Ricardo Lindemann*
"Homem: conhece-te a ti mesmo" - tal era a
inscrição gravada no frontispício do
pórtico de Delfos, na Antiga Grécia. Tão profundo é o conselho que ela nos dá que não devemos nos surpreender pelo fato
de que o próprio Sócrates a tomou por divisa.
Essa misteriosa sentença atinge o próprio
coração do mais irônico e constrangedor problema que aflige o homem:
o nosso desconhecimento a respeito de
nós mesmos ! Problema esse que desafia, desde épocas já encobertas pelas
névoas do tempo, mesmo a mais sagaz mente humana, que perplexa indaga:
afinal, quem sou eu ?
Na tentativa de trazer luz a
essa profunda questão
cabe-nos iniciar tal investigação, ao que to indica, pelo
nosso corpo físico e seus constituintes:os átomos.
É sabido que a ciência
moderna avançou tanto
na direção do
estudo das partículas subatômicas
que as experiências
que demonstram a
relatividade espaço-temporal nesse reino, ou do comportamento
ondulatório dessas partículas,acabaram por abalar irreversivelmente os
próprios alicerces do
materialismo científico-mecanicista do século passado.
Ao que tudo indica, a humanidade como um todo ainda está
longe de compreender as conseqüências filosóficas e até mesmo metafísicas do
magnífico trabalho do Dr.Albert Einstein sobre a possibilidade da conversão da
matéria em energia, etc..
Tanto isso é verdade que o uso que tem sido feito desse conhecimento
é o mais trágico que a história já registrou - a
bomba atômica -
instrumento de morte maciça nesse patético jogo de dominação
e destruição.
Em 1888, muito antes de todo esse avanço da ciência,
Madame Blavatsky, (fundadora da Sociedade Teosófica), já
afirmava, em sua obra "A Doutrina Secreta",que a matéria era uma
"condensação" do espírito e que ambos eram diferentes pólos de
manifestação da mesma realidade
subjacente. Essa idéia
foi expressa da seguinte maneira: "...um dos pólos é
o Espírito puro, perdido
no absoluto do Não-Ser, e o outro pólo é a Matéria, na
qual ele se condensa,
"cristalizando-se"em tipos cada vez mais grosseiros, à medida
que desce na manifestação." (1)
Até pouco tempo a ciência admitia apenas três
estados para a
matéria: o sólido, o líquido
e o
gasoso. Entretanto, recentes
pesquisas com gases
de altíssimas temperaturas, na
busca da fusão
nuclear, vieram a
demonstrar propriedades tais na matéria que esse plasma poderia
ser considerado como
um quarto estado.
A ciência oculta considera, desde tempos imemoriais, a
existência de 7 planos materiais, de sutileza crescente, subdivididos em 7 estados
ou subplanos cada.
Isso totaliza 49 estados, ou seja, o sólido, o líquido,
o gasoso e
mais 46 estados com coesão atômica
cada vez menor e, conseqüentemente, com
sutileza e plasticidade crescentes
ou, em outras
palavras, com crescentes
graus de liberdade.
Assim, por exemplo, o corpo físico, que é constituído de
sólidos, líquidos e gases, teria uma
contraparte sutil que seria constituída
pelos 4 estados
de matéria seguintes, chamados éteres pelos ocultistas. Por isso, essa
contraparte é chamada, às vezes, de
corpo etérico e,
em condições normais
de vida, ela interpenetraria o corpo físico, que se
constitui de matéria mais densa. Por outro lado, por ela ser uma duplicata
exata do corpo físico, célula por célula,
ela é mais freqüentemente
conhecida como duplo etérico.
Uma de suas principais funções é servir como matriz do corpo
físico. Segundo a tradição oculta as
células físicas crescem de acordo com o molde
das etéricas que, por sua vez,
constituem o duplo etérico, obrigando-as a
trabalhar como um todo, ou seja, como um organismo.
O trabalho da parapsicóloga Thelma Moss sobre o efeito fantasma
é uma das mais recentes evidências dessa função do
duplo etérico. Em condições normais
o duplo não pode ser fotografado, devido à sutileza dos seus constituintes, porém um campo elétrico é influenciado
pela sua presença.
