sexta-feira, 7 de outubro de 2016

TEMPLO E LOJA


       A diferença entre Templo e Loja na maçonaria, parece a princípio uma questão simples. Como dito no Manual de Instruções Maçônicas do  Aprendiz, Templo é o lugar onde se realizam os trabalhos maçônicos e onde se reúne a Loja, que é a manifestação do Logos ou verbo, individualizado em cada um de seus componentes e generalizado ou “universalizado”, harmonicamente, no conjunto. Neste mesmo texto há o alerta de não se confundir Templo e Loja. Templo é o prédio, o lugar físico no qual se reúnem os membros de uma Loja. Loja é o conjunto dos maçons que se reúnem no Templo, em recinto consagrado aos seus trabalhos. De uma maneira direta e metafórica acho que se poderia dizer que Templo é o corpo e Loja a alma e a mente. Mas a relação entre as duas definições é mais profunda e complexa. Rica em sua descrição e elaboração, a simbologia do Templo é forte e com propósitos significativos e divinos,  tão magística e cuidadosamente proposital, seu entrelaçamento e simbiose com a Loja são tão profundos que não se resume a uma simples definição de que um é o espaço e o outro a idéia, é muito mais do que isso.

       O Templo reproduz simbolicamente, quatro esferas ou mundos: 
1.  Mundo das emanações. Plano divino. Esfera intelectual. Corresponde ao Oriente do
Templo
2.  Mundo da criação. Plano astral superior. Esfera da alma racional. Correspondente, no
Templo, à metade da área, que vai do oriente ao altar do 2º Vigilante.
3.  Mundo da formação. Plano astral inferior. Esfera da alma vital. Corresponde, no
Templo, à metade inferior de sua área, que vai do altar do 2º Vigilante à porta entre
colunas.
4.  Mundo físico, dos fenômenos. Esfera da natureza formal, plástica e do corpo.
Corresponde, no Templo, ao vestíbulo ou sala dos Passos Perdidos, e ao mundo
profano. 

       É no Templo que o Aprendiz passa a trabalhar, desde que se emancipou do mundo formal ou dos fenômenos; emancipação simbolicamente representada pela morte do profano no quarto das reflexões e seu renascimento iniciático na Loja.
       A beleza dos ornamentos e símbolos do Templo é poderosa e impactante, cada Templo tem suas particularidades e identidade únicas, mas alguns objetos e emblemas são universais, como os altares, as jóias fixas e móveis, os candelabros, as colunas, o mar de bronze, o livro da lei, entre outros.  Na história da maçonaria, aprendemos que Lojas já foram realizadas a céu aberto, em sótãos secretos, escondidos detrás de espaços concedidos pelos nazistas às missas cristãs em campos de concentração. Nesses lugares, obviamente não havia a possibilidade da reprodução ou aproximação visual e física do Templo de Salomão, mas nos corações, mentes e almas de seus membros com certeza se construía um Templo majestoso e sagrado, consagrado à Glória do Grande Arquiteto do
Universo e se efetivava uma verdadeira Loja, forte e unida.
       Em opontodentrodocirculo,  há  a  referência  à  chamada  Técnica  Expositiva  de  ensino,  que corresponde  à  aplicação  do  Método  Dedutivo  lógico,  verbalizado  ou  com  uso  de audiovisuais, e a proposta de  um exercício de   sete  frases  relacionadas ao  tema Templo e Loja:
       O Templo é um caderno, a Loja um lápis.
       No Templo estamos parados, na Loja em movimento.
       Do Templo falamos, da Loja ouvimos.
       O Templo é pequeno, a Loja é grande.
       O Templo tem um nível, a Loja um prumo.
       O Templo tem forma limitada, a Loja ilimitada.
       O Templo protegemos, a Loja nos protege.
       O escritor do texto questiona o que  pensamos a respeito dessa leitura e como reagiríamos a seguinte  frase: “O Templo é profano e a Loja sagrada”. Também convida a reflexão  outra frase do mesmo texto: “Combatemos  os Vícios  nos Templos  e  aprendemos  a Virtude  nas Lojas”. Realmente a distinção entre Templo e Loja é clara, mas a relação de entrelaçamento entre os dois também é forte verdadeira  e mesmo com uma sensação de certa superioridade em  importância ao que a Loja significa, o Templo é seu caminho e sua morada, seu esteio sagrado e por  isso poderoso, magistral e edificante. Somos alma e estamos corpóreos e por semelhança somos a Loja e estamos no Templo.
       Concluo, como um  simples aprendiz em  seus primeiros passos, que ambos  são  sagrados e que  a diferença  é que um  é perene,  como os próprios Sol  e Terra,  a outra  é  eterna,  como Deus e suas chispas divinas, não morre nem se degrada no  tempo espaço. Templo é corpo vivo, Loja é Verbo divino. 
                        Or.·. de Porto Alegre, 14 de Setembro de 2016  da   E.·. V.·.
                                                     Luís Fernando
                                                        Apr.·. M.·.

Bibliografia:
Manual de Instruções Maçônicas de Aprendiz. Edgar Menna Barreto.
opontodentrodocirculo.wordpress.com



terça-feira, 4 de outubro de 2016

POMPA E CIRCUNSTÂNCIA


Mês de equinócio é mês de sessões de Grande Loja (ou Grande Oriente). Em Portugal, no Brasil ou, genericamente em qualquer parte do mundo onde esteja implantada a Maçonaria, sessão de Grande Loja ou Grande Oriente é, normalmente, sinónimo de pompa e circunstância. 

Desde que a Maçonaria especulativa surgiu, muito rapidamente a Primeira Grande Loja passou a ter como dirigente máximo um elemento da nobreza. Ora, como sabemos, nobreza britânica e pompa e circunstância são termos inseparáveis... 

Não há mal nenhum na pompa e circunstância - desde que cada maçom tenha sempre presente que o que verdadeiraente importa não tem nada a ver com isso.

Maçonaria pode ter brilho, pode ter dourados, pode ter aventais ricamente bordados, colares vistosos e toda a série de penduricalhos que se quiser. Mas, em Maçonaria o que verdadeiramente importa é a construção que cada um faz de si e em si mesmo. Esse é que é o princípio e o fim.

A pompa, a circunstância, os penduricalhos, os profusos elogios, saudações e outras intervenções fazem parte, mas não são mais do que mundanidades, afinal concessões que nós, maçons, fazemos ao que de nós menos importa, à imperfeição que reside em nós. Se nós, maçons, não nos reconhecêssemos imperfeitos, não buscaríamos aperfeiçoarmo-nos... E é esse nosso lado imperfeito que atende a todas essas mundanidades. Mas o maçom deve ter sempre presente que essas mundanidades não são mais do que a ganga, a roupa, o cenário, que acompanha e simultaneamente cobre o que realmente interessa: o discreto mas incessante trabalho que cada um deve fazer em si para procurar sempre ser um pouco melhor, um pouco mais digno da centelha divina ínsita na Vida que o anima e que é verdadeiramente o essencial de si, o que permanecerá depois de tudo o resto se desintegrar.

Não há mal nenhum que o maçom aprecie a pompa e circunstância, ache bonitos os dourados e penduricalhos - desde que não se esqueça nunca de que tudo isso pouco significa em face do que verdadeiramente importa: o seu esforço constante e solitário no burilar de si próprio, na procura da libertação da Luz que busca e que afinal traz em si e só precisa descobri-la e desvelá-la. Só assim as mundanidades permanecem confinadas onde é saudável que permaneçam relegadas - e não se transformam em profanidades.

