quarta-feira, 12 de junho de 2013

A ORIGEM DA EXPRESSÃO MINEIRA "UAI"


O jeito típico do falar do povo mineiro já foi alvo de comentários jocosos. Não é difícil encontrar a imagem do mineiro matuto, que masca capim, enquanto faz construções gramaticais erradas e corta as palavras ao meio. Identificar estereótipos formados pelo senso comum e apontar características genuínas do modo de falar dos mineiros é “A construção de um dialeto: o ´mineirês´ belo-horizontino.
Nóssa! Mas que trem bom, uai!
A interjeição uaí, uma das mais associadas ao modo de falar dos mineiros.
Os bons dicionários e gramáticas do ramo costumam dizer da expressão uai, com pequenas variações, mais ou menos o seguinte: trata-se de uma interjeição usada para exprimir surpresa, espanto, susto, impaciência, terror ou admiração, ou ainda para reforçar o que se disse antes; que é usada no Brasil, sobretudo em Minas Gerais, e também em Portugal, na ilha dos Açores, onde equivale a duas outras interjeições: «Ah!» e «Oh!»
Uma interjeição, «é uma espécie de grito com que traduzimos de modo vivo as nossas emoções». Muitas vezes, são formadas por onomatopé(e)ias (o nome dado àquelas tentativas de fazer com que a palavra imite um som).
Acredita-se que a origem do «uai» estaria na fusão das interjeições opa! (ou upa!)+ôi+ai, que aparecem assim juntinhas, por exemplo, na página 353 de Sagarana, o grande (em todos os sentidos) romance do escritor mineiro João Guimarães Rosa.
A essa hipótese podemos juntar outra. A que, um professor mineiro, defendeu no V Congresso de Ciências Humanas, Letras e Artes, realizado na Universidade Federal de Ouro Preto, em Agosto de 2001.
Segundo ele, tudo começou quando um vilarejo chamado Gongo Soco, onde se explorava ouro, foi comprado pela “Imperial Brazilian Mining Association”, o que resultou na instalação da primeira empresa britânica em Minas Gerais. Durante as quase três décadas, de 1824 a 1856, em que os ingleses ali estiveram Gongo Seco, afirma o professor, foi transformado numa autêntica vila inglesa. E passo a citá-lo:
«Pode ser atribuída ao convívio com esses e outros ingleses que residiram na província a utilização por parte dos mineiros da interjeição “Uai!” (que exprime surpresa e/ou espanto), a qual possui semelhanças fonéticas e semânticas com o vocábulo “Why” utilizado na língua inglesa com o mesmo sentido do nosso “por quê?”, ou como interjeição, assumindo, neste caso, o mesmo sentido do Uai mineiro. Notemos que o Uai mineiro e o “Why” britânico possuem a mesma representação fonética; e notemos ainda que o Uai é a expressão da língua portuguesa falada no Brasil que mais se relaciona com a identidade mineira.»
Os ingleses foram embora, mas o Uai nacionalizou-se. Ou melhor, mineirizou-se. Segundo o prescrito nas noções de Minerês para “estrangeiros”, «Uai é indispensável, significa nada e tudo ao mesmo tempo. Tudo “depende do contexto e da entonação.»
Entretanto, existe outra versão do UAI:
O material foi publicado no Jornal Correio Brasiliense.
O berço da expressão popular dos mineiros “UAI”.
Segundo o odontólogo Dr. Sílvio Carneiro e a professora Dorália Galesso, foi o presidente Juscelino Kubitschek. ’. quem os incentivou a pesquisar a origem. Depois de exaustiva busca nos anais da Arquidiocese de Diamantina e em antigos arquivos do Estado de Minas Gerais, Dorália encontrou explicação provavelmente confiável.


Os Inconfidentes Mineiros, patriotas, mas considerados subversivos pela Coroa Portuguesa, comunicavam-se através de senhas, para se protegerem da polícia lusitana. Como conspiravam em porões e sendo quase todos de origem maçônica, recebiam os companheiros com as três batidas clássicas da Maçonaria, nas portas dos esconderijos. Lá de dentro, perguntavam:


Quem é?
E os de fora respondiam: UAI – as iniciais de União, Amor e Independência.
Só mediante o uso dessa senha a porta era aberta aos visitantes.
Conjurada a revolta, sobrou a senha, que acabou virando costume entre as gentes das Alterosas. Os mineiros assumiram a simpática palavrinha e, a partir de então, a incorporaram ao vocabulário quotidiano, quase tão indispensável como tutu e trem. Uai, sô…


segunda-feira, 10 de junho de 2013

O SUFISMO

Enciclopédias e muitos autores definem o sufismo como uma seita mística muçulmana. Esse é o primeiro equívoco controverso que alimenta o mistério em torno dessa Irmandade tão enigmática. Fontes da Tradição afirmam que o sufismo é muitíssimo mais antigo que o Islã. Também afirmam que suas doutrinas e práticas estão infiltradas em muitas religiões, outras Irmandades, diferentes culturas e sua origem está situada milhares de anos no passado. Reivindicam um passado de 70 mil anos! Antes do Dilúvio sumério, do Noé-Gilgamesh.
Os membros da Irmandade Sufi foram ou são conhecidos por nomes outros: Amigos da Verdade, os Construtores, os Mestres, [como os maçons], Povo do Caminho [como os Essênios pré-Cristãos] e muitas outras denominações que circularam como sinônimas muito antes da religião muçulmana ser inventada pelas elites árabes de meados do primeiro milênio, necessitadas de uma força de coesão política que fizesse frente aos avanços territoriais e culturais da civilização cristã-ocidental. 

A Irmandade já existia em Medina quando Muhammad, precursor do Islã, apareceu com seu discurso... [no século VII d.C. anos 600]. Todavia, foi na época do alvorecer do Islã que os Irmãos Mestres Construtores adotaram a denominação Sufi, depois de um juramento de fidelidade à causa muçulmana em circunstâncias semelhantes àquelas  que constrangeram o mestre Galileu no Vaticano e se retratar e admitir que o globo é plano! Ou seja: Diga o que Eles querem e salve sua vida.

O significado de Sufi ─ [árabe: تصوف, tasawwuf; persa: صوفی‌گری Sufi gari] É uma questão tem sido discutida pelos lingüistas. A origem do termo é incerta, entre o persa e aramaico, o árabe e o grego.  São vários os significados atribuídos à palavra: uma túnica semelhante à de Jesus; puros; pela corruptela de shopiapara significar sábios; contração de Ain-Soph, da Cabala judaica - a Incognoscível Sabedoria que é compartilhada por todas as religiões. O problema dos filólogos ocidentais é compreender a face oculta escrita dos povos do Oriente Médio e Ásia Menor. Os árabes, assim como os judeus, associam seus fonemas a números permitindo uma complexa riqueza de significados em torno de uma só palavra.  Em O Sobrenatural Através dos Tempos, Keep esclarece:
A linguagem secreta dos antigos se baseava numa interessante correlação entre letras e números... No idioma árabe havia mil equivalentes números para diversos conjuntos de letras ou fonemas enquanto no idioma hebraico havia 400 números equivalentes. Sendo assim, os árabes e os hebreus transformavam letras em números e vice-versa, ocultando no texto determinada mensagens... [Em Os SufisIdries Shah Apud Keep ─ 1924-1996 indiano, descendente de afegãos, mestre da tradição Sufi, explica]:

[Analisemos] a misteriosa palavra Sufi... Decodificada [segundo a relação letras-números, obtemos]: S=90; W=6 F=80; Y=10, [swfy]. Estas são as consoantes usadas na grafia da palavra. [Os números somados totalizam 186. Decodificando temos centenas, dezenas e unidades: 100, 80, 6. Estes números, são, por sua vez, associados aos seus equivalentes: 100=Q, 80=F, 6=V]. Estas letras podem ser re-arrumadas de modos diversos para formar raízes de três letras[fonemas e monossílabos] em árabe, todas [os] indicativas [os] de algum aspecto do SufismoA principal interpretação é FUQ, que significa: Acima transcendente. Em conseqüência disso, chama-se ao sufismo filosofia transcendente. Os sufis também são chamados dervixes.

