Ao abordarmos o tema a que nos propomos pode-se argumentar; o que pode falar alguém acerca da morte? Acaso alguém já retornou do que chamamos morte ?
A essa pergunta responderemos com as palavras do Lama (Sacerdote Tibetano) Anagarika Govinda, que quando inquirido a esse respeito explicou:
“Não há uma pessoa, na verdade, nenhum ser vivo, que não tenha retornado da morte. De fato, todos nós morremos várias mortes antes de virmos para esta encarnação. E aquilo a que chamamos nascimento é apenas o lado inverso da morte, como um dos dois lados de uma moeda, ou ainda como uma porta, que chamamos de “entrada” a partir do lado de fora, e de “saída”, a partir do lado de dentro de um quarto. É ainda mais surpreendente que nem todos se lembrem de sua morte anterior. E, devido a esse lapso de memória, a maioria das pessoas não acredita que tenha havido uma morte anterior. Mas também não se lembram de seu mais recente nascimento, embora não duvidem de terem nascido recentemente. Tais pessoas esquecem que a memória ativa é uma pequena parte de nossa consciência normal, e que nossa memória inconsciente registra e preserva cada impressão e experiência passadas de que nossas mentes despertas não conseguem se lembrar.” (Livro Tibetano dos Mortos, pág. XLIX – Edit. Pensamento)
Além do que foi dito acima, podemos acumular conhecimento a respeito da morte analogamente à forma como aprendemos a respeito da existência de um país distante. Poderíamos resumir esse aprendizado como se dando de três modos; primeiro podemos ter o relato da existência desse país, feito pelos seus próprios habitantes, o segundo modo seria ouvir falar a respeito dele por pessoas que viajaram até ele e ao voltarem nos descrevem os seus hábitos e costumes, o terceiro e último modo seria, ler livros, ver fotos, ou assistir a filmes, que podem ser documentários ou reportagens, sobre os acontecimentos nesse longínquo país.
No primeiro caso, poderíamos tomar conhecimento da existência após a morte, pelo contato com os habitantes dos diversos “mundos post-mortem”, que mais adequadamente poderíamos chamar de dimensões ou planos da existência. Aos contatos feitos com os habitantes dessas outras dimensões, costuma-se chamar de aparições, não que eles verdadeiramente apareçam do nada, a realidade é que já estavam ali, só não podíamos percebê-los, pois só somos capazes de perceber determinadas frequências vibratórias, e os habitantes de outras dimensões vibram em frequências que normalmente não podemos captar. O fenômeno da aparição se dá quando o chamado morto consegue alterar sua própria vibração a ponto de se tornar perceptível por nós, ou quando temos, mesmo que momentaneamente, a capacidade de captarmos vibrações acima do nível considerado normal. Durante o período que dura a aparição, ocorrem os relatos da “vida post-mortem”, feitos pelos próprios habitantes dos mundos, normalmente, além de nossas percepções.
No segundo caso de nosso exemplo, poderíamos citar os habitantes de nosso mundo, ou plano de existência, que desenvolveram a capacidade de “viajar”, com sua consciência até outros planos, além desse que habitamos. Nesse segundo caso se encontram a maioria dos médiuns e projeciologistas, que realizam a viagem ou projeção intencionalmente, estando também incluídos nessa categoria, a maioria das pessoas que ao se deitarem para dormir, todas as noites, viajam inconscientemente, pelos vários planos que explicaremos mais adiante. Nesse estado de sonho, é que se dá o contato com os seres do “outro mundo”. Quando essas pessoas retornam do seu sono ou de seu transe, conforme for o caso nos falam do que viram e ouviram.
Vale ressaltar que não ocorre nenhuma viagem, ninguém vai a lugar algum, o que ocorre é um fenômeno de consciência, muito semelhante ao processo de sintonizarmos um rádio numa determinada estação, as ondas que passamos a captar sempre estiveram ali, naquela frequência, apenas ajustamos o nosso aparelho e passamos a captá-las. Alguns médiuns ou parapsicólogos que desconhecem esse mecanismo, poderão afirmar que realmente realizam “viagens astrais”, ou coisas similares, sem levarem em conta que o tempo e o espaço, tal qual conhecemos, são atributos da consciência neste plano em que vivemos. Um exemplo será melhor para esclarecermos o que queremos dizer, quem já não sonhou que passou muito tempo, dias, ou até mesmo anos, no qual ocorreram várias acontecimentos e quando acordou percebeu que apenas algumas horas haviam transcorridos? Outras vezes se dá o contrário, nos deitamos e após o que nos pareceu alguns segundos, despertamos e vemos espantados, que dormimos toda uma noite. O tempo e o espaço são relativos, cada mundo ou dimensão tem suas próprias referências.