Pompa, circunstância, penduricalhos, títulos, honrarias não passam de, porventura necessárias, concessões que o maçom faz a si próprio, na parte de si que menos importa. Mas integram apenas o ponto de partida, nunca constarão do ansiado porto de chegada... À medida que se vai construindo, o maçom vai vendo diminuir o "valor" de tudo isso.

Porque o que todos os maçons sabem e não devem nunca esquecer é que há uma igualdade essencial entre todos eles, desde o Aprendiz de alvo avental, ao Companheiro, ao Mestre, ao Oficial de Loja, ao Venerável Mestre, ao Grande Oficial e ao Grão-Mestre: com mais ou menos atavios nos seus aventais, com mais ou menos brilhos, com mais ou menos louvores ou elogios, com mais ou menos "importância", todos não passam de Operários em Construção!

Rui Bandeira
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sábado, 20 de agosto de 2016

SER OU ESTAR MAÇOM

Atualmente podemos afirmar que "Ser ou Estar alguma coisa" está se tornando uma expressão bastante difundida, que é utilizada para identificar se uma pessoa assumiu ou não seu posicionamento correto com respeito a qualquer organização da qual participa, como por exemplo - quando se desempenha um cargo público ou legislativo, tal qual o de "Estar Ministro", entre outros exemplos, sendo inclusive utilizado com personagens em programas humorísticos. Absorvendo este conceito e aplicando-o no seio de nossa Fraternidade percebemos que todos nós "Estamos Maçons" ao procedermos nossa Iniciação.
Estamos Maçons ao freqüentarmos a Loja e pagarmos as suas mensalidades e taxas. Estamos Maçons quando participamos de uma atividade organizada pela loja, uma atividade filantrópica, uma palestra, uma visita a outra Loja. Ou até mesmo Estamos Maçons quando meditamos sobre o nosso papel e partimos em busca da meditação interior em busca da verdade.
Mas o que é Ser Maçom? O verbo SER não poderia ser considerado sinônimo do verbo ESTAR. A caracterização mais expressiva é de que estar é um verbo que indica certo estado, portanto, há como que embutido em seu conteúdo certa passividade, enquanto que o verbo ser é ativo, representa ativação.
Ser Maçom é um estado de espírito que deve caracterizar o membro presente a toda situação em que pode ajudar e cooperar para que o mundo torne-se de alguma forma melhor. Ser Maçom é compreender que por mais poderosas que sejam as forças externas elas devem ser dominadas pela energia que tem sede em sua própria personalidade. Ser Maçom é ter consciência que sua presença discreta pode dar apoio a novos projetos úteis à comunidade e constituir-se num valoroso pilar de sustentação de valores mais nobres do indivíduo.
Ser Maçom é ser o eterno estudante que busca o ensinamento diário, tirando de cada situação uma lição, e aplica com êxito os princípios estudados. Desenvolve em toda oportunidade sua intuição, sua força de vontade, sua capacidade de ouvir e entender os outros. Temos que considerar que o Ser Maçom deve, como livre pensador, questionar o porquê de determinados acontecimentos entendendo e vivenciando nosso aprendizado que palmilhamos lentamente, com passos firmes para não tropeçar nos erros e vícios do passado, mesmo que em momentos saiamos da trajetória para poder compreender o mundo com uma visão holística de suas nuances.
O Maçom que se limita a ler ou estudar as instruções dos graus ou a literatura disponível e não procura aplicar em sua vida diária os conceitos que lhe são transmitidos, na busca do desbaste da Pedra Bruta, e em erigir o Templo Interno, perde excelentes oportunidades de ampliar seus conhecimentos e de verificar como o saber do aprendizado da Arte Real pode ser útil para o seu bem-estar na busca de seu retorno ao Cósmico.
O Ser Maçom é aquele estado em que, sem abandonar os hábitos de disciplina racional, a mente busca uma abrangência do universo, o conhecimento intrínseco dos fenômenos que estão ocorrendo, procurando desenvolver a sensibilidade e a compreensão das razões de estudo. O Maçom que desenvolveu sua mente para estar atento e acompanhar a evolução dos fatos sabe como conhecer as sutilezas que envolvem sua origens, como um oleiro que dá formas sutis ao barro bruto, enquanto que o Maçom modela sua própria consciência num confronto com sua própria personalidade.
Vivemos juntos e cruzamos com diferentes seres humanos que pensam e agem de maneira diversa da nossa. Isto nos propicia excelentes oportunidades de nos adaptarmos a estas personalidades e, sobretudo, de aprimorarmos as formas de inter-relacionamento. A sabedoria do bem viver é despertada quando nos conscientizamos dessas diferenças e procuramos compreender o indivíduo através de suas particularidades. Ser Maçom é despertar este sentido de compreensão do indivíduo e estar preparado para assisti-lo nos momentos de dificuldades. O exemplo de uma atitude mental moderada, sincera e cooperativa caracteriza muito o Ser Maçom. E todos notam que sob muitos aspectos, o Ser Maçom diferencia-se como indivíduo entre todos os outros.
No aprendizado inicial aprendemos que, além dos SS.'. TT.'. e PP.'., o Maçom deve ser reconhecido pelos atos e posturas dentro da sociedade e no meio onde vive, traduzindo de maneira diuturna o nosso aprendizado e a filosofia dos postulados da Arte Real. Sentimos que temos que desempenhar um papel mais complexo na sociedade e dar uma contribuição positiva para que ela se torne superior. Ser Maçom implica em algumas renúncias, mas a compensação que advém deste estado de espírito especial é muito agradável. Sentimo-nos como se fôssemos os autores da novela e não apenas os personagens passivos, criados pelos mesmos. Temos uma participação presente e atuante, embora que, aparentemente o Maçom apresente-se um tanto reservado. Já se disse que nos colocamos muito mais em evidência, quando nos mantemos como observadores e damos a colaboração somente quando é solicitada pelos outros, do que aqueles que procuram apresentarem-se como os donos da festa. Considerem, sobretudo, que encontramos muitas pessoas evoluídas e que podem ser consideradas possuídas de elevado espírito Maçom. Têm uma expressiva vivência das coisas do mundo e utilizam grande sabedoria em suas decisões, mesmo se nunca se tornaram Maçons.
Nós estamos Maçom ao entrarmos na Ordem e Somos Maçom quando o espírito dela entrar em nós. A diferença é muito grande, mas facilmente perceptível. Irmãos unamo-nos na trilha que leva ao Templo ideal e tomemos o cuidado para não Estarmos Maçons, para não trilharmos a Maçonaria simplesmente cumprindo Rituais, envergando a mera condição de um "Profano de Avental". Que todos avaliem como é bom SER MAÇOM!

FELIZ DIA DO MAÇOM PARA TODOS.