Tradição Árabe de Origem Desconhecida  Porém, os Sufis conseguem ser mais misteriosos que a metafísica Fraternidade Branca, com a qual, dizem, os sufis também mantêm ligações. Como mencionado acima, os Sufis são quase sempre associados ao Islã, mas isso decorre do fato de que o encontro da mística árabe mais antiga com a nova religião do profeta Maomé ou Muhammad  [570-632 d.C] exigiu dos Adeptos o supra-sumo da sabedoria diplomática para manter suas tradições debaixo dos olhos repressivos do fanatismo muçulmano.
Embora a maioria das fontes insistam em datar o Sufismo como contemporâneo ao Islã, a tradição registrada pelos estudiosos sempre negou esta relação. OSufismo jamais foi uma corrente mística do Islã e tanto é assim que os adeptos do sufismo foram, inúmeras vezes e em diferentes países perseguidos [e não raro, presos, castigados ou mortos] pelas autoridades islâmicas. Sobre a sabedoria dos Sufis, Keep escreve:
A coletânea de contos árabes chamada As Mil e Uma Noites escondem por trás de sua aparência ingênua uma sabedoria milenar. Esta sabedoria é conhecida pelo nome de sufismo, tradição de origem árabe desconhecida, mas que reconhece em Hermes Trimegisto e Zoroastro alguns de seus primeiros mestres. O sufismo não é uma religião, mas é o conhecimento existente em todas as religiões. Por isso, seus praticantes, os Sufis, aceitam ler os textos sagrados de qualquer religião do passado que considerem verdadeira. Os Sufis constituem um grupo de estudiosos, que não tem ritual ou dogma, cuja tradição remonta a uma época bem anterior à de Cristo. [KEEP]
Voltando ao mestre Idres Shah, ainda em Os Sufis, chama a atenção para a influência do pensamento e das técnicas sufistas, pouco notadas, no desenvolvimento da civilização Ocidental ao longo dos séculos através de pensadores como Roger Bacon [1204-1294 ─ inglês, frade franciscano] e ocultistas, como Raimundo Lullo [Raymond Lully ─ 1232-1315 ─ espanhol da ilha de Maiorca], São João da Cruz [1542-1591 ─ frade carmelita, místico espanhol].
As Ordens Sufistas
Târiqas ─ Na prática o Sufismo abriga diferentes Irmandades ou Ordens, chamadas Târiqas. São inúmeras essas Tariqas, consta que são 97 ordens ─ e estão espalhadas em diferentes países do norte e do leste da África, como Somália, Etiópia, Mauritânia e, ainda, na Indonésia e Malásia, Afeganistão, Paquistão, Bangladesh, Índia, Curdistão, Rússia, Turquemenistão e nos Bálcãs. São algumas destas ordens mais destacadas:
Ordem Chishti ─ [do mestre Khaja Mu´in al-Din Chishti, afegão radicado na Índia]

Ordem Mevlevi ─ atua na Turquia e Bálcãs [região sudeste da Europa que inclui Albânia, Bósnia-Herzegovina, Kosovo, Bulgária, Grécia, República da Macedônia, Montenegro, Sérvia]. Em seus exercícios de dhikr [meditação] utilizam intensamente a música e a dança. São os conhecidos Dervixes Rodopiantes.


Ordem Rifa'i [Rifaiyyah] ─ presente no Egito, na Síria, em Kosovo e Albânia mas, também, em países do Ocidente: EUA, Austrália, Venezuela, Itália além de Marrocos, África do Sul, Algéria, Paquistão.


Ordem Naqshbandi  ─ muito atuante nos EUA, Europa ocidental, Ásia Central, Índia e Sudoeste Asiático. 

Mas as Târiqas não foram sempre uma regra na história do Sufismo. Inspiradores de muitas Sociedades Secretas, durante milênios, os sufistas foram indiferentes à instituição de Confrarias, templos ou qualquer outra referência de identidade social, religiosa, civil. Eram simplesmente sábios, místicos envoltos na aura mística dos personagens das lendas árabes. Respeitados por uma sabedoria publicamente reconhecida.
Alguns, vivendo o dia-a-dia da sociedade, emprenhados em profissões das mais variadas, porém sem jamais deixarem de ser buscadores da Verdade, do conhecimento de si mesmos, do mundo, do Cosmos, de Deus. Outros, completamente desapegados das vertigens mundanas, optam pela solidão, reclusão, afastamento das confusões dos tempos.
A organização dos Sufistas em  Ordens ou Târiqas foi uma necessidade e uma concessão aos avanços da civilização. As primeiras Târiqas conhecidas surgiram entre os séculos XII e XIII [anos 1200 e 1300]. Entre elas, destacam-se a Shadhiliya, de origem marroquina, especialmente dedicada à meditação. Mevlevi, que desenvolveu o ritual da dança girante.  A Isawiya, também do Marrocos, tem fama de dotar seus adeptos de total insensibilidade ao fogo e às brancas.
Sufi é aquele que está morto para o Si-mesmo e vive da Verdade.
Tendo transcendido as limitações humanas, sufi é aquele que alcançou Deus. 
[A. Hujwiri, 1936]

Doutrina e Práticas
É muito possível que o denso mistério da origem dos Sufis seja o resultado dessa tradição ser, de fato, antiga demais para que um ponto de partida possa ser rastreado. A sabedoria desses Iniciados é um patrimônio de milênios; um acervo de saberes de culturas que floresceram em um tempo muito remoto; tão remoto que os nomes e fontes originais se perderam, porém a essência do Conhecimento, cuidadosamente preservada por discípulos zelosos, resistiu e resiste ainda instruindo a Humanidade até hoje. Tanto é assim que os Sufis incorporam ensinamentos clássicos de Ioga, teologia de Zoroastro e ciência hermética entre outras fontes de aperfeiçoamento do homem integral.
O primeiro passo da Iniciação do sufista é a submissão à disciplina imposta pelos mestres. Seja qual for a classe social ou poder econômico do candidato, começara provando sua humildade e fortalecendo sua capacidade para a disciplina, cuidando de tarefas domésticas, fazendo trabalhos pesados, peregrinando nas ruas com sua  kashkul [utensílio para conter os donativos] louvando a Deus e recebendo donativos, que jamais pede, somente aceita e entrega à Irmandade. Esse homem e circula nas ruas colhendo moedas de transeuntes não é um mendigo; poderá ser até mesmo um rico comerciante. Esse homem é um Sufi, um Dervixe exercitando sua humildade.
O Sufi, assim como aconselham os mestres da magia ocidental, começa seu treinamento submetendo as vontade/desejos do corpo e das emoções [astral] à Vontade e poder da Mente Inteligente. O Ego Superior, que transcende o tempo e o e espaço deve se converter no verdadeiro Senhor do Ser Humano; o Ego ou Eu Superior deve comandar inteiramente o Ego inferior, que é mera personalidade condicionada e que serve de referência identitária para uma só e mera vida, um piscar de olhos na Eternidade.
O Sufi é um bêbado sem vinho; saciado sem comida;
tresloucado; sem alimento e sem sono; um rei sob um manto humilde;
um tesouro dentro de uma ruína; não é feito de ar, terra ou fogo; um mar sem limites.
Yalal al-Din Rumi [1207-1273]
As Práticas voluntárias, [chamadas nawa'fil] gerais e pessoais [dos sufis], que fazem parte da disciplina pessoal do discípulo ou Adepto, incluem: orações durante a noite [Layla al-qiyam], como em uma vigília; a lembrança de Deus em todas as suas manifestações e em todos os momentos, o jejum, a busca do conhecimento e assim por diante.
Ao mesmo tempo, é importante que esses atos sejam realizados com absoluta sinceridade [ijlas]; um trabalho interior constante de meditação, de recitação dos nomes de Deus e de permanente vigilância sobre si mesmo e toda a realidade à sua volta. Este estado de vigília, alerta, é a prática da muraqaba, forma de devoção a Deus [tawakkul]. Consiste em se lembrar de estar contente [Rida], porque consciente da presença de Deus [Hadur], avançando no trabalho progressivo de purificação da alma [safs] e da consciência da realidade divina [Haqiqa].
Práticas Específicas ou Coletivas  Dhikr ou Maylis. É a lembrança de Deus. Uma ação devocional que consiste em se manter desperto, consciente da Onipresença do Criador. As cerimônias Dhikr têm uma liturgia que, conforme a regra da Ordem Sufista consiste em: meditação, recitação [de textos sagrados, audição de parábolas, aforismo de todos os tempos e culturas], canto, execução música instrumental, o ritual do incenso, a dança, o êxtase e o transe.
Eu morri como um mineral, uma pedra, e me tornei uma planta
Eu morri como planta e renasci animal
Eu morri como um animal e depois eu era um Homem
E muitas vezes eu morri e vivi como homem
Por quê eu deveria temer me perder na morte?
Todas as vidas passam, até mesmo a vida dos Anjos
Somente Deus é imperecível
Quando deixei de ser uma alma angelical
Eu passei a Ser algo que a mente nem pode conceber
Oh, deixe-me Não-existir; deixe Estar na Não-existência
Deixe-me voltar para Ele


