sábado, 31 de maio de 2014

O SILÊNCIO E O VERBO - PARTE 1


O Silêncio e o Verbo!


Gênesis 1:1 No princípio criou Deus os céus e a terra.
Gênesis 1:2 A terra era sem forma e vazia; e havia trevas sobre a face do abismo, mas o Espírito de Deus pairava sobre a face das águas.
(Fonte: A Bíblia Sagrada – Génesis – A criação do Mundo)

No princípio …
No princípio da criação, tendo em conta os livros sagrados, nada existia com forma, nada havia para além do vazio.

Tínhamos apenas o espaço vazio, o caos, o vácuo, o espaço sem direção (sem Sul, sem Norte, sem Oriente, sem Ocidente, sem Zénite e sem Nadir, ou seja, sem a verdadeira dimensão de universalidade, até porque nada existia com forma).

Assim se nada existia, com forma, também o Verbo não podia descrever essa mesma ausência de forma, porque também ele não existia, o que fazia que não existindo o Verbo (a palavra), também o Silêncio não existia, pois o Silêncio é, ou pode ser:

(…) a ausência total ou relativa de sons audíveis. Por analogia, o termo também se refere a qualquer ausência de comunicação, ainda que por meios diferentes da fala.
(Fonte: Wikipédia)

Ou seja, se a comunicação é o Verbo e o Verbo aquilo que permite a existência da comunicação é também a existência do Verbo que leva à existência do Silêncio e se o Verbo não existia, também o Silêncio não existia.

Gênesis 1:3 Disse Deus: haja luz. E houve luz.
Gênesis 1:8 Chamou Deus ao firmamento céu. E foi a tarde e a manhã, o dia segundo.
Gênesis 1:29 Disse-lhes mais:
Eis que vos tenho dado todas as ervas que produzem semente, as quais se acham sobre a face de toda a terra, bem como todas as árvores em que há fruto que dê semente; ser-vos-ão para mantimento.

(Fonte: A Bíblia Sagrada – Génesis – A criação do Mundo)

“E disse Deus…”
“Chamou Deus…”
“Disse-lhes mais…”


Ou seja o Grande Arquiteto Do Universo quebrou o vazio, desfez a ausência de forma, preencheu o vazio, organizou o caos, deu direção ao espaço, criando assim o Sul, o Norte, o Oriente, o Ocidente, o Zénite e o Nadir, ou seja, deu dimensão ao conceito de Universalidade, através do uso do Verbo, isto é, o Grande Arquiteto Do Universo criou com o uso do Verbo, quebrando e gerando assim, em simultâneo, o próprio Silêncio.

No seu ato final, a criação do Homem, o Grande Arquiteto Do Universo, teve de comunicar diretamente a fim de gerar um EU e um TU, isto é, não quebrar apenas o Silêncio, usando o Verbo, mas dirigir esse Verbo a alguém, “Ele” tinha de ser ouvido.

No princípio era o Verbo, e o Verbo estava junto de Deus e o Verbo era Deus.
2. Ele estava no princípio junto de Deus.
3. Tudo foi feito por ele, e sem ele nada foi feito.
4. Nele havia a vida, e a vida era a luz dos homens.
5. A luz resplandece nas trevas, e as trevas não a compreenderam
(…)
8. Não era ele a luz, mas veio para dar testemunho da luz.
9. [O Verbo] era a verdadeira luz que, vindo ao mundo, ilumina todo homem
(Fonte: A Bíblia Sagrada - O Evangelho Segundo S. João)

Assim perante o poder da criação, declarado pela utilização do Verbo e diante da grandeza do “Real”, que é sábia na utilização deste, comecei a entender melhor o porquê do “SILÊNCIO” .

Era demasiada a ambição e até descabida, alguém como eu, que começara a apreender a utilizar as ferramentas base, na construção do seu próprio Templo, querer ter logo de início o poder de criar, isto mesmo sem mais nada saber!

Será que não está mais que provado que o uso inadequado do Verbo tem sido a principal causa de conflitos e de destruição desde do princípio dos tempos?

Não seria desta forma uma atitude totalmente descabida e tendencialmente fratricida passar tal arma e poder para as mãos de quem ainda não estava preparado?

Hoje estou certo que sim!
Mas afinal onde estava eu nessa altura com essa ambição tão desmedida e descabida?
Querer criar, sem primeiro entender como o fazer!

Estava afinal ainda ligado a um cordão umbilical profano, estava ainda ligado a uma corrente de vida profana, da qual não tinha sido capaz de me desligar aquando da minha descida ao centro da terra, afinal não tinha sido capaz de visitar o meu interior e rectificar-me, largado os conceitos e preconceitos profanos, dos quais havia prometido livrar-me!

Alexandre T.
Fonte: http://a-partir-pedra.blogspot.com.br/2014/05/o-silencio-e-o-verbo-parte-1.html?utm_source=feedburner&utm_medium=email&utm_campaign=Feed:+APartirPedra+(A+PARTIR+PEDRA)

quinta-feira, 29 de maio de 2014

MUDANÇA NO CALENDÁRIO DE ATIVIDADES

Bom dia.
Em função dos jogos previstos pela copa do mundo nos meses de junho e julho, tivemos de alterar nosso calendário de atividades, de sorte que a próxima Loja Aberta está prevista para 0 dia 02-07-2014, onde pretendemos realizar um diálogo sobre Maçonaria.

segunda-feira, 26 de maio de 2014

ADOTAREI O AMOR

Adotarei o amor por companheiro e o escutarei cantando,  
e o beberei como vinho, e o usarei como vestimenta. 
Na aurora, o amor me acordará e me conduzirá aos prados distantes. 
Ao meio dia, conduzir-me-á à sombra das árvores  
onde me protegerei do sol como os pássaros. 
Ao entardecer conduzir-me-á ao poente,  
onde ouvirei a melodia da natureza despedindo-se da luz,  
e contemplarei as sombras da quietude adejando no espaço. 
À noite, o amor abraçar-me-á, e sonharei com os mundos superiores  
onde moram as almas dos enamorados e dos poetas. 
Na primavera, andarei com o amor, lado a lado, e cantaremos juntos entre as colinas;  
e seguiremos as pegadas da vida, que são as violetas e as margaridas;  
e beberemos a água da chuva, acumulada nos poços, em taças feitas de narciso e lírios. 
No verão, deitar-me-ei ao lado do amor sobre camas feitas com feixes de espigas,  
tendo o firmamento por cobertor e a lua e as estrelas por companheiras. 
No outono, irei com o amor aos vinhedos e nos sentaremos no lagar,  
e contemplaremos as árvores se despindo das suas vestimentas douradas  
e os bandos de aves migratórias voando para as costas do mar. 
No inverno, sentar-me-ei com o amor diante da lareira e conversaremos  
sobre os acontecimentos dos séculos e os anais das nações e povos. 
O amor será meu tutor na juventude,  
meu apoio na maturidade,  
e meu consolo na velhice. 
O amor permanecerá comigo até o fim da vida,  
até que a morte chegue,  
e a mão de Deus nos reúna de novo.
Gibran Kalil Gibran

terça-feira, 20 de maio de 2014

LOJA ABERTA DE MAIO DE 2014


Nessa próxima quarta-feira, dia 21-05-2014, teremos nossa segunda Loja aberta do ano.
Por volta dás 20:00 horas os visitantes serão convidados a entrar no templo.