Texto recebido por email do Ir.'. José Bonato - Secretário Loja Athena 
Autoria não indicada.

quarta-feira, 17 de agosto de 2016

A ÁRVORE DA VIDA E OS ANTIGOS MISTÉRIOS


Foi Jung que nos chamou a atenção para esse aspecto particular da nossa psique, que é o compartilhamento coletivo e inconsciente de uma simbologia que habita na mente da humanidade desde os seus primórdios. Essa simbologia, que ele chamou de mundo dos arquétipos, é um arsenal de conceitos, intuições e experiências que as pessoas, ao longo do tempo vão acumulando em suas mentes inconscientes e transmitindo aos seus descendentes, na forma de costumes, tradições e outros comportamentos que se tornam cultura popular. Esses traços de cultura, muitas vezes, se convertem em crenças e valores que acabam conformando a vida das pessoas e suas sociedades, tanto para o bem como para o mal.
A religião é uma dessas experiências psíquicas cujas raízes estão plantadas no inconsciente coletivo da humanidade, mas seus ramos e frutos têm, ao longo do tempo e da história, conformado a vida de grande parte da humanidade. Todas as pessoas professam alguma forma de religião, já que, de um ponto de vista lógico, o próprio ateísmo seria uma religião, ou seja, a religião sem Deus, a crença do ateu.
Quem, em sã consciência, consegue formular de maneira lógica os fundamentos da sua religião sem apelar, no fim dos seus argumentos, para o velho recurso da fé? E não dizer que os fundamentos da fé não se discutem, mas aceita-se ou não, e pronto?
Assim é porque a religião é um fenômeno fundamentado em arquétipos hospedados no Inconsciente Coletivo da humanidade desde as suas primeiras experiências psíquicas. Fenômenos observados na natureza e não inteiramente compreendidos; intuições sobre fatos e acontecimentos que a mente não consegue explicar; sentimentos intraduzíveis na linguagem pobre e rude das primeiras civilizações são o fundamento de todas as religiões.
O que não se consegue exprimir em linguagem organizada, conceitual, lógica, a nossa mente transforma em símbolo, mito, diagrama, metáfora ou outra forma qualquer de mensagem. Pois toda informação que o nosso organismo recebe através dos seus cinco sentidos é armazenada em nossa mente. Se é processada pela mente consciente torna-se conhecimento, se não é processada dessa forma, torna-se intuições, pressentimentos, superstições.
Assim, é a fauna inconsciente, que muitas vezes, torna-se uma crença arraigada, e acaba dando nascimento ao fenômeno da religião. Esse fenômeno, que foi explorado por James Frazer (O Ramo de Ouro, 1890), nos leva a um tema particularmente relevante aos adeptos da Cabala e da Maçonaria, que são os chamados Antigos Mistérios.
Como sabemos, todos os povos antigos costumavam, de alguma forma, prestar homenagens à Terra-mãe, através de algum tipo de sacrifício ou representação folclórica, que tinha por objetivo obter as graças da divindade, para que ela os premiasse com fartas colheitas.
Fenômeno observado em seus efeitos, mas nunca compreendido em suas causas, as antigas civilizações intuíam nesse comportamento da natureza uma reciprocidade de ação que era benéfica quando elas lhe prestavam culto e maléfica quando esse culto não era prestado, ou, no seu entender, era mal feito ou recusado pela divindade que presidia essa propriedade da terra. Se perguntados por que realizavam tais cultos, eles não saberiam dar fundamentos lógicos para isso, mas sabiam que algum resultado disso adviria, e ninguém duvidava da importância desses cultos. Porque eles estavam entranhados no próprio espírito desses povos, e não realizá-los, na forma devida, traria algum tipo de malefício para o povo.
No Egito, com os Mistérios de Ísis, ou na Mesopotâmia com os ritos consagrados à deusa Ishtar, ou na Índia com os Mistérios de Indra, esses festivais, como eram chamados essas representações, tinham um caráter social e religioso que davam marca a um simbolismo arquetípico da maior importância para esses povos. Até na Grécia e entre os povos que se desenvolveram sob sua influência cultural, esse simbolismo assumiu um aspecto tão fundamental em suas culturas, que a partir de certo momento da sua história transformou-se em um instituto patrocinado pelo próprio Estado. É o caso da República de Atenas, por exemplo, que recepcionou, na legislação que Sólon lhes outorgou, os chamados Mistérios de Elêusis, como marca fundamental e obrigatória de sua cultura social, punindo inclusive com penas extremamente severas aqueles que violassem o caráter sacro dessas instituições. Mais tarde esse instituto foi recepcionado na legislação romana, por imposição do Imperador Adriano em 125 da era cristã[1].
Os Mistérios de Elêusis, como sabemos, eram originalmente  um festival realizado na cidade santuário do mesmo nome, pequena aldeia próxima a Atenas. Fundamentado no mesmo espírito que hoje patrocina as festas populares dedicadas aos santos e santas padroeiras das nossas cidades, esses festivais tinham o objetivo de homenagear a deusa Deméter (Ceres, para os romanos) que, na mitologia grega, era a deusa que protegia a agricultura, personificada como a Terra-mãe. Porém, diferentemente dos nossos festivais religiosos modernos, o festival de Elêusis tinha marcas notadamente iniciáticas, pois contemplava uma parte não aberta à população, na qual somente pessoas escolhidas podiam participar. Esses eram os chamados “iniciados” nos Mistérios da deusa Deméter, a quem se acreditava eram conferidos importantes segredos iniciáticos, que iam desde conhecimentos científicos, políticos e sociológicos de alta relevância para a própria sociedade grega em geral, a segredos da religião grega, só acessíveis a alguns eleitos. A estes iniciados eram revelados, segundo Platão, os verdadeiros significados dos mitos e alegorias das lendas gregas, que constituíam o essencial das crenças que dominavam o espirito do povo helênico.
Deméter, a Terra-mãe, era vista pelos gregos como a mãe das almas, pois sua filha Perséfone (conhecida pelos romanos como Prosérpina), representava não só a semente que é plantada para dar renovos à vida, mas também o arquétipo da própria alma humana, ou seja, a Psique, que morre e revive no seio da terra. Assim, os Mistérios de Elêusis, como também os Mistérios de Ísis, no Egito, eram uma representação que tinha por objetivo homenagear os poderes da terra, capaz de gerar a vida a partir da morte. Dessa forma, se ela age assim com a produção da natureza, assim será também com a vida espiritual do homem, cuja continuidade depende do mesmo processo morte-vida, vida-morte, para que a espécie continue e evolua[2].
Com as variantes de estilo esses Mistérios eram praticados pela grande maioria dos povos antigos e sua fundamentação psíquica se apoiava no mito do sacrifício que se deve fazer à Mãe-terra para que ela outorgue, com benevolência, os seus frutos. Em muitos desses Mistérios, vidas de animais ou mesmo de pessoas eram sacrificadas à deusa. As lendas gregas estão cheias de histórias desses sacrifícios, onde, ás vezes, o sentimento humanístico do grego se revolta e levanta, no seio do povo, um herói para desafiar essas exigências, como nas lendas de Perseu, Teseu, Hércules e Prometeu. Nas civilizações da América pré-colombiana esses ritos eram praticados até a chegada dos colonizadores, com os vencedores sacrificando, no alto das suas pirâmides, milhares de prisioneiros, e deixando que seu sangue escorresse para as plantações, com o objetivo de fertilizá-las. Mais do que um ritual de crueldade, próprio de civilizações bárbaras e ignorantes, esse costume era uma variante dos cultos em homenagem à Mãe-Terra.
Isso mostra o poder dos arquétipos e o quanto eles conformam o comportamento das pessoas. Até na espiritualizada religião de Israel esse costume foi conservado, pois remanesceu na simbólica oferta do cordeiro pascal, como selo de Aliança entre o povo de Israel e seu deus. E o cristianismo, formado no simbolismo da religião judaica, espiritualizou esse arquétipo na mística oferta do sangue de Cristo, como o herói que se sacrifica pela salvação da humanidade. E a própria Bíblia, com os episódios do sacrifício de Abraão e Jefté, mostra que nos primórdios da sua civilização os israelenses também praticavam rituais de sacrifício humano.
Desta forma, a Árvore da Vida, biológica e espiritualmente, se renova e vai fornecendo, ad æternum, os seus frutos. Não é sem razão que Cícero, o grande orador romano dos tempos de César, ao comentar os Mistérios de Elêusis, nos quais era iniciado, disse:
Muito do que é excelente e divino faz com que Atenas tenha produzido e acrescentado às nossas vidas, mas nada melhor do que aqueles Mistérios, pelos quais somos formados e moldados partindo de um estado de humanidade rude e selvagem. Nos Mistérios, nós percebemos os princípios reais da vida e aprendemos a viver de maneira feliz, mas principalmente a morrer com uma esperança mais justa.”[3]
Mas para que ela se renove e dê, perenemente, seus frutos, é preciso que o homem a cultive. Assim, a Árvore da Vida, que originalmente fora plantada por Deus para sustento da Criação, a partir do momento em que o homem tornou-se consciente e capaz de fazer suas próprias escolhas, passou a ser cultivada por ele e dele depende para a sua produção. Assim é que pode ser entendida a dicção da Bíblia quando diz que “ o homem se tornou um de nós; para conhecer o bem e o mal. Agora, talvez ele estenda sua mão e tome também da árvore da vida, coma e viva para sempre.”[4]
Metáfora mais eloquente do que essa para figurar os Mistérios que a própria natureza, ao engendrar e desenvolver um processo para a evolução da vida não podia ser melhor urdida pela mente do homem. Pois aqui, como bem assinala Teilhard de Chardin, está o reconhecimento de que na Criação de Deus, e mais especificamente, na humanidade, se desenvolve um plano de construção cósmica no qual o homem não é, como se já pensou, o centro nem a finalidade, mas sim, um eixo privilegiado de evolução. Quer dizer, o universo não existe para servir o homem, mas sim o homem para construí-lo e dar-lhe uma orientação. Não se trata de negar as teses antropocentristas e antropomorfistas que colocam o homem como “medida” de todas as coisas como ingenuamente pensavam os humanistas do passado, mas sim de reconhecer um novo humanismo, que sem destronar o homem da sua importância no processo de construção da obra de Deus, o coloca no seu devido lugar: o de uma função bem definida nesse processo.
Porque ao cultivar a terra o homem tornou-se o responsável pela existência da Árvore da Vida. Expulso da sua condição primitiva de inocência inconsciente, onde a própria natureza o alimentava sem que ele precisasse dar nada em troca, ele agora tem que concorrer para produzir esses frutos. Tornou-se Senhor do bem e do mal. Da caça, da pesca, da coleta dos frutos da terra ─ estado paradisíaco que Jesus descreve em seu discurso como aquele em que o Pai do Céu nos sustenta ─ à agricultura, à domesticação e à criação de animais, à industrialização e outras conquistas civilizatórias, a humanidade depende agora, da sua própria ação para sobreviver. E assim, o homem, que antes cultuava a Mãe-terra Deméter com sacrifícios de sangue para que ela lhes prodigalizasse seus frutos, hoje deve oferecer-lhe o sacrifício do seu trabalho e dar-lhe por fim, o seu próprio corpo como semente para que ela continue a sustentar a Árvore da Vida.