Mawlānā Jalāl-ad-Dīn Muhammad Rūmī



A Iniciação

A Iniciação de um Sufista demanda humildade e trabalho, muito trabalho. Mas não se trata de trabalho intelectual; de estudos ou meditações profundas. Em um mosteiro ou Centro Sufista, o noviço começa mesmo é com o balde a vassoura na mão. Não importa a que classe social pertença, se tem tradição familiar ou uma gorda conta bancária.
A Iniciação, igual para todos e que pode parecer sem sentido para as mentes mais rasteiras é, na verdade, um método praticamente infalível de ─ 1. tomar posse do Si-mesmo, da personalidade ou Eu inferior; 2. Fortalecer a Vontade Inteligente para que o Homem Inteligente possa prevalecer sobre o Homem-pedra [o mineral], o Homem-planta, vegetal e, finalmente o Homem-bicho, o instintivo, a apaixonado, o animal.
A metodologia dessa Iniciação é simples: são os mil e um dias de provas [ou três anos em calendário lunar]: O jovem noviço deverá se conformar às ordens de seus superiores e realizar um grande número de tarefas [em geral, consideradas] desagradáveis: lavar roupa, limpar as latrinas, manter a casa etc.. [SIGNIER/THOMAZO, 2008]
Analisando esse método de Iniciação, o estudioso do ocultismo reconhece imediatamente as orientações prescritas pelos mestres da Magia Ocidental, que vieram muito depois das Ordens Sufistas. Também identifica-se facilmente a influência dos 1. iogues orientais da Índia e da Ásia central; 2. do sistema de disciplina adotado no dia-a-dia dos mosteiros budistas onde uma das regras é: Quem não trabalha não come. Essas referências parecem confirmar a antiguidade dos Sufistas na teoria e na prática das ciências ocultas. Não é necessário revirar bibliotecas centenárias para achar esses indícios. Eliphas Levi escreve em seu Dogma e Ritual:
Sois pedinte e quereis fazer ouro: ponde-vos à obra e não cesseis mais... O que é preciso fazer primeiramente? Agir como? Levantar-vos todos os dias à mesma hora e cedo; lavar-vos em qualquer estação... nunca trazer roupas sujas e, para isso, lavá-las vós mesmos, se for preciso; submeter--se a privações voluntárias para melhor suportar as involuntárias; impor silêncio a todo desejo. ...Um preguiçoso nunca será mago. A magia é o exercício de todas as horas e de todos os instantes. É preciso que o operador das grandes obras seja senhor absoluto de si mesmo; que saiba vencer as atrações do prazer, do apetite e do sono; que seja insensível tanto ao sucesso quanto à afronta... Toda sujeira atesta uma negligência e, em magia, a negligência é mortal.[LEVI, 1993 ─ p 42]
Depois dos três anos de noviciado o discípulo é participa de uma cerimônia de iniciação. Depois, ficará recluso em sua cela por 18 dias ao fim dos quais recebe o chapéu cônico vermelho, o sikke, significando que o o Iniciado alcançou a estágio de Dervixe e poderá participar dos ritos de danças sagradas.
Sufis & A Lenda dos Nove Desconhecidos
Em 1999 Lynn Picknett e Clive Prince publicaram The Stargate Conspiracy. O livro [assim como muitos outros] afirma a existência de um culto espantosamente poderoso e que se mantém oculto em plena era das revelações da cultura New Age, há mais de 50 anos. Rumores sobre esse culto começaram a aparecer na década de 1950. ...Segundo diferentes escolas de pensamento estes seres, provenientes [de algum lugar não terreno] preparam-se para retornar ao planeta depois de um longo período de ausência.
Nem todos os defensores dessa idéia acreditam que esses seres sejam extraterrestres que se locomovem em naves espaciais; antes, seriam criaturas de natureza divina cuja lembrança a Tradição conservou  na Lenda dos Nove Desconhecidos ou, simplesmente, Os Nove.
Os postulantes dessa hipótese acrescentam que estes Nove, em uma época muito remota, foram os governantes da mítica civilização Atlante. A uma certa altura da evolução humana, recolheram-se em uma existência transcendental, habitando outro plano ontológico [um plano espiritual de ser e estar]. Atualmente, estudiosos acreditam que é chegado o momento do retorno dos Nove a este plano, material, a fim de tomar medidas efetivas capazes de minimizar o sofrimento da Humanidade.
Os Nove teriam estado sempre ativos em seu interesse pelo destino da Humanidade. Mantendo-se deliberadamente escondidos, esses Mestres estariam, há anos, orquestrando a disseminação de uma religiosidade mais elevada, práticas de devoção e outros ensinamentos que são transmitidos por agentes, muitos deles, hoje, conhecidos como poderosos gurus da literatura alternativa [e de auto-ajuda] ocidental.
Enéade ─ Apesar de conseguirem se manter desconhecidos; ainda que alguns considerem Os Nove como uma metáfora para os nove princípios do Ser, algumas especulações pretendem identificar os Mestres: seriam a Enéade [palavra grega] ou, entre os egípcios, a Psedjet, as nove Divindades primordiais que simbolizam os nove aspectos da manifestação do Um [Deus-enquanto-Um].
A Enéade atua em dois planos: espiritual e material; cósmico e mundano. Significa que aos Nove mestres divinos e metafísicos, correspondem nove mestres terrenos, ou que habitam entre os homens. Na mitologia egípcia, esses nove deuses ou, metafisicamente, aspectos de Deus são assim nomeados: Atum, o Criador, deus dos deuses, o Um; Shu [Ar], Tefnet [ou Tefnut, personificação da água], Geb [a terra], Nut [o céu, como abóbada celeste e o céu, como destino dos justos], Osíris [os campos e o post-mortem], Isis [o amor e as ciências ocultas], Seth [representa violência, desordem, paixões] e Neftis [representante da aridez do deserto e da morte].
No mundo dos homens, o deus Hórus lidera a Enéade Inferior, sendo uma conexão entre as duas Irmandades. Assim como Atum governa o plano espiritual, Horus governa o reino material; e tem governado durante Eras através da renovação da linhagem real dos reis-Horus.
Colégio de Iniciados Heru Shemsu  ─ [Egito] Assim como cuidava das coisas da matéria, o Príncipe Falcão também era um guardião supremo de Conhecimento científico e sabedoria existencial. Junto com seus discípulos e seguidores, organizou um Colégio de Iniciados Heru Shemsu, mais uma ancestral mitológica das Sociedades Secretas de Iniciação Mística. Diz a tradição que esses semi-deuses pertenciam a uma raça estelar; eram muito altos e tinham os crânios mais largos, o que os diferenciava do povo que habitava as margens do Nilo. Seu status de semi-deuses devia-se ao fato de que eram possuidores de conhecimentos secretos e grandes poderes mágicos. Os Heru Shemsu consideravam-se reflexos inferiores da Grande Enéade, os nove Deuses em Um, os verdadeiros governantes da Terra.
Ashoka ─ O diplomata francês Louis Jacolliot [1837-1890] foi o primeiro a divulgar no Ocidente a Lenda dos Nove Desconhecidos. Segundo Jacolliot, o imperador Ashoka [304-232 a.C - Asok Bindusara Maurya], imperador indiano da dinastia Maurya que dominou todo subcontinente indiano III e II antes de Cristo. Diz a lenda que este imperador, implacável guerreiro, tendo se convertido ao budismo [e ao pacifismo] em 250 a.C., formou um Conselho secreto reunindo nove homens sábios aos quais encarregou de cumprir importante missão: compilar todo o conhecimento acumulado pela Humanidade e ocultá-lo, preservá-lo e somente usar tais conhecimentos seguindo critérios de justiça e compaixão.
Jacolliot afirmou que os Nove ainda viviam e atuavam nas sombras auxiliando a evolução humana e socorrendo povos e nações em momentos de aflição. Outro francês, o místico Saint-Ives d'Alvedre [1824-1909] afirma que a lenda é muito anterior ao tempo do imperador Ashoka. Os Nove Desconhecidos seriam viajantes cósmicos provenientes da estrela Sirius que chegaram na Terra e se estabeleceram na Ásia Central 34 mil anos antes de Cristo.
Nove Livros ─ Seja como for, ainda segundo a lenda, cada um dos Nove escreveu um livro sobre nove diferentes áreas do conhecimento. Nestes livros estariam, registradas as mais preciosas ciências, para o bem e para o mal. São os temas desses livros:
1. Psicologia, propaganda, Guerra psicológica
2. Fisiologia, tratando especialmente na maneira de matar um homem ao tocar-lhe, provocando a morte pela inversão do influxo nervoso. Diz-se que o judô deriva de certos trechos dessa obra.
3. Microbiologia
4. Transmutação dos metais
5. Os meios de comunicação terrenos e extraterrenos
6. Os segredos da gravitação
7. Cosmogênese
8. Um tratado sobre a Luz
9. o último, dedicado à Sociologia

