segunda-feira, 28 de outubro de 2019

VIRTUDES CARDEAIS

Penso que, como simples amostra, podem-nos ajudar algumas pinceladas sobre as quatro virtudes cardeais. Serão rápidas, impressionistas, e mostrarão apenas umas poucas moedas do tesouro riquíssimo que guarda cada uma delas.
Prudência – Como ajuda e enche de segurança ter um pai que seja alegre, sensato e reflexivo! Que não improvise. Que não dê decepções a toda a hora, mudando de planos sem mais nem menos. Que não dê sustos por ter-se esquecido de controlar as contas bancárias, ou os prazos disto ou daquilo; que não precise ouvir aquelas palavras do Paraíso de Dante: Siate, cristiani, a muovervi più gravi: non siate come pena ad ogni vento… (“Caminhai, cristão, com mais ponderação: não sejais qual pena movida por qualquer vento…”).
Justiça – Como faz bem aos filhos ter um pai e uma mãe que cumprem o que prometem! Que não se desdizem, porque ficou mais difícil aquele passeio com os filhos e estão cansados e são comodistas. Que não tratam os filhos como números, com ordens genéricas, iguais para todos, como se o lar fosse um quartel, mas, como pede a justiça, tratam desigualmente os filhos desiguais (logicamente, não por mimo ou preferências injustas). Que, se fazem uma repreensão justa e prometem um pequeno ou médio castigo (castigo grande quase nunca se justifica), não amolecem, mas cumprem, sem deixar de cercar o filho punido da certeza de que é muito amado e só se quer o seu bem.
E fazem bem aos filhos outras “justiças” menores do cotidiano. Por exemplo, saber que os pais não se aproveitam nunca de um troco errado (devolvem ao caixa a diferença), nem dão jeitos para enganar e deixar de pagar uma entrada, que qualquer pessoa honesta paga.
Fortaleza – Bastaria lembrarmo-nos da mãe que admirávamos há pouco. Mas é também um exemplo maravilhoso viver num clima familiar em que não se ouvem queixas nem reclamações. Em que ninguém se julga mártir ou vítima. Em que o pai, exausto, é capaz de ficar brincando com os filhos, interessando-se pelas suas pequenas problemáticas ou pelos seus sonhos e alegrias, e tudo isso sabendo oferecer a todos um sorriso afável, no meio da pena ou do esgotamento. Pais que sempre projetam a bela luz da paciência e da constância.
Temperança – Que grande exemplo dão os pais que nunca são vistos, nem dentro nem fora de casa, nem nos dias de trabalho nem aos domingos, e feriados, abusando da comida e da bebida! Que não se iludem, achando que vão enganar os filhos dizendo-lhes que se trata só de um “aperitivo” ou uma “cervejinha” de que precisam muito porque andam fatigados e faz bem para a saúde, quando os filhos os veem claramente “altos”, com a voz gosmenta e as pernas bambeando por excesso de álcool. Pelo contrário, como toca o coração ver uma mão que habitualmente “gosta” do pedaço de carne que tem mais nervos e gorduras, ou ver o pai que “gosta” do cinema que a mãe adora…, mesmo em dias em que joga o seu time.
E a temperança na TV e na Internet? Acham que os filhos são tolos? Em matéria de informática, quase sempre dão um solene “chapéu” nos pais, e descobrem muito facilmente – pois ainda não aprenderam a viver a virtude da discrição e a controlar a curiosidade – a quantidade de sites inconvenientes que o pai visitou, como se fosse um adolescente com obsessão sexual neurótica.
E em matéria de humildade, que São Tomás de Aquino situa no âmbito da temperança? Como se nota a falta de humildade e como faz mal! Por isso, é tão formativo que os filhos percebam que os pais não se deixam arrastar por mesquinharias de susceptibilidade, por mágoas persistentes, por rancores e incapacidade de perdoar. Que nunca vejam os pais virando o rosto para ninguém, nem dominados por espírito de revide e vingança, nem com raiva do cunhado que fez isso ou da tia que fez aquilo…
Virtudes humanas! São tantas as que os pais deveriam cultivar, como uma lâmpada que brilha em lugar escuro… (1Pe 1, 19)! Cultivar virtudes e ensiná-las aos filhos, com a autoridade moral que dá o exemplo, é um empreendimento árduo, mas é decisivo, e, por isso, deve ser enfrentado pelos pais (tendo uma intensa vida interior, muita formação cristã, exame de consciência todas as noites, direção espiritual, etc.), e, com a graça de Deus, deve ser levado a termo. Oxalá os filhos, quando crescerem, possam dizer que nunca se apagou deles a imagem do pai, a imagem da mãe, e que até à velhice o pai e a mãe continuaram a iluminar lhes a vida.
Fonte: https://cleofas.com.br/breve-reflexao-sobre-as-virtudes-cardeais/


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