segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

UMA LOJA REGULAR

Segue abaixo um manifesto da GLADA, que é esclarecedor sobre a questão da pretensa irregularidade da maçonaria mista e feminina, embora já 10 anos tenham se passado desde sua redação sem que a realidade tenha se alterado.

MANIFESTO DA GLADA: GRANDE LOJA ARQUITETOS DE AQUÁRIO

Redigido ao Oriente de São Paulo, em 20 de novembro de 2005

Às Potências Maçônicas Brasileiras,

Às Potências amigas,

À C:.I:.M:.A:.S:. Confederação Interamericana de Maçonaria Simbólica;

À CATENA, Instituição Internacional de Potências Mistas;

Ao C:.L:.I:.P:.S:.A:.S:. – Centro de Ligação e Informação das Potências signatárias do apelo de Strasburgo e à

Ao C:.L:.I:.M:.A:.F:. - Centro de Ligação Internacional das Maçonarias Femininas Aos Irmãos e Irmãs da GLADA e do Brasil em geral:

Vimos assistindo nestes últimos dias, através da internet, uma verdadeira enxurrada de denúncias caluniosas envolvendo maçons do sexo feminino, a Grande Loja Feminina da Maçonaria Brasileira, com sede em Mato Grosso, sua Grã-Mestra (Gassy Botelho) e seus representantes.

São ataques visivelmente destinados a enxovalhar, baseados em argumentos absurdos, cheios de sofismas, que mais parecem uma perseguição orquestrada por inimigos pessoais ou “plantados” para servirem de “munição”.

Vejamos os lamentáveis fatos:
Começam “acusando” um parente da Grã Mestra (Alexandre Botelho), de fabricar alfaias e vendê-las para as irmãs... Estarão, neste caso, cometendo algum crime ou contravenção todas as oficinas de alfaias maçônicas do Brasil, uma vez que todas são propriedade de maçons de potências masculinas?

Em seguida, “acusam” a Potência Feminina de cobrar Taxa de Iniciação. Talvez devessem os acusadores processar, então, o Grande Oriente do Brasil, as Grandes Lojas Estaduais, assim como todas as potências independentes do Brasil – e de todo o mundo -- pois todas, sem exceção, cobram taxas de Iniciação, uma tradição que remonta ao Egito, para uma cerimônia onerosa que envolve os obreiros de toda uma Loja ! Todos nós maçons sabemos que existem Lojas que cobram taxas elevadíssimas.

A próxima acusação – a mais absurda, a mais revoltante, a que mais demonstra a ignorância, a falta de cultura maçônica e a falta de cidadania – é a de que NÃO EXISTE MAÇONARIA FEMININA -- e portanto as Lojas femininas estão cometendo estelionato (SIC) ao iniciarem Irmãs !

Uma afirmação como esta, quando vem de um não-iniciado, ainda podemos entender, pois velhos inimigos da Maçonaria sempre espalharam as mais pitorescas mentiras sobre a Instituição, e o povo não instruído se deixa levar. Mas é simplesmente inadmissível que um maçom, vivendo no século 21, ainda ignore um fato onipresente no mundo atual, e tão intensamente divulgado, seja na mídia comum, seja na literatura maçônica. Se esta é a cultura maçônica que se ensina nas Lojas masculinas, concluímos, com profunda lástima, que a Maçonaria tradicional está em franca decadência.

O grande “acusador” das Lojas mistas e femininas ignora, com certeza -- como, aliás, o ignoram, infelizmente, numerosíssimos maçons brasileiros -- que o Grande Oriente do Brasil já fundou Lojas Femininas, dando-lhes Carta Constitutiva regular e transmitindo às Irmãs todos os rituais e segredos que são parte de qualquer Loja Maçônica do mundo. E isto aconteceu em 1871 ! Antes, bem antes que sonhassem os maçons brasileiros em fundar Grandes Lojas nas províncias do país. Havia Grãos Mestres de grande visão naquele tempo! Um dos maiores escritores maçônicos da atualidade, José Castellani, reconhecia a existência e o direito das lojas mistas e femininas, tendo inclusive visitado várias reuniões da GLADA, proferindo palestras. Citava com frequência um Juiz Federal de Brasília, que condenava a discriminação à mulher na maçonaria.