Para os Sufis, os Nove Desconhecidos são um assunto sério, uma tradição expressa no No-Koonja, o Eneagrama, também conhecido como Naqsh - Selo.
O misterioso místico, o armênio-grego-russo Georges Ivanovitch Gurdjieff refere-se a esses mestres como sendo sete indivíduos; e não nove. Todavia, em ocultismo sabe-se que de todos os princípios do homem, sete já foram revelados pelos esotéricos porém, dois, permanecem secretos. Os sete [ou nove] Desconhecidos segundo Gurdjieff foram e são remanescentes da civilização Atlante que fundaram o Egito, chegando ao território em uma barca solar depois da submersão de algumas das terras da Atlântida.
Citando como fonte de informação hieróglifos gravados na paredes das ruínas de Gizé, Tebas e Edfu [ou Behedet, atualmente Tell Edfu] além das canções tradicionais dos bardos de sua terra natal e de toda a Asia Central, Gurdjieff conta que 70 mil anos antes do Dilúvio de Noé, uma grande civilização floresceu em uma ilha chamada Hannin, que hoje seria identificada como a ilha de Creta, a maior das ilhas localizadas nas vizinhanças da Grécia. Hannin teria abrigado uma sociedade secreta arcana: a Imastun Brotherhood, elite de sábios que se ocupavam de ciências transcendentais como a astrologia e a telepatia. Os Sufis, seriam os herdeiros dessa irmandade.
Sufismo: Anotações de Pesquisa
Os sufis acreditam que para obter um estado de contemplação mística é necessário fechar os portões dos sentidos físicos de modo que o sentido espiritual ou o sentido oculto possa operar. A contemplação ou o êxtase é a Noite Mítica, quando o adepto se ausenta de todas as impressões oriundas dos mundo exterior, transcendendo a esperança, o medo, a consciência de si mesmo e de toda emoção humana, para que a luz interior possa ser nitidamente percebida.
SPENCE, Lewis. An Encyclopaedia of Occultism. Courier Dover Publications, 2003 - p 127. In Google Books.

George Gurdjieff [1860/1877?-1949], místico armênio-grego-russo, é considerado o único estranho a quem foi permitido penetrar no círculo externo dos centros Sufistas onde teria sido pupilo do mestre Bahaudin Nakshband. Entre os afegãos, os Sufis são chamados Povo da Tradição. Entre as lendas que envolvem sua mística, existem rumores de que os Sufis têm contato com inteligências não-terrenas e que são guardiões de segredos arcanos que são o fundamento de todas as religiões e de todo o desenvolvimento humano.
Todas as escolas Sufistas acreditam na existência de uma Hierarquia espiritual que se mantém a centenas de anos em nebuloso mistério. Seus monastérios, santuários e retiros estão situados na Ásia Central. Sobre esta hierarquia, John Bennet escreveu:
[Os místicos da região e pesquisadores/exploradores estrangeiros] afirmam que a hierarquia perpétua é liderada por [uma personagem chamada] Kuth-i-Zaman, o Eixo das Erasque recebe revelações do Divino Propósito e as transmite à Humanidade por meio de seus seguidores.
Segundo Gurdjieff, esta Hierarquia atua produzindo um tipo de energia de vibração elevada destinada manter o fluxo harmônico do desenvolvimento e história humanas: Existe um agente invisível de alta energia que torna o trabalho da evolução possível. este é um tema presente na maior parte da literatura sufista.

Para os Sufis, nada na História acontece por acaso; novas verdades [conhecimentos] são semeadas, novas energias [forças], introduzidas nas sociedades em ações planejadas nos mais elevados níveis de existência espiritual. Ernest Scott comenta: Nada acontece, simplesmente. O roteiro da longa História humana foi escrito por inteligências superiores.

Os avanços e conquistas da Humanidade não são caprichos do acaso; são metas alcançadas dentro do contexto de um determinado ciclo, o Tempo da Terra. Esses avanços transcendem a esfera de interesse da Humanidade; antes, são essenciais para o equilíbrio e desenvolvimento [evolução, dinâmica] deste sistema Solar do qual a Terra faz parte.; e o próprio sistema Solar não é uma engrenagem isolada, ao contrário, interage com as forças mantenedoras da Galáxia à qual pertence [Via Láctea].
Mestre Imortal: Uma lenda Sufi diz que a Irmandade Sufista tem um guia invisível, o imortal El-Khidr, que usa uma capa verde flamejante e que muitos muçulmanos identificam como o profeta Elias, o profeta judeu que nunca morreu, mas subiu aos céus sem deixar cadáver. LE PAGE, Vitoria. Shamballa
Glossário do Sufismo
Fara'id ─ Atos de adoração, práticas obrigatórias.
Hirka  ─ peça de vestuário dos dançarinos da Sema; é um manto amplo e negro, símbolo da sepultura.
Kashkul ─ São tigelas, cumbucas, cuias, enfim, recipientes para recolher as moedas que os dervixes mendigam nesta atividade que desenvolvem unicamente para superar avaidade pessoal e a arrogância. Aliás, essas cumbucas sufis não são objetos vagabundos, de mendigo, ao contrário, são belas obras artesanais algumas feitas de metais preciosos.
Kemal ─ perfeição.
Nawa'fil ─ Práticas voluntárias relacionadas à disciplina pessoal.
Murid  noviço
Sema  ─ Ou Samá, dos termos árabes, سَمْع = sam‘un e اِسْتِمَاع = ’istimā‘un significando ouvir a tradição.É a dança girante dos Sufis-dervixes. O balé celeste[SIGNIER/TOMAZO, 2008]. A maioria das fontes refere-se à Samá com termo que designa a famosa Dança dos Dervixes; porém, há controvérsias. Alguns autores definem o Samá como a recitação de textos espiritualistas ou trechos de Escrituras sagradas de diferentes religiões. Ainda que, em algumas Tariqas a Samá seja acompanhada por um ritmo percussivo, a fator mais importante dessas sessões é o recitar utilizando todas as virtudes da voz humana que, nessa cerimônia, funcionada como um elemento de sutilezas acústicas que promovem a revelação dos diferentes sentidos/significados de um mesmo texto. Para estes autores, a Dança Sagrada é chamada Hadras ou Imara
Quanto à Dança, eles realmente giram, em torno de si mesmos, apoiados no pé direito e em torno do eixo que é o mestre, em uma coreografia que evoca os movimentos dos astros no céu, com seus duplos giros: rotação e translação. O objetivo é alcançar um estado alterado de consciência, transe, que permitiria ao Adepto o conhecimento subjetivo da Divindade. Todavia, nem todos os Dervixes são girantes ou seja, nem todas as formas de Sema incluem os movimentos giratórios. Essa é uma característica destacana das Ordens Mevlevi e Chishti.

Rumi & Ordem Mevlevi ─ A Ordem Mevlevi ou Mawlawiyya fundada em Konya, cidade da região central da Anatólia, hoje, território da Turquia, em 1273, dando continuação à confraria criada pelo mestre Jalal ad-Din Muhammad Balkhi-Rumi [1207-1273] ou, simplesmente Rumi, jurista islâmico [ou seja, era um Sheik], teólogo, místico e poeta]. Em 1244 Rumi, que já era um mestre sufista de tradição familiar, encontrou em dervixe Sham-e Tabrizi [?-1248 iraniano, místico sufista], em Damasco [Síria]. No convívio com Sham, Rumi experimentou a comunhão com Deus através da música, da dança, da poesia. Os sufistas Mevlevi tornaram-se grandes mestres da girante Dança Sagrada dos dervixes.
Semahane ─ salão ritual para a prática da Semá.
Sikke ou Kûlah  ─ Chapéu típico dos sufis-dervixes, símbolo da pedra tumular.
Târiqas  ─ Denominação das Ordens Sufistas. A palavra significa caminho.