Autor: João Anatalino
Notas
[1] – Dudley Wright – Os Ritos e Mistérios de Elêusis – Madras,2004
[2] – Os Ritos de Elêusis eram realizados em duas etapas: anualmente, no santuário de Agras, no mês de fevereiro eram realizados os “Pequenos Mistérios”. E de cinco em cinco anos, em Elêusis, eram realizados os “ Grandes Mistérios”.
[3] – Dudley Wright – Os Ritos e Mistérios de Elêusis, citado p. 24
[4] – Gênesis, 3:22;23

Fonte:
https://opontodentrodocirculo.wordpress.com/2016/08/17/a-arvore-da-vida-e-os-antigos-misterios/

terça-feira, 2 de agosto de 2016

Cerimónia de iniciação e Iniciação


Como é sabido, a admissão na Maçonaria ocorre através de uma Cerimónia de Iniciação do interessado. Através dessa Cerimónia, o interessado adquire formalmente a condição de maçom. Mas adquire em que termos? É maçom enquanto continuar a integrar uma Obediência maçónica, ou a aquisição dessa qualidade é vitalícia, isto é, perdura mesmo que a pessoa em causa abandone a Maçonaria ou dela seja expulsa ou excluída?

Os defensores da primeira alternativa consideram que a admissão na Maçonaria pressupõe a aceitação das regras vigentes na mesma, designadamente na Obediência em que ocorre a integração, e  que essas regras, consubstanciadas normalmente em regulamento, estatuto ou equivalente conjunto de normas, estipulam que aquele que abandone a Maçonaria ou dela seja expulso ou excluído perde a qualidade de maçom. Quem estiver abrangido por qualquer destas situações será um ex-maçom.

Os defensores da segunda alternativa contrapõem que esta é uma visão puramente administrativa da questão, írrita porque a Maçonaria não se pode nem deve reduzir a uma estrutura administrativa, antes é uma organização iniciática. E o princípio iniciático impõe que quem foi iniciado, iniciado está e nunca deixará de estar, independentemente da sua situação burocrática ou administrativa, da sua ligação ou falta dela a uma estrutura maçónica. Conforme pontua René Guénon, numa citação proporcionada recentemente por um Irmão sabedor:

 "... as organizações iniciáticas diferem profundamente das associações profanas, às quais elas não podem ser assemelhadas ou mesmo comparadas seja de que modo for; quem se retira ou é excluído de uma associação profana não tem mais nenhum laço com ela e volta a ser exatamente o que era antes de fazer parte dela; pelo contrário, a ligação estabelecida com caráter iniciático não depende em nada de contingências tais como uma demissão ou uma exclusão que são de ordem simplesmente "administrativa", como já dissemos, e apenas afetam as relações exteriores; e se estas últimas se situam todas na ordem profana, onde uma associação não tem nada mais a dar aos seus membros, elas são pelo contrário na ordem iniciática, um meio simplesmente acessório, e de todo desnecessário, relativamente às realidades interiores, únicas que verdadeiramente importam." 

E, mais adiante, em nota associada:

 "... exemplo mais simples e mais vulgar no que diz respeito às organizações iniciáticas: é absolutamente inexato falar de um "ex-Maçom", como se faz correntemente; um Maçom demissionário ou mesmo excluído não fazendo mais parte de qualquer Loja nem de nenhuma Obediência não fica menos Maçom por isso; queira-o ele ou não o queira, isso nada altera; e a prova é que, se ele vier depois a ser "reintegrado" não é iniciado de novo..."  (In "Aperçus sur L'Initiation", Editions Traditionnelles, pag. 113 e 114. Paris, 1977)   

Ambas as posições têm aspetos que considero corretos e pontos que não merecem a minha adesão. É para mim claro que uma Iniciação não tem o mesmo restrito significado de uma adesão a qualquer associação ou coletividade, automaticamente extinta por vontade do próprio ou da entidade a que se aderiu. Mas também coloco reservas ao entendimento de que uma cerimónia de iniciação "cria" um maçom, que permanecerá maçom até ao dia de sua morte, contra ventos e marés, mesmo que não o queira e ainda que não se comporte como tal. A Iniciação não é uma simples adesão ou inscrição numa agremiação, mas também não tem, a meu ver, qualidades mágicas que transformem alguém para todo o sempre, mesmo que o não queira ou, decididamente, recuse comportar-se como é suposto fazê-lo quem se transforme.

O entendimento de René Guénon, que muitos seguem, na minha modesta opinião insere-se numa tradição e visão religiosa cristã que - quer queiramos, quer não - influencia o pensamento europeu desde há séculos e séculos. Nos seus trechos acima transcritos, onde se escreve "Iniciação" poderia , com as devidas alterações, escrever-se, por exemplo, "batismo" e tirar-se a mesma conclusão... Na tradição religiosa cristã, a integração na comunidade cristã ocorre pelo batismo e perdura até à morte - independentemente de o batizado ser, muitas vezes, um infante destituído ainda da capacidade de formar e expressar qualquer vontade sobre o assunto. E, parafraseando Guenon, também um cristão batizado que se converta a uma outra religião, se porventura se reconverter ao cristianismo não é batizado de novo - sinal de que o batismo cria um cristão para todo o sempre e independentemente de vontades e vicissitudes...