sexta-feira, 16 de maio de 2014

VIDA ÚNICA E REENCARNAÇÃO

Aparentemente, a idéia de viver somente uma vez parece opor-se à da reencarnação, mas pode-se tentar demonstrar que, na verdade, não existe tal incompatibilidade. A oposição lógica seria ainda mais óbvia entre os conceitos de “Encarnação Única e Reencarnação”, como era o nome original deste trabalho, quando foi apresentado na Universidade. Porém, na adaptação feita para esta revista de um país tradicionalmente cristão, em que o termo encarnação em algumas Igrejas só se aplica ao caso do Senhor Cristo, tal título talvez criasse uma complexidade ainda maior, que aqui será evitada. 
Por outro lado, seria, sem dúvida, mais abrangente e interessante tratar sobre o tema “Vida Única e Reencarnação”, enfocando até mesmo a hipótese da inexistência da alma humana (D) ou da sua possível mortalidade, ao invés de partir desde o início da cômoda hipótese de que a alma humana (D) existe, é imortal e encarna-se no corpo físico (E4) para manifestar-se nesse mundo material. Contudo, principiar por tal questionamento sobre a imortalidade da alma (D) tornaria esse trabalho muito mais extenso do que a oportunidade permite. Porém, talvez umas poucas palavrinhas sobre tal enfoque sejam agora oportunas. 
Foi o Dr. Viktor E. Frankl, criador da Logoterapia ou 3ª Escola Psiquiátrica de Viena, quem considerou que o homem é capaz de suicidar-se, caso não encontre um sentido para viver, e também é capaz de dar a sua vida por uma causa, até de oferecer-se ao martírio, caso encontre nela o sentido de sua vida, e isso – disse ele – um animal não é capaz de fazer. Eis um forte indicativo do componente espiritual do homem que esse psiquiatra pôde investigar enquanto era prisioneiro de quatro campos de concentração nazistas, durante a II Guerra Mundial. 
Os homens, devido a uma sensação de vazio espiritual ou existencial, são também capazes de levar o corpo (E4) a todos os excessos, prejudicando assim a sua própria saúde. Poderia um ser puramente material entrar em contradição com a vontade natural de seu próprio corpo (E4), que é a saúde? Um animal dificilmente poderia. 
Temos assim fortes indícios de que há pelo menos um componente espiritual no ser humano, geralmente chamado de alma (D), que o diferenciaria do animal ou do puramente material. Aliás, sabe-se hoje que E = mc2, ou seja, que o puramente material não existe, visto que a ciência descobriu que a matéria e a energia são mutuamente conversíveis, sendo a primeira uma manifestação ou forma “condensada” da segunda. 
A própria telepatia, exaustivamente comprovada pelos parapsicólogos, indica que o pensamento pode ser percebido a distância por uma pessoa sensível sem nenhum meio material de transmissão, ou seja, indica que o pensamento sobrevive fora do cérebro. Então, por que não poderia a alma (D) sobreviver sem o corpo (E4)? 
Seja como for, pelo exposto inicialmente, teremos que iniciar este trabalho partindo do ensinamento universalmente aceito por todas as religiões de que a alma humana (D) é imortal, ou, melhor dizendo, de que há um princípio imortal no homem (Na verdade, embora o Budismo do Norte seja reencarnacionista, o caso do Budismo do Sul parece ser uma variação excepcional, porque considera o eu separado ou alma (D) como uma ilusão, comparando a vida com um fluxo de contínua mudança onde nada é permanente, embora acredite no karma como uma sucessão de causas e efeitos que afetará uma vida futura. Assim, o renascimento não tem o sentido de imortalidade, mas apenas o de uma simples continuidade dentro da mutabilidade. Dessa forma, o Budismo do Sul entende que, quando a chama de uma vela acende outra vela, nada transmigrou). 
Esse princípio se manifestaria nesse mundo físico ligando-se a um corpo carnal (E4) – eis o fenômeno da encarnação, também universalmente aceito por todas as religiões do mundo, com algumas variações (No caso do Cristianismo Católico Romano, depois da decisão do Concílio Constantinopla II em 553 d.C., o termo encarnação se aplica somente ao Senhor Cristo, como encarnação do Verbo Divino. Ele é o Filho primogênito da criação divina, tendo se originado no início dos tempos. Todas as outras almas seriam criadas por Deus depois que o seu respectivo corpo fosse concebido pelos homens na Terra. Tal é a conseqüência do anátema contrário à preexistência da alma do Padre Orígenes, decretada naquele concílio. O Papa Vigílio preferiu nem comparecer, alegando estar doente, pois o Concílio foi convocado pelo Imperador Justiniano I, num exemplo clássico de cesaropapismo: regime em que os Césares de Roma pretendiam exercer controle sobre o poder espiritual da Igreja [maiores detalhes podem ser encontrados em A Tradição-Sabedoria (vide nota 1) ou em DAVIS, Leo Donald. S.J. The First Ecumenical Councils (325-787); Their History and Theology. Collegeville, USA, The Liturgical Press, 1990. p. 207-56.4). 
Todavia, podemos encontrar, em um estudo de religiões comparadas pelo menos duas doutrinas aparentemente inconciliáveis: a de que a alma (D) só se encarnaria ou estaria encarnada num corpo (E4) uma única vez neste mundo material, e a de que a alma (D) se reencarnaria ciclicamente, ou muitas e muitas vezes nesse mundo físico. 
A primeira, usualmente associada aos aspectos exotéricos do Judaísmo, Cristianismo e Islamismo, em síntese considera que a alma (D) encarnada está aqui só de passagem, voltando à sua verdadeira morada eterna após a morte do corpo (E4), não se preocupando em explicar qual o objetivo dessa passagem por este mundo e nem por que essa passagem pode durar setenta anos ou mesmo um século para alguns, enquanto que outras almas só ficam alguns dias ou mesmo minutos encarnadas neste mundo. 
A segunda, usualmente associada ao hinduísmo, budismo, espiritismo, às religiões iniciáticas dos mistérios egípcios, gregos, etc., e às filosofias pitagórica, platônica, etc., em síntese considera que a alma (D) tem algo a aprender neste mundo e terá que reencarnar-se em novos corpos (E1, E2, E3, E4) até que aprenda o que veio aprender, sendo que as circunstâncias das vidas seguintes serão efeito da conduta nas anteriores. Somente depois de passar por essa aprendizagem na escola das vidas corpóreas e conquistar a sabedoria correspondente é que a alma (D) desligar-se-ia dos laços do desejo por experiências mundanas que a trazem de volta para novas encarnações. Somente então ela cumpriu sua missão ou tarefa de aprendizagem neste mundo e está livre para voltar definitivamente para sua verdadeira pátria espiritual. 
Temos, pois, duas doutrinas aparentemente inconciliáveis. Analisemos, porém, mais profundamente cada uma delas. 
Tomemos, como exemplo mais próximo de doutrina da vida única, os dogmas e artigos de fé atuais da Igreja Católica Apostólica Romana. Segundo essa doutrina, conseqüência do anátema contrário à preexistência da alma decretado em 553 d.C., no Concílio Constantinopla II, a alma (D) é criada por Deus no momento da concepção, estando desde então ligada ao óvulo fecundado que gerará o seu futuro corpo (E4), desligando-se deste somente no momento da morte. Então, ela (D) seria submetida a um julgamento cujo resultado seria ou a penalidade de um sofrimento eterno no inferno ou a bem-aventurança eterna no céu, precedida de um eventual e algo penoso período transitório de purificação no purgatório. Esse período eventual de purgação seria algo breve, mesmo porque, do ponto de vista dimensional, qualquer período de tempo será breve perante a eternidade... Obviamente, visto que segundo essa doutrina os atos finitos e temporais geram resultados infinitos ou eternos, a alma não terá mais oportunidade de voltar para essa Terra e reencarnar-se. Essa desproporcionalidade entre causa e efeito é inerente a todas as religiões de vida única que tenham o inferno e o céu como resultados eternos; porém, no caso cristão citado existe