quinta-feira, 31 de julho de 2014

OS LIMITES DA TOLERÂNCIA




Quando se fala de Tolerância, é frequente vir à baila a questão dos seus limites. Existe alguma tendência para se considerar existir algo de contraditório entre a Tolerância e a consideração de existência de limites à mesma. A meu ver, esta é uma falsa questão, que um pouco de reflexão facilmente resolve.

Antes do mais, é preciso entender que o conceito de Tolerância se aplica a crenças, a ideias, ao pensamento e respetiva liberdade, às pessoas e sua forma, estilo e condições de vida, mas nada tem a ver com o juízo sobre atos. Cada um de nós deve tolerar, aceitar e respeitar, independentemente da sua diferença em relação a si e ao seu entendimento, a crença alheia, as ideias e o pensamento de outrem, pois a liberdade de crença e de pensamento são expressões fundamentais da dignidade humana. Cada um de nós deve tolerar, aceitar e respeitar o outro, quaisquer que sejam as diferenças que vejamos nele em relação a nós, porque o outro é essencialmente igual a mim, não ferindo essa essencial igualdade as particulares diferenças entre nós existentes. Mas não é do domínio da Tolerância o juízo sobre os atos. O juízo sobre atos efetua-se em função da moral e das regras sociais e legais vigentes.

Explicitando um pouco mais: tenho o dever de aceitar alguém que pense de forma diferente da minha, que tenha uma crença religiosa diferente da minha, uma orientação sexual diferente da minha, um estilo de vida diferente do meu. Mas já não tenho idêntico dever em relação a atos concretos desse outro que se revelem violadores da lei, da moral ou da própria noção de Tolerância. Designadamente, não tenho que tolerar manifestações de intolerância em relação a mim, às minhas crenças e convicções, tal como não só não tenho que tolerar como não devo fazê-lo atos criminosos, cruéis, degradantes ou simplesmente violadores das consensuais regras de comportamento social.

Temos o dever de tolerar, de aceitar, a diferença - no estilo, nas ideias, nas crenças, no aspeto ou nas condições individuais. Por outro lado, temos o direito e o dever de ajuizar, de exercer o nosso sentido crítico, relativamente a ações concretas.

Ninguém vive isolado da Sociedade e todos têm de cumprir as regras sociais que viabilizam a sã convivência de todos com todos. Consequentemente, é uma simples questão de bom senso que devemos aceitar, valorizar, integrar as diferenças. Quem é diferente, tem direito a sê-lo. Quem pensa diferente, tem o direito de assim fazer. Mas, por outro lado, o direito à diferença não legitima a atuação desconforme com as regras sociais, legais, morais, em vigor na Sociedade em causa. Ninguém pode pretender só gozar das vantagens sem suportar os inconvenientes. Quem vive em Sociedade tem o direito de exigir que esta e os demais aceitem as suas diferentes ideias, conceções, condição. Mas tem o correlativo dever de respeitar as normas sociais, legais e morais vigentes. Se o não quiser fazer, deve afastar-se para onde vigorem normas que esteja disposto a seguir.

As Sociedades evoluem e é bom que assim seja. Também por isso é inestimável e rica a diferença. Também por isso devemos aceitá-la e aceitar que quem defende ideias ou conceções ou condições diversas da norma procure convencer os demais da bondade das suas escolhas. Isso é Liberdade, isso é Democracia. Nem uma, nem outra subsistem sem a indispensável Tolerância da Diversidade. Mas precisamente por isso - afinal porque quem quer e merece ser respeitado tem o dever de respeitar - o direito de defesa das ideias e convicções, o direito a tentar convencer os demais, o direito a pregar a evolução pretendida, não se confunde com qualquer pretensão de agir como se pretende, se em contrário da lei, do consenso social, da postura moral da Sociedade em que se está inserido.

Resumindo: a Tolerância obriga a respeitar a Diversidade e a diferença; impõe a aceitação da divulgação, da busca de convencimento, mesmo da propaganda das ideias ou conceções diversas. Mas não que se aceitem condutas prevaricadoras do que está legal e socialmente vigente - enquanto o estiver. Por isso entendo que os domínios da Tolerância e do Juízo sobre os atos concretos são diferentes. As ideias, as conceções, as condições confrontam-se, debatem-se, mutuamente se influenciam, enfim interagem no domínio da Liberdade e, assim, da mútua Tolerância. Os atos, esses, necessariamente que têm de respeitar o estabelecido enquanto estabelecido estiver. Se assim não for, o que é aplicável à violação do consenso social não é a Tolerância - é a Justiça, seja sobre a forma de Justiça formal, seja enquanto censura social seja no domínio do juízo individual.

Portanto, onde tem lugar a Tolerância, esta não tem limites. Onde há limites, sejam legais, sejam de normas sociais ou morais, não se está no domínio da Tolerância, mas no domínio do tão justo quanto possível juízo concreto sobre atos concretos.

Rui Bandeira
http://a-partir-pedra.blogspot.pt/2013/06/os-limites-da-tolerancia.html

quarta-feira, 30 de julho de 2014

UM MAÇOM E A SUA RELIGIOSIDADE


Pode um Maçon ser um Homem crente?
Pode um Maçon ser um Homem praticante de uma fé/crença?

Perguntas que muitos fazem, respostas que poucos as conseguem entender, pois por isso mesmo hoje decidi apresentar-vos a visão de um Maçon, face à sua vivência enquanto Maçon e enquanto Muçulmano.

O que diferencia um Maçon Muçulmano de ou outro qualquer Maçon, seja ele Cristão, Judeu, Deísta, Budista e ou apenas crentes no Grande Arquiteto Do Universo.

Deixo-vos a minha opinião suportada por uma vivencia de um momento muito especial no que respeita à pratica Religiosa e a Observância Maçónica daqueles que são os princípios da Maçonaria, falo da Liberdade, da Igualdade, do Direito ao Livre Arbítrio, dos Bons Costumes e da Tolerância e Respeito.

O mês de Ramadão de 1435/2014.

- Um mês de Ramadão terminado!
- O dia de Eid al-Fitr comemorado!

E agora, agora vamos a mais um balanço:

Um mês de reflexão, de observação interior e de avaliação dos limites, limites esses que nem sempre julgamos poderem ser atingidos.

Um mês de auto disciplina física e intelectual, um mês onde acima de tudo a mente esteve, tanto quanto possível, apenas fixada no bem, na família, nos amigos, na partilha, no fazer o bem e deixar de lado todas as intenções e pretensões pessoais, ou seja um mês de trabalho individual para melhorar a minha postura, ação e atitude face ao colectivo e à sociedade.

Pois bem, do ponto de vista pessoal e é isso que interessa, pois cada um deve começar o trabalho por si mesmo e nunca pelos outros, digo-vos que o meu Ramadão foi completado a 100%.

No que respeita à convicção de fé/crença essa sai reforçada, olhando à mesma como um processo de evolução e aperfeiçoamento pessoal, no entanto esclareço que neste tema de fé/crença, cada um tem o direito em optar pelo processo/caminho que bem entender, desde que essa seja a sua vontade e opção feita de forma livre e consciente.

Esta minha escolha é mais um processo, adicionado a outros, com o qual me sinto bem e através do qual tenho vindo a reforçar as minhas convicções, enquanto Homem Livre e de Bons Costumes (assim espero ser reconhecido) o qual me tem ajudado a percorrer esta minha caminhada.

O que me torna diferente dos outros, findo o Ramadão?


Bem na verdade NADA!

Exactamente “NADA”, não consigo encontrar nada que me diferencie de todos os Meus Irmãos Maçons, sejam eles Cristãos, Judeus, Deístas, Budistas e ou apenas crentes no Grande Arquiteto Do Universo.

