De um modo geral, a ideia que vem à mente quando se fala de Maçonaria é, dentre outras coisas, de uma ordem masculina. Por entre teorias da conspiração, teses delirantes de diabolismo, entre outros conceitos e preconceitos por aí veiculados ao longo dos tempos e de diversos países uma ideia é comum a todos eles: é que de modo semelhante às confrarias, às ordens religioso-militares e a outras instituições que têm ao longo de vários séculos excitado a imaginação de amantes do ocultismo, e não só, tem a exclusividade masculina garantida, como era apanágio de uma sociedade arcaica, pré-contemporânea, poder-se-á dizer (se não mesmo contemporânea em muitos casos...).
1.Origens misteriosas
Estudos há que tentam demonstrar-nos que as cooperativas de pedreiros, que deram origem à Maçonaria, já marcavam presença significativa em épocas tão remotas que delas não nos chegaram documentos nem testemunhos suficientes de modo a que possam provar em definitivo seja o que for. Épocas estas que remontam a tempos do Stonehenge, aos Antigos Egípcios, à Grécia Antiga, etc. Estamos a falar da Maçonaria operativa. Isto é, a dos verdadeiros pedreiros que erigiam edifícios de importância inestimável, em especial no que concerne aos templos que congregavam toda a comunidade numa união espiritual e mística, a qual nos é estranha nos dias de hoje. Abordamos, assim, cooperativas que, não obstante o tão propalado carácter místico e esotérico presente na sua rigorosa hierarquia e no forte sigilo em relação aos segredos de construção, implicavam nas suas obras homens de uma força física vigorosa, capazes de erguer, ainda que em conjunto, volumes de peso que fariam inveja aos nossos halterofilistas mais medalhados.
1.Origens misteriosas
Estudos há que tentam demonstrar-nos que as cooperativas de pedreiros, que deram origem à Maçonaria, já marcavam presença significativa em épocas tão remotas que delas não nos chegaram documentos nem testemunhos suficientes de modo a que possam provar em definitivo seja o que for. Épocas estas que remontam a tempos do Stonehenge, aos Antigos Egípcios, à Grécia Antiga, etc. Estamos a falar da Maçonaria operativa. Isto é, a dos verdadeiros pedreiros que erigiam edifícios de importância inestimável, em especial no que concerne aos templos que congregavam toda a comunidade numa união espiritual e mística, a qual nos é estranha nos dias de hoje. Abordamos, assim, cooperativas que, não obstante o tão propalado carácter místico e esotérico presente na sua rigorosa hierarquia e no forte sigilo em relação aos segredos de construção, implicavam nas suas obras homens de uma força física vigorosa, capazes de erguer, ainda que em conjunto, volumes de peso que fariam inveja aos nossos halterofilistas mais medalhados.
2. Das cooperativas de pedreiros à especulação filosófica
Chegados à Idade Média a história começa a escapar à névoa do mito, uma vez que há registos de corporações e/ou confrarias de pedreiros aos quais são atribuídos os grandes colossos do gótico europeu, embora normalmente a autoria das suas obras estivesse encoberta pelo anonimato. Mais uma vez estamos a falar de um mundo essencialmente masculino, de homens duros, não obstante eventualmente cultos e mesmo refinados, muitas vezes privilegiados mas também marginalizados quanto ao estatuto social em favor do clero e da nobreza.
Quando a Maçonaria se torna especulativa e o seu pendor operativo-iniciático entra em declínio é precisamente o pendor exclusivista da masculinidade que passa para a nova existência em todo o seu vigor. Estamos em 1717 quando a Grande Loja de Londres é constituída oficialmente, seguindo-se-lhe outras lojas em França e pouco tempo depois por outros países da Europa.. Em Portugal, a comunidade inglesa introduziu aqui algumas lojas sempre restritas aos súbditos da coroa britânica. Porém, a semente foi deixada em conjunto com as influências da Revolução Francesa e em 1803 na casa de Gomes Freire de Andrade em 1803 dá-se início à constituição do Grande Oriente Lusitano, que viria a sofrer uma feroz perseguição do regime até à vitória definitiva do parlamentarismo em 1834.