Tekke ou Zawiya ─ monastério de Dervixes-sufistas

sexta-feira, 7 de junho de 2013

OS TRÊS FIOS DO CORDEL DO DESTINO

Annie Besant
Para os gregos, havia três Fados que teciam o cordel da vida. Para aquele que conhece a Sabedoria, há também três Fados, cada um deles tecendo um fio, sendo os três fios que eles tecem retorcidos em um, formando a resistente corda do Destino, que prende ou solta a vida do homem sobre a Terra. Esses três Fados não são as mulheres, as Parcas, da lenda grega, e sim as três forças da Consciência humana: o Poder da Vontade, o Poder do Pensamento e o Poder da Ação. São esses os Fados que torcem os fios do destino humano, e eles estão dentro do homem, e não fora. O destino do homem é autoconstruído; não é imposto arbitrariamente do exterior; seus próprios poderes, encequecidos pela ignorância, torcem a corda que os entrava, e seus próprios poderes, dirigidos pelo conhecimento, liberam seus membros dos grilhões autocompostos e deixam-no livre da escravidão.

O mais importante desses três Poderes é o Poder de pensar; homem quer dizer pensador; é uma raiz sânscrita, e dela deriva-se o inglês man, idêntico à raiz sânscrita, o alemão Mann, o francês homme, o italiano uomo, o português homem, etc. O cordel do pensamento é tecido de qualidades morais e mentais, e essas qualidades formam, na sua totalidade, o que chamamos de caráter. Essa conexão de pensamento e caráter é reconhecida nas escrituras de todos os povos. Na Bíblia lemos: “Tal como o homem pensa, assim ele é.” Essa é a Lei geral. Mais particularmente: “O que olhar para uma mulher com lascívia já cometeu adultério com ela em seu coração.” Ou: “O que odeia a seu irmão é um assassino.” Dentro desse mesmo espírito, declara uma escritura hindu: “O homem é criado pelo pensamento; naquilo que um homem pensa, ele se torna.” Ou: “Um homem consiste em sua crença; o que ele crê ele é.” O rationale, nesses fatos, é que quando a mente está voltada para um pensamento específico e demora-se nele, instala-se uma vibração definida da matéria e, quanto maior for a frequência dessa vibração, mais ela tende a repetir-se, a se tornar um hábito, a se fazer automática. O corpo segue a mente e imita as suas mudanças; se concentramos nosso pensamento, os olhos tornam-se fixos, os músculos tensos; um esforço para recordar é acompanhado pelo franzir da testa; os olhos movem-se de cá para lá, quando procuramos recuperar uma expressão perdida; ansiedade, amor, cólera, impaciência, todos têm o seu acompanhamento apropriado. A sensação que dá a um homem a tendência de atirar-se de uma altura é a tendência do corpo que representa o pensamento da queda. O primeiro passo para a criação deliberada do caráter está, portanto, na escolha deliberada do que pensaremos, e então no pensar persistentemente na qualidade escolhida. Não se passará muito tempo para surgir uma tendência que mostre essa qualidade. Em pouco tempo esse exercício se tornará um hábito. Entreteçamos o fio do pensamento em nosso destino, e chegaremos a ter um caráter inclinado a todas as finalidades nobres e úteis. Aquilo em que pensamos é aquilo em que nos tornamos. O Pensamento faz o caráter.

O Poder da vontade é o segundo Fado, e tece um fio forte para o cordão do destino. Mostra-se como desejo, desejo de possuir, que é amor, atração, em inúmeras formas; desejo de repelir, que é ódio, repulsa, afastando o que nos é indesejável. Tão verdadeiramente como o ímã atrai e prende o ferro, nosso desejo atrai para nós o que desejamos possuir e manter como nosso. O forte desejo de fortuna e de sucesso traz essas coisas ao nosso alcance; o que desejamos ter, firme e persistentemente, teremos, mais cedo ou mais tarde. Fantasias fugidias, indeterminadas, mutáveis, têm uma força de atração muito fraca, mas o homem de vontade firme obtém o que deseja. Esse fio da vontade traz-nos os objetos do desejo e a oportunidade de obtê-los. A Vontade dá a oportunidade e atrai objetos.

O terceiro fio é tecido pelo Poder de agir, e esse é o fio que traz para o nosso destino a direção da felicidade ou do sofrimento. Conforme agimos em relação aos que nos rodeiam, eles reagem em relação a nós. O homem que espalha felicidade em torno de si, sente a felicidade fluindo sobre ele próprio. Aquele que torna os outros infelizes, sente a reação da infelicidade sobre ele próprio. Sorrisos produzem sorrisos, carrancas produzem carrancas; a pessoa irritada desperta irritação em outras. A Lei do tecido desse fio é: Nossas ações afetam os outros e causam reação de natureza semelhante em nós.

Esses são os fios que fazem o destino, porque fazem o caráter, a oportunidade e o ambiente; eles não são cortados de todo pela morte, mas estendem-se para as outras vidas. O fio do pensamento nos dá o caráter com que viemos ao mundo; o fio da vontade dá ou retira oportunidades, faz-nos “com sorte” ou “sem sorte”; o fio da ação dá-nos condições físicas favoráveis ou desfavoráveis. Do que estamos semeando, colheremos; do que estamos tecendo, assim será, no futuro, o cordão do destino. O Homem é o Criador do seu Futuro; o Homem é o Construtor do seu Destino; o Homem é o seu próprio Fado.