Em nada e em caso algum tenho o direito, ou posso sentir-me diferente, seja para melhor e ou para pior, apenas porque escolhi este ou aquele caminho, reconheço hoje, tal como sempre fiz, todos os Meus Irmãos de igual forma, sem qualquer diferença originada por qualquer Credo, Estatuto Social, Convicção Ideológica, Clubismo Desportivo e ou Opção Filosófica.

Depois desta caminhada chego à conclusão que na minha fé/crença, bem como todos os rituais e práticas executadas, em nada me tornam diferente e têm apenas os seguintes objetivos:

1 Tornar o Homem mais Humilde e menos Egocêntrico, pois a prática de nos dirigirmos ao Grande Arquiteto Do Universo, tem como principal objectivo tornar-nos mais Humildes aquando lidamos com todas as formas de vida, por Ele criadas.

2 Tornar o Homem totalmente consciente de que esta Caminhada (Vida) é apenas uma etapa de aprendizagem e que por isso mesmo devemos de olhar muito mais para o que está ao nosso lado e não apenas para o reflexo da nossa própria imagem no Espelho, pois quando a Luz se extingue também o nosso reflexo nos abandona e ai só quem está ao nosso lado e DEUS/YHVH/ALLAH, nos pode dar a mão.

3 Tornar o Homem mais consciente daquilo que são as necessidades de todos aqueles que jejuam permanentemente para lá do Ramadão, os quais jejuam infelizmente porque não tem meios para se poder alimentar, vestir e ou ter uma habitação condigna.

4 Tornar o Homem mais “Homem” e menos “Entidade Divina”, POIS neste período todos são elevados à mesma condição, O Rico, O Pobre, O Doutor, O Ignorante, O Inteligente, O sem Curso Superior, O Sacerdote, O Crente, O Homem e A Mulher, todos, mas mesmo todos, são iguais, todos passam pela mesma privação independentemente daquilo que são perante, ou aparentam ser, independentemente dos Rótulos e Medalhas com que se apresentam, ou se possam vir a apresentar no seu dia-a-dia Profano e ou Sagrado.

Por isso findo este processo apenas quero deixar um registo de desejo:

Que O Grande Arquiteto Do Universo nos proteja a todos das Trevas que vamos encontrando ao Longo desta nossa Caminhada (Vida), que a Luz do Sol, direta e ou na Lua refletida, nos Ilumine até que a Meia Noite do nosso Dia chegue e que lá no Oriente Eterno, onde todos nos voltemos a Reconhecer e a Reencontrar, sejamos o reflexo daquilo que aqui fizemos, pois lá seremos apenas mais uma Luz, junto de todas as outras, sem qualquer distinção, diferença e ou diferenciação.

Disse!

Alexandre T.
Fonte: http://a-partir-pedra.blogspot.com.br/

sábado, 12 de julho de 2014

DAR E RECEBER


Ingressar na maçonaria, juntar-se a uma Loja maçónica não é um ato destinado à obtenção de quaisquer vantagens materiais ou sociais. O ingresso na Maçonaria, a permanência numa Loja maçónica traz benefícios de ordem espiritual, moral, de aperfeiçoamento pessoal, de preenchimento do sentido da vida e plenitude na vivência do tempo que a cada um cabe neste plano da existência.

Dito de outro modo: o ingresso na maçonaria não se destina à obtenção de vantagens materiais ou sociais, prossegue o objetivo de nos ajudar a ser melhores e mais felizes

A vivência numa Loja maçónica é um contínuo e inesgotável ciclo de troca, de dar e receber. Cada um dá à Loja o que tem de útil para lhe dar e dela recebe aquilo de que ela dispõe, o que recebeu de todos, para fruição e aperfeiçoamento de cada um.

É dando a nossa quota-parte que criamos as condições para recebermos o nosso quinhão. Desengane-se quem porventura julga que o que interessa é "entrar" e depois basta aguardar que aquilo que esperamos e o que nos é inesperado nos caia nos braços! A Maçonaria tem uma curiosa caraterística: tudo proporciona, mas nada dá. 

Trocando por miúdos: a Maçonaria proporciona um meio, um ambiente, um método, uma cultura, um grupo, tudo disponível para que cada um de nós utilize em prol do seu aperfeiçoamento, do seu crescimento, da sua evolução. Mas faz só isso - e muito é! Cabe a cada um fazer pela sua vida e mergulhar no meio, viver o ambiente, utilizar o método, apreender a cultura, inserir-se no grupo, e com isso lograr melhorar, desenvolver-se, crescer, viver melhor, em suma, ser melhor.

O trabalho, o esforço, a vontade, são sempre individuais. O auxílio, a orientação, a envolvência, esses sim, advêm da Instituição, da Loja, do grupo.

Assim, a entrada na Maçonaria, a iniciação numa Loja, não é mais do que um prelúdio, um momento - marcante, sem dúvida! -, uma condição necessária, mas não suficiente para que o objetivo do desejado aperfeiçoamento seja obtido. Esse ato marca apenas o começo do trabalho, o início da caminhada, o plano de partida. O maçom, a partir dessa base, primeiro amparado pelos seus Irmãos, que decidiram acolhê-lo no seu grupo, depois guiado e orientado por eles, finalmente por si só, fará depois o trabalho que entender, seguirá o caminho que escolher, chegará ao plano a que conseguir chegar. Nada, a não ser condições e conselho, lhe é dado. Tudo o que cada um obtém resulta do seu esforço, do seu trabalho.

A maçonaria e a vivência em Loja têm ainda uma outra interessante caraterística: é dando que se recebe e quanto mais se dá, mais se obtém.

Porque sempre que o maçom dá um pouco do seu esforço, efetua uma investigação, organiza algo, executa uma tarefa, ajuda um Irmão, está a aprender algo, a aprimorar-se nalgum aspeto. Finda qualquer tarefa, ultimado qualquer projeto, não é só o que se fez que ficou feito; quem o fez também ficou melhor, seja porque aprendeu, seja porque exercitou, seja pelo que relacionou ou relacionará e lhe permitirá ir mais adiante, ou aprofundar algo mais, em si, no que sabe ou no que investiga ou busca.

O resultado do trabalho de um maçom é por ele disponibilizado ao grupo, à Loja, e todos com isso beneficiam, ao menos conhecimento ou uma nova visão ou conceção do que já conhecem. Mas o maior beneficiário é quem fez o trabalho, que no final dele será sempre, um pouquinho que seja, melhor, mais ilustrado, mais conhecedor, mais preparado, mais capaz, do que estava antes de iniciar a tarefa.

Quem frequente uma Loja apenas para ver o que acontece, o que lá se passa, o que é dito e apresentado, muito pouco rendimento tira do seu tempo. Quem participa, colabora, auxilia, sugere, pensa, toma a iniciativa de propor ou de fazer, esse, sim, ao fim de cada ano sente que é diferente, melhor, mais capaz, do que era no ano anterior. E entende que, prosseguindo nessa linha, certamente é, no momento, pior do que será no ano seguinte.

O maçom ativo aprende que dar, trabalhar, fazer, tomar a iniciativa, ajudar, cooperar, são tudo atos do mais inteligente dos egoísmos, pois tudo, bem vistas as coisas, redunda no seu próprio benefício.

Claro que isto não é compreendido por quem vive (ou sobrevive) apenas para o dinheiro, os bens materiais, a passageira consideração social. Por isso a Maçonaria não é para todos. Mas isso não é nenhum segredo...

Rui Bandeira
Fonte: http://a-partir-pedra.blogspot.com.br/

Este belo texto de nosso Ir.'. Rui Bandeira dimensiona bem o que foi o amor de nossa Ir.'. Célia Terezinha Paiva Leite à maçonaria. Ela deu às lojas e a nós muito e, certamente, já está recebendo na mesma proporção. Saudade e eterna gratidão à minha Ven.'. M.'.

sexta-feira, 4 de julho de 2014

O VOLUME DA LEI SAGRADA


21º Landmark da lista de Albert Gallatin Mackey- é indispensável a existência, no Altar, de um Livro da Lei, o Livro que, conforme a crença, se supõe conter a Verdade revelada pelo Grande Arquitecto do Universo. Não cuidando a Maçonaria de intervir nas peculiaridades de fé religiosa dos seus membros, esses Livros podem variar de acordo com os credos. Exige, por isso, este landmark, que um "Livro da Lei" seja parte indispensável dos utensílios da Loja.

