A primeira coisa que aprende um Maçom após haver sido “vestido” é a atitude maçônica pela qual ele se afirma Aprendiz. De pé, ele se mantém direito, a cabeça erguida, o olhar firme dirigido bem à frente. O braço esquerdo pende ao longo do corpo, enquanto o direito dobrado leva à garganta a mão que afirma: prefiro morrer a trair meu juramento. O peito retrai-se ligeiramente, porque o pé direito está à frente, formando o esquadro com o esquerdo que o apóia.
Essa atitude simbólica resume todo o programa do grau de Aprendiz.
Manter-se orgulhosamente de pé é afirmar-se como homem adulto, havendo ultrapassado a infância ainda prosternada em direção a terra à maneira dos quadrúpedes. O Iniciado renega as tendências animais, porque ele entende tornar-se homem heroicamente. Está prestes a caminhar com o pé direito, que é aquele do discernimento racional, porque se dirige de acordo com aquilo que ele mesmo concebe, e não de acordo com seus pressentimentos, indicações que subordina às constatações positivas (pé esquerdo apoiando o pé direito que avança sempre primeiro para a execução do passo ritualístico).
O braço esquerdo resta passivo, porque o Aprendiz não usa sua sensitividade, fonte de faculdades de assimilação intuitiva. Ele não se beneficiará de dons lunares senão após haver desenvolvido plenamente suas aptidões solares; esses dons residem nele e traduzem-se em talentos que importa cultivar com método. A Arte não faz apelo, primeiramente, à genialidade baseada sobre uma longa experiência, e o iniciante deve dobrar-se à disciplina de uma técnica árida. Longe de pretender seguir sua inspiração, ele tende a submeter-se a regras rigorosas que fazem suas provas. Mantendo sua imaginação em reserva enquanto aprendiz-pensador, é-lhe preciso aprender a raciocinar severamente antes de abandonar-se ao sonho.
É isso que exprime a mão direita dominando o tórax para domar sua ebulição. Nada daquilo que ruge no domínio da sensibilidade deve obter acesso ao cérebro do Iniciado, onde a calma é indispensável às deliberações frutuosas. Um agitado não saberia pensar justamente; conseqüentemente, a aquisição da serenidade cerebral impõe-se desde o começo da iniciação.
Observemos aqui o erro dos processos que exploram uma forma qualquer de exaltação. Os excitantes que provocam um funcionamento artificial do cérebro estão proscritos a quem quer pensar de maneira sã. Nós não pensamos com justeza senão em perfeita calma, calma que os Maçons procuram realizar em Loja, quando se colocam “a coberto”. O cérebro do Aprendiz é, ele também, uma oficina a ser preservada da agitação exterior: ele não funcionará bem se as paixões para aí aportarem qualquer perturbação.
Por sua atitude imóvel, o Aprendiz faz-se reconhecer, de qualquer sorte, passivamente. Limita-se a prestar atenção ao seu juramento de calar-se. Se um gesto idêntico ao seu encorajar-lhe, ele executará o sinal de Aprendiz que desenha um esquadro. Ele afirmará desse modo que seus atos visam à concórdia entre os homens e que eles têm a correção exigida dos adeptos da Grande Obra. Uma resposta dada da mesma maneira incita os Irmãos a que se reconheçam, estendendo a mão. Eles confirmam então seu sinal pelo toque.
Para muitos Maçons, o grande segredo da confraria reside na maneira de apertar a mão entre os iniciados. Os membros das antigas confraternidades jamais traíram esse segredo, visto como mais particularmente sagrado. Os Maçons especulativos foram menos escrupulosos. Tanto é assim que, decepcionados pela Maçonaria especulativa, não quiseram ver aí senão uma mistificação que eles se acreditaram no direito de denunciar publicamente; assim foram divulgados os segredos de forma, de importância, no fundo, muito secundária. Um iniciável pode muito bem se fazer Maçom ele mesmo, em espírito e verdade, sem preocupar-se minimamente com os pequenos mistérios revelados em Loja.
Quando se diz que um Maçom se reconhece por seus sinais, palavras e toques, é preciso entender o que isso significa do ponto de vista esotérico.
Os verdadeiros sinais não são outros senão os atos da vida real. O Maçom agirá sempre equilibradamente, como homem que tende a comportar-se em relação a outrem como ele deseja que os outros se comportem em relação a ele próprio. O Iniciado na Arte de viver distingue-se dos profanos por sua maneira de viver: se ele não viver melhor que a massa frívola ou vulgar, sua pretensa iniciação revela-se fictícia, a despeito das belas atitudes que finge.