um agravante: não é a conduta da vida da pessoa que determina o resultado do julgamento, mas apenas a crença no Salvador no instante da morte. Se naquele instante crítico – a última oportunidade de arrependimento – a fé da pessoa no Salvador vacilar, ela não irá para o céu, independentemente de quão virtuosa ela tenha sido, porque, para esses cristãos que seguem a interpretação tradicional, o Salvador não é interpretado como um princípio onipresente ou um Cristo Interno (Como dizia São Paulo: “Cristo em vós, a esperança de glória” (Colossenses 1:27), ou como disse o próprio Cristo: “Naquele dia sabereis que Eu estou em meu Pai, e vós em Mim, e Eu em vós” (João 14:20) (D2), mas uma pessoa externa que é o caminho, a verdade e a vida, e ninguém pode chegar ao céu sem aceita-o como o seu Salvador. Deixa, assim, de ser uma questão de justiça divina para transformar-se numa questão de relação pessoal. Nesse caso, então, a deformação dimensional atinge o máximo, pois a eternidade é decidida em um único instante – o da morte! Talvez seja por isso que a civilização cristã é uma das que mais teme a morte: tudo é decidido ali. Já entre os hindus, que são reencarnacionistas, é costume festejar a morte com alegria, sendo considerado uma ofensa ao morto chorar pela sua perda, porque a morte é o dia da libertação: eis o contraste. 
Por outro lado, a doutrina da reencarnação tende a gerar certa apatia, quando mal compreendida, porque tendo a sua disposição tantas vidas quantas forem necessárias pode haver uma falta de sentido de urgência, uma tendência ao adiamento de esforços, uma tendência a certa inércia mais comum no oriente, se formos compará-la com a pressa do ritmo ocidental de viver. Aliás isso é coerente, pois para o cristão a vida é uma só: o que não foi feito nesta vida nunca mais será feito, logo corre-se desesperadamente atrás do tempo, que torna-se irrecuperável. Eis uma das causas do imediatismo ocidental: a doutrina da vida única tende a gerar impaciência, caindo-se num “agora ou nunca”. Logo, sob um ponto de vista caricaturesco, o reencarnacionista pode parecer um apático; e o não-reencarnacionista, um desesperado. Há pois vantagens e desvantagens em ambas as doutrinas, quando tomadas superficialmente. 
A doutrina da reencarnação, por sua vez, tem meandros que o observador superficial geralmente desconhece. Por exemplo, se o indivíduo troca de corpo (E4) de uma encarnação para a outra, então é óbvio que ele também trocou de cérebro. Assim, a memória cerebral é afetada, há uma descontinuidade, somente a alma imortal (D3) lembraria o seu passado e, portanto, é usual o esquecimento total das vidas anteriores em nível de consciência cerebral de vigília. A esse esquecimento do passado, Platão refere parabolicamente em A República, quando a alma (D), antes de nascer, bebe das águas do Rio Lethe – o rio do esquecimento. 
Surge então uma questão fundamental no reencarnacionismo: o que é que se encarna? Platão, por exemplo, divide a alma em três partes, segundo a República, que são apetitiva (E2) (algo como um resquício vegetal que busca o prazer e foge da dor), a irascível (E1) (algo como um resquício animal que busca vencer pela força, sede da busca de poder, fama e auto-afirmação) e a inteligível (D3) (a alma humana propriamente dita, sede da razão e da busca da verdade). Os sistemas reencarnacionistas falam de segunda e mesmo terceira morte, correspondendo à morte de certas partes mortais (E1+E2) da alma ou psique. Assim, por exemplo, após um período de purgação, proporcional à intensidade dos apetites e desejos inferiores do indivíduo, ocorreria a morte da alma apetitiva ou lunar (E2) (como às vezes é chamada nas tradições de mistérios), libertando, assim, o indivíduo do purgatório. 
Platão, que era iniciado nos Mistérios de Elêusis, conhecia esses ensinamentos sobre os estados post-mortem, conforme podemos ver no Fédon: “Todo aquele que atinja o Hades (o mundo dos mortos, N. R. L.) como profano e sem ter sido iniciado, terá como lugar de destinação o Lodaçal, enquanto que aquele que houver sido purificado e iniciado orará, uma vez lá chegado, com os deuses. É que, como vês, segundo a expressão dos iniciados nos mistérios, ‘numerosos são os portadores de tirso, mas poucos os Bacantes’ (Alusão aos mistérios em que havia cerimônias de purificação e graus de consagração: o grau de Bacante é o superior, enquanto que os portadores de tirso constituem o grau inferior. ). Ora, a meu ver, estes últimos não são outros senão os de quem a Filosofia, no sentido correto do termo, constitui a ocupação” (PLATÃO. Diálogos: Fédon. Rio de Janeiro, Tecnoprint, s.d. p. 98). Podemos, assim, ver como os ensinamentos dos mistérios influenciaram Platão, a ponto de considerar que a ocupação do verdadeiro filósofo é preparar-se para a morte. 
Os Mistérios comparavam os estados post-mortem com o estado de sonho, a morte com o dormir, porque, para eles, a alma se desprendia parcialmente do corpo enquanto este dormia. Assim como podemos ter pesadelos ou sonhos “coloridos” ao dormir, dependendo se nosso dia foi perturbado ou harmônico, assim também os estados post-mortem eram vistos como uma continuação mais intensa, porque livre da prisão do corpo (E4), dos estados psicológicos de nossa vida, referentes aos nossos hábitos físicos, emocionais e mentais. 
O Sr. C.W. Leadbeater, maçom estudioso dessas tradições iniciáticas antigas, refere-se assim aos Mistérios Gregos: 
“Os mitos da religião exotérica da nação eram tomados e estudados nos Mistérios Eleusianos tal qual nos Mistérios do Egito. Entre os relacionados com a vida póstuma se achava o de tântalo, que fora condenado a sofrer perpétua sede no Hades. A água o rodeava por todos os lados, mas refluía dele toda vez que tentava bebê-la; sobre sua cabeça pendiam galhos de frutas, que se contraíam quando ele estendia a mão para apanhálas. Isto era interpretado no sentido de que quem morre cheio de desejos sensuais de qualquer espécie, depois da morte se sente ainda cheio de desejos, mas impossibilitado de satisfazê-los. 
“Outro conto é o de Sísifo, condenado a empurrar eternamente para o cimo de uma montanha um enorme bloco de pedra mármore, que tão logo alcançava o topo rolava de novo montanha abaixo. Isso representa a condição após a morte de um homem cheio de ambição pessoal, que passou sua vida a traçar planos com fins egoístas. No outro mundo continua traçando e executando planos, mas sempre descobre, no momento de completá-los, que não passaram de um sonho.” (LEADBEATER, C.W. Pequena História da Maçonaria. São Paulo, Pensamento, 1978. p. 11). 
Platão chega a referir, em A República, que a alma sentiria os efeitos desses estados psicológicos de maneira dez vezes mais intensa (PLATÃO. Diálogos; A República. Rio de Janeiro, Tecnoprint, s.d. p. 386) do que quando em vida. Isso é coerente com o seu pensamento, visto que para ele o corpo (E4) era o sepulcro ou cárcere da alma (D). Assim, sem o corpo (E4), a alma (E2+E1+D3) estaria muito mais livre para sentir. Aliás, é interessante notar o fato de que os estados de medo ou felicidade, que sentimos quando temos pesadelos ou sonhamos, podem atingir intensidades muito maiores do que quando estamos acordados, a ponto de ficarmos felizes quando acordamos de um pesadelo, e de não querermos acordar de um sonho “colorido”, mas então o despertador toca... e somos obrigados a voltar para esse mundo pobre de intensidade. 
Após essa segunda morte, a morte da alma apetitiva (E2) ou lunar, a consciência do indivíduo ficaria focada no princípio da mente pessoal ou concreta, sede do eu pessoal, alma irascível (E1) ou arrogante. Esta “toma o partido do que lhe parece ser justo” (ibidem, p. 161), sendo por isso “aliada” (ibidem, p. 163.) do princípio racional ou alma inteligível, que é a alma imortal do homem. Nessa condição a alma irascível (E1), já desligada da apetitiva (E2), sente intensamente os ideais pessoais que em vida não conseguiu preencher, correspondendo isso a um intenso sonho “colorido”, ou seja, os Campos Elíseos dos gregos, o Céu dos cristãos e zoroastrianos, o Sukhávati dos budistas, o Svarga dos hindus. 
