domingo, 28 de agosto de 2011

INICIAÇÃO

Sobre   a   iniciação   tem-se   geralmente   a   idéia   de que   é   apenas   uma   cerimônia   pela   qual alguém se converte em membro de uma sociedade secreta e que, na maioria dos casos, pode ser conferida a qualquer um disposto a pagar certo preço ou soma em dinheiro.
Se   é   verdade   que   seja   assim   a   chamada   iniciação em   ordens   fraternais   e   também   na maioria das ordens pseudo-ocultistas, a opinião é completamente errônea quando aplicada às iniciações nos vários graus das verdadeiras Fraternidades Ocultas, conforme uma rápida compreensão dos verdadeiros requisitos exigidos e de sua razoabilidade, logo esclarecerão.
Em  primeiro   lugar,   o   ouro   não   serve   como   chave para o Templo. Toma-se em conta o mérito, não o dinheiro, pois o mérito não se adquire num dia: é o produto acumulado das boas ações passadas. De modo geral, o candidato à iniciação é totalmente inconsciente de que é candidato. Quase sempre vive sua vida na comunidade, servindo   ao   seu   próximo durante dias e anos, sem outro pensamento para o futuro, até que um dia aparece em sua vida o instrutor,   um   Hierofante   dos Mistérios   Menores, apropriado   ao   país   em   que   ele reside.   Até   esse momento   o   candidato   esteve cultivando   internamente certas   faculdades, acumulando certos poderes para servir e ajudar, dos quais é quase sempre inconsciente ou não sabe como usar corretamente. A tarefa do iniciador é então muito simples: mostra ao candidato as faculdades latentes, os poderes adormecidos, e inicia-o no seu uso: explica-lhe ou demonstra-lhe pela primeira vez como o candidato pode despertar essa energia estática, convertendo-a em poder dinâmico.

 
A iniciação pode efetuar-se por meio de   uma cerimônia ou não. Mas observe-se particularmente que ela é a culminação inevitável de prolongados esforços espirituais do candidato, sejam conscientes ou não, e positivamente nunca pode realizar-se até que, no requerido desenvolvimento interno, tenham sido acumulados os poderes latentes que a Iniciação ensina a empregar dinamicamente, assim como apertar o gatilho de uma arma descarregada não produz nenhuma explosão. 
Não se deve temer tampouco que o instrutor deixe de reparar em alguém que alcançou o desenvolvimento requerido. Toda ação boa e desinteressada aumenta enormemente a luminosidade e o poder vibratório da aura do   candidato,   de   modo   que, tão seguramente como o ímã atrai a agulha, assim também o brilho da aura luminosa atrairá o instrutor.
Naturalmente é impossível   descrever   num   livro dado ao público   em   geral   os   estágios   de Iniciação Rosacruz. Fazer   isso   seria  um    abuso    de confiança, o  que, ademais, seria impossível por falta de palavras adequadas para expressar os fatos.  Não obstante, é permitido fazer um esboço geral e mostrar o propósito da iniciação.
Os Mistérios Menores dizem respeito somente à evolução da humanidade durante o Período Terrestre. Nas primeiras três e meia Revoluções da onda de vida em torno dos sete globos, os Espíritos Virginais não haviam ainda adquirido consciência. Por isso ignoramos como chegamos a ser o que somos hoje. O candidato precisa, pois, ser esclarecido  pelos Hierofantes sobre o assunto durante o período de iniciação.   No primeiro grau, sua consciência é dirigida à página da Memória da Natureza que contém os registros da primeira revolução, na qual recapitula-se o desenvolvimento do Período de Saturno. Aí ele permanece em plena posse da sua consciência diária, sabe e recorda os fatos da vida do século XX, mas está agora observando conscientemente os progressos da evolucionante hoste de espíritos virginais, da qual era uma unidade na Revolução de Saturno. Desse modo aprende como no Período   Terrestre   foram   dados   os   primeiros   passos para   a   meta   da   realização,   que   será revelada num grau posterior.
