quinta-feira, 26 de abril de 2012

EU PODERIA TER FEITO MELHOR


À GL.·. do G.·. A.·. D.·. U.·.

Augusta e Respeitável Loja Maçônica Simbólica Mista
Triângulo da Fraternidade

S.·.

F.·.             U.·.

Peça de arquitetura do grau de Apr.·.M.·. 

Normalmente este é um dos primeiros pensamentos que nos vem à mente quando lembramos de algo que aconteceu no passado e analisamos a qualidade ou a efetividade das nossas atitudes, à época.
“Eu poderia ter feito algo diferente” ; “Eu deveria ter dito isto / ou não ter dito isto”, ou ainda, “Se fosse hoje isto não teria acontecido”.
E por achar que deveríamos ter agido de um modo diferente, nos sentimos culpados, tristes e, algumas vezes até passamos a nos punir consciente ou inconscientemente pelas ações tomadas, ou não tomadas.
Mas eu gostaria de lhes informar, meus queridos IIrm.·. que não. Você não agiria diferente. Você não teria feito nada melhor, nem mais rápido, nem falado menos, nem falado mais. Você não teria feito, absolutamente, NADA diferente do que você fez.
Posso lhes afirmar que quando passamos por alguma situação estressante, difícil ou que nos demande algum tipo de decisão ou atitude, o fazemos agindo de acordo com a nossa perspectiva, nossa mentalidade, nossa consciência e estado espiritual daquele momento.
Não quero dizer com isto, que nossa atitude tenha sido boa, ou ruim, ou suficiente, ou mesmo necessária, mas com certeza foi a única atitude que conseguiríamos tomar, dada a situação. E mais, se a mesma situação se repetisse, na mesmo momento, com as mesmas variáveis envolvidas - perspectiva, mentalidade, consciência ou estado espiritual -  faríamos tudo de novo, exatamente igual ao que fizemos.
Em outras palavras, FIZEMOS O MELHOR QUE PODERÍAMOS TER FEITO, SEGUNDO O QUE NOS FOI APRESENTADO.
Acontece que nós evoluímos. Em cada simples situação que passamos, nós evoluímos. Ou ficamos mais pacientes, ou mais sábios, ou menos rancorosos, ou menos egoístas, não importa, mais experientes, ou seja, evoluímos.
E se não evoluímos ? Bom, se não evoluímos, O Grande Arquiteto do Universo nos coloca em uma outra situação similar para que tenhamos a chance de mudar, de progredir, de tentar de outra forma. E Ele é muito paciente,  e fará isto quantas vezes forem necessárias.
Então, após termos passado por alguma experiência que nos tenha causado algum descontentamento ou mágoa, passamos a agir ou pensar de forma diferente.
E ao analisarmos o fato, pensando de um modo um pouco diferente, é claro que acharemos alternativas diferentes e até melhores para aquelas ações. Mas entenda, esta análise só foi possível porque já passamos por isto, em última instância, EVOLUÍMOS.
Agora, imagine a seguinte situação: À dois sujeitos é solicitado que se faça uma pequena casa de madeira para um cachorro. Nenhum deles é marceneiro de ofício.
Mas o primeiro é um sujeito que trabalha no campo e tem várias atividades manuais tais quais manutenção de cercas, telhados e assim por diante. Enquanto que o segundo, é um trabalhador em uma empresa de informática e cresceu mexendo em computadores.
Teremos uma grande chance  de que o indivíduo que trabalha no campo tenha conhecimento e habilidades melhores para o trabalho em questão do que o sujeito que passou a sua vida inteira trabalhando com computadores. Claro que isto não é determinante, mas é a tendência neste  caso.
Então seguindo este raciocínio, com certeza o trabalho efetuado pelo primeiro indivíduo seria melhor, qualitativamente, do que o do segundo. Então podemos dizer que seria injustiça compararmos o trabalho dos dois, não é mesmo ?
Da mesma forma, quando comparamos  à nós mesmos no passado, estamos fazendo a mesma injustiça, ou seja, estamos comparando habilidades diferentes, só que desta vez de um mesmo indivíduo, nós mesmos, uma vez que certas habilidades que hoje possuímos, e adquiridas após o fato ter acontecido, não existiam àquela época, porque simplesmente foi este acontecimento que nos fizeram mudar, amadurecer, e adquirir esta nova habilidade ou simplesmente melhorar uma já existente, em outras palavras - EVOLUIR.
Na verdade, o simples fato de constatarmos que poderíamos ter agido diferente em alguma situação, já é prova que evoluímos, pois de outra forma, nem teríamos percebido que poderíamos ter agido  diferentemente.
Para finalizar, ouvi certa vez esta frase e gostaria de compartilhá-lha com meus caros IIrm.·.,  ela diz o seguinte: “TUDO ACONTECE EM SEU DEVIDO TEMPO, SE NÃO ACONTECEU, É PORQUE AINDA NÃO ERA O TEMPO DEVIDO.
Em resumo, não quero dizer que devemos utilizar a em nossa falta de experiência como desculpa para todos os nossos erros, que são vários, mas sim, que devemos ser mais coerentes e tolerantes às nossas falhas e às alheias, e que se em algum momento, entendermos que erramos, que façamos o que estiver ao nosso alcance para, se não reparar, ao menos não incidir no mesmo erro novamente.