Tal é o princípio da fotografia Kirlian, que embora não possa
fotografar o duplo etérico, fotografa o
ar ionizado pelo efeito corona e influenciado pela integração do duplo, e, dessa forma, consegue ao menos a definição do
seu contorno. Por
exemplo, uma folha recém retirada da árvore, mas com parte
de sua superfície cortada e
destruída, tem o seu contorno original nitidamente definido na fotografia
Kirlian, como se ela ainda estivesse inteira. Esse
contorno, que continua aparecendo mesmo
sem a parte física
correspondente, foi chamado de efeito fantasma e se deve à presença do duplo etérico da folha.
O duplo tende a
exercer sua função
moldante no sentido
de orientar o crescimento das células físicas, porém se a
lesão é muito grande
ela afeta o próprio duplo gerando uma irregularidade no
fluxo das energias deste que gerará, no
devido tempo, a cicatriz física.
Isso nos leva à segunda
função do duplo
etérico que é
a de absorção, especialização e distribuição da
energia vital proveniente do Sol, conhecida como 'prána' na tradição Hindu.
Por isso os
hindus chamam o
duplo etérico da 'pránamayakosha': veículo de 'prána'.
Os grandes centros de 'prána' são as glândulas e os centros
nervosos do corpo físico, bem como os respectivos centros de força do
duplo etérico, conhecidos como 'chakras' na tradição Hindu,
ou dos outros corpos sutis. A palavra
chakra provém do sânscrito e, literalmente, significa roda. Os chakras
são usualmente descritos como
vórtices em forma de sino ou flor situados na superfície do duplo etérico, com um diâmetro de
aproximadamente 10 cm., com suas "hastes" conectando alguns deles à medula espinal e
outros a algumas glândulas do corpo físico.
Os sete chakras tradicionais são situados na base da coluna, no baço, no
umbigo, no coração, na garganta, entre
os olhos e no topo da cabeça. É comum
às diversas tradições religiosas
considerar um ou mais desses pontos do
corpo como sendo sagrados, como é o caso do
"terceiro olho" dos hindus e dos faraós, e da auréola no topo da cabeça nas tradições
Cristã e Budista, entre outras.
As linhas de fluxo do 'prána' no duplo etérico formam
um verdadeiro sistema de circulação e é
nele que se baseiam as técnicas da hatha-Yoga e da Acupuntura, por exemplo.
Existe ainda um terceira função do duplo etérico que é, ao
que tudo indica ou parece indicar, a mais significativa para
nosso estudo. É
aquela função de intermediário que o duplo etérico exerce
entre a nossa consciência
e o corpo físico, visto que é através dos centros
do duplo que a nossa consciência
passa ter relação com o sistema nervoso e algumas glândulas do
corpo físico. Com a
ocorrência da morte essa função, bem como as outras, não é mais exercida,
pois o "cordão de prata", como
é chamado o vínculo entre o físico e o duplo na Bíblia em Eclesiastes 12:6, se
rompe libertando a consciência do corpo.
A partir desse momento as funções sensoras e motoras
do sistema nervoso físico
desvinculam-se completamente da consciência. Fenômeno similar produz a
ausência de dor durante o transe hipnótico, devido a paralisação do fluxo de
'prána' em alguma
parte do duplo. Esse é a
arte que
certos faquires e
hatha-yogues orientais dominam, possibilitando assim o controle da
dor e mesmo de funções mais complexas
como a pulsação do coração, etc.,
a ponto de existir a referência oficial
de casos em que os mestres dessa arte tendo
sido considerados clinicamente
mortos terem
"repentinamente" voltado à vida.
É também essa função do duplo que produz a interação da mente
com o corpo gerando as doenças psicossomáticas,
etc.
Outro ponto que merece destaque é que os chakras são a
porta pela qual o
cérebro pode tomar contato com os "mundos" sutis, ou seja, são o instrumento
da percepção extra-sensorial. Por exemplo, a clarividência
- o poder
de ver a matéria sutil e, conseqüentemente, o lado
oculto da natureza - está relacionada
com o chakra frontal ou
"terceiro olho". Essa
relação está simbolizada,
na tradição Egípcia, pela serpente que sai da fronte do faraó, indicando
que ele era possuidor desse poder e do conhecimento que dele decorre. Aliás,
foi através da clarividência que a maioria
dos conhecimentos que a Tradição-Sabedoria nos oferece foram adquiridos e ratificados,
ao longo dos milênios,
por uma linha ininterrupta de ocultistas ocidentais e
orientais, até os dias de hoje.