Tendo aprendido a  lição, tal como praticamente descrita no  Capitulo    X   do Conceito Rosacruz do Cosmos, o candidato adquiriu conhecimento direto sobre este assunto, e pôs-se em contato direto com as Hierarquias Criadoras em sua atividade com e sobre o homem.Tornou-se assim capaz de apreciar seus esforços benéficos no mundo e, até certo ponto, de pôr-se em linha com eles, convertendo-se de fato num colaborador.
Quando chega o tempo de passar ao segundo grau, ele é semelhantemente levado a dirigir sua atenção às condições da segunda Revolução do Período Terrestre, conforme registradas na Memória da Natureza. Então, em plena consciência, observa os progressos alcançados nesse tempo    pelos   Espíritos   Virginais, tal como Peter Ibbetson (o  herói  da   obra   "Peter Ibbetson", de Jorge du Maurier, cuja leitura recomendamos por ser uma descrição gráfica de   certas   fases   de subconsciência)   observava sua   vida   infantil   durante   as   noites   em   que "sonhava de verdade". No terceiro grau o discípulo segue a evolução da terceira Revolução, ou Lunar, e no quarto grau vê os progressos feitos na metade da quarta Revolução, metade acabada de passar.
Há   porém   outro   passo   a   mais   em   cada   grau:   o discípulo   vê   também,   além   do   trabalho executado em cada revolução, a obra realizada na época correspondente durante a nossa estada no Globo D, a Terra. Durante o primeiro grau ele segue a obra da Revolução de Saturno e  sua última consumação na Época Polar. No segundo grau ele acompanha o trabalho da  Revolução Solar   e   sua réplica, a   Época Hiperbórea.
Durante o terceiro grau, ele observa a obra realizada na Revolução Lunar e vê como esta foi a base da vida na Época Lemúrica. Durante o quarto grau, ele vê a evolução da última meia-Revolução com seu correspondente período de tempo em nossa estada sobre a Terra, a primeira metade da Época Atlante, que terminou   quando  a atmosfera densa e nebulosa  precipitou-se e o sol começou a brilhar pela primeira vez sobre a terra e o mar. Então terminou a  noite de inconsciência, os olhos do Ego interno abriram-se por completo e pôde dirigir a Luz da razão para o problema da conquista   do   Mundo.   Foi   aí   que   nasceu   o   homem tal   como   hoje   o conhecemos.
Quando, nos antigos sistemas de iniciação, dizia-se que o candidato era mergulhado em transe durante um período de três dias e meio, isso era apenas uma referência a essa parte da iniciação que acabamos de descrever: os três dias e meio referem-se a estágios passados, não sendo absolutamente dias de vinte e quatro horas. O tempo empregado varia de um para    outro    candidato,    mas em todos   os   casos   ele   é sempre onduzido     através   do desenvolvimento inconsciente da humanidade durante as Revoluções passadas. Quando se diz que ele é despertado ao nascer do sol do quarto dia, usa-se a forma mística de expressar que   sua   iniciação,   na   obra   da   carreira involucionária   do   homem,   cessou   quando   o   sol elevou-se     sobre   a   clara  atmosfera     da   Atlântida. Então    o  candidato     é  saudado     como "primogênito".
Tendo-se familiarizado com   o  caminho percorrido no passado,    o  quinto    grau   leva   o candidato ao final  do Período Terrestre, no qual uma humanidade gloriosa   estará recolhendo os  frutos  deste   Período,   levando-os consigo dos   sete  globos   sobre   os  quais evolucionamos em cada Dia de Manifestação, ao primeiro dos cinco globos obscuros que são nossa habitação durante as Noites Cósmicas. O mais denso deles está situado na Região do Pensamento Abstrato, e é em realidade o "Caos" de que se fala nas páginas anteriores. Este globo é também o Terceiro Céu. Quando Paulo fala de ter sido levado ao Terceiro Céu, onde viu coisas que não podia revelar , referia-se a experiências equivalentes às do quinto grau dos Mistérios Rosacruzes atuais.