Como se infere do landmark citado, não há um livro da lei recomendado ou que tenha preponderância sobre os outros. Porque para o maçon do R\E\A\A\, que é o nosso, nenhuma religião é melhor que outra ou mais digna de respeito que outra. Todas são dignas de respeito, todas são de igual importância. Porque para um homem se tornar maçon no R\E\A\A\apenas lhe é perguntado se é crente. Qual a sua confissão religiosa, se professando alguma, não é assunto nosso. Ao R\E\A\A\basta que o homem seja crente e entenda o conceito do G\A\D\U\. O que isso significa no coração de cada um de nós, não interessa nem é para aqui chamado. Nós aqui abordamos todas as questões, sejam elas de que índole for, quando nos encontramos na linha em que todos somos irmãos, sitio esse onde podemos abordar todos os assuntos sem colocar em perigo a harmonia entre os II\. Essa linha existe, um dia chegarão lá todos os que aqui estão se trabalharem para isso e tem um nome, chama-se Nível, e é a Jóia que identifica o I\1º V\. E é o emblema da Igualdade. O Nível maçónico é formado por um Esquadro de hastes iguais, de cujo ângulo desce uma Perpendicular. O Nível simboliza a Igualdade, base do Direito Natural e a Perpendicular significa que o maçom deve e precisa possuir uma rectidão de julgamento que nenhuma afeição – de interesse ou de família – deve impedir. O que pode distinguir os maçons e conduzi-los ao seu lugar na comunidade é o mérito e também as virtudes e o talento. O Nível lembra ao maçom que todas as coisas devem ser consideradas com serenidade igual e que o seu simbolismo tem como corolário noções de Medida, Imparcialidade, Tolerância e Igualdade, bem como o correto emprego dos conhecimentos.
Partindo desta premissa, não há assunto que não possa ser discutido entre nós, pois será sempre uma discussão leal e iluminada.
Assim, concluo que nenhum maçon do R\E\A\A\se pode ofender com um símbolo religioso, pois entende que todas as opções de crença são legítimas e são escolhas pessoais, que a ninguém dizem respeito. Nós trabalhamos A\G\D\G\A\D\U\e chega. Esse é o nome que lhe damos e não outro, apesar de existirem sempre tentativas de forças estranhas de introduzir na nossa Augusta Ordem formas de colocar em perigo a Harmonia entre os maçons, minando a Ordem e a sua Força progressista e humanista. Tenho até para mim que a Maçonaria existe hoje muito mais influenciada pelo Renascimento, a descoberta do Mundo e do Homem do século XVI em diante e o Humanismo deísta do século XVIII,  do que às confederações de pedreiros-livres medievais. O nosso ideal é a Verdade, sendo a sua indagação um Dever para todos os maçons.
O R\E\A\A\respeita todas as religiões, todos os símbolos religiosos, sem nunca se identificar ou se opor a qualquer uma delas, ou mesmo a qualquer governo ou escola filosófica, mantendo sempre como base dos seus ensinamentos a Liberdade de Pensamento, a indagação da Verdade e a busca, constante e pacifica, de uma vida melhor.
A introspecção espiritual potenciada pelo ritual não conduz num determinado sentido religioso, dá espaço a que todos, independentemente do seu credo, confessional ou não, se sintam integrados nesta comunhão espiritual em que a Verdade e a Fraternidade são o cimento que une todas as pedras que fazem parte deste Templo que é a R\L\Alengarbe.
Disse.

José Eduardo Sousa, V\M\da R\L\Alengarbe, a Or\ de Albufeira

6014 A\L\
http://a-partir-pedra.blogspot.com.br/


segunda-feira, 30 de junho de 2014

LOJA ABERTA DE 02-07-2014



Na próxima quarta-feira - dia 02-07-2014 - teremos mais uma loja aberta. Na oportunidade proporemos aos visitantes um diálogo sobre maçonaria. Por volta das 20:00 horas os visitantes serão convidados a entrarem no templo.

domingo, 29 de junho de 2014

A M ISSÃO ESPIRITUAL DO BRASIL

Vídeo muito interessante sobre a missão espiritual do Brasil(muito além dos jogos e das manifestações populares), na visão espírita.
http://www.youtube.com/watch?v=ej3wjdoQxWY&feature=youtu.be

domingo, 15 de junho de 2014

SETAS NAS ENCRUZILHADAS - O INICIADOR E O INICIANDO


Disse Jesus: Quando um cego guia outro cego, ambos cairão na cova.

O ego humano é um cego, não tem a vidência da Verdade libertadora. Se esse cego não se deixar guiar por um vidente, desvia do caminho certo. O guia vidente seria o Cristo interno, a alma; mas, se ela mesma não tem a devida experiência do seu Cristo, esse ego cego é guiado por outro ego cego.

Daí a imperiosa necessidade de despertar em si o Eu vidente. Auto-realização é impossível sem esse auto-conhecimento.

Estamos vivendo na era dos gurus. Por toda a parte, desde o Oriente até o Ocidente, há homens que se arvoram em Mestres e congregam discípulos. Os mestres prometem e conferem “iniciação” a seus discípulos; alguns até oferecem diplomas ou certificados de iniciação. Nesse processo há dois iludidos: o iniciador e o iniciado. Nenhum homem pode iniciar outro homem; não existe alo-iniciação; só existe auto-iniciação.Jesus, o maior dos Mestres espirituais, nunca iniciou nenhum de seus discípulos, durante os três anos de sua atividade pública. Entretanto, no dia de Pentecostes, 120 dos seus discípulos se auto-iniciaram, depois de 9 dias de silêncio e meditação.

O que o Mestre pode fazer é pôr setas na encruzilhada, indicando o caminho certo aos iniciandos. Mas a iniciação é obra de cada iniciando iniciável. Se o Mestre não é um verdadeiro iniciado na Verdade libertadora, nem sequer pode colocar setas no caminho, porque ele mesmo ignora o caminho certo – é um guia cego guiando outro cego.

Revela grande presunção um homem querer declarar que alguém é iniciado; iniciação é um processo misterioso que ninguém conhece a não ser o próprio iniciado. Dar certificado de iniciação a alguém revela tanta ignorância quanto arrogância. É possível iniciar alguém ritualmente, mas não espiritualmente. Se um ritualmente iniciado se considera realmente iniciado, é um pobre iludido.

Uma das maiores fraudes espirituais da humanidade de hoje se chama iniciação.

Huberto Rohden
Do livro: PROFANO E INICIADOS.

sexta-feira, 6 de junho de 2014

O VALOR DAS PEQUENAS COISAS

Em cada indelicadeza, assassino um pouco aqueles que me amam.
Em cada desatenção, não sou nem educado, nem cristão.
Em cada olhar de desprezo, alguém termina magoado.
Em cada gesto de impaciência, dou uma bofetada invisível nos que convivem comigo.
Em cada perdão que eu negue, vai um pedaço do meu egoísmo.
Em cada ressentimento, revelo meu amor-próprio ferido.
Em cada palavra áspera que digo, perdi alguns pontos no céu.
Em cada omissão que pratico, rasgo uma folha do evangelho.
Em cada esmola que eu nego, um pobre se afasta mais triste.
Em cada oração que não faço, eu peco.
Em cada juízo maldoso, meu lado mesquinho se aflora.
Em cada fofoca que faço, eu peco contra o silêncio.
Em cada pranto que enxugo, eu torno alguém mais feliz.
Em cada ato de fé, eu canto um hino à vida.
Em cada sorriso que espalho, eu planto alguma esperança.
Em cada espinho que finco, machuco algum coração.
Em cada espinho que arranco, alguém beijará minha mão.
Em cada rosa que oferto, os anjos dizem: Amém!
Autor: Roque Schneider
PPS recebido pela internet

sábado, 31 de maio de 2014

O SILÊNCIO E O VERBO - PARTE 1


O Silêncio e o Verbo!