Segundo as tradições de Mistérios, esses estados são necessários para produzir uma espécie de “digestão” das experiências da última vida de modo a chegar às suas essências que ficarão depositadas na alma imortal ou inteligível como “tesouros” no céu” (BÍBLIA Sagrada. Mateus 6:20). É somente a essência superior, o aroma das experiências úteis, que pode nutrir a alma imortal (D3). Somente essa essência da personalidade (E) que viveu pode eternizar-se na alma imortal (D3) depois da terceira e última morte: a morte da alma irascível (E1) ou mente concreta. Então essa essência acumula-se na alma imortal (D3) como um nutriente que é retirado do alimento. As partes não nutritivas do alimento são eliminadas no processo da purgação. 
Dessa forma, o mal não pode macular a alma imortal (D), mas uma vida sem o bem deixa-a vazia e fraca: fica com fome. Somente a essência espiritual das experiências pode nutrir a alma, mas o mal, como consideravam os neoplatônicos, é apenas a ausência do bem, não tendo fundamento em si mesmo, porque é finito e transitório. Somente o bem pode eternizar-se de fato. 
Enquanto a alma imortal não alimentou-se suficientemente de inteligência espiritual (D3) ou sabedoria, amor espiritual (D2) e vontade espiritual (D1), conforme são classificados nos Mistérios e Hermetismo egípcios e na Teosofia oriunda de Alexandria os três princípios da alma imortal ou tríade superior (D), ela continua com a sede de experiência do mundo físico, que os hindus chamam Trishná e os budistas Tanhá. Seria essa sede, que em verdade é uma vontade da alma (D) de nutrir-se para crescer, que traria a alma (D) de novo para uma nova encarnação. Somente quando essa sede espiritual fosse saciada a alma (D) estaria livre, isso seria Mukti ou libertação, Nirvana ou não-ligadura ou extinção das paixões. À extinção da sede espiritual, existe uma correspondente nas escrituras cristãs: 
“Qualquer que beber dessa água [a dos desejos da personalidade mortal (E)?] tornará a ter sede; mas aquele que beber da água que eu lhe der [a essência nutritiva espiritual?] nunca mais terá sede, pois a água que eu lhe der será nele uma fonte d’água brotando para a vida eterna [na alma espiritual (D)?].” (ibidem, João 4:13-1413 ) 
Isso corresponderia, na visão reencarnacionista, ao desenvolvimento pleno ou perfeito dos três princípios da tríade superior (D), que cresceria gradualmente a partir das experiências obtidas pelo quaternário inferior (E), como nos Mistérios se denominava aos princípios mortais do homem: a mente concreta (E1, alma irascível), as sensações e desejos emocionais (E2, alma apetitiva), a vitalidade ou corpo vital (E3, o pranamayakosha dos hindus, o ka dos egípcios, o eidolon dos Mistérios Gregos) e o corpo físico (E4). “Dessa forma, a alma (D3) só acumularia, das diversas experiências de cada vida terrena, a essência útil destas, conduzindo, gradualmente, o homem da inteligência à Onisciência, do amor a todos à Onipresença, e da vontade à Onipotência, culminando assim numa perfeição humana, manifestação do arquétipo divino, tal qual um Cristo ou Buda. Nesse sentido, o homem seria potencialmente um deus. Temos então o quaternário mortal (E) que, com suas experiências, nutre a tríade imortal (D) que cresce na direção da unidade divina. Os egípcios representavam isso na pirâmide de base terrestre quadrada, donde se elevavam os lados triangulares em busca do princípio uno – o vértice que aponta para o céu.” ((LINDEMANN, Ricardo. O Grande Marinheiro. IN Caderno Especial ao ensejo do I Encontro Sul-Brasileiro de Professores de Língua Portuguesa. Porto Alegre, Nepla-UFRGS, 1986. p. 27-8). 
“Até que todos nós cheguemos... a homem perfeito, à medida completa da estatura de Cristo” (BÍBLIA Sagrada. Efésios 4:13)– essas são palavras do apóstolo Paulo! E Cristo teria dito: “Não está escrito na vossa escritura: ‘Eu disse: Vós sois deuses’?” (ibidem, João 10:34). “Sede, pois, perfeitos, assim como vosso Pai, que está nos céus, é perfeito.” (ibidem, Mateus 5:48). 
Veremos assim que não há real incompatibilidade entre a doutrina da vida única e a da reencarnação, pois se por alma entendermos a alma pessoal (E1+E2) [ou as almas irascível (E1) e apetitiva (E2) de Platão] enquanto parte componente do quaternário mortal (E), cujos quatro princípios (E1+E2+E3+E4) são mortais e substituídos a cada reencarnação, então é correto afirmar que vida é uma só, que a alma (E1+E2) surge ou é criada no momento da concepção, porque só então os seus quatro princípios (E1+E2+E3+E4) estão manifestos. Também é verdade que a alma pessoal (E1+E2) pode eternizar-se, em essência, no céu, assimilada pela tríade imortal (D), ou pode excepcionalmente dissolver-se sem deixar vestígio no assim chamado inferno, caso nenhuma essência espiritual útil possa ser extraída do quaternário (E) no “processo digestivo” post-mortem. Existiria também o caso intermediário mais comum, em que parte (E2) da alma pessoal (E1+E2) seria “purgada” pelo “processo digestivo” do purgatório, enquanto a essência últil das experiências daquela vida se eternizariam ao ser assimilidas pela tríade imortal (D). 
Por outro lado, se por alma entendemos a tríade imortal (D), então também é correto afirmar que a alma (D) se reencarna, embora apenas uma parte dela se projete em cada novo quaternário mortal (E), e que a alma cresce ao logo de diversas vidas, acumulando a essência das experiências assimiladas, até atingir a plenitude de suas potencialidades divinas de modo a cessar para sempre a sede por novas experiências no mundo do transitório, que a fazia reencarnar-se ciclicamente. Só então o homem atinge “a medida completa da estatura de Cristo.” (ibidem, Efésios 4:13). 
É, contudo, importante notar que, por pelo menos cinco séculos, as duas doutrinas, a da vida única e a da reencarnação, conviveram livremente na história da Igreja, até a decisão do Concílio Constantinopla II em 553 d.C. Isso talvez seja uma das evidências de que elas não são necessariamente incompatíveis ou mutuamente excludentes. 
É evidente, porém, que os judeus, principalmente os cabalistas, também conheciam a doutrina da reencarnação, caso contrário não acreditariam que Jesus seria a reencarnação de Elias ou Jeremias (cfe. Ma-teus 16:13-14; Marcos 8:27-28 e Lucas 9:18-19), ou que o profeta Elias voltaria (cfe. Malaquias 4:5), profecia que o próprio Jesus confirmou dizendo: “Em verdade Elias virá primeiro e restaurará todas as coisas; mas digo-vos que Elias já veio, e não o conheceram...” (ibidem, Mateus 17:11-12) e falando de João Batista disse: “Porque todos os profetas e a lei profetizaram até João. E, se quereis dar crédito, é este o Elias que havia de vir. Quem tem ouvidos para ouvir, ouça.” (ibidem, Mateus 11:13-15).
Ricardo Lindemann (Ex-Presidente Nacional da Sociedade Teosófica no Brasil)
Nota: 
Esta é uma adaptação feita para a Revista TheoSophia de um trabalho intitulado Encarnação Única e Reencarnação, apresentado na Faculdade de Filosofia da UFRGS como conclusão da cadeira de Filosofia da Religião I (HUM 136U) em 1987. Para facilitar a compreensão dos irmãos teósofos, mais acostumados com outra nomenclatura, acrescentaremos, ao longo do texto, depois de cada veículo da consciência, o mesmo código alfanumérico que se encontra na página 41 nossa obra A Tradição-Sabedoria 3ª ed. rev. ampl. (Brasília, Ed. Teosófica, 2003), a saber: INDIVIDUALIDADE (D): Veículo Átmico (D1); Veículo Búdico (D2); Corpo Causal (D3); PERSONALIDADE (E): Corpo Mental (E1); Corpo Astral (E2); Duplo Etérico (E3); Corpo Físico (E4). 
Extraído da Revista TheoShofia - abril/maio/junho - Editorial. 

