Ven - Por que a Maçonaria combate a ignorância, em todas as suas formas?
1º Vig - Porque a ignorância é a mãe de todos os vícios e seu princípio é nada saber; saber mal o que sabe e saber
coisas outras além do que deve saber. Assim, o ignorante não pode se medir
como o sábio, cujos princípios são a Tolerância, o Amor Fraternal e o Respeito
a si mesmo. Eis porque os ignorantes são grosseiros, irascíveis e perigosos;
perturbam e desmoralizam a sociedade, evitando que os homens conheçam seus
direitos e saibam, no cumprimento de seus deveres, que, mesmo com
constituições liberais, um povo ignorante é escravo. São os inimigos do
progresso, que para dominar, afugentam as luzes, intensificam as trevas e permanecem
em constante combate contra a Verdade, contra o Bem e contra a Perfeição.
Ven - E por que combatemos o fanatismo, Ir 2º Vig?
2º Vig - Porque a exaltação pseudo-religiosa perverte a razão e conduz os
insensatos a, em nome de Deus e para honrá-lo, praticarem ações condenáveis. É
uma moléstia mental, desgraçadamente contagiosa, que se implanta em um País,
toma foros de princípio, em cujo nome, nos execráveis postulados, fizeram
perecer milhares de indivíduos úteis à sociedade. A superstição é um falso
culto mal compreendido, repleto de mentiras, contrário à razão e às idéias que
se deve fazer de Deus; é a religião dos ignorantes, das almas tomoratas.
Fanatismo e superstição são os maiores inimigos da religião e da felicidade dos
povos.
Ven - Para fortalecermo-nos nos combates, que devemos manter contra esses
inimigos, qual o laço sagrado que nos une?
2º Vig - Solidariedade, Ven Mest.
Ven - Será, por isso, que comumente, se diz que a Maçonaria proporciona a
seus adeptos vantagens morais e materiais?
2º Vig - Essa afirmação não corresponde à verdade. O proveito material, com
interesse unicamente individual, não entra nas cogitações dos verdadeiros Maçons e as vantagens
morais resumem-se no adquirir a firmeza de caráter, como conseqüência natural
da nítida compreensão dos deveres sociais e dos altos ideais da Ordem.
Ven - Como podeis fazer tal afirmação, se todos dizem que a solidariedade
maçônica consiste no amparo incondicional de uns aos outros Maçons, quaisquer que
sejam as circunstâncias?
2º Vig - É a mais funesta interpretação que se tem dado a esse sentimento
nobre, que fortalece os laços da fraternidade maçônica. O amparo moral e
material que, individual e coletivamente, devemos aos nossos Irmãos, não vai até o
dever de proteger aos que, fugindo de suas responsabilidades sociais, se
desviam do caminho da moral e da honra.
Ven - Que solidariedade, então, é a que deve existir entre nós, Ir 1º Vig?
1º Vig - É a solidariedade mais pura e fraternal, mas somente, para com os que
praticam o bem e sofrem os espinhos da vida; para os que nos trabalhos lícitos
e honrados, são infelizes; para os que, embora rodeados de fortuna, sentem na
alma os amargores da desgraça, enfim, a solidariedade maçônica está onde
estiver uma causa justa.
Ven - Não jurastes, então, defender e socorrer vossos Irmãos?
1º Vig - Jurei, sim, Ven Mest, e, sempre que posso, correspondo a esse juramento. Quando porém, um Irmão esquecido dos
princípios e dos ensinamentos maçônicos, se desvia da moral que nos fortifica
para se tornar um mau cidadão, mau cônjuge, mau pai ou mãe, mau filho, mau
irmão, mau amigo; quando cego pela ambição ou pelo ódio, pratica atos que
consideramos indignos de um Maçom, ele, e não nós, rompeu a solidariedade que nos unia e que não mais
poderá existir; porque, se assim a praticássemos, seria pactuarmos com ações de
que a simples convivência moral nos degradaria. Por isso que o Maçom, que assim
procede, deixou de ser Irmão, perdeu todos os direitos ao nosso auxílio material e principalmente,
ao nosso amparo moral.
Ven - Não deveis porém, dar preferência, na vida pública, a um Irmão da Ordem, sobre um profano?
1º Vig - Em igualdade de circunstâncias, é meu dever preferir um Irmão, sempre que,
para fazê-lo, não cometa uma injustiça, que fira a minha consciência. Os
ensinamentos de nossa Ordem nos obrigam a proteger um Irmão em tudo que for justo
e honesto. Não será justo nem
honesto proteger o menos digno, mesmo que seja Irmão, preterindo os
mais sagrados direitos do mérito e do valor moral e intelectual.
Ven - Então, sistematicamente, não favoreceis a um Irmão?
1º Vig - Sem boas e justas razões, não. Nossa Ordem nos ensina a
amar a Pátria e, portanto, a sermos bons cidadãos. Não o seríamos, nem nos
poderíamos julgar merecedores desse nobre título e da confiança de nossos Irmãos, se, ao bem
público, antepuséssemos os interesses de uma pessoa menos apta ou menos digna
de trabalhar pelos interesses da sociedade e da Pátria.
Ven - Como, então, a voz pública acusa os Maçons de progredirem
no mundo profano, graças ao nosso sistema de recíproca proteção?
1º Vig - São afirmações dos que, não conhecendo as razões das coisas, julgam
incondicional nossa solidariedade. Se há Maçons que galgam
posições elevadas e de grandes responsabilidades sociais, a razão se oculta,
evidentemente no seguinte: nossa Ordem não acolhe o profano, sem antes examinar-lhe a inteligência, o caráter e a probidade. Daí, é natural que de nossa Ordem,
cuidadosamente selecionados, surjam cidadãos que se destaquem por suas
qualidades pessoais, tornando-se assim, dignos de serem aproveitados na
conquista do progresso e da felicidade do povo.
Ven - Concluís, então, que em nossa Ordem, não surjam,
às vezes, desonestos?
1º Vig - Nada é perfeito. Não deixo de reconhecer que, nos temos enganado na
escolha de alguns elementos, apesar do rigor de nossas sindicâncias. Assim,
infelizmente, profanos, com o fito de tirar proveito pessoal de nossa
associação, têm-se infiltrado em seu seio. Alguns, pela natural influência da
vida e das práticas maçônicas, regeneram-se e
transformam-se em bons e proveitosos Obreiros. Para os que são
insensíveis à ação de nossa Moral e de nossos Princípios, nossa Lei nos fornece
meios seguros e prontos de separarmos o joio do trigo, o que devemos fazer sem
temor nem vacilação É, portanto, pela exclusão dos elementos refratários aos
ensinamentos austeros e elevados dos Princípios maçônicos, que poderemos
fortificar nossas Colunas.
Ven - Em que consiste, então, nossa fraternidade?
1º Vig - Em educarmo-nos, corrigindo nossos defeitos e sermos tolerantes para
com as crenças religiosas e políticas de
cada um. Nossa Fraternidade nos ensina a dar e não pedir, sem justa necessidade.
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