Em matéria religiosa, ainda posso entender que ao batismo se associe essa natureza transformadora indestrutível. Tenho, porém, muita dificuldade em aceitar, sem reservas, idêntica natureza transformadora indestrutível à Cerimónia de Iniciação.

Claro que uma organização iniciática difere profundamente das associações profanas. Claro que a Cerimónia de Iniciação é bem mais e bem mais profunda do que o preenchimento de uma ficha de adesão e uma decisão de aceitação de um novo "associado".

Mas considero errado dizer-se que quem se submeteu a uma Cerimónia de Iniciação maçónica fica automaticamente constituído maçom - e para toda a vida, suceda o que suceder, faça o que fizer, decida o que decidir.

Chamo à colação um exemplo histórico que penso permitirá ilustrar as minhas reservas:

"Num documento da Maçonaria, assinado por Egas Moniz, comprova-se que Agostinho Lourenço terá sido membro de uma loja maçónica, em 1914. As mesmas figuras que comparecem com ele, como o médico Ramon Nonato La Féria, na ocasião de uma cerimónia maçónica, testemunhada pelo jornal O Século, em 1931, serão perseguidas pela polícia que ele dirige, meia dezena de anos depois." (in http://visao.sapo.pt/actualidade/portugal/2016-07-17-O-anjo-negro-de-Salazar).

O sinistro e temível Capitão Agostinho Lourenço, todo-poderoso criador e diretor da PVDE, antecessora da PIDE, foi iniciado maçom! Anos depois disso, maré política virada e influente prócere do regime de Salazar, ilegalizada que foi a Maçonaria, não teve problemas em perseguir os seus antigos Irmãos. Devemos continuar, em nome da via iniciática, a considerar este personagem como continuando a ser maçom, e não um ex-maçom, quando se dedicou, ao serviço do seu senhor político a perseguir os que outrora considerara seus Irmãos? Para mim, não restam quaisquer dúvidas: aquele personagem não passou de, inequivocamente, um infeliz erro de casting...

É, para mim, claro que a Cerimónia de Iniciação não tem artes mágicas para transformar um profano num maçom. Nem todos os que se submetem à Cerimónia de Iniciação são verdadeiramente Iniciados. A Cerimónia de Iniciação (ver, neste blogue, A Iniciação (I) e A Iniciação (II)) é, a meu ver, essencialmente um catalisador que propicia a mudança e transformação daquele que a ela se submete, no sentido de passar de um profano a um vero Iniciado. Mas essa transformação ou é feita no próprio pelo próprio, ou não há Cerimónia que lhe valha...

Assim, e resumindo, a minha posição sobre este assunto é: um maçom verdadeiramente Iniciado é, sim, um maçom para toda a vida - e não haverá ventos nem marés nem vicissitudes nem vontades que mudem isso, porque, se foi verdadeiramente Iniciado, foi transformado e comportar-se-á em conformidade. Normalmente, não sairá, nem será excluído ou expulso. Se sair de uma Obediência, ou dela for excluído ou mesmo expulso, se foi verdadeiramente Iniciado e transformado, continuarei a considerá-lo como tal - e, se calhar, o problema será da estrutura que o afastou... Mas não basta ter passado por uma Cerimónia de Iniciação para ser verdadeiramente Iniciado. E aqueles que, embora tendo-se submetido a uma Cerimónia de Iniciação, não lograram - porque não quiseram, ou simplesmente porque não foram capazes - transformar-se a si próprios não me merecem o reconhecimento como Iniciados. Saindo, sendo excluídos ou expulsos, são simplesmente ex-maçons e, afinal, impropriamente, assim designados, porque não passaram de erros de casting...

No fundo, no fundo, ambas as posições têm a sua razão. O que importa é distinguir entre simplesmente passar por uma Cerimónia de Iniciação e ser verdadeiramente Iniciado. Aqueles serão ex-maçons, porque no fundo nunca foram maçons. Estes merecem sempre o nosso reconhecimento como tal, porque nunca desmerecerão da transformação que tiveram.

Disse. Não sei se bem, se mal. Mas disse e dito está!

Rui Bandeira
http://a-partir-pedra.blogspot.com.br/2016/08/cerimonia-de-iniciacao-e-iniciacao.html

Brilhante o Rui, como sempre!

segunda-feira, 25 de julho de 2016

Impressões

O Grande Arquiteto Do Universo usa um compasso misterioso, simples e complexo, paradoxal ao nosso entendimento, mas perfeito em seu desenho. Já foi dito que “Deus é um círculo cujo centro está em toda a parte e a circunferência em parte alguma”, a partir da cada ínfima partícula e estendida ao infinito. E isso é justo e perfeito, sem ou com a nossa compreensão. Vislumbramos essa exatidão sem erros, onde o recolhimento, mesmo pela destruição, tem o seu porque, a escuridão que nos reforça a Luz opera no equilíbrio do movimento constante e não para obscurecer as almas.
A falta de chão que nos dá a incapacidade de compreender o todo, isso é cegueira nossa, humana, fraquezas que nos esforçamos em vencer utilizando as medidas das nossas capacidades, e para a retidão da nossa conduta, para a doma dos impulsos irracionais usamos o esquadro da ética e da moral. Temos uma batalha por dia, iniciada no raiar do sol e uma guerra por vida, que é contra um dragão poderoso que se chama ego e só dá trégua ao anoitecer de cada encarnação. E nessa caminhada temos muita sorte quando encontramos irmãos do bem.
Do primeiro passo vendado, onde me senti já vulnerável, vou lembrar para sempre de duas vozes, uma masculina e uma feminina que me passaram uma paz e uma confiança  reconfortantes, uma segunda caminhada no escuro e uma pausa para começar a refletir sobre o que estava fazendo ali, senti meu coração batendo forte, ouvi a voz que oferecia ajuda e conforto a uma irmã com frio, ia crescendo minha emoção, mista de bem estar e expectativa aflita das provas que estavam por vir.
Primeiro foi o testamento na Câmara da Reflexão, desvendar os olhos por um momento, que seria um alívio, mas que exigiu mais olhar para dentro. Quais os meus deveres? Devoção, obediência, gratidão, amor, respeito, honra, palavra. As advertências. O juramento, afinado com os dizeres sobre o V.I.T.R.I.O.L., entrega incondicional à verdade, ao que é certo, ao respeito e discrição, ao reverente silencio e diligente trabalho em prol dos necessitados. Uma certeza de que não é pequeno o esforço para entrar ali, ficar ali, mesmo por poucos instantes, a pirâmide, o galo, o pão, a ampulheta, o sal e a água, a lâmina e a pena e o tinteiro, o crânio, a vela, minha mão sobre a mesa, minha cabeça pesada, um espelho invisível me mostrou a mim mesmo uma verdade dura, firme, irreversível. Meu nome e minha assinatura. Tudo simbólico e tudo real, as rédeas das minhas responsabilidades, só as minhas próprias mãos podem segurar, mas não estou sozinho.
Veio depois, a escuridão novamente, dessa vez total. Perdi a noção do tempo, encarei alguns medos, orei e mentalizei tudo de mais importante que há na minha vida, os verdadeiros motivos por buscar tudo aquilo. A certeza de que é para o meu aprimoramento e a melhoria da minha atuação em todos os momentos.
As vozes ao fundo questionavam, conduziam para um destino diferente, novo, um renascer, que era pedido por mim e mais 3 irmãos futuros aprendizes, e testados por quem tinha esse poder, os Mestres, Venerável, irmãs e irmãos maçons de verdade preparavam o processo. Eram pessoas que eu já conhecia, em sua maioria, pelo menos os seus rostos, reconheci suas vozes, mas estavam revestidos de papéis atemporais, encarnações vivas da hierarquia da arte real.
Me senti numa queda, pedi para estar ali, para ser aceito, jurar e honrar minha palavra, poucas vezes na vida senti algo parecido. Epifania e catarse. As provas, da água, sua limpeza e frescor, do fogo, seu símbolo de purificação do espírito, o salto no desconhecido, de novo com uma confiança cega e absoluta em quem me amparava, o calor no coração, as repetidas afirmativas, “Sim”, Sim, “Sim”, a água doce e amarga na taça da verdade, o corpo no caixão, mais uma advertência da punição à traição, a lembrança de São João Batista, as três batidas nos altares, os três, os quatro degraus, tudo passou muito rápido. Os sons, chaves, metais, portas e madeiras, a música, os aromas, de quem estava perto, dos incensos.
Chegou a hora então, como Neófito, de receber a luz, a nossa frente estava o Templo, reconheci a maioria dos símbolos. Entre Colunas, vi todos encapuzados, espadas apontadas para nós não como ameaça, mas como emissão de boas energias e bons votos. Logo em seguida, os rostos iluminados, todos transmitiam satisfação e alegria em receber novos irmãos a quem vão conceder aos poucos, nas doses e no tempo certo, fragmentos do grande conhecimento que tem, de história, de ritos e rituais e da experiência de ser Maçom. De joelhos , sob a espada, no altar dos juramentos, confirmei minha iniciação.
Por fim, acompanhar a primeira sessão, receber a palavra, a esquadria, os sinais, os gestos e o abraço fraternal. Começar a polir a pedra bruta com a orientação do 2º vigilante, conhecer a hierarquia e a ordem dos movimentos e admirar a arte, debaixo da abóboda celeste e sobre o mosaico quadriculado, tudo belo e harmonioso. Ouvir as boas vindas do Orador, acompanhar a condução perfeita do Venerável Mestre.
Irmãos Maçons, sou o I.’. M.’. Luís, Aprendiz e daqui por diante estou à total disposição  da Augusta e Respeitável Loja Maçônica Mista Triangulo da Fraternidade.
Or.’. de Porto Alegre, 11 de Maio de 2016 da E.’. V.’.
Ir.’. Luís Fernando
 Apr.’. M.’.