quarta-feira, 5 de junho de 2013

A CONSCIÊNCIA E SEUS VEÍCULOS

Ricardo Lindemann*
"Homem: conhece-te a ti mesmo" - tal era a inscrição gravada no  frontispício do pórtico de Delfos, na Antiga Grécia. Tão profundo é o conselho que ela nos  dá que não devemos nos surpreender pelo fato de que o próprio Sócrates a  tomou  por divisa.
Essa misteriosa sentença atinge o  próprio  coração  do  mais  irônico  e constrangedor problema que aflige o homem: o nosso desconhecimento a respeito  de nós mesmos ! Problema esse que desafia, desde épocas já encobertas  pelas  névoas do tempo, mesmo a mais sagaz mente humana, que perplexa indaga: afinal, quem  sou eu ?
Na tentativa de trazer luz a  essa  profunda  questão  cabe-nos  iniciar  tal investigação, ao que to indica, pelo nosso corpo físico e  seus  constituintes:os átomos.
É sabido que a ciência  moderna  avançou  tanto  na  direção  do  estudo  das partículas  subatômicas  que  as  experiências  que  demonstram  a   relatividade espaço-temporal nesse reino, ou do comportamento ondulatório  dessas  partículas,acabaram por abalar  irreversivelmente  os  próprios  alicerces  do  materialismo científico-mecanicista do século passado.
Ao que tudo indica, a humanidade como um todo ainda está longe de compreender as conseqüências filosóficas e até mesmo metafísicas do magnífico trabalho do Dr.Albert Einstein sobre a possibilidade da conversão da matéria em  energia,  etc..
Tanto isso é verdade que o uso que tem sido feito desse  conhecimento  é  o  mais trágico que a história já registrou - a bomba  atômica  -  instrumento  de  morte maciça nesse patético jogo de dominação e destruição.
Em 1888, muito antes de todo esse avanço da ciência, Madame  Blavatsky,  (fundadora da Sociedade Teosófica), já afirmava, em sua obra "A Doutrina Secreta",que a matéria era uma "condensação" do espírito e que ambos eram diferentes pólos de manifestação da  mesma  realidade  subjacente.  Essa  idéia  foi  expressa  da seguinte maneira: "...um dos pólos é o Espírito  puro,  perdido  no  absoluto  do Não-Ser, e o outro pólo é a Matéria, na qual ele se condensa,  "cristalizando-se"em tipos cada vez mais grosseiros, à medida que desce na manifestação." (1)
Até pouco tempo a ciência admitia apenas  três  estados  para  a  matéria:  o sólido, o líquido e  o  gasoso.  Entretanto,  recentes  pesquisas  com  gases  de altíssimas  temperaturas,  na  busca  da  fusão  nuclear,  vieram  a   demonstrar propriedades tais na matéria que esse plasma  poderia  ser  considerado  como  um quarto estado.
A ciência oculta considera, desde tempos imemoriais, a existência de 7 planos materiais, de sutileza crescente, subdivididos em 7  estados  ou  subplanos  cada.
Isso totaliza 49 estados, ou seja, o sólido, o  líquido,  o  gasoso  e  mais  46 estados com coesão atômica cada vez menor e,  conseqüentemente,  com  sutileza  e plasticidade  crescentes  ou,  em  outras  palavras,  com  crescentes  graus   de liberdade.
Assim, por exemplo, o corpo físico, que é constituído de sólidos, líquidos  e gases, teria uma contraparte sutil que  seria  constituída  pelos  4  estados  de matéria seguintes, chamados éteres pelos ocultistas. Por isso, essa contraparte é chamada, às vezes, de  corpo  etérico  e,  em  condições  normais  de  vida,  ela interpenetraria o corpo físico, que se constitui de matéria mais densa. Por outro lado, por ela ser uma duplicata exata do corpo físico, célula por célula,  ela  é mais freqüentemente conhecida como duplo etérico.
Uma de suas principais funções é servir como matriz do corpo físico.  Segundo a tradição oculta as células físicas crescem de acordo com o molde  das  etéricas que, por sua vez, constituem o duplo etérico, obrigando-as a  trabalhar  como  um todo, ou seja, como um organismo.
O trabalho da parapsicóloga Thelma Moss sobre o efeito  fantasma  é  uma  das mais recentes evidências dessa função do duplo etérico. Em  condições  normais  o duplo não pode ser fotografado, devido à sutileza dos seus  constituintes,  porém um campo elétrico é  influenciado  pela  sua  presença.  Tal  é  o  princípio  da fotografia Kirlian, que embora não possa fotografar o duplo etérico, fotografa  o ar ionizado pelo efeito corona e influenciado pela integração do duplo, e,  dessa forma, consegue ao menos a definição do seu  contorno.  Por  exemplo,  uma  folha recém retirada da árvore, mas com parte de sua superfície  cortada  e  destruída, tem o seu contorno original nitidamente definido na fotografia Kirlian,  como  se ela ainda estivesse inteira. Esse contorno, que continua aparecendo mesmo  sem  a parte física correspondente, foi chamado de efeito fantasma e se deve à  presença do duplo etérico da folha.
O duplo tende a  exercer  sua  função  moldante  no  sentido  de  orientar  o crescimento das células físicas, porém se a lesão é  muito  grande  ela  afeta  o próprio duplo gerando uma irregularidade no fluxo das energias deste que  gerará, no devido tempo, a cicatriz física.
Isso nos leva à segunda  função  do  duplo  etérico  que  é  a  de  absorção, especialização e distribuição da energia vital proveniente do Sol, conhecida como 'prána' na tradição  Hindu.  Por  isso  os  hindus  chamam  o  duplo  etérico  da 'pránamayakosha': veículo de 'prána'.
Os grandes centros de 'prána' são as glândulas e os centros nervosos do corpo físico, bem como os respectivos centros de força  do  duplo  etérico,  conhecidos como 'chakras' na tradição Hindu, ou dos outros corpos sutis.  A  palavra  chakra provém do sânscrito e, literalmente, significa roda. Os  chakras  são  usualmente descritos como vórtices em forma de sino ou flor situados na superfície do  duplo etérico, com um diâmetro de aproximadamente 10 cm., com suas "hastes"  conectando alguns deles à medula espinal e outros a algumas glândulas do  corpo  físico.  Os sete chakras tradicionais são situados na base da coluna, no baço, no umbigo,  no coração, na garganta, entre os olhos e no topo da cabeça.  É  comum  às  diversas tradições religiosas considerar um ou mais desses  pontos  do  corpo  como  sendo sagrados, como é o caso do "terceiro olho" dos hindus e dos faraós, e da  auréola no topo da cabeça nas tradições Cristã e Budista,  entre  outras.  As  linhas  de fluxo do 'prána' no duplo etérico formam um verdadeiro sistema de circulação e  é nele que se baseiam as técnicas da hatha-Yoga e da Acupuntura, por exemplo.
Existe ainda um terceira função do duplo etérico que é, ao que tudo indica ou parece indicar, a mais significativa  para  nosso  estudo.  É  aquela  função  de intermediário que o duplo etérico exerce entre a  nossa  consciência  e  o  corpo físico, visto que é através dos centros do duplo que a  nossa  consciência  passa ter relação com o sistema nervoso e algumas glândulas  do  corpo  físico.  Com  a ocorrência da morte essa função, bem como as outras, não é mais exercida, pois  o "cordão de prata", como é chamado o vínculo entre o físico e o duplo na Bíblia em Eclesiastes 12:6, se rompe libertando a consciência  do  corpo.  A  partir  desse momento as funções sensoras e motoras do sistema  nervoso  físico  desvinculam-se completamente da consciência. Fenômeno similar produz a ausência de dor durante o transe hipnótico, devido a paralisação do fluxo de 'prána'  em  alguma  parte  do duplo. Esse é a arte  que  certos  faquires  e  hatha-yogues  orientais  dominam, possibilitando assim o controle da dor e mesmo de funções mais complexas  como  a pulsação do coração, etc., a ponto de existir a referência oficial  de  casos  em que os mestres dessa arte  tendo  sido  considerados  clinicamente  mortos  terem "repentinamente" voltado à vida.
É também essa função do duplo que produz a interação da  mente  com  o  corpo gerando as doenças psicossomáticas, etc.
Outro ponto que merece destaque é que os chakras são  a  porta  pela  qual  o cérebro pode tomar contato com os "mundos" sutis, ou seja, são o  instrumento  da percepção extra-sensorial. Por exemplo, a  clarividência  -  o  poder  de  ver  a matéria sutil e, conseqüentemente, o lado oculto da natureza - está  relacionada com o chakra frontal ou  "terceiro  olho".  Essa  relação  está  simbolizada,  na tradição Egípcia, pela serpente que sai da fronte do faraó, indicando que ele era possuidor desse poder e do conhecimento que dele decorre. Aliás, foi  através  da clarividência que a  maioria  dos  conhecimentos  que  a  Tradição-Sabedoria  nos oferece foram adquiridos e ratificados, ao longo  dos  milênios,  por  uma  linha ininterrupta de ocultistas ocidentais e orientais, até os dias de hoje.
