terça-feira, 22 de dezembro de 2015

NOSSA GRANDE FAMÍLIA

A reencarnação nos oportuniza incontáveis vivências nas diversas regiões do nosso planeta. Se hoje estamos vivendo no Brasil, os nossos “ontens” poderão ter sido em alguma localidade no Oriente, como também na Europa, África ou, quem sabe, na América. Viajantes do mundo em algum momento na escala do tempo, deixamos a nossa marca, ou no mínimo, um túmulo onde estão os restos de um dos nossos paletós de carne.
Neste ir e vir no plano físico, experimentamos diferentes culturas, raças, religiões. Fomos formadores de tribos, reinos, nações, e tudo o que vivenciamos de bom ou de ruim ficou gravado no arquivo cósmico.
“Sob o céu, uma só família”, afirmou Confúcio.
A Terra é a nossa casa e a humanidade a nossa grande família.
A partir desta grande família, formam-se pequenos e médios grupos, que por afinidade energética ou cármica, se unem, criando pequenas células que também designamos de família.
Então, temos a família carnal ou de sangue, a família constituída por funcionários de uma empresa, a família da nacionalidade, a família de amigos, a família espiritual que podemos chamar de família de santo ou de terreiro, família evangélica, dependendo da religião e tantas outras denominações de famílias.  O conjunto destas pequenas células familiares formará a grande família: a HUMANIDADE.
A diversidade é a característica que impera em todas as famílias, inclusive na humanidade, e se apresenta como caminho libertador. Só poderemos alcançar este caminho quando olharmos para o outro com sentimento de aceitação. Para cada vivência, cada momento ou relacionamento, eis a oportunidade para atingirmos o aperfeiçoamento moral, através da tolerância, do amor ao próximo, do altruísmo e tantos outros sentimentos nobres.
Somos todos irmãos, pois somos filhos do mesmo Pai. Este mesmo Pai que possui diversas designações, próprias da diversidade. Sendo irmãos, devemos agir como tal. Portanto, a prática de valores que resultarão em cooperação, compartilhamento, responsabilidade e serviço ao bem comum. Agindo assim: aceitando a diversidade - como irmãos e não como inimigos.
O meu entendimento, a minha verdade é superior da tua? A intolerância toma força e homens e mulheres de boa vontade serão fatores decisivos para que uma nova postura de humanidade possa nascer.

O Natal está chegando juntamente com a passagem de um novo ciclo marcado pelo calendário. Que chegue 2016, vibração de Oxalá e Iemanjá! A paz, a condescendência, a união entre as diversas famílias. Desejo que a pomba da paz, a pomba de Oxalá esteja vibrando em cada Ori de quem lê este post.
Daisy Mutti Teixeira, MM.

terça-feira, 15 de dezembro de 2015

O DEVER, CAMINHO PARA A REALIZAÇÃO

Os maçons falam muito de Dever. É natural. O aperfeiçoamento individual a que se dedicam implica, inevitavelmente, que identifiquem o que têm a corrigir e definam como fazer a correção, isto é, o que se deve fazer para melhorar.


O caminho do maçom não é uma avenida de direitos, é uma vereda de deveres a cumprir. Mais: um conjunto de deveres que o maçom escolhe cumprir.

Na ética maçónica, em primeiro lugar vem a obrigação, o cumprimento dos deveres - só depois se atenta nos direitos. Porque o caminho é este, não há constrangimentos nem vergonhas na reclamação ou no exercício dos direitos, porque se interiorizou que estes são o reverso correspondente aos deveres que se cumprem. Assim, o cumprimento do dever é preâmbulo do exercício do direito - nunca o oposto.

Esta postura, que é o oposto do facilitismo e do hedonismo tão propalados por certos media comummente referidos de cor-de-rosa, que insidiosamente vão influenciando as mentes mais frágeis ou menos avisadas, é, no entanto, a mais consistente com as caraterísticas da espécie humana - as caraterísticas que nos permitiram evoluir, descer das árvores, deixar de ser meros caçadores-recoletores, nos possibilitaram aprender a produzir o que necessitamos para consumir e até mais do que aquilo que necessitamos, enfim, o que nos fez chegar, como espécie, ao estádio atual (no melhor e no pior...) e nos fará, creio-o firmemente, evoluir sempre mais e mais.