Aquela serpente
é um símbolo
comum à tradição
Hindu, representando a
Kundalini - energia poderosíssima que, no homem comum, "dorme
como uma
serpente enrolada" no chakra da base da coluna vertebral. Pelo uso
de certas práticas de
Yoga, o
candidato capacitado, e
sob a orientação
direta de um
instrutor competente, desperta essa força e a põe em ascensão através de
'sushumná' - como é chamada a passagem
interna da espinha dorsal. À medida que essa
energia passa através dos
chakras, eles vão sendo vivificados, um
a um, abrindo,
assim, as portas da percepção do
candidato às dimensões sutis, também chamadas
de planos.
Nunca é demais alertar que essas práticas são
empreendidas somente nos
últimos estágios do caminho do discipulado que leva à iluminação. Nenhum
noviço pode se aventurar nessas técnicas sem expor seu
corpo físico a grande perigo, provocando, eventualmente, a loucura ou a morte.
Foi através da clarividência que os alquimistas da Idade
Média conheceram o veículo da consciência que esta imediatamene
além do duplo
etérico. Eles o chamavam
de corpo astral
porque, quando observado
clarividentemente, assemelhava-se ao corpo físico, porém era circundado
por uma aura ovóide de cores brilhantes como as
de uma estrela
que se movia
constantemente. Ele seria constituído de matéria astral, ou seja,
dos 7 estados ou subplanos imediatamente
mais sutis que os éteres. Essa
matéria seria tão
sutil que os
seus átomos possuiriam um grau de
liberdade a mais para vibrar, isto é, uma nova direção para deslocamento. Isso
caracterizaria o plano astral, constituído por
essa matéria, como quadridimensional e
portanto, interior ao
plano tridimensional. Essa interpretação seria similar a
"interpenetração" das diferentes ondas de rádio no mesmo espaço. Também o corpo astral,
seguindo a mesma
linha de raciocínio, usualmente interpenetraria o
duplo etérico que, por sua vez, interpenetraria o corpo físico. Neste sentido, os mundos
sutis estão aqui
e agora conosco
ou, usando a expressão do Cristo: "o reino dos céus
está dentro de
vós" (2). O problema real se encontra na dificuldade
de focarmos nossa
consciência nesses estados
elevados, sintonizarmos, por assim dizer, nosso "receptor" cerebral
com essas "ondas".
Uma das funções do corpo astral é a de transformar as
vibrações captadas pelo órgãos dos sentidos do corpo físico
em sensações na
consciência. A ciência moderna tem encontrado dificuldades
em "dissecar" a consciência
em laboratório, de modo que
admite a ocorrência de tal transformação em algum recanto do cérebro, que tem
sido vasculhado "de ponta a ponta" nessa busca. Por exemplo, é
um fato científico que as imagens
formadas em nossas retinas são invertidas em relação ao mundo exterior, pois
elas formam-se por intermédio do cristalino do globo ocular que, sendo uma lente biconvexa,
necessariamente inverte todas as
imagens reais; porém onde ocorre
a reinversão ? Seria no cérebro ? A investigação clarividente, com seu instrumental mais
adequado para dissecar, por assim dizer, as
sucessivas camadas da consciência, pode ir mais longe. Segundo a Tradição-Sabedoria, essas vibrações captadas do mundo físico
pelos sentidos fluiriam pelo sistema nervoso até o cérebro do corpo físico de onde
seriam refletidas para o cérebro etérico
e deste para o corpo astral. Somente então elas se converteriam em
sensações. Seria neste estágio que, eventualmente, a sensação poderia
receber o "colorido" ou qualidade de "agradável" ou de
"desagradável", que anteriormente
não existia.
Caso houvesse algum envolvimento do mental através da
memória ou antecipação surgiriam desse processo a
atração, isto é, o desejo de experimentar
novamente essa sensação agradável. De acordo com esse ponto de vista,
essas são as raízes mais elementares do desejo e da
emoção. Por isso
o corpo astral
é também conhecido como veículo
dos desejos ('Káma', em sânscrito), alma animal ou veículo emocional. Ele é o
veículo que expressa nossos sentimentos,
paixões, desejos e emoções. Platão chamava-o de alma
apetitiva.
Assim como os impactos sobre os sentidos físicos,
transmitidos pelo 'prána', não se
transformariam em sensações sem a intervenção dos centros do corpo astral;
assim também essas sensações não chegariam à mente sem a
ação mediadora desse veículo. Essa é a segunda função do
veículo astral: servir como uma
ponte que funciona em ambos os
sentidos, visto que a mente comanda o
cérebro físico e, conseqüentemente, o corpo físico por meio
de estímulos transmitidos através
do corpo astral. Ao longo do
curso investigaremos qual
é a influência
dessa inter-relação dos veículos sobre o
nosso estado de
espírito, como causa
da contradição humana.
