: no trânsito, no trabalho, nas redes sociais, etc.
E como se expressa nessa contexto a ignorância? De muitas e variadas formas: motoristas que agem descumprindo a lei de trânsito e demonstram pensar que estão corretos; pessoas que disseminam inverdades sobre outras pessoas ou entidades sem o menor constrangimento; agentes públicos e privados que se corrompem sem o menor pudor. Em suma, não se perde tempo com a verdade. O que vale é a versão mais à mão e mais rápida de ser alcançada. E esquece-se do que o mestre falou: “Procureis a verdade é ela vos libertará”. Enfim, a busca da verdade deveria ser um valor intrínseco em todo ser humano e é o que, em última análise, nos diferencia na natureza.
FANATISMO
Fanatismo é o estado psicológico de fervor excessivo, irracional e persistente por qualquer coisa ou tema. É extremamente frequente em paranoides, cuja apaixonada adesão a uma causa pode avizinhar-se do delírio. Para tanto, faz-se preciso que a conduta da pessoa seja marcada pelo radicalismo e por absoluta intolerância para com todos os que não compartilhem suas predileções. De um modo geral, o fanático tem uma visão-de-mundo maniqueísta, cultivando a dicotomia bem/mal, onde o mal reside naquilo e naqueles que contrariam seu modo de pensar, levando-o a adotar condutas irracionais e agressivas que podem, inclusive, chegar a extremos perigosos, como o recurso à violência para impor seu ponto de vista. Enquanto na ignorância não damos valor à verdade, no fanatismo nós recepcionamos uma verdade pronta como dogma e alienamos a nossa responsabilidade da dúvida e da reflexão. Em outras palavras, o fanático não faz uso do nível.
AMBIÇÃO
Do latim AMBITIO, “dar uma volta”, especialmente para colher votos ou elogios, formada por AMBI-, “ao redor”, mais IRE, “ir”. Poderíamos dizer que o ambicioso é aquele que corre atrás de seus objetivos, o que por sí só não representa uma coisa positiva ou negativa. Correr atrás dos objetivos é a forma mais adequada de produzir MERECIMENTO, ou seja, de reconhecer a validade da lei de causa e efeito. O que importa para nós agora é saber COMO se deu este correr atrás, quais as formas de que nos utilizamos para alcançar nossos objetivos.
A ambição má companheira é aquela contrária ao altruísmo, ou seja, aquela em que os fins justificam os meios; onde as mínimas regras do direito, da educação e do bom senso são postas de lado em favor do nosso exclusivo bem; é o egoísmo clássico. E, infelizmente, é o que estamos vendo acontecer cada vez mais no nosso cotidiano. Somos todos nós que queremos levar vantagem, CERTO: no trânsito, no ônibus, na fila, no trabalho, etc. Não importando se para isso tivermos que cometer  infrações, prejudicar terceiros, corromper a verdade. A verdade? A verdade nós vamos moldá-la segundo a nossa necessidade. Esta é uma muito má companheira. Em outras palavras, o ambicioso não sabe fazer um uso adequado do maço.
Fica o convite: vamos nos preocupar em procurar bom companheiros. No lugar da ignorância, vamos fazer o que podemos para nos instruirmos e não falar de coisas que não sabemos, que não temos conhecimento. Digamos, nestes casos, simplesmente: NÃO SEI, vou procurar me instruir sobre o assunto! No lugar do fanatismo, vamos exercitar a tolerância, no sentido de respeitar as opções alheias que não nos causam nenhum prejuízo, que estão no direito de opção exclusiva do meu próximo. Vamos nos preocupar em reconhecer que a verdade deve ser posta frequentemente em dúvida, que deve ser raciocinada. No lugar da ambição negativa, do egoísmo explícito, vamos correr atrás sim de nossos objetivos, mas respeitando valores éticos mínimos, exercitando o altruísmo, as boas ações com o nosso semelhante e com a realidade que nos rodeia.