quinta-feira, 25 de agosto de 2011

QUARTA PALESTRA


Quarta Palestra
Realizada em 27 de junho de 2009



PARTE  IV – O MUNDO DO DESEJO E AS ATIVIDADES POST-MORTEM
  1. INTRODUÇÃO
No mundo ocidental a morte é um fato que traumatiza, pois um grande número de pessoas vêem a morte como o fim de tudo, diferentemente de um número bem menor de pessoas que vêem a morte como uma transição e como parte de um processo culminando no renascimento. Em um bom número de religiões, especialmente as orientais, há crença no renascimento. No mundo ocidental, que tem se mantido na liderança do desenvolvimento tecnológico, essa crença está longe de ser majoritária, especialmente no próprio cristianismo, o que sugere que haja uma possível correlação entre a não aceitação das leis do renascimento e conseqüência e o desenvolvimento material. O CONCEITO nos fornece a chave para essa questão, em seu Capítulo IV, quando fala do vinho como fator da Evolução. Quando a humanidade atingiu a presente época da evolução da Terra, a Época Ária, e teve de enfrentar conscientemente a existência no Mundo Físico, encontrou condições muito adversas, especialmente se essas condições forem comparadas com as que prevalecem hoje. O progresso material tem crescido exponencialmente e as condições de vida se tornado muito mais amenas que as que prevaleciam em um passado remoto. Além disso, a aquisição de consciência no Mundo Físico tinha sido prematura, conforme mostramos na palestra anterior, quando falamos dos Lucíleres. E, mais ainda,  estava recente na memória da humanidade a sua condição de um habitante dos mundos superiores. Para conseguir que os seres humanos fizessem a devida apreciação da existência física concreta foi necessário privá-los, durante alguns renascimentos, da recordação da existência espiritual superior. O conhecimento das Leis do Renascimento e de Conseqüência não convinha, naquele momento, ao desenvolvimento do homem, pois este não poderia se dedicar inteiramente à conquista do mundo material. Um novo produto foi adicionado à alimentação humana, o vinho, por seu efeito restritivo sobre o princípio espiritual do ser humano. Essa medida teve a aprovação de Cristo, sendo significativo que seu primeiro ato tenha sido o de transformar a água em vinho, conforme nos relata o Evangelho de João.
As necessidades evolutivas agora são outras. A humanidade já atingiu elevado nível de desenvolvimento material, embora sua utilização ainda esteja restrita às classes de maior poder aquisitivo e a distribuição da riqueza não seja equitativa. A prevalência do material sobre o espiritual é uma das principais razões para essas distorções e torna-se cada vez mais necessário que a humanidade se reconcilie com o conhecimento daquelas leis de renascimento e conseqüência. Desse modo poderá compreender melhor o processo evolutivo, cooperar com ele e se libertar de um materialismo acérrimo que obstaculiza seu progresso espiritual.
  1. A MORTE
Quando ocorre a morte, o corpo vital, o corpo de desejos e a mente podem ser vistos abandonando o corpo denso com um movimento em espiral, levando com eles a essência de um átomo denso, que permanece com o Ego durante toda a sua evolução, desde seu início no Período de Saturno. É o chamado átomo semente, que serve de núcleo para um novo corpo denso na aurora de uma nova vida na Terra. Durante a vida, esse átomo semente está situado no ventrículo esquerdo do coração, próximo do ápice.
Cada um dos quatro corpos do ser humano possui um átomo semente. O átomo semente do corpo vital situa-se, quando o ser está em consciência de vigília, no plexo solar. O do corpo de desejos situa-se no vórtice do corpo de desejos que, em vigília, radica-se no fígado. O da mente, também no estado de vigília, encontra-se no seio frontal. Os quatro átomos semente são unidos por um cordão, chamado de cordão prateado, composto de três segmentos: um de matéria mental, unindo o átomo semente da mente ao átomo semente do corpo de desejos; outro de matéria de desejos, unindo o átomo semente do corpo de desejos ao átomo semente do corpo vital e um de matéria etérea, unindo o átomo semente do corpo vital ao átomo semente do corpo denso (consultar o Dicionário Rosacruz e o livro Temas Rosacruzes, vol II). Os animais também possuem um cordão prateado, mas o segmento de matéria mental está ligado a um Arcanjo, o Espírito Grupo,  a ele pertencendo.
No que diz respeito ao envolvimento do cordão prateado no processo, há uma grande semelhança entre o sono e a morte. Pois em ambos os casos, o Ego é visto saindo de seu corpo levando os veículos superiores, a mente e o corpo de desejos, saindo também o cordão prateado com os átomos semente do corpo vital, de desejos e mental. Durante o sono, o corpo vital permanece junto ao corpo denso. No caso de um Auxiliar Invisível, seus éteres superiores saem com o Ego e assim o Auxiliar pode estar consciente e atuar nos Mundos Invisíveis. O cordão prateado permanece íntegro.
Quando se dá a morte, resultante do colapso do arquétipo que mantém a vida, o corpo vital abandona o corpo denso junto com os veículos superiores. O cordão prateado se rompe na junção com o coração e abandona também o corpo denso. Quando trata da velhice, em seu Capítulo 12, o Eclesiastes faz referência ao cordão prateado, dizendo: “antes que se rompa o fio de prata”, ou seja, antes que se dê a morte. A junção do segmento etéreo do cordão prateado com o segmento de matéria de desejos é mantida, após a morte, por cerca de três dias e meio, para permitir a leitura do panorama da vida anterior pelo Ego. Essa junção tem a aparência de dois seis invertidos, como nos relata o CONCEITO. As imagens da vida que ora termina estão gravadas nos éteres luminoso e refletor, que se encontram ligados ao átomo semente do corpo denso. É a leitura desse panorama que é feita pelo Ego, enquanto as imagens são gravadas no corpo de desejos, em ordem inversa à sua ocorrência, isto é, da velhice para a infância. Nesse momento, o Ego nada sente em relação às imagens que passam diante de si, sendo apenas um espectador. Essas imagens formarão a base para as atividades que o Ego irá desenvolver no Purgatório e no Primeiro Céu, onde colherá e incorporará ao seu patrimônio espiritual a essência de toda a experiência que obteve na vida que terminou. Quando a resistência do corpo vital chega ao limite, paralisa-se e o cordão prateado rompe-se agora na junção dos dois seis invertidos. O corpo vital volta a ficar junto com o corpo denso, para desagregarem-se sincronicamente.