No Terceiro e último caso do nosso exemplo de como acumular conhecimento acerca da morte, que é o de uma pessoa que assiste a um filme a respeito de um país longínquo, poderíamos enquadrar as pessoas que são capazes de ver com certa continuidade, fatos e habitantes de outro plano da existência, sem perderem a consciência no plano físico, podendo em alguns casos “ligar” ou “desligar”, esse processo ao seu bel-prazer. Essa capacidade possibilita a essas pessoas por assim dizer “viverem em dois mundos”, nesse último grupo é onde encontram-se os chamados Mestres e Adeptos, que muitas revelações trouxeram a humanidade encarnada. Nesse grupo também existem pessoas que por “acidente”, destrancaram as portas do subconsciente, e passaram a perceber o oculto. Sem a compreensão necessária para isso, muitos desses infelizes enlouquecem, quando não conseguem fechar novamente os portões que a natureza mantinha selados, para serem abertos em uma época em que esses seres, já amadurecidos teriam uma melhor compreensão do oculto. Enfim é das pessoas desse último grupo, que são capazes de perceber múltiplos planos simultaneamente, é que se pode colher alguns relatos mais precisos e esclarecedores, pois eles podem descrever o que percebem, como alguém que tece comentários a respeito de uma peça de teatro, muitas pessoas com essa características escrevem ou falam a seus discípulos sobre a realidade que contemplam. Para a consciência destes seres, a morte simplesmente não existe, enquanto estão conosco, vivenciam a realidade póstuma e quando chega o seu momento, despem-se dos seus corpos como quem troca de roupa.
Baseado no relato desses três grupos, em algumas poucas experiências pessoais e nos ensinamentos da Sabedoria Iniciática das Idades é que nos baseamos para elaborar o presente estudo.
As crenças da humanidade e os mundos post-mortem
Para compreendermos melhor os mistérios dos mundos post-mortem, é imprescindível, entendermos que aquilo em que acreditamos influencia nas camadas do que chamamos inconsciente coletivo e quanto maior o número de pessoas que acreditam em determinada coisa, mais ela tende a ser plasmada, nos planos mentais e astrais, a ponto de em alguns casos objetivar-se no plano físico. Partindo desse conhecimento, poderíamos, dizer que as crenças humanas modificam de certa forma as “paisagens” dos planos mentais e astrais, gerando nestas dimensões sons, cores e formas em harmonia com os nossos sentimentos e pensamentos.
Além disso, as crenças inculcadas em nossa mente desde criança, acabam por dominar por completo nossa consciência, entrando na composição de nossos corpos sutis. Se, por exemplo, acreditamos em deleites e sofrimentos a serem experimentados na existência post-mortem, em céu, inferno, anjos, demônios, etc…, essas crenças provocarão deliciosas fantasias e sofrimentos infernais a serem experimentados por aqueles que verão suas expectativas mais íntimas tornarem-se realidade ao desencarnarem.
De acordo com o exposto, podemos concluir que as experiências póstumas nos mundos interiores de um kardecista, diferem do que será vivenciado por um católico, cada uma sendo composta do conteúdo psíquico com que foi alimentada a consciência do morto.
Devemos levar também em consideração, os ensinamentos milenares quando nos falam que o homem não deixa de ser aquilo que é imediatamente após a morte, ou seja a pessoa não perde imediatamente suas características psicológicas imediatamente, assim, sendo um protestante não deixará de ser protestante, imediatamente após sua morte. O processo de “desidentificação”, dependerá muito do nível de compreensão de cada um a respeito do que está realmente lhe acontecendo.
Cada religião alimenta em seus seguidores determinadas expectativas em relação ao mundo dos mortos, e devido ao fato dos desencarnados continuarem na vida psíquica, a possuir tais crenças e necessidades, é compreensível o caso de uma alma católica que necessita que se reze uma missa em sua memória, para que possa descansar no “purgatório”, como lhe foi ensinada em vida. Sua crença de que só assim poderá ter paz, poderá levá-la. a desencadear fenômenos de aparição, solicitando a realização da missa. Já no caso de uma alma seguidora do hinduísmo, esta exigirá um rito hindu, para que, como lhe foi ensinado em vida, possa ser criado seu novo corpo em substituição ao que foi destruído na pira funerária.
Além de nos depararmos com nossas próprias criações, ao desencarnarmos somos defrontados, de acordo com nossa afinidade, com as criações psíquicas que dominam as mentes da massa da humanidade. Portanto devemos nos esclarecer, acerca das características da existência nos mundos interiores, pois neles conforme forem os nossos pensamentos, temores e expectativas, assim serão os nossos primeiros contatos com os mundos invisíveis.