O resto nos será dado no tempo devido.

Or.·. de Porto Alegre, 20  de Janeiro de 2012  da   E.·. V.·.
 Carlos Mutti
Apr.·. M.·.


segunda-feira, 16 de abril de 2012

A MULHER E A MAÇONARIA


A MULHER E A MAÇONARIA
(Joaquim Gervásio de Figueiredo)
O Ritual Maçônico
Uma Loja Maçônica perfeita é uma representação simbólica do Universo e suas leis, bem como da excelsa Hierarquia de Poderes que o dirige e governa. Na Maçonaria, com seu simbolismo caracteristicamente construtor, todos estão hierarquicamente empenhados na magna obra de Deus Criador, ou seja, de Deus Espírito Santo, que maçonicamente corresponde ao Grande Arquiteto do Universo.
A Loja é uma miniatura simbólica de um Universo dentro do Cosmos. Em seus trabalhos ritualísticos, desde a abertura até o seu encerramento, ela executa simbolicamente o drama cíclico do início e fim das atividades progressivamente evolutivas levadas a cabo num Universo segundo o divino plano traçado pelo G.: A.: D.: U.: Todos os seus Oficiais exercem simbolicamente funções específicas similares às que, nos níveis superiores do Universo, desempenham os excelsos Oficiais da perfeitíssima Grande Loja Branca a que, aqui e ali, têm se referido abalizados autores maçônicos, e da qual o Apocalipse nos dá um vislumbre alegórico em seu capítulo IV. O Ritual Maçônico está baseado no Ritual Supremo, e por meio dele seus participantes se põem em contato com a gigantesca atividade do G.:A.: D.: U.: Desde a abertura até o encerramento de uma Loja Maçônica se segue, ponto por ponto, o divino Ritual da criação, desenvolvimento e extinção de um Universo, e cada ato ali tem um significado cósmico muito além de nossas concepções sobre a importância do Ritual de que estamos participando. Esse Ritual nos capacita a colaborar na magnífica obra do G.: A.: D.: U.:,  auxiliando humildemente na consagração diária do Universo na manutenção de toda a vida, e assim, por alguns momentos, somos mais que humanos: somos divinos.
Esses e outros fatos cósmicos, de conhecimento tradicional entre os povos cultos, sempre foram revividos e representados dinamicamente nas antigas religiões, escolas filosóficas, instituições iniciáticas, e sobretudo, nos antigos Mistérios da Índia, Egito, Grécia, Roma e, ainda, no Cristianismo primitivo. Esses mesmos fatos eram também diretamente mostrados ao vivo, nos ensinamentos esotéricos, amiúde em criptas ou câmaras secretas, ou individualmente por meio de provas e experiências práticas, porém somente aos “eleitos”, isto é, aos que já haviam assimilado e realizado os ensinamentos exotéricos. Entre as antigas Escolas de Mistérios ou Instituições iniciáticas se inclui aquela que hoje conhecemos como Maçonaria, ou mais precisamente, a moderna Franco-maçonaria. Homens e mulheres de qualquer posição social e cultura podiam solicitar sua iniciação nos diversos mistérios, que se dividiam em Menores (exotéricos ou públicos) e Maiores (esotéricos ou privativos). E todos que fossem achados puros e de conduta nobre podiam participar dos Mistérios, que destruíam todo temor à morte e incutiam a certeza da imortalidade. A exclusão do elemento feminino da tradição iniciática maçônica ocorreu muito posteriormente, no século dezoito, na Inglaterra, sem dúvida por influência dos mistérios judaico-mitraico-romanos e de algumas agremiações operativas da Idade Média, que viviam na clandestinidade para poder escapar às cruéis perseguições eclesiásticas e políticas, porém essa exclusão não foi geral nem total, como examinaremos mais adiante.