Gênesis 1:1 No princípio criou Deus os céus e a terra.
Gênesis 1:2 A terra era sem forma e vazia; e havia trevas sobre a face do abismo, mas o Espírito de Deus pairava sobre a face das águas.
(Fonte: A Bíblia Sagrada – Génesis – A criação do Mundo)

No princípio …
No princípio da criação, tendo em conta os livros sagrados, nada existia com forma, nada havia para além do vazio.

Tínhamos apenas o espaço vazio, o caos, o vácuo, o espaço sem direção (sem Sul, sem Norte, sem Oriente, sem Ocidente, sem Zénite e sem Nadir, ou seja, sem a verdadeira dimensão de universalidade, até porque nada existia com forma).

Assim se nada existia, com forma, também o Verbo não podia descrever essa mesma ausência de forma, porque também ele não existia, o que fazia que não existindo o Verbo (a palavra), também o Silêncio não existia, pois o Silêncio é, ou pode ser:

(…) a ausência total ou relativa de sons audíveis. Por analogia, o termo também se refere a qualquer ausência de comunicação, ainda que por meios diferentes da fala.
(Fonte: Wikipédia)

Ou seja, se a comunicação é o Verbo e o Verbo aquilo que permite a existência da comunicação é também a existência do Verbo que leva à existência do Silêncio e se o Verbo não existia, também o Silêncio não existia.

Gênesis 1:3 Disse Deus: haja luz. E houve luz.
Gênesis 1:8 Chamou Deus ao firmamento céu. E foi a tarde e a manhã, o dia segundo.
Gênesis 1:29 Disse-lhes mais:
Eis que vos tenho dado todas as ervas que produzem semente, as quais se acham sobre a face de toda a terra, bem como todas as árvores em que há fruto que dê semente; ser-vos-ão para mantimento.

(Fonte: A Bíblia Sagrada – Génesis – A criação do Mundo)

“E disse Deus…”
“Chamou Deus…”
“Disse-lhes mais…”


Ou seja o Grande Arquiteto Do Universo quebrou o vazio, desfez a ausência de forma, preencheu o vazio, organizou o caos, deu direção ao espaço, criando assim o Sul, o Norte, o Oriente, o Ocidente, o Zénite e o Nadir, ou seja, deu dimensão ao conceito de Universalidade, através do uso do Verbo, isto é, o Grande Arquiteto Do Universo criou com o uso do Verbo, quebrando e gerando assim, em simultâneo, o próprio Silêncio.

No seu ato final, a criação do Homem, o Grande Arquiteto Do Universo, teve de comunicar diretamente a fim de gerar um EU e um TU, isto é, não quebrar apenas o Silêncio, usando o Verbo, mas dirigir esse Verbo a alguém, “Ele” tinha de ser ouvido.

No princípio era o Verbo, e o Verbo estava junto de Deus e o Verbo era Deus.
2. Ele estava no princípio junto de Deus.
3. Tudo foi feito por ele, e sem ele nada foi feito.
4. Nele havia a vida, e a vida era a luz dos homens.
5. A luz resplandece nas trevas, e as trevas não a compreenderam
(…)
8. Não era ele a luz, mas veio para dar testemunho da luz.
9. [O Verbo] era a verdadeira luz que, vindo ao mundo, ilumina todo homem
(Fonte: A Bíblia Sagrada - O Evangelho Segundo S. João)

Assim perante o poder da criação, declarado pela utilização do Verbo e diante da grandeza do “Real”, que é sábia na utilização deste, comecei a entender melhor o porquê do “SILÊNCIO” .

Era demasiada a ambição e até descabida, alguém como eu, que começara a apreender a utilizar as ferramentas base, na construção do seu próprio Templo, querer ter logo de início o poder de criar, isto mesmo sem mais nada saber!

Será que não está mais que provado que o uso inadequado do Verbo tem sido a principal causa de conflitos e de destruição desde do princípio dos tempos?

Não seria desta forma uma atitude totalmente descabida e tendencialmente fratricida passar tal arma e poder para as mãos de quem ainda não estava preparado?

Hoje estou certo que sim!
Mas afinal onde estava eu nessa altura com essa ambição tão desmedida e descabida?
Querer criar, sem primeiro entender como o fazer!

Estava afinal ainda ligado a um cordão umbilical profano, estava ainda ligado a uma corrente de vida profana, da qual não tinha sido capaz de me desligar aquando da minha descida ao centro da terra, afinal não tinha sido capaz de visitar o meu interior e rectificar-me, largado os conceitos e preconceitos profanos, dos quais havia prometido livrar-me!

Alexandre T.
Fonte: http://a-partir-pedra.blogspot.com.br/2014/05/o-silencio-e-o-verbo-parte-1.html?utm_source=feedburner&utm_medium=email&utm_campaign=Feed:+APartirPedra+(A+PARTIR+PEDRA)

quinta-feira, 29 de maio de 2014

MUDANÇA NO CALENDÁRIO DE ATIVIDADES

Bom dia.
Em função dos jogos previstos pela copa do mundo nos meses de junho e julho, tivemos de alterar nosso calendário de atividades, de sorte que a próxima Loja Aberta está prevista para 0 dia 02-07-2014, onde pretendemos realizar um diálogo sobre Maçonaria.

segunda-feira, 26 de maio de 2014

ADOTAREI O AMOR

Adotarei o amor por companheiro e o escutarei cantando,  
e o beberei como vinho, e o usarei como vestimenta. 
Na aurora, o amor me acordará e me conduzirá aos prados distantes. 
Ao meio dia, conduzir-me-á à sombra das árvores  
onde me protegerei do sol como os pássaros. 
Ao entardecer conduzir-me-á ao poente,  
onde ouvirei a melodia da natureza despedindo-se da luz,  
e contemplarei as sombras da quietude adejando no espaço. 
À noite, o amor abraçar-me-á, e sonharei com os mundos superiores  
onde moram as almas dos enamorados e dos poetas. 
Na primavera, andarei com o amor, lado a lado, e cantaremos juntos entre as colinas;  
e seguiremos as pegadas da vida, que são as violetas e as margaridas;  
e beberemos a água da chuva, acumulada nos poços, em taças feitas de narciso e lírios. 
No verão, deitar-me-ei ao lado do amor sobre camas feitas com feixes de espigas,  
tendo o firmamento por cobertor e a lua e as estrelas por companheiras. 
No outono, irei com o amor aos vinhedos e nos sentaremos no lagar,  
e contemplaremos as árvores se despindo das suas vestimentas douradas  
e os bandos de aves migratórias voando para as costas do mar. 
No inverno, sentar-me-ei com o amor diante da lareira e conversaremos  
sobre os acontecimentos dos séculos e os anais das nações e povos. 
O amor será meu tutor na juventude,  
meu apoio na maturidade,  
e meu consolo na velhice. 
O amor permanecerá comigo até o fim da vida,  
até que a morte chegue,  
e a mão de Deus nos reúna de novo.
Gibran Kalil Gibran

terça-feira, 20 de maio de 2014

LOJA ABERTA DE MAIO DE 2014


Nessa próxima quarta-feira, dia 21-05-2014, teremos nossa segunda Loja aberta do ano.
Por volta dás 20:00 horas os visitantes serão convidados a entrar no templo.