Convidamos os céticos a consultarem o Cadastro Geral das Lojas Maçônicas do Brasil, de Kurt Prober. As Atas e documentos relativos a este memorável evento estão guardados na Biblioteca e no Museu Maçônico do GOB, em São Paulo, onde surgiu a primeira dessas Lojas. No site da GLADA, há um Artigo com todos os detalhes deste e de outros fatos semelhantes no mundo. Também conclamamos os senhores acusadores – a ler uma publicação muito especial da Gran Loggia d’Itália, intitulada La Donna, il Sacro, l’Iniziazione (A Mulher, o Sacro, a Iniciação), súmula do 1° Fórum Internacional de Firenze, realizado em junho de 1994. O Herói de Dois Mundos, Giuseppe Garibaldi, foi o Soberano Grande Comendador do Grau 33 do REAA do Supremo Conselho de Palermo do Grande Oriente da Itália, da época, (cuja herdeira atual é a Grande Loja da Itália).

Garibaldi estimulou a iniciação de mulheres, tendo fundado várias lojas femininas, das quais a primeira a 25 de maio de 1864; ele iniciou a filha, Teresita, e muitas outras mulheres; consta que também iniciou sua segunda esposa, a brasileira Anita Garibaldi. Herói, e verdadeiro maçom, ele pertencia a um Supremo Conselho, cuja herdeira e continuadora é a Grande Loja da Itália, da qual fizeram parte o grande maçom Aldo Lavagnini – Magister, o grande físico atômico Enrico Fermi, o famoso comediante Totó, e um grande número de gente famosa da Itália, aliás, a potência que congrega mais lojas (1600 ativas), e mais obreiros naquele país. Maiores detalhes e bibliografia sobre este tema podem ser encontrados no site da GLADA. (www.glada.org.br Há numerosa bibliografia que documenta de maneira rica e ilustrada a presença da mulher nos rituais maçônicos em qualquer época que se queira procurar. Os maçons cultos a estudaram e hoje não caem no ridículo de negar uma realidade que está em toda parte do mundo. É como negar que o homem foi à Lua ou que existam mulheres ocupando alguns dos mais altos postos governamentais, culturais, científicos, esportivos, políticos e até militares.

Considerar “irregular” a loja ou potência que admite mulheres nos leva a outra ordem de considerações, pois se levarmos a sério essa pretensa “regularidade” , somente uma, uma única Potência Maçônica é “regular” em cada país, e no caso do Brasil, é o Grande Oriente do Brasil, sendo todas as outras “irregulares”... São normas ditadas pela senhora Grande Loja da Inglaterra, que se arrogou, não se sabe sob mandato de que arcanjo, o direito de somente ela dizer quem é regular ou não. Portanto, se algum dos senhores acusadores pertence a uma loja que não seja do GOB, é bom saber que vários Irmãos não foram recebidos em lojas inglesas, por serem “irregulares” e “não reconhecidos”! Isso aconteceu com o Irmão Eleazar de Carvalho, nosso famoso Maestro, filiado à loja Mozart, da GLESP, e ao próprio Ir:. Salim Zugaib, ex-Grão Mestre da GLESP, ao baterem na porta de uma das lojas da senhora Grande Loja da Inglaterra, em Londres. Que lindo exemplo de fraternidade!

E tudo isso graças a um preceito, ou Landmark, imutável (sic), inventado em 1717 por um profano de avental chamado Anderson (que confessou haver queimado documentos antigos, históricos e insubstituíveis, entre os quais, sobre participação da mulher nas antigas lojas), autor da frase lapidar, paradigma do ranço medieval de que estava impregnado: ”Não podem ser iniciados nem mulheres, nem aleijados, nem escravos”. A frase dispensa comentários, tão explícita e tão grotesca ela é por si mesma. Afirmar que qualquer coisa no universo seja imutável não é apenas anti-científico, mas contrário à própria idéia que a Maçonaria entende por progresso. Afirmar que nenhuma loja maçônica masculina no Brasil recebe uma irmã em suas reuniões, discriminando unicamente em razão do sexo, é uma confissão muito triste, que atesta o grau de atraso cultural em que se encontra nossa maçonaria tradicional. Típico de países do Terceiro Mundo, onde as conquistas democráticas só acontecem cem ou duzentos anos depois que o resto do mundo já as considera parte do seu quotidiano.