Os ocultistas recomendam que, durante esses três dias e meio, o finado corpo deve ser mantido em um lugar silencioso e harmonioso, evitando-se lamentações e barulho, onde o Ego possa fazer a retrospecção de toda a sua vida, tranquilamente. Quando despertar, sempre terá amigos  e auxiliares angélicos a seu lado. Não estará só. Após esse período de três dia e meio, recomenda-se que o corpo seja cremado.
Se barulho e lamentações devem ser evitados, o que não dizer da prática hoje crescente, pelo avanço das técnicas da medicina, da remoção de órgãos para doação. Os médicos dizem que, para um transplante ter sucesso, o coração precisa estar ainda batendo normalmente o que, para os ocultistas, caracteriza que aquele ser, um possível doador, ainda está vivo. Para tornar viável a doação, os médicos definiram a chamada morte encefálica, que ocorre quando o cérebro, privado do sangue que oxigenaria suas células, para de funcionar e, em conseqüência, paralisa-se o coração, horas depois. A prática de coleta de órgãos vitais de pacientes determinados como mortos por morte encefálica foi colocada em questão por um número de médicos católicos  especialistas, em um encontro patrocinado pelo Vaticano, em fevereiro de 2005. Alguns críticos do procedimento advertiram que a completa cessação da atividade cerebral pode não indicar a morte real da pessoa, o que está de acordo com os Ensinamentos Rosacruzes. Além disso, pacientes com a dita morte encefálica podem ainda sentir dor quando têm seus órgãos removidos para doação. Em maio de 2000, a Revista dos Anestesistas do Royal College of Anaesthetics recomendou em seu editorial a realização de anestesia geral nos doadores de órgãos para eles não sentirem dor, devido à arbitrariedade dos critérios declaratórios de morte encefálica.
Acreditamos que o átomo semente original do receptor de um coração transplantado permaneça com a contraparte etérea do coração original desse receptor, que continua fazendo parte de seu corpo vital. Acreditamos também que, uma vez que o coração seja transplantado, os seres angélicos que têm a seu cargo a manutenção da vida coloquem o átomo semente do receptor no ápice do coração transplantado. Antes do coração do doador ser colocado no peito do receptor, ele é cheio com o sangue do receptor, sangue esse que é o campo de atuação do Ego do receptor, o que é importante para o sucesso do transplante.
Em geral, a dita morte encefálica é resultante de um acidente que priva o ser daquela sua vida, antes que se desse a morte natural. Na morte natural, o arquétipo deixa de vibrar, mas na morte provocada, ele continua vibrando, o que é também o caso dos suicidas e das pessoas que são assassinadas. No caso da morte provocada, os veículos superiores continuam a existir, mas não há corpo denso para realizar as atividades no Mundo Físico e o arquétipo criador do corpo, na Região do Pensamento Concreto, persiste como um molde vazio.
Os seguidores da Filosofia Rosacruz, baseados em seus Ensinamentos, não aprovam os transplantes para os quais o coração ainda deva estar pulsando no momento de sua retirada, pelas razões que se seguem.
Do ponto de vista do doador, como vimos, a necessidade de ter o coração retirado ainda pulsando caracteriza uma morte provocada, muito embora se diga que ela seria inevitável em decorrência da morte encefálica. É que o falecido recente necessita de tranqüilidade para se concentrar no panorama da vida anterior e sente ainda quando seu corpo é perturbado, pois o cordão prateado ainda não se rompeu na junção dos dois seis, onde está o átomo semente do corpo vital. O procedimento cirúrgico necessário para a retirada do coração afasta, de forma violenta, o Ego de sua concentração no panorama, sendo impedido de se beneficiar inteiramente dessa experiência.
Para o receptor, o uso de um órgão transplantado não ajuda essa pessoa a construir um arquétipo de um órgão melhor para uso na próxima vida. A capacidade de fazer isso resultaria do progresso espiritual que seria capaz de desenvolver na vida presente. Se ele não corrige a causa espiritual da debilidade no órgão que é substituído, deve-se esperar que problemas similares ou piores surjam na vida vindoura. É fato conhecido que há uma mudança na personalidade do receptor após o transplante. Acreditamos que isso possa ser explicado pelo fato de que o arquétipo daquela vida continua vibrando até o momento em que se daria a morte natural. Essas vibrações devem chegar possivelmente até o receptor, influenciando sua personalidade.
Por outro lado, o fator motivador de amor e serviço, que leva um doador a sê-lo voluntariamente ainda em vida, agregará por certo crescimento anímico a esse ser, que poderá ter suas compensações no Banco Universal que é construído nos Céus. A forma usual dessas compensações, conforme nos diz o CONCEITO,  é a de que esses Egos que tiveram dificuldade ou impossibilidade de se concentrarem no panorama de sua vida passada, ao renascerem em sua próxima vida, venham a morrer ainda como crianças. Desse modo, poderão subir imediatamente ao Primeiro Céu e ali serem ensinados por seres amigos mais avançados, que irão compensar a não absorção da essência da experiência  de sua vida anterior causada  pela perda parcial ou total de seu panorama.




