A terceira função do veículo astral é atuar
como veículo independente
da consciência. Por exemplo, durante o sono normal ou em um estado
de transe seria possível separar-se o corpo astral do
corpo físico libertando o
primeiro para funcionar
independentemente no plano astral. Embora não tenhamos espaço aqui para abordar
mais profundamente a temática
do sonho, da
"viagem astral", etc., poderíamos citar uns poucos fenômenos
que seriam explicados por essa função. Como o plano astral é o das emoções,
nele elas são muito mais intensas
do que podem ser sentidas quando nossa consciência
está focada no cérebro físico.
Assim, por exemplo, nós podemos
sentir certos tipos de medo
em um pesadelo
ou extrema alegria em alguns
"sonhos coloridos" que são desconhecidos no estado de vigília, porque quando dormimos a consciência
não está focada no cérebro físico mas sim no veículo astral. A dificuldade está
em trazer claras recordações daquele mundo
de quatro dimensões para nosso cérebro
tridimensional quando acordamos
- só um cérebro treinado pode fazê-lo plenamente.
Alguns distúrbios no retorno do corpo astral ao físico são também os
responsáveis por processos de catalepsia, bem como certas sensações de queda
bastante comuns que costumam
acompanhar um despertar súbito.
Essa terceira função do veículo astral também está ligada
ás condições da consciência após a morte física, que tem
algumas semelhanças com o processo
do sonho, como veremos na próxima lição.
Caso nós quiséssemos levar mais a fundo essa
investigação sobre a
natureza real do ser humano, nós nos depararíamos, segundo nos diria a Tradição-Sabedoria,
com que os ocultistas denominaram plano mental: o reino do pensamento. Ele seria constituído de matéria mais sutil que a
astral, na verdade pelos 7
estados de matéria seguintes. O
veículo da consciência que se constituiria
dos primeiros quatro estados ou
subplanos do mundo mental seria, por analogia
com os outros, chamado de corpo mental e estaria
relacionado com os pensamentos
concretos. É importante que nós
investiguemos mais detalhadamente o que são esses pensamentos concretos, ao invés de apenas
dizer que são
aqueles não classificáveis como abstratos.
Nós consideramos a pouco como os impactos da matéria
física, atingindo os sentidos, se transmitiam pelo sistema
nervoso para se converterem em sensações no corpo astral. A primeira função
do corpo mental
é a de
transformar essas sensações em
percepções mentais de cor, forma, som, gosto cheiro e tato. Outra de suas
funções é a de criar uma
imagem composta a
partir da combinação
das diferentes percepções mentais, ou imagens, provenientes dos
diferentes órgãos dos sentidos. Assim, por exemplo, a imagem mental que nós
temos de uma laranja é uma combinação de
percepções de cor, forma, gosto etc.,
formando em nossa
mente aquela imagem composta à qual, na
língua portuguesa, associa-se
o nome de "laranja", que corresponde a
certa grafia e som. Esse nome ou uma rápida passagem de olhos por uma imensa
série de imagens relacionadas.
Dessa forma, o
corpo mental percebe muito mais que nossos limitados sentidos captam, de
fato, do mundo que nos cerca. Por exemplo, ao ver a laranja a
mente pode lembrar-se
de seu gosto, cheiro, etc.. Por
outro lado, nós nunca vimos os átomos de uma
laranja a vibrar nem os fótons
deles provenientes que são percebidos, dentro
da faixa do vermelho ao violeta a que somos
fisicamente sensíveis, como cor por nossa
mente.
Logo, nós não conhecemos em sua totalidade nem sequer uma
laranja! Os objetos do mundo que nos
cerca só existem com cor, forma, etc., em nossa mente; eles são, na verdade,
uma manifestação de energia condensada:átomos e moléculas a vibrar. Como nos
disse Dr. I.K.Taimini:"O objeto é apenas uma causa instrumental desconhecida para excitar a imagem mental que
é formada em
nossa mente. Vivemos
assim, realmente, num mundo para o exterior por
um processo chamado
'Vikshepa', em sânscrito. Esse
processo de projetar nosso mundo mental para
fora de nós,
que deveria ser bastante óbvio para quem quer se dê ao trabalho de
pensar sobre a natureza da percepção sensorial, deve nos
convencer de duas coisas. Uma é que o mundo em que vivemos está realmente dentro
de nós, em nossa mente, e a outra
é que, na verdade, estamos vivendo no meio de ilusões as mais
grosseiras, sem mesmo atentarmos no fato" (3).