Ao contrário do que se possa levemente pensar, desde a mais tenra infância que o bicho-homem valoriza mais o que deve fazer, o que esforçadamente conquista, o que trabalhosamente obtém, do que aquilo que recebe sem esforço, fonte porventura de prazer imediato, mas arbusto sem raiz sólida para segurar o interesse por muito tempo. Todos aqueles que educam crianças verificam que, ao contrário do que as próprias julgam, elas não apreciam tanto assim - e, no fundo, temem - a liberdade total, a possibilidade de fazerem o que querem, quando querem, como querem. Se isso lhes for temporariamente possibilitado, poderão extasiar-se perante a ausência de limites, mas não tarda muito que procurem o aconchego, a segurança, a certeza das fronteiras, dos limites, das restrições - contra as quais tanto refilam, mas que tão securizantes são. Afinal de contas, quando não há limites, como se pode transgredir? Como se pode forçar barreira inexistente para ir além dela? E o crescimento, a evolução humana, da criança como da espécie, é feito de transgressões, de ultrapassagens de barreiras, de partidas para o incerto apenas possíveis porque se sabe que, se e quando necessário, se pode recuar e voltar para o certo e seguro...

dever é, pois, essencial para a espécie humana. Para o cumprir e, por vezes, para o transgredir, aceitando os riscos e as consequências, mas também buscando o além para lá do horizonte...

Os direitos possibilitam-nos satisfação e conforto, mas são redutores, limitadores, meras pausas agradáveis, obviamente necessárias, mas afinal fatores de simples manutenção, não de conquista ou avanço. Os direitos gozam-se e, ao gozarem-se, fica-se - não se vai, nem se avança. É no cumprimento do dever, com o esforço e o custo que isso necessariamente implica, que se avança, se conquista, se constrói, se vai além.

Gozar os direitos é obviamente bom e agradável. Mas, bem vistas as coisas, cumprir os deveres, ainda que  tal implicando trabalho, custo, esforço, é melhor. Porque no fim do cumprimento do dever acaba por estar sempre um prémio. Por vezes de simples, mas saborosa, satisfação. Outras vezes com vitórias, com prazeres, com ganhos que não se teria se se tivesse mantido no simples gozo dos direitos que já se tinha, sem mais nada fazer. A áurea mediocridade pode ter brilho - mas não deixa de continuar a ser mediocridade...

Os maçons falam muito do Dever, dão atenção aos seus deveres, cumprem os seus deveres. Não por serem masoquistas. Pelo contrário: por entenderem que é assim que conseguem realizar-se. E a realização pessoal é mais do que meio caminho andado para a felicidade...


Rui Bandeira
Fonte: http://a-partir-pedra.blogspot.pt/2013/11/o-dever-caminho-para-realizacao.html

sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

NINGUÉM É MAÇOM, SOMOS RECONHECIDOS COMO TAL...