domingo, 11 de maio de 2014

A DIVINA ESCADA


Cada mortal que sobre a Terra surgir
Receberá de Deus uma escada para subir;
E esta escada cada um há de galgar
Degrau por degrau. Desde o mais baixo lugar
Vai percorrê-la, passo a passo: desde o início
Ao Centro do Espaço, ao seu próprio Princípio.

Numa era passada, mas que hoje perdura,
Escolhi e moldei minha escada; tu escolheste a tua.
Quer seja de Luz ou seja obscura,
Por nós mesmos foi ela escolhida:
Uma escada de ódio ou uma de Amor
Seja ela oscilante ou firmada com vigor.

Quer feita em palha ou formada em ouro rei,
Cada uma obedece a uma justa Lei.
E a deixaremos quando o tempo esgotado;
Dela toma-se posse ao ser de novo convocado.
Por vigias, em frente a um portão cintilante,
Ela é guardada para cada alma passante.

Mesmo sendo a minha estreita e a tua alargada,
Sozinho chego a Deus por minha própria escada.
A de ninguém posso pedir, nem a minha emprestar;
Com o esforço em subir na sua, cada um tem de arcar.
Se, em cada degrau que escalares,
Só barreiras e tormentas encontrares;

Se pisar sobre ferro carcomido e madeira bichada,
A ti cabe transformar tudo isto para, seguro, galgares tua escada.

Reforçá-la e tê-la sempre reconstruída
É a tua tarefa árdua, mesmo que longa seja a tua vida.
Chegando ao fim da Escada, já terás cruzado a PONTE
Que te dará todos os tesouros da Terra, e do Espírito Divino, a FONTE.

Tudo o que de outra forma se possa obter
Será ilusão apenas. Não pode permanecer.
Em revoltas inúteis não faremos o tempo fugir.
Subir, cair, reconstruir; cair, subir, reconstruir,
Cumpramos isto, até que nossa carreira humana nos leve a toda a Verdade,
Até que juntos, homem e Deus, sejamos UMA só Divindade.

O MAHA CHOHAN

sábado, 10 de maio de 2014

DESTINO


Esses dias passei por uma situação que me fez pensar um pouco sobre o destino. Íamos visitar uma pessoa da família que estava muito mal na UTI de um hospital. Era quase certo que ela não sobreviveria aos próximos três dias. E falávamos sobre a situação, de como era injusta a doença para esta mãe, nova, boa pessoa... Até que surgiu a expressão de consolo: "é... é a vontade de Deus". Daí pensei: mas como assim "é a vontade de Deus"? Será que o destino de nossa irmã estava traçado? Será que nossa vida não passa de um filme cujo roteiro fazemos apenas interpretar? Será que não importa o que façamos o resultado será sempre o mesmo? Será que a situação dela não poderia ser outra? Será que não ocorrera um erro médico? Será que o tratamento fora o mais adequado? Será que ela teve acesso aos medicamentos mais indicados? Será que foi tudo feito no tempo devido? Destes questionamentos decorreu logicamente pensar em livre arbítrio. Temos realmente livre arbítrio? Ele é absoluto ou relativo?
Basicamente sobre este assunto existem três posições possíveis: 1) o Determinismo, 2) o Livre Arbítrio absoluto e 3) um misto dos dois, o Livre Arbítrio relativo. Então resolvi fazer uma pequena pesquisa sobre o tema, para ver como a humanidade tratou deste assunto na história. Para os Vedantas, haveria um plano traçado, mas que seria aberto à mudança pelo agir. Para os Estóicos, o futuro seria tão inalterável quanto o passado - portanto zero de livre arbítrio. No Epicurismo, tudo que existe seria o caos, tudo é obra do acaso, muito semelhante ao pensar do Existencialismo de Sartre, segundo o qual "acreditar em um futuro com cartas marcadas equivaleria a escapar da responsabilidade de tomar decisões", o que redundaria, em última análise, em um mundo sem sentido, vazio, triste. Para o Cristianismo, a crucificação de Jesus fazia parte dos planos divinos, que se cumpriram com a traição de Judas, que, neste caso, estaria predestinado a ser mau. Para Calvino, Deus escolheu de antemão os que se salvam e os que não se salvam. Para o Vaticano e a teologia Muçulmana, o livre arbítrio seria uma peça necessária à responsabilidade moral.
Para as doutrinas e religiões reencarcionistas, mormente o Espiritismo, bem resumidamente falando, o livre arbítrio seria o fundamento da condição humana, posto que nossa evolução espiritual decorreria diretamente das escolhas que fazemos em cada encarnação. Viríamos para esta vida com um plano traçado, normalmente com a nossa participação, para que possamos passar por aquelas situações que nos dariam a oportunidade de acertar velhas diferenças, velhas dificuldades, velhas dívidas. E para tanto esse plano nos colocaria no local mais adequado, na condição social mais adequada, na família mais adequada, no país mais adequado, no corpo mais adequado. Tudo pensado para que possamos eliminar nossos débitos pretéritos e agir positivamente em prol de nossa evolução espiritual em cada encarnação. Mas será que dá tudo certinho? Será que nós agimos como foi planejado? Será que os outros agem de acordo para que o planejado para nós e para eles? Enfim, este plano reencarnatório interfere de alguma forma no nosso livre arbítrio?
No meu modo de ver, e de acordo com o que podemos inferir da própria literatura, pode ocorrer de tudo: pode ser que o plano seja alcançado total ou parcialmente; pode ser que o espírito recaia nas mesmas circunstâncias negativas e tenha que voltar para outra tentativa. Ou seja, na prática o que existe é uma probabilidade de que o plano venha a se cumprir, mas não certeza. Este plano também poderia ser chamado de Darma, que decorre do Carma, que é palavra de origem sânscrita que pode ser conceituada como o conjunto das ações individuais e coletivas, que pela ação da Lei de Ação e Reação, vai gerar as suas consequências. É uma decorrência natural do exercício do livre-arbítrio. O carma é composto por muitas linhas divergentes e conflitantes decorrentes das diversas ações harmônicas e desarmônicas que cometemos no passado. A linha de tendência resultante de todas essas múltiplas ações aponta numa determinada direção e assume um determinado propósito, alinhado com a ordem divina do universo e de nossa vida em particular. Essa direção – ou plano - é o Darma. Para atingirmos o nosso darma, temos de navegar nas “ondas” revoltas do carma, até que essas ondas estejam todas alinhadas e não exista mais diferença entre o carma e o darma.
Mas nem tudo é colheita no carma. Longe disso. Há inúmeros erros novos sendo plantados o tempo todo. Há centenas de milhares de novas injustiças sendo cometidas pela primeira vez. Mas também há inúmeros acertos e boas ações sendo praticadas pela primeira vez. Todos estes desequilíbrios e equilíbrios terão que ser reparados e compensados a seu devido tempo. Um dos princípios fundamentais da filosofia esotérica ensina que, através da lei da reencarnação, todo o esquema da natureza funciona e evolui de modo perfeitamente justo.  Este axioma da sabedoria eterna necessita ser examinado com bom senso. De fato, todo o esquema da natureza é justo. Disso não há a menor dúvida.  Mas ele é justo no sentido de que está sempre corrigindo a si mesmo, e não no sentido de que faz perfeita justiça em cada um dos seus momentos, vistos isoladamente.

