domingo, 14 de agosto de 2011

COISAS PEQUENAS E IMPORTANTES

O auge da felicidade e da alegria podem ser momentos extraordinários: as dificuldades e os sofrimentos podem ser de uma dor interminável, mas ninguém constrói seus relacionamentos com base em altos e baixos. Nem as melhores nem as piores coisas são capazes de caracterizar uma relação de felicidade e satisfação. É preciso atentar para as pequenas coisas que transitam entre o pico e as profundezas das experiências pessoais.
Durante a vida física, o ser humano encontra vários momentos preciosos para empreender a escalada rumo à felicidade. Os eventos que ocorrem ao longo da caminhada constituem lições de grande valor, muito embora nem sempre sejam consideradas como coisas boas. Mas isso é um problema conceitual, porque a Humanidade terrena costuma achar bom àquilo que é prazeroso e produz certa euforia dos sentidos, fazendo o corpo e a alma vibrarem e dando a sensação de ter alcançado a felicidade.
Nem todos os incidentes podem ser avaliados sob um aspecto imediatista; existem aqueles que demandam tempo para ser devidamente aquilatados.  Alguns episódios têm uma conotação incômoda e, às vezes, até mesmo indesejável, à primeira vista. Entretanto, com o passar do tempo, o mesmo fato se revela de um valor inestimável.
No vai-e-vem do cotidiano, geralmente aqueles eventos com os quais as pessoas se alegram e obtêm contentamento deixam marcas bastante nítidas, porque representam o ápice das conquistas, alegrias e realizações, isto é o cume das “felicidades” transitórias.
Outras vezes, destacam-se com maior freqüência ou intensidade as circunstâncias incômodas, que fazem sofrer e assinalam de maneira vigorosa suas vidas. Estas com certeza são os momentos mais preciosos para a formação do caráter e da personalidade das pessoas.
Nos intervalos entre uma e outra ocorrência, passa-se a vida dos homens na Terra. Muita gente se deixa hipnotizar, seja com esses elementos perturbadores ou com aqueles de euforia impermanente, presumindo que a vida se resume apenas a isto: navegar em ondas que alternam picos e depressões. Vivem, sem se aprofundar no viver; passam pelos dias, meio anestesiados, meio insensíveis aos apelos do crescimento interior.
Quem se congela nas questões desafiadoras do campo dos sentimentos –e por isso, entrega-se ao descontentamento íntimo – costuma desenvolver uma forma de pensar e agir que contamina aqueles que com ele dividem a caminhada. É um pensamento desorganizado pela interpretação da dor, do sofrer e da existência como um todo, a qual se afigura como um mar de lágrimas e lamentações e desconsidera o fator passageiro de  todos os acontecimentos humanos.
Outros cristalizam a visão apenas dos bons momentos de aparente sucesso, no apogeu daquilo que consideram vitorioso, o que, na maioria dos casos, representa apenas conquistas materiais e financeiras. Pensam que sempre vai ser assim, que as coisas não vão se modificar jamais. Enganam-se. A experiência do viver lhes ensinará aos poucos que tanto o estado de euforia dos sentidos quanto o modo como encaram tais realizações são passageiros.
No campo dos relacionamentos humanos, as situações se alternam de maneira semelhante. Tudo é transitório e passageiro no mundo chamado Terra.
As coisas realmente preciosas e proveitosas estão nas pequenas ocorrências que transitam entre uma e outra posição. Isto é: nas pequenas coisas, nos pequenos mimos e nas ações triviais que às vezes passam despercebidas.
Para se construir uma relação de simpatia, amizade ou amor verdadeiro, assim como para se obter prazer e satisfação na vida, temos de levar em conta o caminhar, a vivência diária e o cultivo de cada detalhe. Assim, não nos perderemos na euforia passageira ou no pessimismo embriagante das horas difíceis. As vivências que se passam entre os extremos são mais valiosas do que o fim em si.
Hoje em dia, as pessoas andam preocupadas em atingir a vitória plena e a felicidade completa, ou então em sair das situações de aflição em que se encontram. Entretanto, esperam um passe de mágica por parte de Deus e dos “bons espíritos” para realizar por elas as questões mais simples e as mais complexas. Querem um sistema substitutivo, e não de parceria. Aguardam que os espíritos as substituam em suas lutas e reservem a elas apenas a colheita dos bons resultados, sem semeadura ou trabalho, feitos com esse intuito.
Em qualquer relação, é preciso observar os detalhes, as coisas mais simples, que, se repetidas com a inclusão do coração e dos sentimentos nobres, tornar-se-ão motivo permanente de satisfação.
Cultivar a dedicação diária aos deveres e o trabalho renovado, ambos alicerçados na satisfação de integrar as diversas fases da semeadura, ou mesmo de compartilhar da esperança na colheita, fazem com que a espera seja mais saborosa, e a caminhada, muito mais alegre e satisfatória.
As pequenas coisas da vida são, na maior parte dos casos, muito mais importantes do que as chamadas “grandes coisas”. Deus não espera que realizemos muito em nossas experiências. Ele sabe o quanto nos falta ainda percorrer na estrada do aperfeiçoamento para que possamos retribuir à vida na medida exata do investimento que foi feito em nós.
Espera tão somente que cada passo dado seja compreendido, vivido com alegria, palmilhado com satisfação. Se não encontramos sementes de felicidade nas coisas mínimas e pequenas, de modo algum saberemos valorizar o somatório dessa felicidade quando se configurar na forma da vitória final.
É necessário saborear a caminhada, mesmo que ela não seja aquilo que desejávamos. É essencial perceber cada detalhe e dar a ele o valor exato, colocando vida e intensidade nas questões mínimas. Deixar-se envolver pelos detalhes nos fará mais capazes de usufruir o total, a completude daquilo que almejamos.
Um dia haveremos de entender, que cada detalhe de nossa existência está preenchido de tal intensidade espiritual e de tamanha espiritualidade que não conseguiríamos mensurar. Tudo é espiritualidade no mundo. Nosso aprendizado em busca da felicidade inclui a descoberta da espiritualidade nas pequenas coisas que realizamos.
Caso não vivamos cada uma das situações do cotidiano como se fossem as mais importantes para nós, não aprenderemos a nos livrar, de maneira elegante daquelas situações que tachamos de aflitivas. Precisamos entender que absolutamente nada ocorre em nossas vidas sem que Deus saiba ou administre a situação com vistas ao nosso eterno bem.
Apreciemos o detalhe, o charme e a elegância de cada passo.
Deus está nisso também.

Alforria – Robson Pinheiro

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