Esse mecanismo "objetificante" do corpo mental, a
alma irascível ou arrogante do platonismo, é o causador da Grande Heresia:a
ilusão de ser um eu separado. Ela gera o egoísmo que separa os homens. Por
isso, a Sr.a H.P. Blavatsky escreveu: "A mente é o grande Assassino do
Real" (4), ou seja, da Unidade de
tudo que vive.
Acrescente-se a isso que os corpos astral
e mental usualmente
trabalham tão interligados que
poderiam ser vistos como sendo um
único veículo, que
já foi chamado de 'Káma-manas'
(desejo-mente) no budismo esotérico e
de 'Manomaykosha' pelos
vedantinos, uma verdadeira "máquina de projetar ilusões". Poderíamos
até imaginá-la como uma "película de filme" constantemente a
projetar imagens mentais emocionais na "tela" do cinema que seria,
nessa visão alegórica, o conjunto
de átomos da matéria física que nos cerca.
Outras funções do corpo mental são as de desenvolver os
poderes da memória e imaginação, servir
oportunamente como veículo independente
da consciência no plano mental, servir à consciência como
veículo do pensamento concreto bem como expressá-lo no corpo físico através do
corpo astral, cérebro etérico e
sistema cérebro-espinal, coordenar movimentos do corpo físico para a
ação, etc..
É importante compreender,
pelo menos parcialmente, que,
segundo a Tradição-Sabedoria, o
corpo físico, o duplo etérico, o corpo
astral e o
corpo mental são todos mortais formando, em conjunto, o eu inferior ou
personalidade - palavra que provém da palavra grega "persona"
(literalmente: fonte de onde vem o som)
que era o nome da máscara usada pelos atores nos teatros da Grécia Antiga sendo indicativa do papel que
representavam. Assim, o eu inferior,
quaternário inferior ou personalidade
seria a "camada" mais
exterior de nosso
Ser, a "máscara" com
que o Eu Superior, a Tríade Superior ou Ego
se manifestaria no teatro da vida.
A última função do corpo mental inferior, ou simplesmente
corpo mental, que precisamos citar seria a de assimilar os
resultados das experiências
vividas, e passar a sua essência,
antes de sua morte, para o Ego
Imortal, o Homem
Real vivendo em seu corpo mental superior, o Pensador, como
analisaremos melhor em nossa próxima lição. Esses resultados de
experiências vividas são os "tesouros" que Jesus aconselha
ajuntar "no céu, onde nem a traça nem a ferrugem consomem, e onde os ladrões não minam nem roubam"
(5).
Porém esse "cofre espiritual" que é o corpo mental
superior ou corpo causal, como é mais
freqüentemente chamado por acumular
as "causas" do
futuro, sendo constituído da
matéria sutilíssima dos 3 subplanos superiores do plano mental só pode acumular a essência das mais sublimes
experiências de nossas vidas, sendo a
imensa maioria de nossas ações grosseiras demais para atingí-lo.
O corpo causal é também o veículo do pensamento abstrato, em
contrapartida ao corpo mental que
é o do
pensamento concreto. O
pensamento é meramente estabelecido de relações entre as
imagens presentes em nossa mente, caso
essas imagens sejam nomes e formas por um lado, ou conceitos, leis
e princípios por outro, teremos, respectivamente, pensamentos
concretos e abstratos.
Logo, é natural que o corpo
causal, chamado 'Vijnámayakosha' pelos
vedantinos, que acumula a
essência das experiências, trabalhe no nível das leis e princípios que se ocultam das formas mais concretas. Platão
chama-o de alma inteligível.
Os outros dois componentes da Tríade Superior são
de natureza ainda
mais sutil.
O veículo búdico é
aquele responsável pela
compreensão que ilumina
o pensamento, dele provém a luz de 'buddhi' ou intuição que dissolve as dúvidas
e desperta a compaixão por todos os seres, visto que no plano búdico
já se pode sentir como absolutamente real
a unidade de
tudo que vive.
Esse veículo, comparado
freqüentemente a uma estrela de luz cujos raios tudo penetram
e tudo abrangem, tem se
identificado com o Cristo Interno, referido
diversas vezes na tradição Cristã. Talvez o apóstolo Paulo
tenha legado a nós a mais bela
dessas referências: "Cristo em vós, a esperança de glória."