sexta-feira, 16 de maio de 2014

VIDA ÚNICA E REENCARNAÇÃO

Aparentemente, a idéia de viver somente uma vez parece opor-se à da reencarnação, mas pode-se tentar demonstrar que, na verdade, não existe tal incompatibilidade. A oposição lógica seria ainda mais óbvia entre os conceitos de “Encarnação Única e Reencarnação”, como era o nome original deste trabalho, quando foi apresentado na Universidade. Porém, na adaptação feita para esta revista de um país tradicionalmente cristão, em que o termo encarnação em algumas Igrejas só se aplica ao caso do Senhor Cristo, tal título talvez criasse uma complexidade ainda maior, que aqui será evitada. 
Por outro lado, seria, sem dúvida, mais abrangente e interessante tratar sobre o tema “Vida Única e Reencarnação”, enfocando até mesmo a hipótese da inexistência da alma humana (D) ou da sua possível mortalidade, ao invés de partir desde o início da cômoda hipótese de que a alma humana (D) existe, é imortal e encarna-se no corpo físico (E4) para manifestar-se nesse mundo material. Contudo, principiar por tal questionamento sobre a imortalidade da alma (D) tornaria esse trabalho muito mais extenso do que a oportunidade permite. Porém, talvez umas poucas palavrinhas sobre tal enfoque sejam agora oportunas. 
Foi o Dr. Viktor E. Frankl, criador da Logoterapia ou 3ª Escola Psiquiátrica de Viena, quem considerou que o homem é capaz de suicidar-se, caso não encontre um sentido para viver, e também é capaz de dar a sua vida por uma causa, até de oferecer-se ao martírio, caso encontre nela o sentido de sua vida, e isso – disse ele – um animal não é capaz de fazer. Eis um forte indicativo do componente espiritual do homem que esse psiquiatra pôde investigar enquanto era prisioneiro de quatro campos de concentração nazistas, durante a II Guerra Mundial. 
Os homens, devido a uma sensação de vazio espiritual ou existencial, são também capazes de levar o corpo (E4) a todos os excessos, prejudicando assim a sua própria saúde. Poderia um ser puramente material entrar em contradição com a vontade natural de seu próprio corpo (E4), que é a saúde? Um animal dificilmente poderia. 
Temos assim fortes indícios de que há pelo menos um componente espiritual no ser humano, geralmente chamado de alma (D), que o diferenciaria do animal ou do puramente material. Aliás, sabe-se hoje que E = mc2, ou seja, que o puramente material não existe, visto que a ciência descobriu que a matéria e a energia são mutuamente conversíveis, sendo a primeira uma manifestação ou forma “condensada” da segunda. 
A própria telepatia, exaustivamente comprovada pelos parapsicólogos, indica que o pensamento pode ser percebido a distância por uma pessoa sensível sem nenhum meio material de transmissão, ou seja, indica que o pensamento sobrevive fora do cérebro. Então, por que não poderia a alma (D) sobreviver sem o corpo (E4)? 
Seja como for, pelo exposto inicialmente, teremos que iniciar este trabalho partindo do ensinamento universalmente aceito por todas as religiões de que a alma humana (D) é imortal, ou, melhor dizendo, de que há um princípio imortal no homem (Na verdade, embora o Budismo do Norte seja reencarnacionista, o caso do Budismo do Sul parece ser uma variação excepcional, porque considera o eu separado ou alma (D) como uma ilusão, comparando a vida com um fluxo de contínua mudança onde nada é permanente, embora acredite no karma como uma sucessão de causas e efeitos que afetará uma vida futura. Assim, o renascimento não tem o sentido de imortalidade, mas apenas o de uma simples continuidade dentro da mutabilidade. Dessa forma, o Budismo do Sul entende que, quando a chama de uma vela acende outra vela, nada transmigrou). 
Esse princípio se manifestaria nesse mundo físico ligando-se a um corpo carnal (E4) – eis o fenômeno da encarnação, também universalmente aceito por todas as religiões do mundo, com algumas variações (No caso do Cristianismo Católico Romano, depois da decisão do Concílio Constantinopla II em 553 d.C., o termo encarnação se aplica somente ao Senhor Cristo, como encarnação do Verbo Divino. Ele é o Filho primogênito da criação divina, tendo se originado no início dos tempos. Todas as outras almas seriam criadas por Deus depois que o seu respectivo corpo fosse concebido pelos homens na Terra. Tal é a conseqüência do anátema contrário à preexistência da alma do Padre Orígenes, decretada naquele concílio. O Papa Vigílio preferiu nem comparecer, alegando estar doente, pois o Concílio foi convocado pelo Imperador Justiniano I, num exemplo clássico de cesaropapismo: regime em que os Césares de Roma pretendiam exercer controle sobre o poder espiritual da Igreja [maiores detalhes podem ser encontrados em A Tradição-Sabedoria (vide nota 1) ou em DAVIS, Leo Donald. S.J. The First Ecumenical Councils (325-787); Their History and Theology. Collegeville, USA, The Liturgical Press, 1990. p. 207-56.4). 
Todavia, podemos encontrar, em um estudo de religiões comparadas pelo menos duas doutrinas aparentemente inconciliáveis: a de que a alma (D) só se encarnaria ou estaria encarnada num corpo (E4) uma única vez neste mundo material, e a de que a alma (D) se reencarnaria ciclicamente, ou muitas e muitas vezes nesse mundo físico. 
A primeira, usualmente associada aos aspectos exotéricos do Judaísmo, Cristianismo e Islamismo, em síntese considera que a alma (D) encarnada está aqui só de passagem, voltando à sua verdadeira morada eterna após a morte do corpo (E4), não se preocupando em explicar qual o objetivo dessa passagem por este mundo e nem por que essa passagem pode durar setenta anos ou mesmo um século para alguns, enquanto que outras almas só ficam alguns dias ou mesmo minutos encarnadas neste mundo. 
A segunda, usualmente associada ao hinduísmo, budismo, espiritismo, às religiões iniciáticas dos mistérios egípcios, gregos, etc., e às filosofias pitagórica, platônica, etc., em síntese considera que a alma (D) tem algo a aprender neste mundo e terá que reencarnar-se em novos corpos (E1, E2, E3, E4) até que aprenda o que veio aprender, sendo que as circunstâncias das vidas seguintes serão efeito da conduta nas anteriores. Somente depois de passar por essa aprendizagem na escola das vidas corpóreas e conquistar a sabedoria correspondente é que a alma (D) desligar-se-ia dos laços do desejo por experiências mundanas que a trazem de volta para novas encarnações. Somente então ela cumpriu sua missão ou tarefa de aprendizagem neste mundo e está livre para voltar definitivamente para sua verdadeira pátria espiritual. 
Temos, pois, duas doutrinas aparentemente inconciliáveis. Analisemos, porém, mais profundamente cada uma delas. 
Tomemos, como exemplo mais próximo de doutrina da vida única, os dogmas e artigos de fé atuais da Igreja Católica Apostólica Romana. Segundo essa doutrina, conseqüência do anátema contrário à preexistência da alma decretado em 553 d.C., no Concílio Constantinopla II, a alma (D) é criada por Deus no momento da concepção, estando desde então ligada ao óvulo fecundado que gerará o seu futuro corpo (E4), desligando-se deste somente no momento da morte. Então, ela (D) seria submetida a um julgamento cujo resultado seria ou a penalidade de um sofrimento eterno no inferno ou a bem-aventurança eterna no céu, precedida de um eventual e algo penoso período transitório de purificação no purgatório. Esse período eventual de purgação seria algo breve, mesmo porque, do ponto de vista dimensional, qualquer período de tempo será breve perante a eternidade... Obviamente, visto que segundo essa doutrina os atos finitos e temporais geram resultados infinitos ou eternos, a alma não terá mais oportunidade de voltar para essa Terra e reencarnar-se. Essa desproporcionalidade entre causa e efeito é inerente a todas as religiões de vida única que tenham o inferno e o céu como resultados eternos; porém, no caso cristão citado existe