  
Diagramas representando o Cordão Prateado e sua suptura
Fonte: Conceito Rosacruz do Cosmos e Temas Rosacruzes Vol. 2, de Max Heindel

 Diagrama representando um Ciclo de Vida 
Fonte: Conceito Rosacruz do Cosmos, de Max Heindel


  1. O PURGATÓRIO
O Purgatório ocupa as três regiões inferiores do Mundo do Desejo. Sua missão  é erradicar os maus hábitos tornando impossível sua gratificação. Além de lidar com esses hábitos que se tornaram natureza nessa pessoa, a experiência do Purgatório lida também com ações específicas de natureza má praticada pelo Ego em sua vida anterior. As imagens do panorama de sua vida anterior foram impressas no corpo de desejos. Esse panorama se desenrola então ante o Ego, do fim para o princípio, de modo a que fique claro para ele qual foi a causa que produziu o efeito. A pessoa sofre exatamente o que fez as outras pessoas sofrerem com sua desonestidade, crueldade, tolerância e outros atos maus. Com isso, aprende a agir bondosamente, honestamente e com tolerância para com os demais. É preciso que se observe que, quando mais nítidas forem as imagens gravadas em seu corpo de desejos, mais eficaz será o processo de formação de consciência. Daí a importância de se respeitar um ambiente de paz e tranqüilidade durante os três dias e meio em que as imagens de sua vida anterior são gravadas em seu corpo de desejos. Ninguém deveria temer o Purgatório, já que ele é realmente um hospital para a alma, em que as pessoas moralmente enfermas recebem os cuidados necessários para restaurar sua saúde. O tratamento pode ser muito doloroso quando as pessoas continuam apegadas aos seus vícios e maus hábitos e resistem à ação da força centrífuga que procura liberar seu corpo de desejos das matérias inferiores que acompanham esses maus hábitos. Mas há auxiliares angélicos e humanos que procuram confortar o Ego em seu sofrimento. À medida que o Ego se descarta das matérias inferiores de seu corpo de desejos e começa a pensar de forma construtiva e espiritual, seus sonhos, desejos e esperanças se tornam melhores. São essas condições que o habilitam a elevar-se ao primeiro Céu, onde a lei de Atração predomina e é possível a construção de um mundo de beleza e de ordem.
A experiência do purgatório é gravada no átomo semente do corpo de desejos, como fruto de sua vida passada, servindo ao Ego para contar, em vidas futuras, com uma consciência mais ativa e que o permita agir com mais justiça e misericórdia.
Os Irmãos Maiores da Ordem Rosacruz, em sua ânsia de ajudar a humanidade, idealizaram um exercício que permite realizar o processo de absorção da essência das experiências obtidas por um Ego em uma vida nessa própria vida, sem a necessidade de se esperar pela passagem pelo Purgatório e pelo Primeiro Céu. É o exercício de Retrospecção, cujo procedimento recomendamos ser lido com muita atenção no CONCEITO. No exercício de Retrospecção, a ser feito deitado, antes de dormir, com o corpo relaxado, procura-se reproduzir o que a Natureza faria após a perda do corpo físico: a revisão das cenas do dia, em ordem inversa, com a maior fidelidade possível, com o propósito de serem julgadas as ações realizadas nesse dia, arrependendo-se quando forem más e louvando-se quando forem merecedoras de louvores. Tendo absorvido ainda em vida a essência da experiência dessa vida, ao Ego sobrará tempo para dedicar-se às oportunidades de serviço, quando estiver habitando o Mundo do Desejo após sua partida deste mundo, já contando com o crescimento de consciência obtido em vida. Adianta-se assim o Ego em seu progresso espiritual, realizando em um ciclo de vida o que iria realizar em dois. 