Aquela serpente  é  um  símbolo  comum  à  tradição  Hindu,  representando  a  Kundalini - energia poderosíssima que, no homem comum, "dorme como  uma  serpente enrolada" no chakra da base da coluna vertebral. Pelo uso de certas  práticas  de
Yoga, o  candidato  capacitado,  e  sob  a  orientação  direta  de  um  instrutor competente, desperta essa força e a põe em ascensão através de 'sushumná' -  como é chamada a passagem interna da espinha dorsal. À medida que essa  energia  passa através dos chakras, eles vão sendo vivificados, um  a  um,  abrindo,  assim,  as portas da percepção do candidato às dimensões sutis, também chamadas  de  planos.
Nunca é demais alertar que essas práticas são empreendidas  somente  nos  últimos estágios do caminho do discipulado que leva à iluminação. Nenhum noviço  pode  se aventurar nessas técnicas sem expor seu corpo físico a grande perigo, provocando, eventualmente, a loucura ou a morte.
Foi através da clarividência que os alquimistas da Idade Média  conheceram  o veículo da consciência que esta  imediatamene  além  do  duplo  etérico.  Eles  o chamavam  de   corpo   astral   porque,   quando   observado   clarividentemente, assemelhava-se ao corpo físico, porém era circundado por uma aura ovóide de cores brilhantes como as  de  uma  estrela  que  se  movia  constantemente.  Ele  seria constituído de matéria astral, ou seja, dos 7 estados ou subplanos  imediatamente mais sutis que os éteres. Essa  matéria  seria  tão  sutil  que  os  seus  átomos possuiriam um grau de liberdade a mais para vibrar, isto é, uma nova direção para deslocamento. Isso caracterizaria o plano astral, constituído por  essa  matéria, como  quadridimensional  e  portanto,  interior  ao  plano  tridimensional.  Essa interpretação seria similar a "interpenetração" das diferentes ondas de rádio  no mesmo espaço. Também o corpo  astral,  seguindo  a  mesma  linha  de  raciocínio, usualmente interpenetraria o duplo etérico que, por sua  vez,  interpenetraria  o corpo físico. Neste sentido, os mundos sutis  estão  aqui  e  agora  conosco  ou, usando a expressão do Cristo: "o reino dos  céus  está  dentro  de  vós"  (2).  O problema real se encontra na dificuldade de  focarmos  nossa  consciência  nesses estados elevados, sintonizarmos, por assim dizer, nosso "receptor"  cerebral  com essas "ondas".
Uma das funções do corpo astral é a de transformar as vibrações captadas pelo órgãos dos sentidos do corpo  físico  em  sensações  na  consciência.  A  ciência moderna tem encontrado dificuldades em "dissecar" a consciência  em  laboratório, de modo que admite a ocorrência de tal transformação em algum recanto do cérebro, que tem sido vasculhado "de ponta a ponta" nessa busca. Por exemplo,  é  um  fato científico que as imagens formadas em nossas retinas são invertidas em relação ao mundo exterior, pois elas formam-se por intermédio do cristalino do globo  ocular que, sendo uma lente biconvexa, necessariamente inverte todas as  imagens  reais; porém onde ocorre a reinversão ? Seria no cérebro ? A investigação  clarividente, com seu instrumental mais adequado para dissecar, por assim dizer, as  sucessivas camadas da consciência, pode ir mais longe. Segundo a  Tradição-Sabedoria,  essas vibrações captadas do mundo físico pelos sentidos fluiriam pelo  sistema  nervoso até o cérebro do corpo físico de onde seriam refletidas para o cérebro etérico  e deste para o corpo astral. Somente então elas se converteriam em sensações. Seria neste estágio que, eventualmente, a sensação  poderia  receber  o  "colorido"  ou qualidade de "agradável" ou de "desagradável",  que  anteriormente  não  existia.
Caso houvesse algum envolvimento do mental  através  da  memória  ou  antecipação surgiriam desse processo a atração, isto é, o desejo  de  experimentar  novamente essa sensação agradável. De acordo com esse ponto de vista, essas são  as  raízes mais elementares do desejo e  da  emoção.  Por  isso  o  corpo  astral  é  também conhecido como veículo dos desejos ('Káma', em sânscrito), alma animal ou veículo emocional. Ele é o veículo que expressa nossos sentimentos,  paixões,  desejos  e emoções. Platão chamava-o de alma apetitiva.
Assim como os impactos sobre os sentidos físicos, transmitidos pelo  'prána', não se transformariam em sensações sem a intervenção dos centros do corpo astral; assim também essas sensações não chegariam à mente sem  a  ação  mediadora  desse veículo. Essa é a segunda função do veículo astral: servir  como  uma  ponte  que funciona em ambos os sentidos, visto que a mente  comanda  o  cérebro  físico  e, conseqüentemente, o corpo físico por meio de estímulos  transmitidos  através  do corpo astral. Ao  longo  do  curso  investigaremos  qual  é  a  influência  dessa inter-relação dos veículos sobre o  nosso  estado  de  espírito,  como  causa  da contradição humana.
A terceira função do veículo astral é  atuar  como  veículo  independente  da consciência. Por exemplo, durante o sono normal ou em um estado de  transe  seria possível separar-se o corpo astral do corpo físico  libertando  o  primeiro  para funcionar independentemente no plano astral. Embora não tenhamos espaço aqui para abordar mais profundamente  a  temática  do  sonho,  da  "viagem  astral",  etc., poderíamos citar uns poucos fenômenos que seriam explicados por essa função. Como o plano astral é o das emoções, nele elas são muito mais intensas  do  que  podem ser sentidas quando nossa consciência está focada no cérebro físico.  Assim,  por exemplo, nós podemos sentir certos tipos  de  medo  em  um  pesadelo  ou  extrema alegria em alguns "sonhos coloridos" que são desconhecidos no estado de  vigília, porque quando dormimos a consciência não está focada no cérebro físico mas sim no veículo astral. A dificuldade está em trazer claras recordações daquele mundo  de quatro dimensões para nosso cérebro  tridimensional  quando  acordamos  -  só  um cérebro treinado pode fazê-lo plenamente. Alguns distúrbios no retorno  do  corpo astral ao físico são também os responsáveis por processos de catalepsia, bem como certas sensações de queda bastante comuns que costumam  acompanhar  um  despertar súbito.
Essa terceira função do veículo astral também está  ligada  ás  condições  da consciência após a morte física, que tem algumas semelhanças com  o  processo  do sonho, como veremos na próxima lição.
Caso nós quiséssemos levar mais a fundo essa investigação  sobre  a  natureza real do ser humano, nós nos depararíamos, segundo nos diria a Tradição-Sabedoria, com que os ocultistas denominaram plano mental: o reino do pensamento. Ele  seria constituído de matéria mais sutil que a astral, na verdade  pelos  7  estados  de matéria seguintes. O veículo da consciência que  se  constituiria  dos  primeiros quatro estados ou subplanos do mundo mental seria, por analogia  com  os  outros, chamado de corpo mental e estaria relacionado com  os  pensamentos  concretos.  É importante que nós investiguemos mais detalhadamente o que são esses  pensamentos concretos, ao invés de apenas dizer  que  são  aqueles  não  classificáveis  como abstratos.
Nós consideramos a pouco como os impactos da  matéria  física,  atingindo  os sentidos, se transmitiam pelo sistema nervoso para se converterem em sensações no corpo astral. A primeira  função  do  corpo  mental  é  a  de  transformar  essas sensações em percepções mentais de cor, forma, som, gosto cheiro e tato. Outra de suas funções é a de  criar  uma  imagem  composta  a  partir  da  combinação  das diferentes percepções mentais, ou imagens, provenientes dos diferentes órgãos dos sentidos. Assim, por exemplo, a imagem mental que nós temos de uma laranja é  uma combinação de percepções de cor, forma,  gosto  etc.,  formando  em  nossa  mente aquela imagem composta à  qual,  na  língua  portuguesa,  associa-se  o  nome  de "laranja", que corresponde a certa grafia e som. Esse nome ou uma rápida passagem de olhos por uma imensa série de  imagens  relacionadas.  Dessa  forma,  o  corpo mental percebe muito mais que nossos limitados sentidos captam, de fato, do mundo que nos cerca. Por exemplo, ao ver a laranja  a  mente  pode  lembrar-se  de  seu gosto, cheiro, etc.. Por outro lado, nós nunca vimos os átomos de uma  laranja  a vibrar nem os fótons deles provenientes que são percebidos, dentro  da  faixa  do vermelho ao violeta a que somos fisicamente sensíveis, como cor por nossa  mente.
