“Muitas crianças choram quando suas mães choram ou quando veem alguém chorando. Talvez a consciência inocente no corpo jovem, não tendo tido ainda experiências na vida material, instintivamente sinta que a infelicidade não é algo correto. Uma criança responde com naturalidade, e portanto sente que algo está errado quando alguém está infeliz. A maioria das crianças é atraída por outros seres inocentes - outras crianças e animais, particularmente os mais jovens.
Esse estado de inocência se perde quando a criança torna-se adulta, e o modo de vida moderno não ajuda o jovem a preservá-lo. Assistir repetidamente a episódios de violência na televisão, por exemplo, ajuda a destruir o senso instintivo de unidade que as crianças possuem. Os humanos, como é bem sabido, precisam de proteção e cuidados durante um período de tempo muito mais longo do que os animais. Isso pode ser parte do plano da natureza para desenvolver nossa sensibilidade.
O animal jovem é forçado a lutar pela sobrevivência, o que inclui aprender a desconfiança, o medo e a agressividade, tendências que contribuem para o comportamento competitivo. Quando existe insegurança e medo, desenvolve-se a agressão; o medo obriga a mente a planejar maneiras de autodefesa. Assim se instala a insensibilidade, e a consciência perde sua inata delicadeza de resposta.
A maioria de nós adota atitudes duras; se formos honestos, descobriremos como e quando elas ocorrem - como são perdidas a inocência da infância e a qualidade de estar em harmonia com as outras criaturas vivas.
O que é o mundo real? Esta é uma pergunta que ocorre a estudantes e pensadores. O mundo natural - montanhas, rios, estrelas, árvores e pássaros - é real? Provavelmente é, sendo parte da vida una fora da qual nada existe. Por outro lado, uma vez que o mundo natural é apenas uma parte da realidade total, ele pode ser real de maneira relativa, e não de maneira absoluta. Nos textos hindus sugere-se que os rios, montanhas e toda a natureza são apenas parte do divino esplendor que o Supremo revela, pois os nossos olhos são incapazes de ver além. Apenas um fragmento ela realidade é manifestado como universo, sendo o não manifesto a parte maior.
Portanto, o mudo natural não é irreal, porque é parte de uma suprema existência, mas é apenas parte, não o todo. É um meio através do qual algo muito mais vasto pode ser vislumbrado. no entanto, que tipo de mente e coração consegue ver o esplendor além das formas externas? Não a consciência destituída de inocência. A criança que sofre ao ouvir uma história em que um animal morre provavelmente está muito mais próxima da verdade da vida do que o adulto que sabe tudo a respeito da sobrevivência, do conforto e de vantagens pessoais.
Os seres humanos são parte do mundo natural, são criação da natureza, mas nós nos tornamos estranho. Ao perder a inocência, nós nos exilamos do paraíso e escolhemos viver num falso mundo de ambição, paixões e guerras. Esse mundo, produto do pensamento humano, é irreal, porque está baseado em percepções distorcidas e em falsos valores. A ilusão não está nas árvores, nos animais e na terra, mas no olho do homem que vê tudo como objeto para possuir e explorar. Aqueles que viam o rio e a montanha como presenças divinas viam a mesma água e a mesma montanha que nós vemos hoje, mas nós os reduzimos a nada mais que matéria inerte.
O endurecimento da mente precisa terminar. Devemos prestar atenção à qualidade de nossas respostas ao desenvolvimento da sensibilidade - e isso não é sentimentalismo. Os grandes videntes não cediam ao emocionalismo; eles viam a realidade.”
Radha Burnier é escritora e foi presidente internacional da Sociedade Teosófica
Revista Sophia – Editora Teosófica
Fonte: http://lojateosoficadharma.blogspot.com.br/2016/08/o-que-e-realidade-radha-burnier.html
A propósito, ver: http://lojatriangulodafraternidade.blogspot.com.br/2011/07/o-real-segredo.html
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