sexta-feira, 9 de maio de 2014

EVOLUÇÃO PÉ NO CHÃO

A assistência que frequenta este templo(do Grupo de Umbanda Triângulo da Fraternidade) é bem diversa, assim como todos os trabalhadores. Uns buscam um emprego, uma promoção, um aumento de salário, um automóvel, uma casa, inspiração e segurança para a abertura de um negócio próprio. Outros vêm em busca de um amor, da paz para as relações familiares, do perdão de um filho, do carinho do esposo, do sorriso de um irmão. Há também os que estão com depressão, com câncer ou outra doença grave, com algum transtorno psíquico, com dor na coluna, nas pernas. Mas não podemos esquecer daqueles que são médiuns e passam por dificuldades na vida por fugirem ou por não terem consciência deste compromisso cármico, tornando-se pessoas física, emocional e psiquicamente desequilibradas; ou os que ainda não acharam ainda um lugar apropriado para o trabalho, ou, achando-o, a ele não tem acesso. Não podemos esquecer aqueles que encontraram aqui um caminho que lhes ajuda na sua evolução espiritual, na busca do entendimento do que somos, de onde viemos e para onde estamos indo e do nosso papel nesta realidade. Teríamos muito mais motivos a relacionar, pois mui diversa é a humanidade, graças a Deus.
Mas, será que poderíamos dizer que uns são melhores ou mais evoluídos que os outros em função destas diferenças? Será que algum de nós pode dizer quem tem mais ou menos direito a encontrar o que está buscando? Sei que poderíamos responder que sim e que não, todos com suas razões. Mas eu diria sinceramente que não. Ninguém é melhor perante Deus. Todos somos espíritos em evolução, portanto com muita coisa por fazer. Mas a circunstância de convivermos obrigatoriamente com nossas diferenças faz a principal dificuldade de nossas vidas. Como é difícil aceitar estas diferenças. Como é difícil o dia-a-dia, o trânsito, o trabalho, o ônibus, a família, o salário, a doença, a sogra, o colorado ou o gremista. Mesmo entre aqueles intelectualizados que sabem tudo, conhecem as doutrinas, os ritos, os elementos, as fases, os níveis, as definições e conceitos sobre tudo, os símbolos, as magias; que são teósofos, maçons, teólogos, sacerdotes, magos, iniciados, bruxas, xamãs, como é difícil lidar com a vaidade, o orgulho, o preconceito, a intolerância, a empáfia.
Então, já que diferenças não nos faltam e a dificuldade de lidar com elas é tamanha, resolvi falar brevemente sobre algumas coisas simples do cotidiano que podem realmente nos ajudar enquanto espíritos em evolução, evolução pé no chão eu diria.
Em primeiríssimo lugar, vamos falar um pouco sobre o nosso corpo físico. Nós temos a nossa consciência em vigília no plano físico e para este plano temos que voltar primeiramente nossa atenção.
O que estamos comendo? Nós brasileiros estamos comendo muito mal. Importamos a cultura do fast food, da batata frita, do hambúrguer, do refrigerante, da bolachinha recheada, do leite com cacau, da batata palha. Comemos a qualquer hora e em qualquer lugar. E o que estamos recebendo em troca? Obesidade, pressão alta, diabetes, problemas cardiovasculares. Nós gaúchos exageramos na carne, nas gorduras e estamos na dianteira no Brasil em vários tipos de câncer. 2+2=4, eu diria. E daí? Bom, daí que nós sabemos que isto nos faz mal e ainda assim continuamos com este suicídio diário. É preciso dizer o que fazer? Simples: mais frutas, verduras, legumes, grãos, sucos, como era há bem pouco tempo atrás.
E o cuidado com nossa higiene pessoal? Basicamente o básico: corpo limpo, roupas limpas, casa limpa, carro limpo. E a higiene social? Lixo devidamente separado e destinado, ruas limpas, calçadas conservadas, pátio bem cuidado, casa pintada, um jardim florido.
E a saúde? O básico: cuidado com o corpo e com o que nele aparece; sempre que possível, consultar o médico antes de fazer uso de medicamentos; fazer as vacinas; exames preventivos periódicos de praxe conforme a idade: ginecológico, mamografia, próstata, sangue, urina. Infelizmente, não é tão simples quando se depende do SUS, mas quando se age preventivamente, pode-se até ter prazos mais longos de espera. Não esquecendo também que o mínimo de atividade física é excelente.
E o ânimo? Sem essa de trancafiar-se em casa e ver o mundo de longe. Vamos sair por aí. Não interessa se você só pode ir para perto, pra pracinha, pro parque, de ônibus, à pé. Saia e veja o mundo. Aprecie a natureza, o por do sol, a chuva no telhado, o sol amarelo da tarde, o frescor da manhã. Dance, vá ao cinema, ao teatro, à biblioteca, ao museu. Namore, ame, se entregue à sua paixão de adolescente, ande de mãos dadas com sua esposa, beije seus filhos, abrace seus pais, seus amigos. Expresse seu amor. Amor não expresso não se realiza. O carinho dá segurança às pessoas. Não tenha vergonha. Nós somos apenas humanos.
Mas, como diz o gaúcho, tenha tino e razão. Procure sempre atividades sadias. Evite a bagacerice que reina em nossa televisão, nas propagandas, nas músicas. A erotização do nosso cotidiano tornou muitas coisas rasteiras, vulgares, nojentas. E, em função disto, por exemplo, para muitos o sexo deixou de ser algo sadio. Não caia nessa: o sexo é uma das formas de expressão do amor humano, sem exageros, sem excessos.
E a educação de seus filhos? Não é responsabilidade da escola ou do mundo a educação de seus filhos. É sua. Assuma. Tenha certeza que isto exige participação e vai lhe trazer dissabores. Por vezes terá que ser duro e inflexível, para logo depois poder ser meigo e doce. Não tenha medo de estabelecer as margens seguras por onde a água da vida de seus filhos escoa. Isto lhes dá segurança. Seja sempre um exemplo positivo. Seu filho deve saber em qualquer situação como seus pais agiriam. Crie neles desde cedo o hábito da leitura, da boa música, da curiosidade por um instrumento musical, um hobby. Instigue a imaginação e o sonho.
E o seu trabalho? Não é exatamente o que você queria fazer de sua vida? Mude ou mude-se. Se você não pode sair e se dedicar a algo que lhe dê mais prazer e alegria, que tem mais a ver com você, faça então esta atividade ser melhor para você. Dedique-se, faça melhor, dê o melhor, faça com amor. O seu trabalho faz parte do que você deixa para a realidade. Demonstre para a vida que você merece o melhor, pois você faz melhor. Não interessa o que você faz. Seja positivo, interessado, pró-ativo, trabalhador, honesto, pois você na verdade não faz nada para ninguém além de você.
Por fim, o que você acha de dedicar um pouco de si para os outros? Para aqueles que, por incrível que lhe possa parecer, necessitam de uma ajuda, que pode ser sua. Mas o que se pode fazer? Qualquer ajuda serve. Grupos de ajuda a dependentes de qualquer espécie; a escola do seu filho; hospitais; albergues; instituições de ajuda a excepcionais, idosos; creches; a religião com a qual você mais se identifica; grupos filosóficos e de estudo; penitenciárias e instituições que abrigam jovens transgressores. Em fim, não falta o que fazer.
Mas, ao final das contas, o que todas estas coisas têm a ver com evolução? Tudo. Todas estas atividades e cuidados se refletem positivamente nos nossos corpos físico, etérico, astral e mental. Todas estas coisas são capazes de diminuir a carga que trazemos de outras encarnações e que levaremos para outras.
Tá certo: mas então, fazendo tudo isto já podemos nos considerar seres evoluídos? Bem, mas o que é um ser evoluído? A resposta quem dá é Ramatis, por intermédio de Norberto Peixoto, no livro "Aos pés do preto velho", editora do conhecimento, página 22: "A Consciência, quanto mais ascenciona no longo e interminável percurso da evolução, mais vibra amor pela coletividade, "anulando" completamente o seu ego e os resquícios das personalidades que viveu no passado. Os restos egoísticos de antigas personagens humanas não existem mais no espírito plenamente cristificado. Quem alcançou a maestria interior do Cristo, venceu suas paixões e desejos mundanos. Já não mais se pertence e faz parte do Todo Universal, como partícula integrante da Mente do Criador. Assim sendo, quem ouve o chamamento do Cristo interno e o põe em prática é como o sábio que edificou sua casa numa rocha. A diferença entre o ser cristificado e o que ainda galga os degraus da insensatez egoística está em que um ouviu e atendeu ao chamamento do Cristo, praticando o Seu evangelho, e o outro só intelectualiza e nada realiza".
Não sei quanto a vocês, mas penso que a maioria de nós ainda está bem longe disto, principalmente eu.