um agravante: não é a conduta da vida da pessoa que determina o resultado do julgamento, mas apenas a crença no Salvador no instante da morte. Se naquele instante crítico – a última oportunidade de arrependimento – a fé da pessoa no Salvador vacilar, ela não irá para o céu, independentemente de quão virtuosa ela tenha sido, porque, para esses cristãos que seguem a interpretação tradicional, o Salvador não é interpretado como um princípio onipresente ou um Cristo Interno (Como dizia São Paulo: “Cristo em vós, a esperança de glória” (Colossenses 1:27), ou como disse o próprio Cristo: “Naquele dia sabereis que Eu estou em meu Pai, e vós em Mim, e Eu em vós” (João 14:20) (D2), mas uma pessoa externa que é o caminho, a verdade e a vida, e ninguém pode chegar ao céu sem aceita-o como o seu Salvador. Deixa, assim, de ser uma questão de justiça divina para transformar-se numa questão de relação pessoal. Nesse caso, então, a deformação dimensional atinge o máximo, pois a eternidade é decidida em um único instante – o da morte! Talvez seja por isso que a civilização cristã é uma das que mais teme a morte: tudo é decidido ali. Já entre os hindus, que são reencarnacionistas, é costume festejar a morte com alegria, sendo considerado uma ofensa ao morto chorar pela sua perda, porque a morte é o dia da libertação: eis o contraste. 
Por outro lado, a doutrina da reencarnação tende a gerar certa apatia, quando mal compreendida, porque tendo a sua disposição tantas vidas quantas forem necessárias pode haver uma falta de sentido de urgência, uma tendência ao adiamento de esforços, uma tendência a certa inércia mais comum no oriente, se formos compará-la com a pressa do ritmo ocidental de viver. Aliás isso é coerente, pois para o cristão a vida é uma só: o que não foi feito nesta vida nunca mais será feito, logo corre-se desesperadamente atrás do tempo, que torna-se irrecuperável. Eis uma das causas do imediatismo ocidental: a doutrina da vida única tende a gerar impaciência, caindo-se num “agora ou nunca”. Logo, sob um ponto de vista caricaturesco, o reencarnacionista pode parecer um apático; e o não-reencarnacionista, um desesperado. Há pois vantagens e desvantagens em ambas as doutrinas, quando tomadas superficialmente. 
A doutrina da reencarnação, por sua vez, tem meandros que o observador superficial geralmente desconhece. Por exemplo, se o indivíduo troca de corpo (E4) de uma encarnação para a outra, então é óbvio que ele também trocou de cérebro. Assim, a memória cerebral é afetada, há uma descontinuidade, somente a alma imortal (D3) lembraria o seu passado e, portanto, é usual o esquecimento total das vidas anteriores em nível de consciência cerebral de vigília. A esse esquecimento do passado, Platão refere parabolicamente em A República, quando a alma (D), antes de nascer, bebe das águas do Rio Lethe – o rio do esquecimento. 
Surge então uma questão fundamental no reencarnacionismo: o que é que se encarna? Platão, por exemplo, divide a alma em três partes, segundo a República, que são apetitiva (E2) (algo como um resquício vegetal que busca o prazer e foge da dor), a irascível (E1) (algo como um resquício animal que busca vencer pela força, sede da busca de poder, fama e auto-afirmação) e a inteligível (D3) (a alma humana propriamente dita, sede da razão e da busca da verdade). Os sistemas reencarnacionistas falam de segunda e mesmo terceira morte, correspondendo à morte de certas partes mortais (E1+E2) da alma ou psique. Assim, por exemplo, após um período de purgação, proporcional à intensidade dos apetites e desejos inferiores do indivíduo, ocorreria a morte da alma apetitiva ou lunar (E2) (como às vezes é chamada nas tradições de mistérios), libertando, assim, o indivíduo do purgatório. 
Platão, que era iniciado nos Mistérios de Elêusis, conhecia esses ensinamentos sobre os estados post-mortem, conforme podemos ver no Fédon: “Todo aquele que atinja o Hades (o mundo dos mortos, N. R. L.) como profano e sem ter sido iniciado, terá como lugar de destinação o Lodaçal, enquanto que aquele que houver sido purificado e iniciado orará, uma vez lá chegado, com os deuses. É que, como vês, segundo a expressão dos iniciados nos mistérios, ‘numerosos são os portadores de tirso, mas poucos os Bacantes’ (Alusão aos mistérios em que havia cerimônias de purificação e graus de consagração: o grau de Bacante é o superior, enquanto que os portadores de tirso constituem o grau inferior. ). Ora, a meu ver, estes últimos não são outros senão os de quem a Filosofia, no sentido correto do termo, constitui a ocupação” (PLATÃO. Diálogos: Fédon. Rio de Janeiro, Tecnoprint, s.d. p. 98). Podemos, assim, ver como os ensinamentos dos mistérios influenciaram Platão, a ponto de considerar que a ocupação do verdadeiro filósofo é preparar-se para a morte. 
Os Mistérios comparavam os estados post-mortem com o estado de sonho, a morte com o dormir, porque, para eles, a alma se desprendia parcialmente do corpo enquanto este dormia. Assim como podemos ter pesadelos ou sonhos “coloridos” ao dormir, dependendo se nosso dia foi perturbado ou harmônico, assim também os estados post-mortem eram vistos como uma continuação mais intensa, porque livre da prisão do corpo (E4), dos estados psicológicos de nossa vida, referentes aos nossos hábitos físicos, emocionais e mentais. 
O Sr. C.W. Leadbeater, maçom estudioso dessas tradições iniciáticas antigas, refere-se assim aos Mistérios Gregos: 
“Os mitos da religião exotérica da nação eram tomados e estudados nos Mistérios Eleusianos tal qual nos Mistérios do Egito. Entre os relacionados com a vida póstuma se achava o de tântalo, que fora condenado a sofrer perpétua sede no Hades. A água o rodeava por todos os lados, mas refluía dele toda vez que tentava bebê-la; sobre sua cabeça pendiam galhos de frutas, que se contraíam quando ele estendia a mão para apanhálas. Isto era interpretado no sentido de que quem morre cheio de desejos sensuais de qualquer espécie, depois da morte se sente ainda cheio de desejos, mas impossibilitado de satisfazê-los. 
“Outro conto é o de Sísifo, condenado a empurrar eternamente para o cimo de uma montanha um enorme bloco de pedra mármore, que tão logo alcançava o topo rolava de novo montanha abaixo. Isso representa a condição após a morte de um homem cheio de ambição pessoal, que passou sua vida a traçar planos com fins egoístas. No outro mundo continua traçando e executando planos, mas sempre descobre, no momento de completá-los, que não passaram de um sonho.” (LEADBEATER, C.W. Pequena História da Maçonaria. São Paulo, Pensamento, 1978. p. 11). 
Platão chega a referir, em A República, que a alma sentiria os efeitos desses estados psicológicos de maneira dez vezes mais intensa (PLATÃO. Diálogos; A República. Rio de Janeiro, Tecnoprint, s.d. p. 386) do que quando em vida. Isso é coerente com o seu pensamento, visto que para ele o corpo (E4) era o sepulcro ou cárcere da alma (D). Assim, sem o corpo (E4), a alma (E2+E1+D3) estaria muito mais livre para sentir. Aliás, é interessante notar o fato de que os estados de medo ou felicidade, que sentimos quando temos pesadelos ou sonhamos, podem atingir intensidades muito maiores do que quando estamos acordados, a ponto de ficarmos felizes quando acordamos de um pesadelo, e de não querermos acordar de um sonho “colorido”, mas então o despertador toca... e somos obrigados a voltar para esse mundo pobre de intensidade. 
Após essa segunda morte, a morte da alma apetitiva (E2) ou lunar, a consciência do indivíduo ficaria focada no princípio da mente pessoal ou concreta, sede do eu pessoal, alma irascível (E1) ou arrogante. Esta “toma o partido do que lhe parece ser justo” (ibidem, p. 161), sendo por isso “aliada” (ibidem, p. 163.) do princípio racional ou alma inteligível, que é a alma imortal do homem. Nessa condição a alma irascível (E1), já desligada da apetitiva (E2), sente intensamente os ideais pessoais que em vida não conseguiu preencher, correspondendo isso a um intenso sonho “colorido”, ou seja, os Campos Elíseos dos gregos, o Céu dos cristãos e zoroastrianos, o Sukhávati dos budistas, o Svarga dos hindus. 
