quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

O MAÇOM E O ‘SUPER-HOMEM’ DE NIETZSCHE


“assim falou Zaratustra”
Irm. Ubyrajara de Souza Filho
A maçonaria não é religião. A crença no Grande Arquiteto do Universo na maçonaria é uma realidade filosófica, e não dogmática, traduz uma ideia de entidade dinâmica, um foco social que evolui enquanto se mescla a moralidade e as necessidades da época, moldando e guiando o maçom em seu processo evolutivo de construção de um novo homem. Para a maçonaria a  ideia de Deus resulta da consciência, e as exteriorizações do seu culto não passam de um sentimento íntimo que se  pode traduzir das mais diversas maneiras. Ao mesmo tempo, a maçonaria não se prende a um determinado sistema filosófico porque isso seria tirar de seus adeptos a liberdade de interpretação de seus símbolos, alegorias e mitos, os obrigando a seguir um determinado caminho, o que seria negar a sua própria pregação de liberdade de pensamento.
Utilizando o pensamento de Nietzsche, em sua obra “Assim falou Zaratustra”, podemos deduzir que objetivando não criar sectarismo, a maçonaria apresenta como verdade provisória, ao seu recém-iniciado, ainda fortemente influenciado por suas convicções religiosas pré-concebidas e mistificadas ao longo dos anos, a crença no Grande Arquiteto do Universo como sinônimo de Deus “das religiões”, crença que ele deverá corrigir aos poucos, à medida que ele sobe os degraus da escada da sabedoria, e deverá, gradativamente, “matar esse Deus”, convertendo-o para o Deus “nas religiões”, até chegar, no último grau, ao descobrimento de seu “deus interior” - o conhecimento de si mesmo e de sua Essência – transmutando-o em um ‘homem superior’, perfeitamente identificável com o “Übermensch”, o “super-homem”.
A “morte de Deus”, segundo Nietzsche, representa a desconstrução do padrão de Deus que a metafísica clássica ocidental construiu: o de ser absoluto e supremo. Esse conceito de Deus deveria morrer na consciência do ser humano enquanto mantenedor do sistema tradicional de valores morais e éticos. Como resultado disso, alguém deveria ocupar o seu lugar – o próprio homem, pelo seu autoconhecimento. Entretanto, Nietzsche, entendia que a proclamação da “morte de Deus”, desestabilizaria emocionalmente o homem arraigado em suas crenças metafísicas, pois ela acentua a natureza do medo e da dramaticidade existencial, uma vez que pensar na ausência de Deus assinalaria o declínio da esperança e o estabelecimento da incerteza. O anúncio da “morte de Deus”, portanto, não se trata de propagar ideias anti-teístas. Não pretende ser a disseminação do ateísmo. Mas em erigir um novo conceito sobre o homem e sobre Deus.
Assim, Nietzsche observa que a “morte de Deus” é um acontecimento cultural e existencial. Significa, em outras palavras, matar o “dogma”, o “fanatismo”, o “conformismo”, a “superstição” e o “medo” é desenvolver-se pelo “autoconhecimento” e não aceitar mais a imposição de regras sedimentadas e impostas, que impossibilitam a superação e a auto-afirmação do ser humano que luta incansavelmente para libertar-se desses ‘vícios’ e elevar-se em sua saga existencialista.
Para Nietzsche, o homem deveria ele mesmo conduzir os seus próprios desígnios. Cabe somente a ele fazer as suas escolhas. E, acima de tudo, optar por uma delas, certa ou errada. Os valores arcaicos devem ceder espaço ao surgimento de novos valores. Não mais centrados em afirmações religiosas ou metafísicas, mas em sentenças redigidas pelo próprio homem, transmutado em um Übermensch, (literalmente “homem superior” ou super-homem”). Concretamente existencialista, que não promete a felicidade e gozos na vida futura, transcendental.
Nietzsche em sua obra apresenta um paradigma de humanidade que extingue e supera pelo autoconhecimento o modelo da religião piedosa dos fracos e oprimidos que se encaixa perfeitamente a proposta utópica da maçonaria de criar uma humanidade mais feliz através de “homens superiores”, livres de vícios, superstições e preconceitos. 

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