Logo, nós não conhecemos em sua totalidade nem sequer uma laranja! Os objetos  do mundo que nos cerca só existem com cor, forma, etc., em nossa mente; eles são, na verdade, uma manifestação de energia condensada:átomos e moléculas a vibrar. Como nos disse Dr. I.K.Taimini:"O objeto é apenas uma causa instrumental  desconhecida para excitar a imagem mental  que  é  formada  em  nossa  mente.  Vivemos  assim, realmente, num mundo para o exterior  por  um  processo  chamado  'Vikshepa',  em sânscrito. Esse processo de projetar nosso mundo mental para  fora  de  nós,  que deveria ser bastante óbvio para quem quer se dê ao trabalho  de  pensar  sobre  a natureza da percepção sensorial, deve nos convencer de duas coisas. Uma é  que  o mundo em que vivemos está realmente dentro de nós, em nossa mente, e  a  outra  é que, na verdade, estamos vivendo no meio de ilusões as mais grosseiras, sem mesmo atentarmos no fato" (3).
Esse mecanismo "objetificante" do corpo mental, a alma irascível ou arrogante do platonismo, é o causador da Grande Heresia:a ilusão de ser um eu separado. Ela gera o egoísmo que separa os homens. Por isso, a Sr.a H.P. Blavatsky escreveu: "A mente é o grande Assassino do Real" (4), ou seja, da Unidade de  tudo  que  vive.
Acrescente-se a isso que os corpos  astral  e  mental  usualmente  trabalham  tão interligados que poderiam ser vistos como sendo um  único  veículo,  que  já  foi chamado de 'Káma-manas' (desejo-mente) no budismo esotérico e  de  'Manomaykosha' pelos vedantinos, uma verdadeira "máquina de projetar  ilusões".  Poderíamos  até imaginá-la como uma "película de filme" constantemente a projetar imagens mentais emocionais na "tela" do cinema que seria, nessa visão alegórica,  o  conjunto  de átomos da matéria física que nos cerca.
Outras funções do corpo mental são as de desenvolver os poderes da memória  e imaginação, servir oportunamente como  veículo  independente  da  consciência  no plano mental, servir à consciência como veículo do pensamento concreto  bem  como expressá-lo no corpo físico através do corpo astral, cérebro  etérico  e  sistema cérebro-espinal, coordenar movimentos do corpo físico para a ação, etc..
É  importante  compreender,  pelo  menos   parcialmente,   que,   segundo   a Tradição-Sabedoria, o corpo físico, o duplo etérico, o corpo  astral  e  o  corpo mental são todos mortais formando, em conjunto, o eu inferior ou personalidade - palavra que provém da palavra grega "persona" (literalmente: fonte de onde vem  o som) que era o nome da máscara usada pelos atores nos teatros  da  Grécia  Antiga sendo indicativa do papel que representavam. Assim, o  eu  inferior,  quaternário inferior ou personalidade  seria  a  "camada"  mais  exterior  de  nosso  Ser,  a "máscara" com que o Eu Superior, a Tríade Superior  ou  Ego  se  manifestaria  no teatro da vida.
A última função do corpo mental inferior, ou simplesmente corpo  mental,  que precisamos citar seria a de assimilar os resultados das experiências  vividas,  e passar a sua essência, antes de sua morte, para  o  Ego  Imortal,  o  Homem  Real vivendo em seu corpo mental superior, o Pensador,  como  analisaremos  melhor  em nossa próxima lição. Esses resultados de experiências vividas são  os  "tesouros" que Jesus aconselha ajuntar "no céu, onde nem a traça nem a ferrugem consomem,  e onde os ladrões não minam nem roubam" (5).
Porém esse "cofre espiritual" que é o corpo mental superior ou corpo  causal, como é mais freqüentemente chamado por acumular  as  "causas"  do  futuro,  sendo constituído da matéria sutilíssima dos 3 subplanos superiores do plano mental  só pode acumular a essência das mais sublimes experiências de nossas vidas, sendo  a imensa maioria de nossas ações grosseiras demais para atingí-lo.
O corpo causal é também o veículo do pensamento abstrato, em contrapartida ao corpo  mental  que  é  o  do  pensamento  concreto.  O  pensamento  é   meramente estabelecido de relações entre as imagens presentes em nossa  mente,  caso  essas imagens sejam nomes e formas por um lado, ou conceitos,  leis  e  princípios  por outro, teremos, respectivamente,  pensamentos  concretos  e  abstratos.  Logo,  é natural que o  corpo  causal,  chamado  'Vijnámayakosha'  pelos  vedantinos,  que acumula a essência das experiências, trabalhe no nível das leis e princípios  que se ocultam das formas mais concretas. Platão chama-o de alma inteligível.
Os outros dois componentes da Tríade Superior  são  de  natureza  ainda  mais sutil.
O veículo  búdico  é  aquele  responsável  pela  compreensão  que  ilumina  o pensamento, dele provém a luz de 'buddhi' ou intuição que dissolve as  dúvidas  e desperta a compaixão por todos os seres, visto que no plano  búdico  já  se  pode sentir como absolutamente  real  a  unidade  de  tudo  que  vive.  Esse  veículo, comparado freqüentemente a uma estrela de luz cujos raios tudo  penetram  e  tudo abrangem, tem se identificado com o Cristo Interno, referido  diversas  vezes  na tradição Cristã. Talvez o apóstolo Paulo tenha legado a nós a  mais  bela  dessas referências: "Cristo em vós, a esperança de glória." (7) Por sua  vez,  entre  os vedantinos o veículo búdico era chamado de 'ãnandamayakosha', ou seja, veículo ou envoltura de bem-aventurança. Aquele que  consegue  focar  sua  consciência  nele atinge um êxtase elevadíssimo, somente inferior ao do veículo átmico.
O veículo átmico, centro da vontade espiritual que nos conduz inexoravelmente pela eternidade através de todas as limitações,  constituindo-se  da  ainda  mais sutil matéria  do  plano  nirvânico.  Foi  comparado  com  "um  círculo  com  sua circunferência em nenhum lugar e seu centro em toda a parte".
Como facilmente se nota esses conceitos são demasiados abstratos para que  as palavras possam expressá-los de fato. Tentaremos fazê-lo através de uma alegoria.
Como já vimos, a mente do indivíduo poderia ser comparada a uma película de filme constantemente a projetar imagens mentais-emocionais sobre  os  átomos  do  mundo físico. Se  levássemos  essa  alegoria  sobre  os  átomos  do  mundo  físico.  Se levássemos essa alegoria mais adiante, teríamos a luz de buddhi,  proveniente  do veículo búdico, representada pela luz que anima o filme projetando-o na tela,  ou seja, a luz que anima as imagens mentais. A lâmpada que projeta essa luz seria  o veículo átmico. Seguindo o conceito básico  da  Tradição-Sabedoria  que  é  o  da unidade  da  vida,  diríamos  que  embora  existam  diversas  mentes   projetando diferentes películas existe uma lâmpada que projeta a luz  que  as  anima.  Logo, aquele que penetrasse no  centro  de  sua  consciência  "sintonizaria-se"  com  a energia que está condensada em toda a matéria do Universo e, conseqüentemnte,  se sentiria "dentro" de todos os seres. Amaria aos outros como a si mesmo, de fato !
A energia elétrica que anima a lâmpada  seria  a  Mônada  (proveniente  do  grego "monos": um), da qual Pitágoras tratou, centro último de nossa consciência que  é também conhecido como a "centelha divina". A Mônada é o centro  eterno  de  nosso Ser, mas ela não é humana porque é  pré-existente  a  tal  condição.  Sobre  essa "alma" foi dito. "A alma do homem é imortal, e o seu futuro  é  o  de  algo  cujo crescimento e esplendor não tem limites" (8).  Ou,  se  preferirmos  o  profético símile da tradição Cristã, nas palavras de Paulo, sobre o futuro do  ser  humano:
"Até que todos nós cheguemos à unidade da fé, e do conhecimento do Filho de Deus, o homem perfeito, à medida da estatura completa de Cristo" (9).
Talvez agora nós possamos compreender  melhor  a  profundidade  existente  na inscrição do pórtico de Delfos que, como dissemos no início  da  lição,  Sócrates tomou por divisa. Gostaríamos  de  encerrar  essa  lição  com  a  própria  versão socrática daquela inscrição que merece nossa reflexão e que é a seguinte: "Homem:conhece-te a ti mesmo. Assim conhecerás o Universo e os deuses."
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
(1) BLAVATSKY, H.P, A Doutrina Secreta. São Paulo, Pensamento, 1980. v. 2  p. 191.
(2) THE HOLY Bible. King James  Version,  1611.  New  York,  American  Bible Society, 1980. Luke 17:21. (Lucas 17:21)
(3) TAIMNI, I.K. Autocultura; À  luz  do Ocultismo. Rio de Janeiro, Grupo Annie Besant, 1980, p. 98.
(4) BLAVATSKY, H.P. A voz do Silêncio. São Paulo, Pensamento. p. 45 aforismo 4.
(5) THE HOLY, op.  cit, acima nota (2), (Mateus 6:20)
(6) Ibidem, (Colossenses 1:27)
(7)  BLAVATSKY,  op. cit. acima nota (4), p. 61 aforismo 116.
(8) COLLINS, Mabel. O  Idílio  do  Lótus Branco. São Paulo, Pensamento. p. 83.
(9) THE HOLY,  op.  cit.  acima  nota  (2), ,(Efésios 4:13) 
BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA:
BESANT, Annie. O Homem e seus Corpos. São Paulo,  Pensamento,  1976.

TAIMNI, op. cit. acima nota (3)
LEADBEATER, C.W. O Homem Visível e Invisível. Sâo  Paulo, Pensamento, 1969. "" , A Mônada. São Paulo, Pensamento. p. 87.
* Ex-Presidente da Sociedade Teosófica no Brasil