Segundo as tradições de Mistérios, esses estados são necessários para produzir uma espécie de “digestão” das experiências da última vida de modo a chegar às suas essências que ficarão depositadas na alma imortal ou inteligível como “tesouros” no céu” (BÍBLIA Sagrada. Mateus 6:20). É somente a essência superior, o aroma das experiências úteis, que pode nutrir a alma imortal (D3). Somente essa essência da personalidade (E) que viveu pode eternizar-se na alma imortal (D3) depois da terceira e última morte: a morte da alma irascível (E1) ou mente concreta. Então essa essência acumula-se na alma imortal (D3) como um nutriente que é retirado do alimento. As partes não nutritivas do alimento são eliminadas no processo da purgação. 
Dessa forma, o mal não pode macular a alma imortal (D), mas uma vida sem o bem deixa-a vazia e fraca: fica com fome. Somente a essência espiritual das experiências pode nutrir a alma, mas o mal, como consideravam os neoplatônicos, é apenas a ausência do bem, não tendo fundamento em si mesmo, porque é finito e transitório. Somente o bem pode eternizar-se de fato. 
Enquanto a alma imortal não alimentou-se suficientemente de inteligência espiritual (D3) ou sabedoria, amor espiritual (D2) e vontade espiritual (D1), conforme são classificados nos Mistérios e Hermetismo egípcios e na Teosofia oriunda de Alexandria os três princípios da alma imortal ou tríade superior (D), ela continua com a sede de experiência do mundo físico, que os hindus chamam Trishná e os budistas Tanhá. Seria essa sede, que em verdade é uma vontade da alma (D) de nutrir-se para crescer, que traria a alma (D) de novo para uma nova encarnação. Somente quando essa sede espiritual fosse saciada a alma (D) estaria livre, isso seria Mukti ou libertação, Nirvana ou não-ligadura ou extinção das paixões. À extinção da sede espiritual, existe uma correspondente nas escrituras cristãs: 
“Qualquer que beber dessa água [a dos desejos da personalidade mortal (E)?] tornará a ter sede; mas aquele que beber da água que eu lhe der [a essência nutritiva espiritual?] nunca mais terá sede, pois a água que eu lhe der será nele uma fonte d’água brotando para a vida eterna [na alma espiritual (D)?].” (ibidem, João 4:13-1413 ) 
Isso corresponderia, na visão reencarnacionista, ao desenvolvimento pleno ou perfeito dos três princípios da tríade superior (D), que cresceria gradualmente a partir das experiências obtidas pelo quaternário inferior (E), como nos Mistérios se denominava aos princípios mortais do homem: a mente concreta (E1, alma irascível), as sensações e desejos emocionais (E2, alma apetitiva), a vitalidade ou corpo vital (E3, o pranamayakosha dos hindus, o ka dos egípcios, o eidolon dos Mistérios Gregos) e o corpo físico (E4). “Dessa forma, a alma (D3) só acumularia, das diversas experiências de cada vida terrena, a essência útil destas, conduzindo, gradualmente, o homem da inteligência à Onisciência, do amor a todos à Onipresença, e da vontade à Onipotência, culminando assim numa perfeição humana, manifestação do arquétipo divino, tal qual um Cristo ou Buda. Nesse sentido, o homem seria potencialmente um deus. Temos então o quaternário mortal (E) que, com suas experiências, nutre a tríade imortal (D) que cresce na direção da unidade divina. Os egípcios representavam isso na pirâmide de base terrestre quadrada, donde se elevavam os lados triangulares em busca do princípio uno – o vértice que aponta para o céu.” ((LINDEMANN, Ricardo. O Grande Marinheiro. IN Caderno Especial ao ensejo do I Encontro Sul-Brasileiro de Professores de Língua Portuguesa. Porto Alegre, Nepla-UFRGS, 1986. p. 27-8). 
“Até que todos nós cheguemos... a homem perfeito, à medida completa da estatura de Cristo” (BÍBLIA Sagrada. Efésios 4:13)– essas são palavras do apóstolo Paulo! E Cristo teria dito: “Não está escrito na vossa escritura: ‘Eu disse: Vós sois deuses’?” (ibidem, João 10:34). “Sede, pois, perfeitos, assim como vosso Pai, que está nos céus, é perfeito.” (ibidem, Mateus 5:48). 
Veremos assim que não há real incompatibilidade entre a doutrina da vida única e a da reencarnação, pois se por alma entendermos a alma pessoal (E1+E2) [ou as almas irascível (E1) e apetitiva (E2) de Platão] enquanto parte componente do quaternário mortal (E), cujos quatro princípios (E1+E2+E3+E4) são mortais e substituídos a cada reencarnação, então é correto afirmar que vida é uma só, que a alma (E1+E2) surge ou é criada no momento da concepção, porque só então os seus quatro princípios (E1+E2+E3+E4) estão manifestos. Também é verdade que a alma pessoal (E1+E2) pode eternizar-se, em essência, no céu, assimilada pela tríade imortal (D), ou pode excepcionalmente dissolver-se sem deixar vestígio no assim chamado inferno, caso nenhuma essência espiritual útil possa ser extraída do quaternário (E) no “processo digestivo” post-mortem. Existiria também o caso intermediário mais comum, em que parte (E2) da alma pessoal (E1+E2) seria “purgada” pelo “processo digestivo” do purgatório, enquanto a essência últil das experiências daquela vida se eternizariam ao ser assimilidas pela tríade imortal (D). 
Por outro lado, se por alma entendemos a tríade imortal (D), então também é correto afirmar que a alma (D) se reencarna, embora apenas uma parte dela se projete em cada novo quaternário mortal (E), e que a alma cresce ao logo de diversas vidas, acumulando a essência das experiências assimiladas, até atingir a plenitude de suas potencialidades divinas de modo a cessar para sempre a sede por novas experiências no mundo do transitório, que a fazia reencarnar-se ciclicamente. Só então o homem atinge “a medida completa da estatura de Cristo.” (ibidem, Efésios 4:13). 
É, contudo, importante notar que, por pelo menos cinco séculos, as duas doutrinas, a da vida única e a da reencarnação, conviveram livremente na história da Igreja, até a decisão do Concílio Constantinopla II em 553 d.C. Isso talvez seja uma das evidências de que elas não são necessariamente incompatíveis ou mutuamente excludentes. 
É evidente, porém, que os judeus, principalmente os cabalistas, também conheciam a doutrina da reencarnação, caso contrário não acreditariam que Jesus seria a reencarnação de Elias ou Jeremias (cfe. Ma-teus 16:13-14; Marcos 8:27-28 e Lucas 9:18-19), ou que o profeta Elias voltaria (cfe. Malaquias 4:5), profecia que o próprio Jesus confirmou dizendo: “Em verdade Elias virá primeiro e restaurará todas as coisas; mas digo-vos que Elias já veio, e não o conheceram...” (ibidem, Mateus 17:11-12) e falando de João Batista disse: “Porque todos os profetas e a lei profetizaram até João. E, se quereis dar crédito, é este o Elias que havia de vir. Quem tem ouvidos para ouvir, ouça.” (ibidem, Mateus 11:13-15).
Ricardo Lindemann (Ex-Presidente Nacional da Sociedade Teosófica no Brasil)
Nota: 
Esta é uma adaptação feita para a Revista TheoSophia de um trabalho intitulado Encarnação Única e Reencarnação, apresentado na Faculdade de Filosofia da UFRGS como conclusão da cadeira de Filosofia da Religião I (HUM 136U) em 1987. Para facilitar a compreensão dos irmãos teósofos, mais acostumados com outra nomenclatura, acrescentaremos, ao longo do texto, depois de cada veículo da consciência, o mesmo código alfanumérico que se encontra na página 41 nossa obra A Tradição-Sabedoria 3ª ed. rev. ampl. (Brasília, Ed. Teosófica, 2003), a saber: INDIVIDUALIDADE (D): Veículo Átmico (D1); Veículo Búdico (D2); Corpo Causal (D3); PERSONALIDADE (E): Corpo Mental (E1); Corpo Astral (E2); Duplo Etérico (E3); Corpo Físico (E4). 
Extraído da Revista TheoShofia - abril/maio/junho - Editorial. 