Só para citar um exemplo de como está atrasada a maçonaria brasileira : O Grande Oriente da França, uma das maiores e mais atuantes Potências Maçônicas do mundo e com uma enormidade de serviços prestados à humanidade, inclusive a criação da União Européia, já nos anos 50, propiciou, junto com a Grande Loja da França, a fundação da Grande Loja Feminina da França, que hoje conta com nada menos de dez mil obreiras.

O Direito Humano, potência MISTA fundada em 1893 – portanto mais antiga que todas as Grandes Lojas estaduais brasileiras – congrega mais de dez mil maçons, homens e mulheres. O Grande Oriente da França permite que suas lojas recebam a visita das irmãs em suas reuniões regulares (não só nas reuniões “brancas”, como se faz por aqui), oferecendo-lhes cargos, inclusive. Em muitas cidades francesas, há prédios maçônicos, contendo várias lojas, que são alugados a diferentes potências, sejam masculinas, femininas ou mistas, que se apoiam mutuamente, o mesmo ocorrendo em Nova Iorque.

Há na França cerca de 100 mil maçons, dos quais apenas 10 mil são ligados à única potência reconhecida pela Grande Loja da Inglaterra. Os restantes 90 mil, os pretensos “irregulares ou selvagens”, são independentes. Destes, perto de 50 mil pertencem ao Grande Oriente da França. Os “rebeldes” são hoje 90%. E não é diferente no resto do mundo civilizado, o que deu margem à afirmativa de toda comunidade maçônica liberal da Europa que costuma dizer que “a maçonaria tradicional são os nobres decadentes, e a maçonaria liberal, os selvagens emergentes”..

Passemos a outra “acusação”: a Grã Mestra da Grande Loja Feminina sediada em Mato Grosso recebeu (ou recebe) uma ajuda de custo, por conta de seu cargo.. Talvez os acusadores queiram também processar os demais grãos-mestres de todas as restantes potências brasileiras, pois todos eles recebem subvenções a esse título. Algumas consideravelmente mais gordas, por sinal, do que a ridicula retirada mencionada. Também seria interessante que se lembrasse que muitos Grãos Mestres dispõe de carros fornecidos por suas obediências para o exercício do cargo. . De resto, há uma quantidade desconhecida, mas certamente grande, de lojas maçônicas ditas “regulares”, masculinas, que sequer têm registro em cartório. É claro que tais lojas não possuem CNPJ, e nem conta bancária em seu próprio nome.

Outra: acusam a potência feminina do Mato Grosso de ter-se “apropriado” de rituais maçônicos das potências masculinas. É uma espécie de acusação de plágio. Nunca houve na Maçonaria, porém, qualquer coisa parecida com “direitos autorais”. Nenhum verdadeiro iniciado gravou seu nome num ritual; é um trabalho discreto e anônimo doado à humanidade, preservando textos de valor humanístico, moral e social, escritos por grandes homens. É uma tradição passada de geração a geração, freqüentemente de boca a ouvido, sendo que em certos ritos, é praticada totalmente de memória, sem qualquer ritual escrito. Esta tradição vem desde as Iniciações no antigo Egito.

Todos os rituais que hoje se usam na maçonaria provieram de rituais mais antigos, guardados por herança espiritual, durante séculos. Maçons passam a outros maçons as práticas, os ensinamentos morais e o significado dos símbolos, é assim que funciona e sempre funcionou a Maçonaria. Isto é de conhecimento geral na Ordem, nenhum maçom autêntico ignora este fato, portanto tal acusação deve ter sido levantada por um profano. Então esclarecemos a este profano que os rituais maçônicos podem ser encontrados nas livrarias, em enciclopédias maçônicas, e até em bibliotecas públicas -- todos os graus, até o 33.

