O jeito típico do falar do
povo mineiro já foi alvo de comentários jocosos. Não é difícil encontrar a
imagem do mineiro matuto, que masca capim, enquanto faz construções gramaticais
erradas e corta as palavras ao meio. Identificar estereótipos formados pelo
senso comum e apontar características genuínas do modo de falar dos mineiros é
“A construção de um dialeto: o ´mineirês´ belo-horizontino.
Nóssa! Mas que trem
bom, uai!
A interjeição uaí, uma das
mais associadas ao modo de falar dos mineiros.
Os bons dicionários e
gramáticas do ramo costumam dizer da expressão uai, com pequenas variações,
mais ou menos o seguinte: trata-se de uma interjeição usada para exprimir
surpresa, espanto, susto, impaciência, terror ou admiração, ou ainda para
reforçar o que se disse antes; que é usada no Brasil, sobretudo em Minas
Gerais, e também em Portugal, na ilha dos Açores, onde equivale a duas outras
interjeições: «Ah!» e «Oh!»
Uma interjeição, «é uma
espécie de grito com que traduzimos de modo vivo as nossas emoções». Muitas vezes,
são formadas por onomatopé(e)ias (o nome dado àquelas tentativas de fazer com
que a palavra imite um som).
Acredita-se que a origem do
«uai» estaria na fusão das interjeições opa! (ou upa!)+ôi+ai, que aparecem
assim juntinhas, por exemplo, na página 353 de Sagarana, o grande (em todos os
sentidos) romance do escritor mineiro João Guimarães Rosa.
A essa hipótese podemos juntar
outra. A que, um professor mineiro, defendeu no V Congresso de Ciências
Humanas, Letras e Artes, realizado na Universidade Federal de Ouro Preto, em
Agosto de 2001.
Segundo ele, tudo começou
quando um vilarejo chamado Gongo Soco, onde se explorava ouro, foi comprado
pela “Imperial Brazilian Mining Association”, o que resultou na instalação da
primeira empresa britânica em Minas Gerais. Durante as quase três décadas, de
1824 a 1856, em que os ingleses ali estiveram Gongo Seco,
afirma o professor, foi transformado numa autêntica vila inglesa. E passo a
citá-lo:
«Pode ser atribuída ao
convívio com esses e outros ingleses que residiram na província a utilização
por parte dos mineiros da interjeição “Uai!” (que exprime surpresa e/ou
espanto), a qual possui semelhanças fonéticas e semânticas com o vocábulo “Why”
utilizado na língua inglesa com o mesmo sentido do nosso “por quê?”, ou como interjeição,
assumindo, neste caso, o mesmo sentido do Uai mineiro. Notemos que o Uai
mineiro e o “Why” britânico possuem a mesma representação fonética; e notemos
ainda que o Uai é a expressão da língua portuguesa falada no Brasil que mais se
relaciona com a identidade mineira.»
Os ingleses foram embora, mas
o Uai nacionalizou-se. Ou melhor, mineirizou-se. Segundo o prescrito nas noções
de Minerês para “estrangeiros”, «Uai é indispensável, significa nada e tudo ao
mesmo tempo. Tudo “depende do contexto e da entonação.»
Entretanto, existe outra
versão do UAI:
O material foi publicado no
Jornal Correio Brasiliense.
O berço da expressão popular
dos mineiros “UAI”.
Segundo o odontólogo Dr.
Sílvio Carneiro e a professora Dorália Galesso, foi o presidente Juscelino
Kubitschek. ’. quem os incentivou a pesquisar a origem. Depois de exaustiva
busca nos anais da Arquidiocese de Diamantina e em antigos arquivos do Estado
de Minas Gerais, Dorália encontrou explicação provavelmente confiável.
Os Inconfidentes Mineiros, patriotas, mas considerados subversivos
pela Coroa Portuguesa, comunicavam-se através de senhas, para se protegerem da
polícia lusitana. Como conspiravam em porões e sendo quase todos de origem
maçônica, recebiam os companheiros com as três batidas clássicas da Maçonaria,
nas portas dos esconderijos. Lá de dentro, perguntavam:
Quem é?
E os de fora
respondiam: UAI – as iniciais de União, Amor e Independência.
Só mediante o uso dessa senha
a porta era aberta aos visitantes.
Conjurada a revolta, sobrou a
senha, que acabou virando costume entre as gentes das Alterosas. Os mineiros
assumiram a simpática palavrinha e, a partir de então, a incorporaram ao
vocabulário quotidiano, quase tão indispensável como tutu e trem. Uai, sô…
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