domingo, 11 de maio de 2014

A DIVINA ESCADA


Cada mortal que sobre a Terra surgir
Receberá de Deus uma escada para subir;
E esta escada cada um há de galgar
Degrau por degrau. Desde o mais baixo lugar
Vai percorrê-la, passo a passo: desde o início
Ao Centro do Espaço, ao seu próprio Princípio.

Numa era passada, mas que hoje perdura,
Escolhi e moldei minha escada; tu escolheste a tua.
Quer seja de Luz ou seja obscura,
Por nós mesmos foi ela escolhida:
Uma escada de ódio ou uma de Amor
Seja ela oscilante ou firmada com vigor.

Quer feita em palha ou formada em ouro rei,
Cada uma obedece a uma justa Lei.
E a deixaremos quando o tempo esgotado;
Dela toma-se posse ao ser de novo convocado.
Por vigias, em frente a um portão cintilante,
Ela é guardada para cada alma passante.

Mesmo sendo a minha estreita e a tua alargada,
Sozinho chego a Deus por minha própria escada.
A de ninguém posso pedir, nem a minha emprestar;
Com o esforço em subir na sua, cada um tem de arcar.
Se, em cada degrau que escalares,
Só barreiras e tormentas encontrares;

Se pisar sobre ferro carcomido e madeira bichada,
A ti cabe transformar tudo isto para, seguro, galgares tua escada.

Reforçá-la e tê-la sempre reconstruída
É a tua tarefa árdua, mesmo que longa seja a tua vida.
Chegando ao fim da Escada, já terás cruzado a PONTE
Que te dará todos os tesouros da Terra, e do Espírito Divino, a FONTE.

Tudo o que de outra forma se possa obter
Será ilusão apenas. Não pode permanecer.
Em revoltas inúteis não faremos o tempo fugir.
Subir, cair, reconstruir; cair, subir, reconstruir,
Cumpramos isto, até que nossa carreira humana nos leve a toda a Verdade,
Até que juntos, homem e Deus, sejamos UMA só Divindade.

O MAHA CHOHAN

sábado, 10 de maio de 2014

DESTINO


Esses dias passei por uma situação que me fez pensar um pouco sobre o destino. Íamos visitar uma pessoa da família que estava muito mal na UTI de um hospital. Era quase certo que ela não sobreviveria aos próximos três dias. E falávamos sobre a situação, de como era injusta a doença para esta mãe, nova, boa pessoa... Até que surgiu a expressão de consolo: "é... é a vontade de Deus". Daí pensei: mas como assim "é a vontade de Deus"? Será que o destino de nossa irmã estava traçado? Será que nossa vida não passa de um filme cujo roteiro fazemos apenas interpretar? Será que não importa o que façamos o resultado será sempre o mesmo? Será que a situação dela não poderia ser outra? Será que não ocorrera um erro médico? Será que o tratamento fora o mais adequado? Será que ela teve acesso aos medicamentos mais indicados? Será que foi tudo feito no tempo devido? Destes questionamentos decorreu logicamente pensar em livre arbítrio. Temos realmente livre arbítrio? Ele é absoluto ou relativo?
Basicamente sobre este assunto existem três posições possíveis: 1) o Determinismo, 2) o Livre Arbítrio absoluto e 3) um misto dos dois, o Livre Arbítrio relativo. Então resolvi fazer uma pequena pesquisa sobre o tema, para ver como a humanidade tratou deste assunto na história. Para os Vedantas, haveria um plano traçado, mas que seria aberto à mudança pelo agir. Para os Estóicos, o futuro seria tão inalterável quanto o passado - portanto zero de livre arbítrio. No Epicurismo, tudo que existe seria o caos, tudo é obra do acaso, muito semelhante ao pensar do Existencialismo de Sartre, segundo o qual "acreditar em um futuro com cartas marcadas equivaleria a escapar da responsabilidade de tomar decisões", o que redundaria, em última análise, em um mundo sem sentido, vazio, triste. Para o Cristianismo, a crucificação de Jesus fazia parte dos planos divinos, que se cumpriram com a traição de Judas, que, neste caso, estaria predestinado a ser mau. Para Calvino, Deus escolheu de antemão os que se salvam e os que não se salvam. Para o Vaticano e a teologia Muçulmana, o livre arbítrio seria uma peça necessária à responsabilidade moral.
Para as doutrinas e religiões reencarcionistas, mormente o Espiritismo, bem resumidamente falando, o livre arbítrio seria o fundamento da condição humana, posto que nossa evolução espiritual decorreria diretamente das escolhas que fazemos em cada encarnação. Viríamos para esta vida com um plano traçado, normalmente com a nossa participação, para que possamos passar por aquelas situações que nos dariam a oportunidade de acertar velhas diferenças, velhas dificuldades, velhas dívidas. E para tanto esse plano nos colocaria no local mais adequado, na condição social mais adequada, na família mais adequada, no país mais adequado, no corpo mais adequado. Tudo pensado para que possamos eliminar nossos débitos pretéritos e agir positivamente em prol de nossa evolução espiritual em cada encarnação. Mas será que dá tudo certinho? Será que nós agimos como foi planejado? Será que os outros agem de acordo para que o planejado para nós e para eles? Enfim, este plano reencarnatório interfere de alguma forma no nosso livre arbítrio?
No meu modo de ver, e de acordo com o que podemos inferir da própria literatura, pode ocorrer de tudo: pode ser que o plano seja alcançado total ou parcialmente; pode ser que o espírito recaia nas mesmas circunstâncias negativas e tenha que voltar para outra tentativa. Ou seja, na prática o que existe é uma probabilidade de que o plano venha a se cumprir, mas não certeza. Este plano também poderia ser chamado de Darma, que decorre do Carma, que é palavra de origem sânscrita que pode ser conceituada como o conjunto das ações individuais e coletivas, que pela ação da Lei de Ação e Reação, vai gerar as suas consequências. É uma decorrência natural do exercício do livre-arbítrio. O carma é composto por muitas linhas divergentes e conflitantes decorrentes das diversas ações harmônicas e desarmônicas que cometemos no passado. A linha de tendência resultante de todas essas múltiplas ações aponta numa determinada direção e assume um determinado propósito, alinhado com a ordem divina do universo e de nossa vida em particular. Essa direção – ou plano - é o Darma. Para atingirmos o nosso darma, temos de navegar nas “ondas” revoltas do carma, até que essas ondas estejam todas alinhadas e não exista mais diferença entre o carma e o darma.
Mas nem tudo é colheita no carma. Longe disso. Há inúmeros erros novos sendo plantados o tempo todo. Há centenas de milhares de novas injustiças sendo cometidas pela primeira vez. Mas também há inúmeros acertos e boas ações sendo praticadas pela primeira vez. Todos estes desequilíbrios e equilíbrios terão que ser reparados e compensados a seu devido tempo. Um dos princípios fundamentais da filosofia esotérica ensina que, através da lei da reencarnação, todo o esquema da natureza funciona e evolui de modo perfeitamente justo.  Este axioma da sabedoria eterna necessita ser examinado com bom senso. De fato, todo o esquema da natureza é justo. Disso não há a menor dúvida.  Mas ele é justo no sentido de que está sempre corrigindo a si mesmo, e não no sentido de que faz perfeita justiça em cada um dos seus momentos, vistos isoladamente.