Uma vez mostrada a finalidade do quinto grau, em que o candidato familiariza-se com os meios pelos quais essa finalidade há de ser atingida durante as três Revoluções e meia restantes do Período Terrestre, os quatro graus restantes são dedicados a seu esclarecimento sobre o assunto.
Por meio da percepção assim adquirida ele é capaz de cooperar inteligentemente com os Poderes que trabalham para   o  Bem,    tornando -se  apto para   apressar o  dia  da nossa emancipação. Para evitar más interpretações desejamos esclarecer    aos   estudantes     que   não   somos Rosacruzes pelo fato de estudarmos seus ensinamentos, nem tampouco nossa admissão ao templo qualifica-nos a adotarmos esse título. O  autor, por exemplo, é somente um irmão leigo, um discípulo, e sob nenhuma circunstância denominar-se-ia a si próprio Rosacruz.
Ao concluir o curso primário um rapaz não está, por isso, capacitado para ministrar esse curso. Deve primeiro freqüentar o curso ginasial e a universidade, podendo ainda acontecer que não se sinta inclinado a ser um professor. De modo semelhante, na escola da vida, o fato   de   um homem ter-se   graduado na  Escola de Mistérios Rosacruzes não significa necessariamente que ele já seja um Rosacruz. Os graduados nas várias escolas de mistérios menores escalam as cinco escolas de mistérios maiores onde, nas quatro primeiras passam pelas Quatro Grandes Iniciações. Por último alcançam o Libertador, recebendo conhecimentos   relativos   a   outras   evoluções.   Então, é-lhes dado escolher entre ficar aqui para ajudar seus irmãos ou entrar noutra evolução como Auxiliares. Aos que escolhem ficar aqui como Auxiliares são dadas diversas tarefas, de acordo com seus gostos e inclinações naturais. Os Irmãos da Rosacruz estão entre estes compassivos seres, de modo que é um sacrilégio arrastar o nome Rosacruz no lodo, usando-o como titulo próprio, quando nada mais somos do que estudantes de suas elevadas doutrinas.
Durante os últimos séculos os Irmãos têm trabalhado pela humanidade ocultamente. Cada noite, à meia-noite, há um serviço no Templo. Os Irmãos Maiores, assistidos pelos irmãos leigos que podem deixar seu trabalho no mundo (pois muitos deles moram em lugares em que   ainda   é dia quando   no   local   do   Templo   Rosacruz   é   meia-noite), colhem de todas as partes do Mundo Ocidental os pensamentos de sensualidade, avareza, egoísmo e materialismo. Então procuram transmutá-los em puro amor,   benevolência,   altruísmo   e aspirações espirituais, enviando-os   de   volta   ao   mundo   para   elevação   e fortalecimento   do Bem. Não fora esse potente manancial de vibrações espirituais o materialismo já teria esmagado totalmente todo esforço espiritual, pois nunca houve idade mais obscura, do ponto de vista espiritual, do que os últimos trezentos anos de materialismo.
Agora, entretanto, chegado o tempo dos esforços secretos serem suplementados por um esforço mais direto, promulga-se um ensinamento definido, lógico e conseqüente, relativo à origem, à evolução e ao desenvolvimento futuro do mundo e do homem, apresentando-se ao mesmo tempo os aspectos espiritual e científico: um ensino que não faz afirmação alguma irreconciliável com a razão ou a lógica; que satisfaz à mente, pois apresenta uma solução razoável   a   todos   os mistérios; que não pede nem evita perguntas, oferecendo explicações lúcidas e profundas ao mesmo tempo.
Mas, e este é um "Mas" muito importante, os Rosacruzes não consideram a compreensão intelectual de Deus e do Universo como um fim em si mesma. Longe disso! Quanto maior o intelecto  tanto maior o perigo de empregá-lo mal. Portanto, este ensino científico, lógico e completo, é dado para que o homem possa crer em seu coração naquilo que sua cabeça tenha sancionado, e para que comece a viver uma vida religiosa.
Nota do editor: Este texto faz parte do compendio “Conceito Rosacruz do Cosmos”, de Max Heindel, onde é explicitamente explicado os conceitos supracitados.

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