Não é a leitura do ritual que faz o maçom. Também não é ser recebido numa loja, nem usar o avental, nem ter carteirinha. É a Iniciação que faz o maçom, e ela é uma experiência pessoal, transcendente, individual e intransferível. Iniciação é uma oportunidade de elevação espiritual, que nem todos aproveitam – e é por isso que há maçons que continuam sendo profanos, como o citado Anderson, mesmo portando os mais elevados graus. Enquanto que muitos profanos são grandes maçons (construtores), por seus nobres atos, embora nunca tenham entrado numa Loja Maçônica Mas já que a acusação foi feita, saibam todos que os rituais do Grande Oriente do Brasil e das Grandes Lojas foram baseados nos rituais franceses e ingleses. Estes, por sua vez, foram copiados de tradições mais antigas, compiladas sob o nome de “old charges”, que foram copiadas de práticas dos construtores romanos desde Numa Pompílio, que foram copiadas de papiros egípcios, os quais provavelmente são cópia de litografias Atlantes, os quais... Anderson, que extrapolava suas crenças religiosas de maneira grotesca, dizia que Adão, o primeiro homem na Terra, já era maçom, portanto, muito cuidado, Adão poderá um dia ressurgir das cinzas e processar todos os maçons do mundo por terem plagiado suas plaquinhas de barro! Uma outra “acusação” menciona que essa potência feminina teve início numa igreja, ou centro de culto. Cremos que é uma origem honrosa, pelo menos. Membros de seitas variadas no Brasil foram fundadores de lojas maçônicas, e isso não os desabona, nem torna irregulares tais lojas. Gostaríamos de lembrar aos inquisidores dessa pitoresca moção que a Grande Loja da Inglaterra – a única regular, a santíssima, a pura e casta grande mãe da maçonaria tradicional em todo o mundo, o modelo de virtude, com seus venerandos e imutáveis Landmarks – teve uma origem muito menos nobre: suas quatro lojas fundadoras nasceram em quatro tabernas londrinas, lugares de péssima reputação.

A acusação seguinte levanta a questão da quase vitaliciedade da atual Grã-Mestra da Grande Loja Feminina em questão (gestão de 40 anos). Este costume tem antecedentes históricos. Nas Corporações de Ofício, das quais a maçonaria moderna teve origem, o Mestre que dirigia a Loja era vitalício e formava aprendizes e companheiros durante vários anos, e quando um companheiro chegava a um grau elevado de formação, recebia autorização para abrir sua própria loja, da qual se tornava o novo Mestre – também vitalício.
Alguém pode argumentar que o costume moderno é de eleições periódicas, com renovação dos nomes nos cargos de direção, e esse é, de fato, o estilo atual das potências pelo mundo, inclusive na GLADA. Mas, certamente, não é crime nem fere qualquer lei civil fazer constar nos Estatutos aprovados por assembléia, que o mandato da Grã-Mestra é de 40 anos. Sendo tais Estatutos devidamente registrados em Cartório, devem ser considerados de domínio público. Assim, a acusação de não exibir às candidatas os Estatutos antes de seu ingresso é bastante esdrúxula.

Não nos consta, aliás, que as potências masculinas tenham o costume de fazer ler aos candidatos, na íntegra, o material extenso de suas Constituições antes de sua Iniciação; não ocorre tal coisa nem mesmo quando se ingressa num clube, sindicato, escola, associação ou condomínio. Já mudar um Estatuto é atribuição das Assembléias da Ordem, onde tudo precisa ser votado. Quem não está de acordo com normas estatutárias aceitas pelas leis do país, deve desistir de pertencer à Ordem Maçônica, ou então, estando nela, lutar honestamente nas Assembléias por suas justas e legais idéias de mudança.

Enfim, tudo o que se vê nessa “denúncia” coloca em evidência que se usam dois pesos e duas medidas – um modo truculento de julgar as potências femininas ou mistas e outro, bem indulgente, para justificar as potências masculinas. Generalizamos a questão das potências mistas e femininas porque a acusação vai além das pretensas irregularidades da potência matogrossense, mas extrapola julgamentos (e condenações prévias!) para toda a maçonaria que admite mulheres. Isto prova que não está sendo questionada uma suposta contravenção naquela potência. O que está realmente em jogo, por trás da “denúncia”, é o preconceito contra as mulheres. A intenção oculta – nem muito oculta, aliás, para quem tem olhos para ver – é discriminatória. E a discriminação da mulher é, pela Constituição Brasileira, prática proibida, contrária à cidadania. É ilegal, passível de punição. Diríamos que também é imoral, principalmente vindo de quem prega a igualdade, a liberdade, a justiça, a tolerância, o direito, a democracia, etc., etc.. Essa discriminação, revoltante pelo seu conteúdo machista, lembra-nos os tempos não muito distantes em que a mulher teve que lutar, em campanhas cruéis, pelo direito de votar, sofrendo perseguições, prisão, não raro tortura e humilhações.

