PRECE
E MEDITAÇÃO 2
Swami Satprakashananda
A prece é evidentemente uma relação verbal com Deus. Oramos a Deus e Ele
responderá a nossa prece se a mesma for profunda e sincera. Podemos rezar a
Deus por qualquer coisa que quisermos. As pessoas mundanas oram a Deus por
objetivos mundanos, como: poder, posição, beleza, juventude, longevidade,
posses, para se livrar de calamidades, enfim, por inúmeros interesses
seculares. Se as preces forem sinceras, então elas serão atendidas. No entanto,
as pessoas que tem inclinação espiritual rezam a Deus por valores espirituais.
Uma pessoa não pode ser mentalmente espiritual enquanto não se
conscientizar da futilidade dos desejos mundanos. A pessoa que segue o caminho
da virtude fica desiludida de todas as dualidades. Ela entende então que ter
prosperidade e posses de bens não irá resolver os seus problemas existenciais.
A vida consiste num drama de nascimento, crescimento, decadência e morte. A
pessoa está inevitavelmente sujeita à experiência dual de sofrimento e prazer,
de amor e ódio, de esperança e medo, de sucesso e fracasso. A experiência dual
não é gratificante, mesmo que se viva numa sociedade civilizada ou numa
comunidade bárbara, mesmo que se viva num palácio real ou numa cabana. Qualquer
experiência obtida nesta vida sempre será dual. A vida neste mundo consiste em
constante mudança.
Apesar de todas as invenções tecnológicas, apesar das variadas
descobertas científicas, apesar de todas as estratégias políticas, apesar de
todos dispositivos utilitários, a experiência básica do homem, a base comum da
humanidade não muda. Então, no que consiste a base comum da humanidade?
Consiste no drama de nascimento, crescimento, decadência e morte. Esse drama de
sorrisos e lágrimas, esperança e medo, subir e cair nunca irá mudar. Todas as
mudanças encontram-se na superfície. Assim, nós é que teremos de mudar se
quisermos resolver efetivamente o nosso problema existencial. Frequentemente
mais problemas são criados do que solucionados quando se criam coisas para
promover o prazer e conforto. Os problemas continuam porque vivemos num mundo
de dualidades, de pares de opostos.
Quando uma pessoa fica desiludida com as dualidades da vida, ela
busca ir além de toda relatividade; procura alcançar aquela Realidade que é
absoluta. Só Deus é bom no sentido absoluto. Não existe o bem no sentido
relativo. Só Ele é o Supremo Bem. Só quando uma pessoa estiver convencida
disso, é que sua mente se voltará na direção de Deus. Somente, então, é que se
tornará um verdadeiro aspirante espiritual - um buscador de Deus.
Quando a pessoa compreende essa verdade e reconhece a limitação
de todos os valores seculares, desenvolve a percepção de que o único e supremo
propósito da vida é realizar Deus, é ver Deus. Então é que a pessoa busca a
Deus como um ideal, como uma meta. Então ela não ora a Deus por interesses
seculares; ora a Deus por valores espirituais. Compreende que são somente os
tesouros espirituais que não são destruídos, que não enferrujam e que nenhum
ladrão pode roubar.
A pessoa então não ora mais por interesses seculares. Se por
acaso ora a Deus por interesses seculares é por causa do seu desenvolvimento
espiritual. Por exemplo, ela pode orar a Deus por boa saúde e por uma posição
segura e por benefício espiritual. Ela entende que orar a Deus por valores
seculares, tais como: poder, riqueza, beleza, posição e outras coisas
semelhantes, é como colher bijuterias após ter descoberto uma mina de
diamantes. É como aplacar a sede bebendo água de poço, após conhecer uma fonte
perene de ambrósia. Quem senão uma criança irá ao imperador dos imperadores em
busca de brinquedos e bonecas.
É para ser entendido que esta vida sempre continuará a ser o
drama de sorrisos e lágrimas, de esperanças e medos, de êxitos e fracassos,
onde quer que a pessoa possa estar. Assim foi no passado, assim é no presente,
e assim na direção de todos os pontos cardinais. Você não pode sair desse
labirinto. Aqueles que reconhecem a limitação da experiência dual, as
limitações do mundo relativo, buscam a Deus como um ideal, como uma meta. Sem o
reto entendimento isso não é possível.
Os videntes védicos reconheceram a importância do reto
entendimento. No Svetasvatara Upanishad encontramos as seguintes preces:
"Possa Ele, o Senhor do Universo, o grande Vidente que é a
origem dos deuses e o seu sustentador, que trouxe à existência a Alma Cósmica
no início da criação, possa Ele conceder-nos reto entendimento". (III:4)
"Possa aquele Ser radiante de luz, que embora Uno e não
diversificado, pelos Seus múltiplos poderes, e sem nenhum motivo próprio, dá
origem às diversidades e no final (do ciclo) reabsorve em Si mesmo o universo.
Possa Ele dotar-nos de reto entendimento". (IV:I)
O reto entendimento é muito mais valioso do que todas as nossas
riquezas externas. Você não pode utilizar os seus recursos externos ou internos
para o seu próprio beneficio a não ser que tenha o reto entendimento, a não ser
que tenha sabedoria. Os sábios vedânticos entenderam que, mais do que qualquer
outra coisa, o homem precisa é de reto entendimento. Sem o reto entendimento
não será capaz de utilizar a sua riqueza corretamente. Não será capaz de
conviver adequadamente com seus amigos; não será capaz de utilizar
apropriadamente a sua posição; não será capaz de usar corretamente de seus
pertences; poderá até usá-los erradamente para o seu próprio mal. Sem o reto
entendimento não será capaz até mesmo de usar corretamente a sua inteligência e
habilidades estéticas.
Assim, a primeira coisa que necessitamos é o verdadeiro
entendimento, a verdadeira sabedoria. Então, qualquer coisa que nos seja
disponibilizada podemos usar para o nosso próprio benefício. Caso contrário, a
aquisição de poder e posição não irá nos ajudar. Desta forma, poderá haver
muitas e diferentes formas de preces que uma pessoa poderá adotar por falta de
verdadeiro entendimento.
(Extraído do Livro “Meditation: Its Process, Practice, And
Culmination” de Swami Satprakashananda)
PAZ INTERIOR - Swami Satprakashananda
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