quinta-feira, 20 de abril de 2017

A MAÇONARIA E A MULHER

A Historia da Maçonaria, as suas origens e os seus Princípios Filosóficos estão dissecados, publicados e à disposição de todos em qualquer boa livraria. É importante considerar que aqueles que se dedicam a escrever sobre Maçonaria seguem Escolas diferentes.
Em primeiro lugar temos a Escola Autêntica, que tem a tendência de fazer a Maçonaria derivar das Lojas e Corporações Operativas da Idade Média. Temos também  a Escola Antropológica, que aplica as descobertas da antropologia aos estudos das origens históricas da Maçonaria. A Escola antropológica dá à Maçonaria uma antiguidade muito maior do que a defendida pela Escola Autêntica. Temos ainda a Escola Mística, que procura despertar espiritualmente o homem em seu desenvolvimento interno. Esta Escola tem buscado espiritualizar a Maçonaria, o que a leva às portas do conceito de religião.
Finalmente, temos a Escola Oculta. Esta Escola, do mesmo modo que a Mística, busca a união do homem com o Criador. Enquanto os místicos usam a oração, os ocultistas recorrem à magia, com a invocação das forças invisíveis. Esta Escola é representada pela Ordem Maçônica Mista Internacional “O Direito Humano”, com sede em Paris. Ela se distingue pela admissão de mulheres, com iniciação no mesmo nível de igualdade com os homens. Nesta Ordem encontramos os ensinamentos de Pitágoras, de Agrippa, de Paracelso, da Ordem Rosa-Cruz e da Maçonaria Egípcia de Cagliostro.  Esta Ordem foi fundada em 1893 em Paris por Maria Deraismes e Georges Martin, e está presente, com suas Lojas Mistas, em 60 países de todos os continentes.
Não são poucos os documentos que contêm os Antigos Deveres do Maçom e que atestam a presença da mulher na Maçonaria. Na França, o Livro dos Ofícios, escrito por Etienne Boileau em 1268; na Inglaterra, os Estatutos da Guilda de Norwich, de 1375; na Escócia, os Estatutos da Loja de York, de 1693. Estes Estatutos assim se expressavam: “Aquele ou aquela que se tornar Maçom deve fazer seus juramentos colocando a mão sobre a Bíblia”. Outros documentos de Lojas inglesas citam, nominalmente, várias mulheres-maçons.
As Ordenações da Loja Corporação de Corpus Christi, da cidade de York e datadas de 1408, dizem o seguinte: “Serão admitidos na Ordem todos os candidatos de ambos os sexos, desde que exerçam profissão honesta, tenham boa reputação e sejam de bons costumes”. No mesmo manuscrito se pode ler que os Irmãos e Irmãs deverão prestar o juramento sobre a Bíblia e também se faz alusão à Dama, particularmente no compromisso do Aprendiz, quando ele jura obedecer ao Mestre ou à Dama.
O Manuscrito Régio, escrito em 1390, é composto de 794 versos e fala da tradição da Corporação e dos deveres do Maçom. Em nenhum momento menciona que a Ordem seja restrita aos homens. Ao contrário, prova a presença da mulher, ao afirmar em seu item 10º, versos 203 e 204: “Que nenhum Mestre suplante outro, senão que procedam todos entre si como Irmão e Irmã”. No item 9º, versos 351 e 352, lê-se o seguinte: “Amavelmente, servindo-nos a todos, como se fossemos Irmão e Irmã”. Em síntese, a presença da mulher na Maçonaria está documentada no período que vai de 1268 a 1713, isto é, durante um período de 445 anos.  A exclusão da mulher da Maçonaria viria a ocorrer a partir da criação dos Landmarks, as Cláusulas Pétreas das Constituições Maçônicas, contrariando assim a tradição  e os antigos usos e costumes de nossa Ordem. Esta exclusão foi introduzida pelo Presbítero James Anderson no art. 18 da Constituição de 1723 da Grande Loja de Londres. Assim perdeu a mulher um direito que, por séculos, lhe pertenceu.
É bom lembrar que a alma da mulher é tão digna do favor divino quanto a do homem e que, sob o aspecto místico, nem o espírito tem sexo, nem Deus discrimina nenhuma das suas criaturas. É interessante também lembrar que é atualmente na Inglaterra que está a Maçonaria Feminina mais forte e atuante em todo o mundo.
A Maçonaria da Europa Continental nunca se conformou com esta discriminação. Em 1730, sete anos após a exclusão da mulher pela Maçonaria inglesa, criou-se na França a Maçonaria de Adoção. Tratava-se de Lojas Maçônicas femininas, adotadas por Lojas Masculinas. Em 1786 o Conde Cagliostro fundou a Loja Sabedoria Triunfante, para homens e mulheres. Dizia Cagliostro que se as mulheres eram admitidas nos Antigos Mistérios, não havia razão para excluí-las das Ordens Modernas. A Maçonaria de Adoção chegou ao Brasil em 1876, e suas Lojas só cessaram de funcionar em 1903. A Maçonaria de Adoção possui Lojas em muitos países do Mundo.
Em resumo, existem três tipos de Maçonaria para Mulheres: A Maçonaria Mista chamada  O Direito Humano, formada por homens e mulheres, a Maçonaria de Adoção, apadrinhada por Lojas Masculinas e a Maçonaria Feminina. A Maçonaria Feminina exclui, totalmente, a participação de homens em suas Lojas.  Em Portugal, por exemplo, as primeiras Lojas da Maçonaria Feminina foram fundadas no ano de 1983. Hoje, este país tem uma Grande Loja Feminina de Portugal.
Devido à influência que a Grande Loja Unida da Inglaterra e as Grandes Lojas Norte-Americanas exercem no mundo Maçônico, são consideradas Irregulares todas Lojas e entidades Maçônicas compostas por mulheres.
Por outro lado, o caráter exclusivista e masculino da Maçonaria contraria a essência dos Antigos Deveres, contraria a Divisa da Ordem por negar o princípio da Igualdade, e impede a adequação à Tradição e aos parâmetros que regem a evolução e o progresso das sociedades humanas.
A marcha da história é irreversível. O que fazer então, para mudar o atual estado de coisas? No Brasil, por exemplo, o GOB sofreu os dissabores e as represálias da perda de reconhecimentos internacionais quando, no final do séc. XIX e início do séc. XX concedeu Cartas Constitutivas a algumas Lojas da Maçonaria de Adoção. Pressões e perda de reconhecimentos internacionais levaram o GOB a revogar em 1903 estas Cartas Constitutivas.

A união entre as Potências Maçônicas Brasileiras poderia fornecer o cacife necessário para submeter o assunto às demais Potências do Mundo. O que impede então a Maçonaria brasileira de debater o assunto e fazer causa comum para devolver à mulher aquilo que lhe foi tirado pelos falsos luminares que subverteram a Tradição Maçônica no início do século XVIII?  Fica aqui a sugestão.
Antonio Rocha Fadista – M.I.
https://bibliot3ca.wordpress.com/a-maconaria-e-a-mulher/

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