É bom que saibam os adversários da admissão da mulher na maçonaria que o Grande Oriente da Itália (potência masculina) foi processado na Justiça Italiana por recusar o ingresso das mulheres, e perdeu em três instâncias. Ele foi legalmente “condenado” a receber iniciandas. Se a moda pega, acionando o Ministério Público Federal (já que se trata de violação de direitos civís), não só o caso de Mato Grosso pode ter um final inesperado, mas toda a maçonaria masculina pode vir a ser obrigada a mudar aquele anacrônico e repulsivo landmark.

Talvez seja a hora de as brasileiras tomarem uma atitude, a fim de dar uma pequena lição de igualdade a estes hipócritas que dentro dos templos maçônicos exaltam as mais lindas virtudes e fora deles praticam exatamente o contrário. Será uma vergonha para a maçonaria, que sempre representou a vanguarda do pensamento humano, abrindo caminho para as idéias mais progressistas, ser a última instituição na Terra a admitir a igualdade de direitos da mulher, pelo qual, os nossos Irmãos do Século 19 já lutavam. O que fazem os de hoje ? Do jeito que andam as coisas, é provável que até a Igreja Católica mude primeiro, já que hoje em dia ela se tem destacado na defesa de direitos humanos e outros, enquanto a maçonaria tradicional “dorme em berço esplêndido”, cantando glórias do passado (de feitos realizados por outros), e se omitindo na atualidade.

Queremos agora, através deste Manifesto da GLADA, restabelecer a verdade sobre o reconhecimento das potências femininas e mistas ao redor do mundo. Há Organizações Maçônicas que congregam Potências de todos os países, sejam elas masculinas, mistas ou femininas. Algumas são bastante antigas, como a CATENA e o CLIPSAS, fundados em 1961. Outras são mais recentes e regionais, como a CIMAS (2002). O link para informações sobre elas se encontram no site da GLADA (www.glada.org.br) e merece ser consultado. CLIPSAS e CATENA juntos congregam mais de 60 potências maçônicas em 5 continentes. A GLADA, assim como a mencionada potência feminina do Mato Grosso, são signatárias de todas as citadas e mantêm Tratados bilaterais entre si.

Elas se reconhecem mutuamente e seus obreiros podem visitar-se nos respectivos países. Nenhum membro dessas organizações se escandaliza nem mesmo se surpreende ao ver uma mulher trajar um avental maçônico e participar em igualdade de condições dos trabalhos de uma Loja. Somos, portanto, muito bem reconhecidos, sim senhor, e não nos faz falta alguma sermos recebidos por maçons, lojas, potências ou autoridades maçônicas que ainda alimentam preconceitos tão ridículos e condenáveis contra a mulher.

Os trabalhos e estudos maçônicos desenvolvidos nas lojas da GLADA são tão profundos, tão ricos em cultura e de tão elevado nível que deixam embasbacados os visitantes das lojas masculinas. Ouvimos, mais de uma vez, Irmãos portadores dos mais elevados graus confessarem, com a maior sinceridade, ao terminar uma daquelas sessões econômicas, que para nós, não passa do pão-de-cada-dia: “Aprendi mais hoje nesta reunião de duas horas, numa Instrução de Aprendiz, do que em toda a minha vida maçônica de mais de 20 anos”. Não deixa de ser um melancólico atestado das poucas luzes que se recebem nas Lojas por aí.

Quanto à suposição de que a Maçonaria é uma só no mundo, e que se compõe exclusivamente por homens, citamos -- pela identidade com a nossa língua e pelo valor extraordinário desse maçom ilustre, o Dr. Antonio Arnaut – Grão Mestre do Grande Oriente Lusitano, membro do Conselho Superior da Magistratura e presidente da Liga Portuguesa dos Direitos do Homem, e ainda presidente da Associação Portuguesa de Escritores juristas, em sua excelente obra: Introdução à Maçonaria – “A Maçonaria não é uma Igreja e, por isso não existe um poder central único e uma autoridade supranacional. As Lojas, Oficinas ou Templos formam grupos que se administram a si mesmos, constituindo em cada país uma federação dirigida por um Grande Oriente ou Grande Loja, chamadas de Potências ou Obediências, inteiramente independentes, embora eventualmente ligadas por tratados”. E segue: “Em meados do Século XVIII Luisa de Kerruel fundava em França uma Loja do Rito Escocês, destinada exclusivamente a mulheres. Outras Lojas femininas se lhe seguiram, incluindo em Portugal. A grande Loja Feminina de Portugal está filiada ao CLIMAF, Centro de Ligação Internacional das Maçonarias Femininas”.