Bibliografia:BARRETO, Edgar Mena. Manual de Instruções Maçônicas de Aprendiz. Porto Alegre, 1999, 2ª edição
Ritual do Aprendiz Maçom; Loja Maçônica Mista Triangulo da Fraternidade
http://www.noesquadro.com.br/

terça-feira, 21 de junho de 2016

MAÇONARIA E INTERVENÇÃO NA SOCIEDADE


Da predisposição de ambas as correntes relativamente ao papel mais ou menos ativo, mais ou menos institucionalmente interventivo, da Maçonaria na Sociedade decorrem assinaláveis diferenças na intervenção política.

A Maçonaria Regular não busca ter qualquer intervenção política em termos institucionais. Porque intervenção política implica confronto de ideias, entende que é normal que nas suas fileiras existam defensores das várias ideias em confronto e não se arroga o direito de se pronunciar institucionalmente a favor de uns dos seus obreiros e contra o entendimento de outros dos seus obreiros. A Maçonaria Regular é assim politicamente neutra. Cada um dos seus obreiros defende, dentro dos limites dos Valores essenciais da Maçonaria (hoje, felizmente, consensuais no mundo desenvolvido), as posições políticas que bem entende. Para a Maçonaria Regular, é possível e normal que dois políticos se digladiem na defesa de posições políticas divergentes, sendo ambos maçons - e quiçá integrando até a mesma Loja! O objetivo da Maçonaria Regular é sempre o mesmo: aperfeiçoar os seus obreiros, desejando que estes contribuam para o aperfeiçoamento da Sociedade. Quando os seus obreiros são políticos, apenas pretende que sejam cada vez melhores políticos, que, defendendo as suas ideias, o façam com Dignidade, com Elevação, com Honestidade, com Sentido de Dever e de Serviço Público. 

A Maçonaria Liberal, na medida em que pratique uma intervenção política, defendendo uma posição política, tenderá a juntar elementos de pensamentos tendencialmente compatíveis entre si e com a corrente de pensamento prosseguida pela Obediência. Será tendencialmente mais eficaz na defesa dos Valores da Instituição. Também se "amarra" às consequências dos eventuais reveses que a posição política que ativamente prossiga venha a sofrer. Nesse sentido, convém não esquecer a identificação histórica da Maçonaria com a I República e as consequências sofridas quando esta caiu...

Entendo que é estulto pretender afirmar-se, em absoluto, a superioridade de uma corrente sobre a outra. Cada uma das correntes tem a sua orientação e a sua prática, que será certamente a melhor para quem concorda e se sente confortável com elas. Entendo que, também nesta questão, devem os maçons atender e praticar a Virtude que consideram seu apanágio, a Tolerância. Cada um deve aceitar a posição do outro, ainda que (sobretudo quando) diversa da sua. O Outro tem tanto direito às suas convicções como nós. Devemos aceitar sem rebuço ou hesitação as convicções dos demais, tal como temos o direito de exigir que as nossas convicções sejam respeitadas pelos demais.

Em matéria de intevenção da Maçonaria na Sociedade, a questão não deverá ser nunca quem está certo e quem está errado quanto à intervenção política. Cada um, cada corrente, atua segundo a sua tradição. a sua evolução histórica, a sua forma de pensar. Em matéria de intervenção da Maçonaria na Sociedade, o mais produtivo é determinar o que cada um pode contribuir para a Sociedade, em prol desta.

E muito há para fazer e é possível fazer, em diversos campos de intervenção: na educação ambiental como na educação para a saúde, na promoção da igualdade de género, como na integração dos que, a qualquer título ou por qualquer condição sejam diferentes, na cooperação com as entidades que prestam auxílio e solidariedade a quem necessita como na promoção do desenvolvimento justo, sustentado e integrador, na atenção aos mais novos como na consideração e apoio aos mais idosos, na promoção da formação como no apoio e fruição das artes. Em pequenas organizações ou ações locais levadas a cabo pelas Lojas ou em mais amplos objetivos coordenados pelas Grandes Lojas ou Grandes Orientes.

Reduzir a intervenção da Maçonaria na Sociedade à política é, no meu entender, pensar muito pequeno, muito pouco e muito limitado, Há todo um conjunto de temas e necessidades e atividades e intervenções em que os maçons podem dar o seu contributo. E porventura ajudar a alterar e melhorar a nossa Sociedade muito mais e muito mais proficuamente do que imiscuindo-se na política.

Atenção, não me interpretem mal! Tenho todo o respeito por todos aqueles que se dedicam à defesa da causa pública. Não alinho nas algazarras de denegrimento dos políticos. A Política é uma atividade nobre, que é imensamente útil à Sociedade, desde que exercida com motivaões e comportamentos nobres.  Nesse sentido, tenho todo o respeito por todos os políticos que se comportam como bons maçons (sejam-no ou não). O que eu não quero é ver maçons a terem comportamentos de (certos) políticos...

Rui Bandeira
Fonte: http://a-partir-pedra.blogspot.com.br/

quinta-feira, 5 de maio de 2016

BEM VINDOS APRENDIZES


À GL.·. do G.·. A.·. D.·. U.·. 
Augusta e Respeitável Loja Maçônica Simbólica Mista Triângulo da Fraternidade  
S.·. 
F.·.             U.·.
  