O processo da morte
Apesar de em nossa civilização a existência além da vida ser considerada ficção, fazendo parte daquilo que os cientistas chamam de fantasia ou superstição, outros povos que desenvolveram grandes civilizações que lograram avanços, não tanto no mundo exterior como faz a civilização ocidental, desenvolveram-se em outro sentido, em direção aos mundos interiores, em busca dos universos contidos dentro do ser humano. Os sábios dessas civilizações, verdadeiros pesquisadores da consciência, apoiados no tríplice suporte formado pela religião, pela ciência e pela arte, tornaram-se verdadeiros cosmonautas de mundos que só podem ser atingidos pela introspeção. Lograram ultrapassar os portões da morte e travar relações com seres, aos quais chamamos deuses, anjos e demônios.
Parte dos segredos dessa ciência verdadeiramente hermética, foi registrado pelos egípcios no Pert em Hru, nome que poderíamos traduzir por “O surgir do dia”, conhecido no mundo acadêmico como “O Livro dos Mortos”. Outros povos também deixaram compilações a respeito desse importante assunto, porém nenhum povo deixou uma codificação mais clara e precisa do que o povo Tibetano, místico por natureza, eles registraram suas experiências nesse campo no livro conhecido como Bardo Thodol, que poderíamos traduzir aproximadamente por, “Libertação pela audição no plano post-mortem”, essa coletânea de conhecimentos passados de boca para ouvido, compilados no século VIII d.C., pelo mestre Padmasambava, seria o livro dos mortos tibetanos.
Segundo os ensinamentos contidos no Bardo Thodol, da mesma forma que existe uma arte de viver, existe uma arte de morrer, e o momento mais importante da existência, é o momento de sua passagem, momento em que o indivíduo precisa de paz e tranqüilidade; tão delicado como no nascimento. Nessa ocasião a pessoa deve estar o mais consciente possível a respeito do que está lhe ocorrendo e não adormecido, sobre o efeito de drogas e sedativos, que faz com que a grande maioria dos moribundos não saiba o que esta lhes ocorrendo. Isso, promoveria a perda da grande oportunidade de saírem do roda de nascimentos e mortes, da Roda de Sansara, a que todos os seres encarnados estão submetidos.
Segundo o livro dos mortos tibetanos, durante a morte a percepção do que acontece no exterior vai sendo substituída pelo aumento da percepção do que acontece em nosso interior. O primeiro dos fenômenos mais marcantes que o indivíduo percebe é uma luz clara, branca, que lhe aparece através de um túnel. Segundo os tibetanos, esse fenômeno se dá, por que a energia vital, conhecida como Kundaline, que encontra-se na base da coluna vertebral, emite sua primeira irradiação, no seu processo de abandono do corpo.
Essa primeira irradiação percorre um dos três canais etéricos localizados na coluna, conhecidos por Nadis, abrindo caminho do Chacra Raiz, situado na região do cóccix, até o centro de força situado no alto da cabeça, por onde deixará o corpo.
Quando essa primeira irradiação da energia vital, passa pelo centro de força situado no peito, conhecido como Chacra Cardíaco, o moribundo percebe uma luz brilhante surgindo no fim de um túnel. Isso acontece por que durante a morte a consciência é transferida para o Chacra Cardíaco, que é onde reside a essência do ser, onde vibra o chamado átomo primordial, por isso quando a energia vital passa por esse chacra, o indivíduo tem a impressão de ver uma luz brilhando através de um túnel (o Nadi da coluna vertebral que está ativado no momento).
A esse primeiro aparecimento da luz brilhante e diáfana os iniciados chamam de primeira apresentação. Se durante essa irradiação o indivíduo for capaz de unir-se a luz, fundindo sua consciência individual à sua vitalidade, no microcosmo de seu corpo, atingirá o estado vibracional do Sol Central macrocósmico, fundindo-se a ele, que em absoluto repouso é o plano da existência eterna, que vibra no centro da roda de nascimentos e mortes.
Se, no entanto, o indivíduo por medo, não conseguir fundir-se a essa luz brilhante, esta desaparecerá, e o ser mergulhará num estado de sonolência, até a chamada segunda apresentação, que ocorre quando mais uma vez, outra parcela da energia vital irradia-se através da coluna vertebral, por um dos dois canais etéricos restantes. Essa segunda parcela de energia liberada pelo Chacra Raiz, desperta as formas pensamento, que foram geradas pela pessoa durante sua vida, e essas formas pensamento “saltam diante deste”. Durante essa experiência, seus pensamentos e sentimentos, bons, assumem formas, bondosas e belas, de santos, parentes desencarnados, etc., que com seus conselhos nos confortam.