São membros atuais do CLIMAF: www.glfs-masonic.ch/Docs/docuf/CLIMAF-F.htm, a Grande Loge Féminine d'Allemagne; a Grande Loge Féminine de Belgique; a Grande Loge Féminine de France; a Grande Loge Féminine d'Italie; a Grande Loge Féminine du Portugal e a Grande Loge Féminine de Suisse. Ainda sem filiação: Afrique - Phare des Amazones (GLFF) e USA - Aletheia - New York (GLFB).

E isto é somente uma pálida imagem de apoio à maçonaria feminina no mundo, e sem relacionar as 60 Potências masculinas, femininas e mistas filiadas ao CLIPSAS e CATENA. Há inúmeras outras não filiadas. Antes de encerrar este Manifesto, queremos expressar nossa profunda preocupação com a falsa imagem que alguns maçons fazem da Instituição, considerando-a intocável e acima da Lei, facultando a seus filiados praticar atos iníquos, protegidos por algum tipo especial de imunidade.

Para ilustrar este comportamento, vamos expor um fato que ocorreu numa das lojas da GLADA, a Olho de Hórus n° 35, sediada em Picos, Piauí. Seu Venerável, Ir:. Francisco Ferreira da Silva, edificou e decorou, a suas expensas, um templo maçônico para servir de sede à Loja. Vândalos vieram destruir, a marretadas, por dentro e por fora, esse templo, queimando arquivos, móveis, alfaias e documentos. Testemunhas presenciaram o crime e reconheceram nos depredadores vários maçons da localidade, vinculados a potências masculinas, contando, inclusive, com a participação do próprio prefeito da cidade, Sr. José Neri. O caso foi aos tribunais, e finalmente o Ir:. Ferreira venceu a questão, sendo a prefeitura condenada a pagar-lhe uma indenização por perdas e danos materiais e morais (mais de R$ 100 mil). Não bastasse isso, os Irmãos da Loja Olho de Hórus e até seus candidatos vêm sofrendo intimidações e ameaças. Para quem quiser saber maiores detalhes, e mesmo fazer doações, basta dirigir-se à Loja Maçônica Olho de Horus : Rua: Santo Inácio, n° 343 - Bairro Bomba CEP: 64.600-000 – Picos- PI -CNPJ 03.595.326/0001-05. Seu email: lojaolhodehorus@bol.com.br. Movidos por ódio irracional e pelo puro preconceito contra uma Loja que admite mulheres, esses maus maçons chegaram ao extremo de vandalizar a propriedade particular de um Irmão. Ferreira, aliás, foi iniciado numa Loja masculina – dita “regular”, da qual se desligou, junto com outros, após ter presenciado coisas ainda piores que esta. A indenização ainda não foi paga, e ficamos a imaginar as pressões que a justiça local deve estar sofrendo para retardar o pagamento da indenização; enquanto isso, a Loja passa por dificuldades. Haverá em algum lugar, quem sabe entre os bons maçons, uma alma fraterna que reconheça o horror que tal situação representa para a imagem da maçonaria, e se disponha a ajudar nosso Irmão Ferreira a reconstruir sua Loja ? Até quando teremos de suportar e assistir a tais espetáculos de violência e obscurantismo ? Diante desses crimes reais, escandalosos e graves, não seria o caso de acionar o Ministério Público Federal para investigar os fatos acima relatados, e inclusive intervir no caso com a respectiva Corregedoria? Lembrando uma conhecida Escritura, não é o caso de, antes de apontar o argueiro no olho do vizinho, descobrir a trave que está no seu próprio?

Preocupa-nos, assim como ao sábio Kofi Annan, Secretário Geral da ONU, (cujas recentes declarações puseram em evidência este fato lamentável), o recrudescimento da intolerância no mundo. O dever da maçonaria é lutar contra ela, conforme se prega nas Lojas, e não estimular que ela cresça ainda mais.