A perseguição que, de um modo geral, o Catolicismo moveu à Maçonaria não a impediu que no seu seio surgissem facções mais radicais, avessas ao poder da Igreja e propulsoras da crescente laicização da cultura a qual irá caracterizar o movimento iluminista. Refira-se então a reacção do Grande Oriente de França no decorrer do século XVIII em abolir a obrigatoriedade da crença religiosa como condição para a entrada na Maçonaria, aceitando no seu seio ateus, e determinando um papel meramente simbólico ao Grande Arquitecto do Universo, o alegado patrono da Maçonaria. Entram assim em colisão e inevitável ruptura duas facções, uma autodenominada de regular pois em consonância com os antigos princípios e estatutos de Andersen [link 1] e outra votada a uma suposta irregularidade, mas que nem por isso deixa de se disseminar pelo mundo fora.
3. A tomada de consciência
Chegando o período das convulsões sociais dos finais do século XIX decorrentes do crescimento industrial e do deteriorar das condições de vida nas grandes cidades, novas ideias ganham vigor e os avanços científicos encorajam a contestação às instituições e ideias do Antigo Regime.. A mulher começa a questionar gradualmente o seu estatuto, dando origem a ideias igualitárias aliadas ao ideal republicano e laico. Com efeito, pouco a pouco vai-se criando a chamada "Maçonaria Feminina de Adopção" na qual a mulher é aceite, embora submetida a uma espécie de tutela dos homens e com reuniões separadas.
Neste contexto, Maria Deraismes fez história em finais do século XIX ao tornar-se na primeira iniciada numa loja maçónica masculina, nomeadamente na Livres Penseurs de Pecq. A reacção conservadora masculina não se fez esperar e proibiu a presença de Marie Deraismes nos trabalhos da loja.. Assim, Maria Deraismes tinha deixado de assistir às reuniões da loja De Pecq, a fim de não criar problemas a este núcleo progressista ameaçado com o encerramento. Entretanto, consagrava os seus esforços no sentido de uma melhoria da situação da mulher e pela reivindicação de seus direitos. Georges Martin, em conjunto com ela, fundou uma loja mista. Dezasseis mulheres, escolhidas entre as relações de Maria Deraismes, entre elas Clemencia A. Royer, filósofa e Maria Béquet de Vienne, fundadora de diversas obras sociais, foram iniciadas a 14 de Março de 1893, recebendo em reuniões posteriores os graus simbólicos das lojas azuis, na presença de Georges Martin.
Chegando o período das convulsões sociais dos finais do século XIX decorrentes do crescimento industrial e do deteriorar das condições de vida nas grandes cidades, novas ideias ganham vigor e os avanços científicos encorajam a contestação às instituições e ideias do Antigo Regime.. A mulher começa a questionar gradualmente o seu estatuto, dando origem a ideias igualitárias aliadas ao ideal republicano e laico. Com efeito, pouco a pouco vai-se criando a chamada "Maçonaria Feminina de Adopção" na qual a mulher é aceite, embora submetida a uma espécie de tutela dos homens e com reuniões separadas.
Neste contexto, Maria Deraismes fez história em finais do século XIX ao tornar-se na primeira iniciada numa loja maçónica masculina, nomeadamente na Livres Penseurs de Pecq. A reacção conservadora masculina não se fez esperar e proibiu a presença de Marie Deraismes nos trabalhos da loja.. Assim, Maria Deraismes tinha deixado de assistir às reuniões da loja De Pecq, a fim de não criar problemas a este núcleo progressista ameaçado com o encerramento. Entretanto, consagrava os seus esforços no sentido de uma melhoria da situação da mulher e pela reivindicação de seus direitos. Georges Martin, em conjunto com ela, fundou uma loja mista. Dezasseis mulheres, escolhidas entre as relações de Maria Deraismes, entre elas Clemencia A. Royer, filósofa e Maria Béquet de Vienne, fundadora de diversas obras sociais, foram iniciadas a 14 de Março de 1893, recebendo em reuniões posteriores os graus simbólicos das lojas azuis, na presença de Georges Martin.
Dez meses depois do estabelecimento da Grande Loja Simbólica Escocesa Mista de França "Le Droit Humain" (O Direito Humano), Maria Deraismes acabaria por falecer, deixando ao cuidado de Georges Martin, à sua irmã Ana Teresa Deraismes e aos seus colaboradores a continuação da obra. O Droit Humain estendeu rapidamente a acção ao mundo inteiro, primeiro na Europa Continental, depois logo em Londres - onde Annie Besant (fig. ao lado), célebre feminista inglesa e futura Grã-Mestre Adjunta da ordem, declarava: "Se é verdade que os Ingleses levaram a Maçonaria a França, não o é menos que são os Franceses que a devolvem regenerada, completa e fortificada com a admissão da mulher em loja ao lado do homem à Inglaterra." |
Musarelli introduziu a Maçonaria Mista nos Estados Unidos, onde alcançou um notável desenvolvimento. A Federação Norte Americana do Droit Humain contava, depois da Grande Guerra, mais de 7000 membros. Annie Besant, que fez nascer em Mahatma Gandhi o amor pela sua civilização de origem, foi a criadora das lojas mistas na Índia. América do Sul e África seguiram o seu exemplo.