segunda-feira, 5 de maio de 2014

MEDIO PAN Y UN LIBRO

FGL
Discurso pronunciado por Federico García Lorca en la inauguración de la biblioteca de su pueblo natal, de Fuente Vaqueros (Granada) en septiembre de 1931.

Cuando alguien va al teatro, a un concierto o a una fiesta de cualquier índole que sea, si la fiesta es de su agrado, recuerda inmediatamente y lamenta que las personas que él quiere no se encuentren allí. «Lo que le gustaría esto a mi hermana, a mi padre», piensa, y no goza ya del espectáculo sino a través de una leve melancolía. Ésta es la melancolía que yo siento, no por la gente de mi casa, que sería pequeño y ruin, sino por todas las criaturas que por falta de medios y por desgracia suya no gozan del supremo bien de la belleza que es vida y es bondad y es serenidad y es pasión.
Por eso no tengo nunca un libro, porque regalo cuantos compro, que son infinitos, y por eso estoy aquí honrado y contento de inaugurar esta biblioteca del pueblo, la primera seguramente en toda la provincia de Granada.
No solo de pan vive el hombre. Yo, si tuviera hambre y estuviera desvalido en la calle no pediría un pan; sino que pediría medio pan y un libro. Y yo ataco desde aquí violentamente a los que solamente hablan de reivindicaciones económicas sin nombrar jamás las reivindicaciones culturales que es lo que los pueblos piden a gritos. Bien está que todos los hombres coman, pero que todos los hombres sepan. Que gocen todos los frutos del espíritu humano porque lo contrario es convertirlos en máquinas al servicio de Estado, es convertirlos en esclavos de una terrible organización social.
Yo tengo mucha más lástima de un hombre que quiere saber y no puede, que de un hambriento. Porque un hambriento puede calmar su hambre fácilmente con un pedazo de pan o con unas frutas, pero un hombre que tiene ansia de saber y no tiene medios, sufre una terrible agonía porque son libros, libros, muchos libros los que necesita y ¿dónde están esos libros?
¡Libros! ¡Libros! Hace aquí una palabra mágica que equivale a decir: «amor, amor», y que debían los pueblos pedir como piden pan o como anhelan la lluvia para sus sementeras.
Cuando el insigne escritor ruso Fiódor Dostoyevski, padre de la revolución rusa mucho más que Lenin, estaba prisionero en la Siberia, alejado del mundo, entre cuatro paredes y cercado por desoladas llanuras de nieve infinita; y pedía socorro en carta a su lejana familia, sólo decía: «¡Enviadme libros, libros, muchos libros para que mi alma no muera!». Tenía frío y no pedía fuego, tenía terrible sed y no pedía agua: pedía libros, es decir, horizontes, es decir, escaleras para subir la cumbre del espíritu y del corazón. Porque la agonía física, biológica, natural, de un cuerpo por hambre, sed o frío, dura poco, muy poco, pero la agonía del alma insatisfecha dura toda la vida.
Ya ha dicho el gran Menéndez Pidal, uno de los sabios más verdaderos de Europa, que el lema de la República debe ser: «Cultura». Cultura, porque solo a través de ella se pueden resolver los problemas en que hoy se debate el pueblo lleno de fe, pero falto de luz.
Tomado de la publicación: www.laventana.casa.cult.cu
Nació en Fuente Vaqueros, provincia de Granada, el 5 de junio de 1898. Su padre, Don Federico García Rodríguez, era un hacendado, y su madre, Doña Vicenta Lorca, maestra de escuela. Pasó los primeros años en el ambiente rural de su pequeño pueblo granadino, y estudió en un colegio de Almería. Cursó Filosofía y Letras y Derecho en la Universidad de Granada, donde conoció a don Manuel de Falla, quien ejerció una gran influencia en él, transmitiéndole su amor por el folclore y lo popular. 1917 escribió su primer artículo sobre José Zorrilla, en su aniversario. En 1918 publicó su primer libro Impresiones y paisajes, costeado por su padre.
Antes de graduarse, en 1919, pasó un tiempo en Madrid en la Residencia de Estudiantes. Este periodo fue fundamental, ya que en ella conoció a Juan Ramón Jiménez y a Machado, e hizo amistad con Salvador Dalí, Buñuel, Pepín Bello, y todos los que después formarían parte de la Generación del 27: Jorge Guillén, Pedro Salinas, Gerardo Diego, Dámaso Alonso, Rafael Alberti… En esta época se dedicó con igual pasión a la poesía, el dibujo y el teatro, y consiguió estrenar su primera obra en 1920: El maleficio de la mariposa, aunque fue un fracaso.
En 1921 publicó Libro de poemas y en 1923, se pusieron en escena las comedias de títeres La niña que riega la Albahaca y el príncipe preguntón. El éxito literario de García Lorca llegó con la publicación de Canciones y paralelamente con el éxito de las representaciones en Madrid de Mariana Pineda, del que Salvador Dalí pintó los decorados. En 1927 expuso en las Galerías Dalmau de Barcelona su obra pictórica.
En 1928 publicó la revista literaria Gallo, de la cual salieron solamente dos números. En este periodo se gestó la madurez literaria del poeta ya que paralelamente escribió Poema del cante jondo (aunque no fue publicado hasta 1931), con el que experimentó por primera vez lo que sería un rasgo característico de su poética: la identificación con lo popular y su posterior estilización culta, y que llevó a su plena madurez con el Romancero gitano (1928), que obtuvo un éxito inmediato
En 1929 se fue a Nueva York con una beca de la Columbia University, y allí se gestó otro de sus libros fundamentales: Poeta en Nueva York, en el que se abrió de lleno a las vanguardias. En 1930 fue a La Habana.
En 1931 se instauró la Segunda República española. Fernando de los Ríos fue nombrado Ministro de Instrucción Pública, y García Lorca fue nombrado, bajo el patrocinio oficial, codirector de La barraca, una compañía de teatro universitario que se proponía llevar a los pueblos de Castilla el teatro clásico del Siglo de Oro. Escribió en este período Bodas de Sangre, Yerma y Doña Rosita la soltera.
El 8 de marzo de 1933 obtuvo un éxito clamoroso en el estreno de Bodas de sangre ante la plana mayor de la intelectualidad madrileña en el Teatro Beatriz. El 13 de octubre de aquel mismo año desembarcó en Buenos Aires para dar conferencias y asistir al clamoroso éxito de Bodas de sangre, estrenada por la compañía de Lola Membribes que alcanzó las cien representaciones. De Buenos Aires se trasladó a Montevideo. El 27 de marzo regresó a Madrid.
En febrero de 1936 participó en los actos políticos a favor del Frente Popular. Con el estallido de la Guerra Civil en 1936 empezó el exilio de la mayoría de intelectuales españoles, Colombia y México le ofrecieron exilio político pero el poeta rehusó y se dirigió a su casa de verano. Había declarado: “Yo soy español integral y me sería imposible vivir fuera de mis límites geográficos; pero odio al que es español por ser español nada más, yo soy hermano de todos y execro al hombre que se sacrifica por una idea nacionalista, abstracta, por el sólo hecho de que ama a su patria con una venda en los ojos. El chino bueno está más cerca de mí que el español malo. Canto a España y la siento hasta la médula, pero antes que esto soy hombre del mundo y hermano de todos. Desde luego no creo en la frontera política.” Escribió en este año la hermosa elegía dedicada a su amigo torero, donde combinaba el tono popular con imágenes de filiación surrealista: Llanto por Ignacio Sánchez Mejías.
Tras una denuncia anónima, el 16 de agosto de 1936 fue detenido en la casa de su amigo el poeta Luis Rosales. La orden de ejecución fue dada por el gobernador civil de Granada, José Valdés Guzmán. Federico García Lorca fue asesinado en el camino que va de Víznar a Alfacar y su cuerpo permanece todavía enterrado en una fosa común anónima junto con los cadáveres de dos banderilleros y un maestro nacional ejecutados con él.
Federico García Lorca ha sido el poeta de mayor influencia y popularidad de la literatura española del siglo XX.
Notas biográficas tomada de la web: www.escritores.org
Fonte: http://cinereverso.org/?p=8726