Ponderações sobre a iniciação. 
Fui instado, por dever de ofício,  a falar sobre vossa Iniciação, mais do que uma vontade esta é uma responsabilidade do cargo que ocupo neste momento.  
Digo responsabilidade, pois após passardes pelo que passaram e sendo chamados agora de IIr.'., vocês esperam ouvir algo que fique marcado em vossas memórias. 
Acontece que assim como vocês, eu também me encontro neófito neste cargo, experimentando, ajustando minha fala, procurando seguir a ritualística e acima de tudo tentando aprender  me colocando à prova. E aqui vai  vossa primeira lição: Em Loja, estamos sempre sendo colocados à prova. 
A cerimônia pela qual passastes, se conseguistes esquecer um pouco do nervosismo devem ter notado seu caráter profundamente simbólico e sensorial. 
O de ser vendado, privado do mais importante sentido no mundo profano,  sentindo-se sozinho e abandonado em um canto, apenas ouvindo o que se passava ao redor. 
Ou de fazer um testamento, que coisa mais incômoda estar vivo e ter que pensar na morte, na nossa morte, os símbolos mostrando a transitoriedade da vida e aquele cartaz lembrando quais deveriam ser vossas verdadeiras intenções aqui. 
Também o de se sentir pressionado pelo interrogatório, talvez vulnerável por ter tido seus dados pessoais expostos de uma forma tão direta e, por fim, aliviado por ter aquela parte enfim terminado.  
 
Depois, o sentimento de ser amparado por mãos amigas e seguras nas viagens e nas tribulações postas ao longo do caminho, ser questionado tantas e tantas vezes se realmente tinha certeza de vossas intenções. 
Por fim, a água, o calor, a Luz. Tantas coisas acontecendo neste breve hiato da vida profana. 
Caros, a cerimônia de Iniciação acabou e esta jornada apenas principia, mas suas impressões e sentimentos, sem sombra de dúvidas, perdurarão por muito tempo.  
Esta cerimônia não é uma brincadeira, um forma de adultos passarem o tempo. Em algum momento o que vós passastes virá à tona, na forma de uma sensação diferente, especial, talvez até não muito agradável.  
Trabalhamos com um dos chacras mais importantes do corpo humano (lembram das três batidas no topo da cabeça ?)  além de tantos outros que serão ativados e desenvolvidos ao longo de vossa caminhada. 
A propósito, aqui verás IIr.'. mais avançados na lide maçônica e poderás pensar: - Tenho muito a aprender com ele/ela!  
Ledo engano, nós MM.'. é que temos muito a aprender com sua chegada, ou vocês acham que a Iniciação de novos membros tem apenas a finalidade de aumentar o número de IIr.'. de uma Loja ? 
Pois não tem!  
Na realidade o  aumento do quadro social é só um ‘efeito colateral’. A chegada de novos membros tem o objetivo de movimentar as energias, tirar da zona de conforto quem lá está, tanto para quem entra quanto para quem aqui está. 
Muito eu poderia falar sobre o ritual pelo qual recém passastes, mas seriam minhas impressões e não é isto que procuramos.  
Aqui se busca o aprendizado pelo estudo e principalmente pela experiência e já na primeira Loja serão instados a falar sobre vossas próprias impressões. 
Falando nisto, deixo uma pergunta para ficares com ela na cabeça. Era como achastes que seria ? Imaginastes desta forma ? Ficastes decepcionado ? 
De qualquer forma dizem que mais acrescentamos ao nosso cérebro e ao nosso espírito quando trilhamos caminhos diferentes a cada vez. 
E é só o que pedimos. Que trilhes vossa jornada de forma única, pessoal e intransferível.
  
Foi-te solicitado trabalho? Faça-o de boa vontade, com intenção, coloque sua ‘letra’ nele. Deixe-nos conhecer-vos através de suas próprias palavras. Afinal fostes vós que quisestes aqui entrar. 
Dedique-se ao ritual e ao seu entendimento prático, esotérico e simbólico. Quando notares  algo que considere piegas e talvez sem sentido, pergunte a si mesmo:  
- O que é que não estou enxergando aqui? - Porquê isto me foi apresentado neste momento e desta forma ? 
Olha em  torno, veja o Universo. O G.'. A.'. D.'.U.'. não joga dados.  
O ritual é a linha central sobre a qual todas os estudos são baseados e pela qual nossa caminhada aqui é trilhada.  
Aos nos apresentar símbolos e pedir que os interpretemos à luz de nosso conhecimento, a Maçonaria faz o seu melhor: Deixa o nosso livre arbítrio agir, através do intelecto, do pensar e do sentir, guiando nosso aprendizado. 
E o que pedimos em troca?  
Pedimos boa vontade em aprender e humildade pois aqui não é um lugar para competições, aqui todos se completam. 
Ainda, pedimos coragem para se expor e fazer valer o tempo de aprendizado, o seu e o nosso, pois uma das maiores lições que a Arte Real pode nos dar é que só podemos ir adiante por intermédio dos IIr.'..  
Uma Loja só é possível com o número correto de participantes , e em um dado momento você fará a diferença, você será a peça que não poderá faltar e por isto, outros contarão com você. 
A caminhada é longa, por vezes cansativa e difícil, nem sempre é fácil trabalhar nosso EGO, mas posso lhes garantir que estarão entre IIr.'.. 
Para encerrar digo-vos que aqui como em todos os lugares, algumas vezes vós podereis ficar desconfortável ou mesmo triste com algo dito ou feito, neste momento peço que lembrem-se: “Não há desbaste da P.'.B.'. sem atrito. 
Sejam bem vindos!
Or.·. de Porto Alegre, 24  de Abril de 2016  da   E.·. V.·.
Carlos Mutti
Orad.·.

sexta-feira, 15 de abril de 2016

ÉTICA DO DEVER

"A ética do dever é moderna porque confia no homem, na sua razão e na sua liberdade. É a ética do homem empreendedor, e nisto coincide com o surgimento e a ascensão da sociedade industrial e capitalista. Ela é estranha ao capitalismo consumista, na medida em que não dá grande valor ao gozo dos prazeres, acentuando privilegiadamente os deveres. A felicidade de que Kant fala é a da consciência do dever cumprido. A tranqüilidade da boa consciência. E se ele fala na busca dos bens materiais é porque considera que ser feliz, neste aspecto, é um dever do homem, uma vez que um homem frustrado faz mal a si e aos outros. Temos, pois, até uma obrigação de tudo fazermos para ser felizes, desde que seja tudo o que poderia ser universalizável, dentro do respeito aos demais. Não é a felicidade a qualquer preço."

Prof. Dr. Alvaro L. M. Valls (Dep. Filosofia - UFRGS)
in: https://www.ufrgs.br/bioetica/eticacon.htm

segunda-feira, 11 de abril de 2016

AFINAL É SÓ ISTO?


Um homem livre e de bons costumes, a certa altura, manifesta interesse em se integrar na maçonaria. Espera um bocado (ás vezes, um booom bocado...), alguns desconhecidos têm com ele conversas que lhe parecem cerrados interrogatórios, um belo dia é informado que foi aceite para ser iniciado, um não menos belo dia é mesmo iniciado. Vive uma cerimónia que, provavelmente, não vai esquecer até ao fim da sua vida e dizem-lhe que, a partir daí, é um Aprendiz. Passa um bom bocado (às vezes um booom bocado...) nessa condição e, outro belo dia, é elevado a Companheiro, noutra cerimónia que, esta, o dececiona um pouco. Passa outro bom (ou booom...) bocado e, em mais outro belo dia, é exaltado Mestre Maçom, numa nova cerimónia que, esta, vai rivalizar, na sua memória com aquela em que foi iniciado. A partir daí, é um elemento com pleno direito a intervir em tudo o que diz respeito à sua Loja e à Obediência em que se integra.