Um dos grandes dilemas maçônicos é saber se podemos nos intitular maçons (sou maçom!) ou se essa afirmativa não nos pertence e só pode ser feita por outro maçom.
De fato, temos uma visão míope de nós mesmos. Tendemos a uma hipervalorização do nosso eu e, não raras vezes, em detrimento do outro… Explico melhor, fomos educados em um sistema de comparações em que um ponto geralmente é explicado ou visto em relação a outro. Tendemos ao comparativo e, assim, nos sentimos mais ricos quando vemos mais pobres, sentimo-nos mais bonitos quando vemos mais feios e assim por diante.
Ocorre que, por vezes, nossa miopia egocêntrica é tão grande que nos assustamos com nós mesmos ao vermos nossa imagem refletida em um espelho. Tendemos a não acreditar no que vemos… não é possível que seja eu…
Mas, por vezes, forçamos a barra e influímos na imagem do espelho, ou pelo menos no que ela está nos revelando. O feio se torna belo e assim por diante.
Assim, ao nos considerarmos maçons, em detrimento de sermos reconhecidos como tal, chamamos para nós um conjunto de características do “ser maçom” que muitas vezes não apresentamos, não temos.
Claro, sempre se pode invocar o formalismo. Sou maçom porque fui iniciado. Sou maçom porque pertenço à obediência tal… e etc. … Mas isso realmente nos confere a autoridade para nos denominarmos maçons?
O que é ser maçom? É somente ter sido iniciado? Não implica mais nada?
Desde meus tempos de aprendiz escuto um trocadilho muito usual em nosso meio, principalmente quando não gostamos de um determinado Irmão: “fulano é um profano de avental” ou então, quando encontramos qualidades em um não iniciado: “é um maçom sem avental”…
Por certo, ser maçom implica muito mais que ter passado por uma iniciação.
Também reverbera em meu pensamento uma frase muito pronunciada em iniciações: “bem-vindo meu Irmão; esperamos agora que, assim como você entrou para a Maçonaria, deixe que ela entre em você, em seu coração e atitudes…”
Minha angústia, que motiva essa reflexão sobre SER MAÇOM, é a inépcia de nossos métodos “maçônicos” em muitos de nós. Não raro vemos Irmãos colados no grau de mestre, mestres instalados e, até no grau 33º, com exposições diametralmente opostas à nossa filosofia, com atitudes antagônicas ao que se desprende de nossas alegorias e símbolos.
Bem sei que deveria estar preocupado, acima de tudo, com a minha pedra bruta, evitando reparar nas imperfeições de outras pedras, mas isso está se tornando impossível para mim, pelo que peço humildes desculpas aos meus Irmãos, mas não dá para “tapar o sol com a peneira”. Empresto aqui voz há muitos que têm se chocado com palavras e atitudes de outros Irmãos.
Abate-me extremamente estar ao lado de Irmãos que acham que o cume de seus progressos na Maçonaria são os graus colados… ser grau 33º em seu rito, ser mestre “instalado”, estar autoridade maçônica e assim por diante, deixando a humildade, a fraternidade, o carinho e as virtudes trancados no armário, o armário da arrogância e da empáfia.
Abate-me saber que Irmãos são indiciados civil ou criminalmente pelos mais variados delitos ou crimes.
Abate-me ter conhecimento de Irmãos que batem em suas esposas, filhos e familiares.
Abatem-me as disputas para saber quem é mais maçom, quem tem o maior grau… quem foi melhor Venerável Mestre.
Não consigo entender também como alguns insistem em trazer o pior de suas práticas profissionais para o seio das Lojas. Estive em Lojas onde me senti como em um tribunal de justiça, onde se fazia de tudo menos aquela egrégora gostosa de estar entre Irmãos. Todas as palavras eram medidas com cuidado, os pronunciamentos eram cheios de erudição jurídica, menos maçônica. A sessão travava com os famigerados “pela ordem Venerável”…
E o que falar dos Irmãos entendidos em política. Raro é os ver apresentando um trabalho sobre alegoria ou simbolismo maçônico… a tônica é uma só: política.
Voltemos então ao fulcro desta reflexão: sou maçom ou sou reconhecido como tal? O que significa ser reconhecido como maçom?
O que ou quem é o maçom? Há algo que o diferencia de outro ente?
Se nos orientarmos pelos rituais e pela literatura maçônica teremos uma visão superidealizada do SER MAÇOM. Ele mais se parece com um super-homem, dotado de poderes extraordinários. Mas no convívio, no dia a dia, se desfaz essa visão do super-homem. Eu, pelo menos, nunca o encontrei entre nós, não na forma idealizada. Muito menos em mim mesmo…
Está mais do que na hora de nos despirmos do modus profano. De tirarmos as nossas máscaras e darmos um passo em direção ao autêntico “ser maçom”. Está na hora de sermos maçons.
Reconheça que você não é o centro do universo!
Reconheça que outros podem vivenciar mais a maçonaria do que você!
Reconheça que graus de nada servem se seu coração e atitudes não passaram daquelas do grau 1 (pedra bruta)!
Reconheça que ser Mestre Instalado não lhe dá direitos acima de seus Irmãos!
Reconheça que tem pesquisado, estudado e refletido muito pouco em nossos símbolos, alegorias e ritualística!
Reconheça que tem faltado às sessões porque se acha melhor que aqueles que estão sempre lá, gostando ou não, ajudando nos trabalhos em Loja.
Reconheça que se é verdade que Maçonaria não se faz somente em Loja, também o é verdade que sem estar em Loja não se faz Maçonaria! É na Loja que exercitamos o “submeter minhas vontades e fazer novos progressos na maçonaria”. Não se iluda.
Reconheça que a Maçonaria não é clube social, partido político, confraria da cerveja ou o quintal de sua casa, terraço de seu apartamento, sala de seu trabalho, mas uma Ordem INICIÁTICA.
Reconheça, por fim, que você não é dono da Loja.
Deixe que as alegorias e símbolos tomem forma em seu interior e se manifestem em suas atitudes, não em meras palavras.
Deixe que o movimento da egrégora maçônica lhe tome a mente, o coração.
Deixe que a humildade aflore em suas palavras e ações. Não tema, pode baixar a guarda, você está entre Irmãos.
Por fim, receba seu prêmio, não é um avental mais bonito que o dos outros Irmãos ou um título de MI ou 33º, mas, tão somente, uma ação: você é reconhecido como tal, sem sombras de dúvidas!
"Somos todos luz, não é preciso tentar apagar a dos outros"
Publicado na Revista Universo Maçônico.