Ao nosso país chegou o Droit Humain em 1923, sob a égide de Adelaide Cabete [link 2 foto de Adelaide Cabete], uma médica cujo papel foi inigualável no campo da puericultura, da higiene feminina e na luta contra o alcoolismo. Uma das fundadoras em 1909 da Liga Republicana das Mulheres Portuguesas, foi iniciada em 1907 na loja Humanidade do Grande Oriente Lusitano Unido com o nome simbólico de Louise Michel. Após desavenças em torno da existência de lojas femininas, em 1923 Adelaide Cabete insere a loja Humanidade na obediência do Droit Humain. O destino não quis que tal permanecesse por muito tempo, pois a implantação do regime de Ditadura Nacional nascido do golpe de Estado de 28 de Maio de 1926 iria a obrigar ao abater de colunas desta loja pouco tempo depois.
4. Das trevas nascerá luz? Renascimento e expansão ignorada
Segue-se, então uma espécie de "Idade das Trevas" para toda a Maçonaria portuguesa, constituídos por 40 anos da Ditadura Nacional que marcam indelevelmente a história do país. Após a Revolução dos Cravos assiste-se ao erguer de colunas de algumas lojas do ressurgido Grande Oriente Lusitano. Este gradualmente reconquistará a sua anterior importância até à ruptura da qual nascerá a Grande Loja Regular de Portugal que há-de relegar o GOL para a irregularidade (este conceito, de natureza conceptual subjectiva, prende-se com questões de reconhecimento. Reconhecimento este que provém da Grande Loja Unida da Inglaterra, considerada no ramo maçónico ortodoxo conservador como a grande potência da qual dimanam as leis que regem as obediências de diversos países subordinadas a esta facção).
O Droit Humain irá renascer em 1980, precisamente na loja Humanidade que havia assistido, cerca de 50 anos antes, ao seu desaparecimento. Passados três anos nascerá a primeira loja no Porto a Fraternidade; a loja Athanor um anos depois, por sua vez em Lisboa em complemento da Humanidade. Pelo que consta nenhuma loja até ao momento abateu colunas e, segundo o que nos informa o site oficial do DH em Portugal (http://www.droit-humain.org/portugal/) actualmente esta obediência maçónica quase que triplicou o número de lojas em funcionamento.
O Droit Humain pode considerar-se a única obediência maçónica mista com alguma visibilidade no mundo profano e maçónico, embora conte ainda com alguma resistência na facção ortodoxa encimada pela Grande Loja Unida de Inglaterra. Mantém por seu turno relações de amizade com a "ala" liberal da Maçonaria representada em Portugal pelo Grande Oriente Lusitano, com fortes ligações ao Grande Oriente de França.
Todavia, falemos nós de ala conservadora ou liberal, estas duas tendências dominantes da Maçonaria mundial mantêm-se renitentes à constituição de lojas mistas. Mantém-se o regime de adopção em algumas obediências nacionais da "ala" liberal e em alguns casos estas atingiram um estatuto de maior autonomia e emancipação, enquanto que a outra ala, na maioria dos casos, possui algumas associações, ou coisa parecida, para as legítimas esposas e filhas dos membros das lojas...
As pressões e críticas em relação a este anacronismo são por demais visíveis no mundo profano e consta que entre os meandros do DH se graceja especulando e apostando se o Vaticano não ordenará mulheres antes de as obediências masculinas as aceitarem em suas lojas... Por quanto tempo as obediências maçónicas dominantes persistirão com a tradição da exclusividade masculina num mundo em que a mulher assume já papel dominante em praticamente todos os sectores da sociedade? Neste sentido, o Droit Humain vem assumindo um papel de vanguarda, classificado de irregular pelos meios ortodoxos. Para além disto, talvez por causa deste último factor é, de um modo geral, a obediência com menos visibilidade no mundo profano, logo a mais ignorada levando muita gente a pensar que toda a Maçonaria tem em comum a exclusividade masculina. Até quando?
Por Antero Vainamonen
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