sábado, 3 de maio de 2014

LIÇÃO DE UM MESTRE AO SEU APRENDIZ - VI

Pedro Espanhol, 2009, óleo sobre tela, 90 x 120 cm
Reprodução publicada pelo autor em Masonic Art

Antes do mais, sê muito bem-vindo entre nós. Estás aqui por teus méritos e, sobretudo, por tuas potencialidades. A ti, e só a ti, deves a admissão no seio dos obreiros desta Oficina da Augusta Ordem da Maçonaria. Nós, os que vos acolhemos, limitámo-nos a reconhecer em ti a capacidade e a vontade de efetuar o longo – direi mesmo: interminável -, trabalhoso – acrescentarei: permanente – e minucioso – precisarei: rendilhado – processo de transformação de um Homem Bom num Homem Melhor.

Esta frase, que de tantas vezes dita soa já como um lugar-comum, é, acredita-me, muito mais simples de dizer do que de levar à prática. Passar de um simples e comum Homem Bom – aquilo que nós, maçons, costumamos designar por homem livre e de bons costumes – para se ser um Homem Melhor é tarefa, mais do que diária, de todos os instantes, verdadeiramente permanente, que necessita de ser executada ao longo de toda a vida – e que só faz sentido se for permanentemente executada ao longo de toda a vida.

É uma tarefa interminável, porque é de sua natureza sê-lo: o homem bom de hoje que se transforma amanhã num homem um pouco melhor, em bom rigor, ao fim do dia de amanhã não será mais do que um pouco melhor homem bom que poderá e deverá, no dia seguinte, melhorar um pouco mais. E assim sucessivamente até ao momento em que a nossa tarefa neste plano de existência terminar.

A Arte Real é um guia para esse trabalho. O método que propõe e coloca à disposição de todos os seus obreiros é o estudo, compreensão e interiorização dos significados – quantas vezes vários, ou mesmo múltiplos – dos muitos símbolos com que nos deparamos.

Admito que, hoje, aqui e agora, não tiveste ainda tempo para te aperceberes de que tudo o que nos rodeia tem carga simbólica. Como certamente ainda não assimilaste convenientemente o significado do que se passou, do que viveste, desde o instante em que entraste neste edifício até agora. Não te preocupes com isso. É normal, é natural, é previsível, é até desejável que assim seja. Tivemos o cuidado de nada de substancial te informar sobre o que irias viver neste dia. Porque é necessário sem conhecimento prévio viver, sentir, a passagem que acabaste de efetuar para depois melhor compreender o seu significado.

Não esqueças nunca: a Razão complementa, completa, domina e interpreta a Emoção. O que vale por dizer que a Emoção é forte alicerce da Razão, que o mero conhecimento racional pode ser muito e vasto, mas é fraco e pouco consistente se não estiver ancorado, se não tiver sido adquirido com a Inteligência Emocional que integra também a nossa capacidade para estarmos, orientarmo-nos e compreendermos o mundo em que vivemos. Se assim não fosse, não precisávamos de viajar – bastava ler livros e ver filmes de viagens...

A tua primeira tarefa é também um labor permanente e será, afinal, o teu último trabalho: conhecer-te a ti mesmo. Isso é essencial. Porque tu és o centro, a origem, o início e o fim do teu mundo. Portanto, o mínimo que te é exigível é que te conheças verdadeiramente a ti mesmo. Não a imagem que tens ou dás de ti, mas o que está por detrás dela, em tudo o que ali está e o que foi, que é causa do que é e base para o que será. O que tem de agradável e luminoso, mas também o que é mais sombrio e com que nos custa a deparar.

Esta a base, o ponto de partida. Já há milhares de anos estava escrito no Templo de Delfos: “Conhece-te a ti mesmo e conhecerás todo o Universo e os deuses, porque se o que procuras não achares primeiro dentro de ti mesmo, não acharás em lugar algum”.

Esta asserção é, desde a mais remota Antiguidade, a base de toda a busca e jornada iniciática. Não precisamos de inventar nada, não é necessário inventar o que já está inventado.

Devo-te esclarecer o significado da Arte Real. Como o poderei fazer, se há mais de vinte anos que o busco e ainda não o determinei completamente? Talvez a melhor resposta seja esta: a Arte Real é um método de busca que tem princípio em ti mesmo, como guia os símbolos, como rota a melhoria individual, como objetivo a perfeição e como meta todo o Universo e o que mais haja.

Sei bem que esta definição que acabei de te propor hoje, aqui e agora não é mais do que um conjunto de palavras que se juntam a uma enorme quantidade de informação que hoje recebeste e de sensações que experimentaste e que, portanto, agora de pouco te vale. Não te preocupes tu com isso, que eu também não estou nada preocupado. Tens à tua frente muito tempo para ordenar, para assimilar, para compreender tudo o que hoje viveste, viste e ouviste. E tudo, a seu tempo, te fará sentido. Até este arrazoado que tiveste a paciência de ouvir...

Mas isso fica para depois. Agora o tempo que chega é de celebrar, de conviver, de nos alegrarmos por estarmos juntos e sermos mais a estar juntos. Amanhã começarás o teu trabalho!

Rui Bandeira
http://www.a-partir-pedra.blogspot.com.br/2014/04/licao-de-um-mestre-ao-seu-aprendiz-vi.html