segunda-feira, 26 de maio de 2014

ADOTAREI O AMOR

Adotarei o amor por companheiro e o escutarei cantando,  
e o beberei como vinho, e o usarei como vestimenta. 
Na aurora, o amor me acordará e me conduzirá aos prados distantes. 
Ao meio dia, conduzir-me-á à sombra das árvores  
onde me protegerei do sol como os pássaros. 
Ao entardecer conduzir-me-á ao poente,  
onde ouvirei a melodia da natureza despedindo-se da luz,  
e contemplarei as sombras da quietude adejando no espaço. 
À noite, o amor abraçar-me-á, e sonharei com os mundos superiores  
onde moram as almas dos enamorados e dos poetas. 
Na primavera, andarei com o amor, lado a lado, e cantaremos juntos entre as colinas;  
e seguiremos as pegadas da vida, que são as violetas e as margaridas;  
e beberemos a água da chuva, acumulada nos poços, em taças feitas de narciso e lírios. 
No verão, deitar-me-ei ao lado do amor sobre camas feitas com feixes de espigas,  
tendo o firmamento por cobertor e a lua e as estrelas por companheiras. 
No outono, irei com o amor aos vinhedos e nos sentaremos no lagar,  
e contemplaremos as árvores se despindo das suas vestimentas douradas  
e os bandos de aves migratórias voando para as costas do mar. 
No inverno, sentar-me-ei com o amor diante da lareira e conversaremos  
sobre os acontecimentos dos séculos e os anais das nações e povos. 
O amor será meu tutor na juventude,  
meu apoio na maturidade,  
e meu consolo na velhice. 
O amor permanecerá comigo até o fim da vida,  
até que a morte chegue,  
e a mão de Deus nos reúna de novo.
Gibran Kalil Gibran

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