  1. A REGIÃO LIMÍTROFE
Há uma classe de pessoas para as quais a existência post-mortem é particularmente vazia e monótona: o homem de negócios que estava tão absorvido em suas atividades empresariais que nunca dedicou um pensamento para as ações que levam ao crescimento anímico, aquelas envolvendo serviço para seus semelhantes. Essas pessoas podem levar uma vida seguindo padrões morais e honestos que os afastem dos vícios e maus hábitos que fazem sofrer as pessoas no Purgatório, mas se não fizerem o bem, não fruirão dos sentimentos de alegria no Primeiro Céu. Eles não são tão maus para sofrerem no purgatório, mas também não são bons para gozar o Primeiro Céu. Eles vão então para a Quarta Região do Mundo do Desejo, onde o sentimento é o mais intenso. Desprovidos de interesse, a não ser quanto aos desejos que ali não podem ser gratificados, sua permanência nessa região é de uma inevitável monotonia, mas que os leva a aprender que eles precisam preencher sua vida na Terra com algo de real valor. O materialista, que nega a Deus e acha que a morte é a aniquilação de tudo, está nas piores condições. Percebe o seu erro, mas como sempre negou a espiritualidade, pensa que está sofrendo uma grande alucinação e assim permanece até que o sofrimento lhe tenha trazido alguma iluminação.
  1. O PRIMEIRO CÉU
Após passar pelo Purgatório e pela região limítrofe, o Ego ascende às três regiões superiores do Mundo do Desejo, já tendo incorporado ao átomo semente do Corpo de Desejos, como consciência, os resultados do sofrimento por que passou nas regiões inferiores. Revê então no Primeiro Céu o panorama da vida passada que contém suas boas ações, também em ordem inversa. Viveremos então de novo toda a alegria do bem agir e sentiremos toda a gratidão emitida por aqueles a quem ajudamos, do mesmo modo que sentiremos de novo toda a gratidão que sentimos quando fomos ajudados. O Primeiro Céu é um lugar de alegria, sem dor nem amargura alguma. Todos ali têm a oportunidade de poder construir, com seu pensamento, aquilo que não pôde construir na Terra que fosse para o bem.
Os seres que morreram como crianças têm, no Primeiro Céu, uma vida formosíssima. A extrema plasticidade da matéria de desejos e o fato de que o Mundo do Desejo é o mundo da cor permitem a construção de maravilhosos brinquedos vivos para as crianças. Ao mesmo tempo, cuida-se de sua educação, sendo as crianças agrupadas em classes, de acordo com os temperamentos. Como seu corpo de desejos ainda não nasceu, o Ego vai diretamente ao Primeiro Céu, para então retornar à Terra em uma outra vida, com os mesmos corpos de desejos e mental. Se o Ego, na vida anterior àquela em que morreu como criança, veio a falecer em condições tais que a leitura do panorama da vida passada foi prejudicada, então o Ego terá, no Primeiro Céu, a sua compensação. Ele será ajudado por amigos ou pessoas com vínculo familiar a recuperar a essência da experiência perdida naquela vida passada.
Em todos os mundos a Justiça de Deus está sempre presente, nutrida por Seu Infinito Amor.
Roberto Gomes da Costa

Palestrante e Diretor-presidente da Fraternidade Rosacruz Max Heindel, Centro Autorizado do Rio de Janeiro

BIBLIOGRAFIA
Conceito Rosacruz do Cosmos, Max Heindel, Fraternidade Rosacruz, São Paulo, Brasil
Temas Rosacruzes, Tomo II, Recopilacion de seis libros, Editorial Kier, Buenos Aires, Argentina.
The Four Gospels Esoterically Interpreted, John P. Scott, The Langford Press, Oceanside, CA, USA.

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