As palavras são, ritualisticamente, palavras de passe e palavras sagradas que se assopram no ouvido com precauções minuciosas. Aqui ainda a materialidade do segredo não tem senão um valor mesquinho. A palavra sagrada do Aprendiz relaciona-se ao nome dado pela Bíblia a uma das duas colunas de bronze que flanqueavam a entrada principal do Templo de Salomão. Trata-se da coluna da direita, vista como masculina e ígnea, em oposição àquela da esquerda, tornada feminina e aérea, porque essas duas colunas têm sido comparadas àquelas da travessia do Mar Vermelho, das quais uma era de fogo e via-se à noite, enquanto a outra, monte de nuvens, guiava os israelitas durante o dia.
O que é significativo é a maneira de soletrar, letra por letra, o nome da primeira coluna. O instrutor coloca o neófito no caminho, pronunciando a inicial; depois, espera que a segunda letra seja adivinhada antes de revelar a terceira que deve sugerir a quarta.
Se a palavra sagrada não se pronuncia, é porque faz alusão àquilo que não é exprimível e não se presta a nenhuma exposição doutrinal. É por si mesmo que o Aprendiz deve esforçar-se por pensar; nada poderia, pois, ser-lhe ditado ou inculcado, ainda menos, demonstrado. Se uma noção é expressa diante dele, não o é para que ele aí se detenha, mas, ao contrário, para que ele daí parta na perseguição de suas próprias idéias. Desde que prove que soube refletir e descobrir por ele mesmo aquilo que outros já encontraram, será encorajado a seguir pelo bom caminho através da revelação de uma nova percepção orientadora. Os Iniciados não são depositários de nenhum dogma; eles procuram eternamente a verdade sem preconceitos e não se ligam a nenhuma revelação, a não ser àquela do espírito humano funcionando normalmente nas condições mais favoráveis à percepção não influenciada do verdadeiro. Se, chamado a meditar por mim mesmo, imparcialmente, as idéias que me vêm concordarem com aquelas de outros pensadores independentes, esta concordância é a melhor garantia que posso ambicionar. O que pensam mais universalmente os homens calmos, refletidos e aplicados na procura da verdade reúne o máximo de garantia do verossímil, sobretudo se se tratarem de pensamentos profundos, percebidos diretamente pelo pensador. É o pensamento espontâneo, mais precioso em sua originalidade nativa, anterior à expressão que o deforma. Este pensamento aparece vivo em sua mobilidade difícil de apreender, enquanto o pensamento tornado comunicável deveu ser parado, imobilizado, petrificado, logo, morto.
Os profanos não trocam senão pensamentos mortos; aqueles dos Iniciados devem possuir a vida. Expressos, eles correspondem à primeira letra da palavra sagrada, advertência que evoca a segunda letra que o neófito deve saber descobrir por si mesmo. Um iniciado nada inculca; ele dá a refletir, ajudando a adivinhar e a discernir. Em iniciação, o instrutor não afirma nada: ele coloca as questões à maneira de Sócrates, a fim de fazer o intelecto do interrogado parir aquilo que traz em gestação. É em nós, na profundidade obscura do poço de nossa consciência, que se esconde a verdade tradicional; ela não surge jamais à luz do dia e recusa expor-se à curiosidade das multidões profanadoras. Convém não falar dela senão por alusões discretas, de onde as precauções observadas para comunicar a palavra sagrada.
O toque é triplo. Ele equivale à confidência: Eu conheço os mistérios do número três. Esse número é o primeiro da série sagrada; é por ele que se inaugura o estudo da filosofia numeral, porque o Ternário é mais acessível que a Unidade que, logicamente, deveria ser aprofundada primeiro. Três é, aliás, o primeiro número construtivo, porque uma só pedra não constitui, ela sozinha, uma construção; quando uma segunda pedra é justaposta à primeira também não há começo de construção; mas, desde que uma terceira pedra se superponha às duas primeiras, uma parede começa a nascer.
Convém também chamar a atenção do Aprendiz Maçom sobre os três pontos ∴ que caracterizam sua assinatura. Se ele quiser legitimar esse ternário, não deverá jamais se deixar ir até a parcialidade, porque os dois pontos inferiores representam as opiniões opostas dos adversários em contestação. O Iniciado deve lembrar-se dos gladiadores de sua segunda viagem: se ele tomasse partido numa discussão, faltaria ao seu papel de juiz. Em presença de opiniões contraditórias emitidas diante dele com sinceridade, a sabedoria dá-lhe a supor que existe algo de verdadeiro e de falso em cada uma das teses sustentadas; sua tarefa, desde então, é a de discernir o forte e o fraco de ambos os contraditores e chegar a caminhos conciliadores figurados pelo terceiro ponto mediano e superior.
Se, sob esse último ponto de vista elementar, a lei do Ternário for compreendida e aplicada como debutante, ele estará em excelente caminho de aprofundamento progressivo no mistério dos Números.
Oswald Wirth — Os Mistérios da Arte Real — Ritual do Adepto