Durante esse período toda a câmara cardíaca é permeada pela luz da segunda emanação, que como um perfume sutil pode não ser percebida, em meio aos estímulos gerados pelas formas de pensamento que lhe invadem a consciência, mas se o moribundo for capaz de entender que essas visões não passam de criações psíquicas dele mesmo e não se fixar nessas imagens, o ser consciente poderá tentar perceber a luz brilhante nessa segunda tentativa. Se ele não for capaz de realizar isso, as formas benévolas serão sucedidas pelas formas aterradoras, que representam seus desejos e pensamentos violentos, egoístas, de ódio, de ambição, etc. Mesmo diante dessas imagens ameaçadoras, o iniciado não se abalará, mantendo-se em estado de meditação, de tranqüilidade e harmonia, no estado de consciência chamado pelos místicos de Dhiana, que poderá promover sua integração interna e libertá-lo do ciclo de encarnações. Cabe dizer que, essa libertação só será possível após o indivíduo ter concluído seu aprendizado na terra, tendo reunido valores que o possibilitem atingir o estado de meditação profunda, o estado de Dhiana.
Se, porém, o moribundo não conseguir fundir-se a segunda emanação, reintegrando-se a natureza prístina, a consciência é atraída pelos centros de força inferiores, ligados a sentimentos e pensamentos altamente materialistas, que vão envolvendo o ser com imagens hedonistas normalmente ligadas as suas fraquezas, que o arrastam para uma espécie de pesadelo.
Por fim, o ser mergulha num estado de inconsciência, que é alternado por períodos conscientes, carregados de imagens que pululam no inconsciente coletivo, ligadas a seus condicionamentos. Esse período tem duração relativa, pois como já dissemos, o passar do tempo no plano astral difere do seu transcorrer no plano físico. Alguns dias no plano físico podem parecer eternidades no astral e centenas de anos no físico podem representar segundos no astral. Assim a personalidade vai se dissolvendo em meio as ilusões do plano astral.
Posteriormente, ao penetrar no plano mental, ela é envolvida pelos condicionamentos mentais. O indivíduo fica nesse estado semiconsciente até que a personalidade se desintegre totalmente e a energia vital, numa terceira e última irradiação, seja absorvida pela mônada.
Vale esclarecer, que o que é absorvido pela mônada, é a essência espiritual, o átomo primordial, a verdadeiro Homem: Uno, Trino e Indivisível, pois nesse ponto a personalidade, não mais existe. Esse átomo primordial, a essência que animava a personalidade, é reintegrado à mônada para que seja revitalizado, e novamente “enviado” a face da terra, quando houver uma nova oportunidade de aprendizado, quando serão reconstruídos seus veículos mentais e emocionais, sendo atraída por fim, para dentro de um útero, para reconstruir um corpo físico.
Todo o trabalho da iniciação, todo o trabalho de uma Escola Iniciática, é no sentido de preparar o discípulo para a morte, para o momento em que ele terá a oportunidade de se iluminar, através da integração com sua essência.
É importante ressaltarmos, que durante a vida terrena, isso poderá ocorrer, o indivíduo devidamente preparado poderá iluminar-se, fundindo sua consciência à sua vitalidade, atingindo um nível vibracional que o possibilite integrar-se ao seu verdadeiro Ser, o Sol Central, do qual ele é apenas um dos raios.
Dessa forma existem seres na terra que são verdadeiras expressões da Divindade entre nós e como tal, são reconhecidos pela natureza e pelas pessoas com sensibilidade para tal. Estes são os chamados iluminados, seres que em vida viram a luz brilhante de seu eu interno, e nela estabeleceram o centro de sua existência.
O indivíduo deve durante a sua vida terrena, preparar-se para a morte, sem exageros mórbidos, mas com seriedade, consciente de que assim como nascemos, todos passaremos por ela , entendendo que todo o apego, toda resistência à mudança, só produz sofrimento e decepções, pois a vida é um fluxo e a tentativa de deter esse fluxo por mero capricho, nos coloca em oposição as Leis Universais. O ser tem que ser capaz de desapegar-se de situações e pessoas, tornando-se flexível em seus conceitos, como uma criança, aprendendo, modificando-se, fluindo como um rio. Poderíamos dizer num sentido psicológico, morrendo e nascendo, transformando-se a cada dia.
Somente se pudermos compreender isso, seremos capazes de entender a chave iniciática contida nas palavras de São Francisco de Assis, quando dizia que “…é morrendo que se nasce para a vida eterna” ou a declaração proferida pelo Faraó, no final da quinta etapa da iniciação egípcia, “Sebek Ur Sebek” – “Só a morte pode vencer a morte”.
Autor: Márcio Homem
Fonte: https://opontodentrodocirculo.wordpress.com/2015/06/11/a-doutrina-secreta-da-morte/
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