O homem livre e de bons costumes (desejavelmente melhores...), agora Mestre Maçom, às vezes - frequentemente - é atraído para efetuar o percurso de um (ou mais) sistema de Altos Graus. Algum tempo (e algumas despesas...) depois, interioriza que estes Altos Graus afinal mais não são do que desenvolvimentos, aprofundamentos, do que aprendera na Maçonaria azul, a dos três graus, Aprendiz, Companheiro e Mestre.

Entretanto, na sua Loja, o homem livre e de bons (desejavelmente melhores...) costumes vai evoluindo de jovem Mestre a Mestre experiente. Vai assegurando o exercício de vários ofícios em Loja, normalmente primeiro em substituição dos titulares, depois como elemento oficialmente integrando o Quadro de Oficiais da Loja. A certa altura, assegura o ofício de 2.º Vigilante, tem a responsabilidade de coordenar os Aprendizes, relembra o tempo em que ele próprio foi Aprendiz e trata de fazer o que se recorda que então apreciou que o "seu" 2.º Vigilante fez, mais aquilo que gostaria que ele tivesse feito. Depois, assegura o ofício de 1.º Vigilante, passa a coordenar os Companheiros e relembra o trabalho do "seu" 1.º Vigilante e acrescenta-lhe o que, quando Companheiro, sentiu que então faltara.

Um belo dia, sente a responsabilidade de ser-lhe confiada a gestão da sua Loja, de lhe ser entregue o malhete de Venerável Mestre. Tem natural alegria por ter recebido a confiança dos seus Irmãos e sente a responsabilidade de corresponder a essa confiança. Não sabe ainda que essa é apenas a primeira de duas alegrias: a segunda saboreá-la-á juntamente com o sentimento de dever cumprido e o alívio de terminar a responsabilidade de conduzir a Loja, na ocasião em que passar o malhete ao seu sucessor.

Depois... depois aconselha o seu sucessor, exerce o ofício mais humilde - mas não menos importante... - da Loja, e... passa ao estatuto de Mestre Instalado, ex-Venerável, senador da Loja, enfim, com mais ou menos colaboração com a Loja, com mais ou menos intervenção em ofícios em substituição, com mais ou menos exercício de ofícios em primeira linha destinados aos Mestres mais experientes, essencialmente passa à "reserva ativa" e a observar o percurso que fazem os que, depois dele, fazem o caminho que ele já fez.

É certo que há os tais Altos graus, é certo que pode haver a oportunidade de assegurar ofícios em Grande Loja, mas certo, certinho, é que passará os dez, vinte, trinta ou mais anos seguintes a fazer mais do mesmo.

Provavelmente, talvez quase certamente, em mais um belo dia sentirá assomar-lhe ao pensamento a pergunta: mas afinal a Maçonaria é só isto?

E é então, precisamente então, que, chegado o momento da verdade, o homem livre e de bons (desejavelmente melhores...) costumes, se fez bem o seu trabalho desde o já longínquo dia em que foi iniciado, imediatamente tem a sua resposta: Sim, é só isto, não deve ser mais do que isto e é preciso que seja exatamente isto!

Se der esta resposta a esta pergunta, pode sentir-se feliz, porque já aprendeu (ou melhor, pois convém não ser convencido nem petulante: já começou a aprender...) a primeira e essencial lição que a Maçonaria lhe ensina: a Maçonaria serve, tem como objetivo, destina-se ao aperfeiçoamento dos seus elementos. Dia a dia, hora a hora, momento a momento, sempre, desde o meio-dia até à meia-noite, isto é, desde o dia da sua iniciação até ao momento da sua passagem ao Oriente Eterno.

O aperfeiçoamento individual é uma atividade, um esforço, uma tarefa, que se assemelha a andar de bicicleta: se se parar por muito tempo, cai-se... O aperfeiçoamento individual, tal como a forma física, é um compromisso  permanente. Sabem os atletas e desportistas, da alta, média ou baixa competição, que para se atingir e melhorar a forma física, tem de se ter muito trabalho. E que, quando se vai de férias, ou se fica doente ou lesionado, ou simplesmente se para porque assim apetece, ao fim de pouco tempo deixa-se de se ficar em forma. E, para a atingir de novo, é preciso recomeçar e ressofrer o que se sofreu para atingir a forma da primeira vez.

O treino está para a forma física como o trabalho de aperfeiçoamento está para o aprumo moral e espiritual. Se se para, regride-se. Quem quer efetivamente ser melhor, tem de continuamente esforçar-se por ser melhor - sem descanso, sem interrupções, sem desfalecimentos - até ao momento em que o nosso tempo neste plano de existência termina. 

Portanto, meus Irmãos maçons, caros candidatos a integrarem a Maçonaria, simples curiosos, indiferentes que só por acaso vieram dar a este texto e (miraculosamente?) ainda o estão lendo, e até mesmo você, que não gosta mesmo nada dos maçons: Sim, afinal a Maçonaria é só isto, faz todo o sentido que seja só isto, não deve ser mais do que isto ou diferente disto, um percurso de aprendizagem, de repetição, muita repetição, de esforço, muito esforço, de persistência, muita persistência, apenas com um simples e aparentemente (mas só aparentemente...) fácil objetivo, ser melhor hoje do que se foi ontem, ser amanhã um pouco melhor do que se foi hoje, e assim prosseguir até à hora em que ao maçom é permitido pousar as suas ferramentas e passar ao Oriente Eterno.

Quanto mais depressa se interiorizar isto, mais fácil e mais profícuo é o trabalho!

Rui Bandeira
fonte: http://a-partir-pedra.blogspot.com.br/

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

O FALSO DISCÍPULO

  
Disse Jesus que o verdadeiro discípulo seria reconhecido pelo amor que praticasse, por amar seus semelhantes INCONDICIONALMENTE.
O falso discípulo decorou as escrituras, é um hermeneuta intelectual intolerante, armadilha do ego para fazer-se superior. O verdadeiro discípulo abraça incondicionalmente e fala de coração a coração;
O falso discípulo sacrifica simbolicamente Jesus e com o seu sangue purifica os “impuros”, esconjurando-os às chamas infernais. O verdadeiro discípulo limpa as “chagas” morais dos caídos sem a presunção de pureza;
O falso discípulo julga-se direitista e salvo. O verdadeiro discípulo não se presume evangelizado;
O falso discípulo exalta Jesus ensaguentado numa coroa de espinhos. O verdadeiro discípulo lembra-o misericordioso e consolador curando nas copas da àrvores e instruindo no sermão da montanha;
O falso discípulo, se vegetariano, com acidez menospreza os carnívoros e por vezes prefere conviver com os animais do que com as humanas criaturas. O verdadeiro discípulo senta com todos à mesa e não impõe radicalmente sua escolha, assim como Jesus comungava à mesa dos coletores de impostos;
O falso discípulo aguarda ansiosamente a purificação da humanidade através de proféticas catástrofes. O verdadeiro discípulo compreende que somos espíritos imortais e elege à si mesmo consolar as “chagas” morais de seus irmãos caídos nos escombros da vida;
O falso discípulo se esconde em fakes e perfis nas redes sociais não assumindo sua identidade. O verdadeiro discípulo não teme se mostrar, assim como Jesus o fez entrando em Jerusalém num burrico;
O falso discípulo é fanático pelo guru espiritual ou o seu santo de fé. O verdadeiro discípulo compreendeu a universalidade do Mestre e entende que todos são seres divinos, chispas de uma mesma chama sagrada que é nosso Criador;
Os verdadeiros discípulos estão em todas as religiões e em nenhuma ao mesmo tempo, eis que são o caráter e o amor os fatores eletivos ao Mestre e não a pseudo perfeição doutrinária.
 
Fonte: http://www.triangulodafraternidade.com/2016/02/o-falso-discipul.html