Vamos finalizar citando a declaração conjunta assinada em dezembro de 1988 por 4 obediências Belgas – Grande Loja Feminina da Bélgica, Grande Loja da Bélgica (masculina), Federação Belga do Direito Humano (mista) e Grande Oriente da Bélgica (masculina) – cujos termos são os seguintes:
"Co-herdeiras de vários séculos de história maçônica, durante os quais tantos maçons ilustraram a história de nossas regiões, as Obediências signatárias declaram participar da mesma ordem inciática, tradicional e universal, que, baseada na Fraternidade, constitui, sob o nome de Franco-Maçonaria, uma comunidade de pessoas probas e livres; embora conservando cada uma sua soberania e sua autonomia de decisão, as Obediências constatam que, para além da sua diversidade e da variedade de suas Lojas, elas têm em comum:

1. A iniciação e a prática do método simbólico;
2. A preocupação de trabalhar pela melhoria da condição humana sob todos os aspectos;
3. A defesa da liberdade de consciência, de pensamento e de expressão;
4. A busca da harmonia entre todos os seres humanos pela conciliação dos opostos; e
5. A rejeição de todo dogma."

É assim que a Maçonaria se vê no mundo moderno; ela evoluíu, deixou de cantar os feitos e as glórias pretéritas (um costume bem brasileiro) e torna a participar dos eventos sociais e políticos do mundo – unida, forte, coesa, sem dogmas, sem preconceitos, e sem grilhões medievais – mas sobretudo preocupada com a melhoria da sociedade humana, e não com as picuinhas, os egos, os machismos e as questiúnculas sobre supostas “regularidades”.

É o progresso, enfim. Para uma Instituição que sempre pregou ser progressista e vanguardeira, ele já vem tarde. Para nós, no Terceiro Mundo, talvez venha tarde demais.

Ao enviar este Manifesto às Potências Maçônicas brasileiras – tradicionalmente masculinas – esperamos que todos tenham a sabedoria de fazer uma avaliação madura dos fatos. Dessa reflexão, nascerá a escolha entre a verdadeira fraternidade maçônica, de um lado, ou de outro, uma possível guerra jurídica desgastante, cujas proporções apenas adivinhamos, mas que certamente deixará um rastro de vergonha que atingirá não apenas todos os maçons, mas a própria Instituição em si. Isto só serviria para dar munição aos inimigos da Maçonaria, e está claro que nenhum de nós deseja isto. Devem, porém, as Potências masculinas vigiar mais atentamente suas lojas, tomando imediatas providências, e até mesmo eliminando-as e aos seus obreiros, quando praticarem atos de violência, prepotência, perseguições, arbitrariedades e ilegalidades.

Vera Facciollo – Grã Mestra da Grande Loja Arquitetos de Aquário (Potência Maçônica Soberana, Mista, que só obedece a Constituição e as Leis justas de nossa pátria - Brasil)

Para maiores informações atualizadas sobre a história e a filosofia maçônicas, visite os seguintes sites:
www.glada.org.br ;
Grande Loja da Itália: http://www.granloggia.it/;
CLIPSAS: http://www.clipsas.com/;
CATENA: http://www.catena.org/;
CIMAS: http://www.cimas.info/;
CLIMAF: www.glfs-masonic.ch/Docs/docuf/CLIMAF-F.htm.
Grande Oriente da França: www.godf.org Especificamente sobre a questão da convivência MISTA: Foire aux questions; Pourquoi la mixité ? http://www.godf.org/faq_autre.html#6.

Às vítimas de violações de direitos (como é o caso do Ir:. Ferreira, no Piauí), recomendamos acionar:
Comissão de Direitos Humanos ... denúncias de violações de direitos sociais, políticos, civis, culturais, econômicos, assim como dos direitos dos idosos: www.camara.gov.br. Para violações de direitos civis e humanos pode-se também acionar a ONU, UNESCO, OEA, etc.
Em nome da GLADA e de suas Lojas Federadas, enviamos a todos o nosso T:.F:.A:.
Vera Facciollo – 33º - Soberana Comendadora Grã Mestra Geral
Fonte:http://blogdamaconaria.blogspot.com.br/2008/09/manifestao-do-internauta.html#.VNAE3GjF-bV

Um comentário:

Anônimo disse...

BOM DIA !!
parabéns pelo blogger e iniciativa desse trabalho, o qual abrem as portas para não membros conhecerem a maçonaria. estou adorando o blogger.

tenham um otimo inicio de semana. RODRIGO