(7) Por sua vez, entre
os vedantinos o veículo búdico era chamado de 'ãnandamayakosha', ou
seja, veículo ou envoltura de bem-aventurança. Aquele que consegue
focar sua consciência
nele atinge um êxtase elevadíssimo, somente inferior ao do veículo
átmico.
O veículo átmico, centro da vontade espiritual que nos
conduz inexoravelmente pela eternidade através de todas as limitações, constituindo-se da
ainda mais sutil matéria do
plano nirvânico. Foi
comparado com "um
círculo com sua circunferência em nenhum lugar e seu
centro em toda a parte".
Como facilmente se nota esses conceitos são demasiados
abstratos para que as palavras possam
expressá-los de fato. Tentaremos fazê-lo através de uma alegoria.
Como já vimos, a mente do indivíduo poderia ser comparada a
uma película de filme constantemente a projetar imagens mentais-emocionais
sobre os
átomos do mundo físico. Se levássemos
essa alegoria sobre
os átomos do
mundo físico. Se levássemos essa alegoria mais adiante,
teríamos a luz de buddhi,
proveniente do veículo búdico,
representada pela luz que anima o filme projetando-o na tela, ou seja, a luz que anima as imagens mentais.
A lâmpada que projeta essa luz seria o
veículo átmico. Seguindo o conceito básico
da Tradição-Sabedoria que
é o da unidade
da vida, diríamos
que embora existam
diversas mentes projetando diferentes películas existe uma
lâmpada que projeta a luz que as
anima. Logo, aquele que
penetrasse no centro de
sua consciência "sintonizaria-se" com a
energia que está condensada em toda a matéria do Universo e,
conseqüentemnte, se sentiria
"dentro" de todos os seres. Amaria aos outros como a si mesmo, de
fato !
A energia elétrica que anima a lâmpada seria
a Mônada (proveniente
do grego "monos": um),
da qual Pitágoras tratou, centro último de nossa consciência que é também conhecido como a "centelha
divina". A Mônada é o centro
eterno de nosso Ser, mas ela não é humana porque é pré-existente
a tal condição.
Sobre essa "alma" foi
dito. "A alma do homem é imortal, e o seu futuro é
o de algo
cujo crescimento e esplendor não tem limites" (8). Ou,
se preferirmos o
profético símile da tradição Cristã, nas palavras de Paulo, sobre o
futuro do ser humano:
"Até que todos nós cheguemos à unidade da fé, e do
conhecimento do Filho de Deus, o homem perfeito, à medida da estatura completa
de Cristo" (9).
Talvez agora nós possamos compreender melhor
a profundidade existente
na inscrição do pórtico de Delfos que, como dissemos no início da
lição, Sócrates tomou por divisa.
Gostaríamos de encerrar
essa lição com
a própria versão socrática daquela inscrição que merece
nossa reflexão e que é a seguinte: "Homem:conhece-te a ti mesmo. Assim
conhecerás o Universo e os deuses."
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
(1) BLAVATSKY, H.P, A Doutrina Secreta. São Paulo,
Pensamento, 1980. v. 2 p. 191.
(2) THE
HOLY Bible. King James Version, 1611.
New York, American
Bible Society, 1980. Luke 17:21. (Lucas 17:21)
(3) TAIMNI, I.K. Autocultura; À luz do
Ocultismo. Rio de Janeiro, Grupo Annie Besant, 1980, p. 98.
(4) BLAVATSKY, H.P. A voz do Silêncio. São Paulo,
Pensamento. p. 45 aforismo 4.
(5) THE HOLY, op.
cit, acima nota (2), (Mateus 6:20)
(6) Ibidem, (Colossenses 1:27)
(7) BLAVATSKY, op. cit. acima nota (4), p. 61 aforismo 116.
(8) COLLINS, Mabel. O
Idílio do Lótus Branco. São Paulo, Pensamento. p. 83.
(9) THE HOLY,
op. cit. acima
nota (2), ,(Efésios 4:13)
BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA:
BESANT, Annie. O Homem e seus Corpos. São Paulo, Pensamento,
1976.
TAIMNI, op. cit. acima nota (3)
LEADBEATER, C.W. O Homem Visível e Invisível. Sâo Paulo, Pensamento, 1969. "" , A
Mônada. São Paulo, Pensamento. p. 87.
* Ex-Presidente da Sociedade Teosófica no Brasil
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