As Origens da Maçonaria Moderna
Os movimentos da Renascença, nos séculos XV e XVI; da Reforma religiosa de Martinho Lutero, no século XVI e do chamado Iluminismo, do século XVII, que inclui os Rosa-Cruzes, exerceram benéfica influência na evolução da Maçonaria operativa para especulativa, em 1717, já que lhe criou, indiretamente, um clima de maior liberdade e lhe abriu perspectivas mais amplas e luminosas; no entanto, diga-se de passagem, infelizmente só foram parcialmente aproveitadas pelos reformadores maçônicos.
As origens da Maçonaria se perdem nas brumas da antiguidade. “Mas - escreve o Irmão Leadbeater, 33º (1) - os escritores maçônicos do século dezoito lhe especularam a história sem o senso crítico, baseando seus conceitos numa crença literal na história e cronologia do Antigo Testamento e nas curiosas lendas do Artesanato, herdadas das épocas operativas das Antigas Ordenações. Assim é que o Dr. Anderson, em seu primeiro Livro de Constituições, chegou a aventar que “Adão, nosso primeiro pai, criado à imagem de Deus, o Grande Arquiteto do Universo, devia ter possuído as Ciências Liberais, particularmente a Geometria, escritas em seu coração, ao passo que outros escritores, menos fantasistas, atribuíram sua origem a Abraão, Moisés ou Salomão”. O Dr. Oliver, escrevendo na primeira metade do século dezenove e portanto, bem posteriormente, sustentou que a Maçonaria, tal qual a conhecemos hoje, é a única e verdadeira relíquia da fé dos patriarcas antediluvianos, ao passo que os antigos Mistérios do Egito e de outros países, que tanto se assemelham a ela, não passam de corrupções humanas de uma tradição primitivamente pura” (2). Todavia, à medida que, desde então, os conhecimentos científicos e históricos progrediram em outros campos de pesquisas, e especialmente na análise crítica das Escrituras, os métodos científicos foram sendo gradativamente aplicados também no estudo da Maçonaria, de tal sorte que, atualmente, existe ao alcance de todo pesquisador, maçom ou não, um vasto acervo de informações positivamente exatas e das mais interessantes sobre a verdadeira história da Ordem. Como resultado destas e outras linhas de investigação, já existem quatro principais escolas ou correntes de pensamento maçônico, ainda não necessariamente definidas ou organizadas como escolas, porém agrupadas, segundo suas relações, em quatro importantes departamentos de conhecimento, primitivamente não incluídos no campo maçônico.
Cada um desses grupos tem características próprias, afins com a Maçonaria. Cada um deles tem seus próprios cânones de interpretação dos símbolos e cerimônias maçônicos, enquanto seja claro que muitos dos modernos escritores maçônicos são influenciados por mais de uma escola. Essas quatro escolas são:
I - A vulgarmente denominada Escola Autêntica. A tendência desta escola é fazer a Maçonaria derivar das Lojas e Guildas ou Corporações operativas da Idade Média, e fazer supor que os elementos especulativos foram enxertados no tronco operativo. Esta hipótese não é contraditada pelos arquivos existentes, cujas atas mais primitivas e muito raras datam, porém, do ano de 1598, segundo D. Murray-Lyon (History of the Lodge of Edinburgh, p. 9). Afirma o grande historiado maçônico R. F. Gould que, se pudermos admitir que o simbolismo (ou cerimonial) da Maçonaria é de origem anterior a 1717, não haverá, praticamente, limites na computação de sua idade (Concise History of Freemansory, p. 55). Mas muitos outros escritores não vão além dos construtores medievais, na procura da origem dos Mistérios maçônicos, como se a concepção das mesmas e de seu complexo significado estivessem ao alcance de qualquer artífice construtor.
II - A Escola Antropológica. Esta escola, ainda em processo de desenvolvimento, aplica as descobertas da antropologia aos estudos da história maçônica, com notáveis resultados. Os antropologistas têm reunido um vasto cabedal de informações sobre os costumes religiosos e iniciáticos de muitos povos antigos e modernos, e os Maçons estudiosos deste campo têm encontrado muito de nossos símbolos, tanto na Ordem como de graus superiores, nas pinturas murais, gravuras, esculturas e edifícios das principais raças do mundo. Portanto, a Escola Antropológica atribui à Maçonaria uma antiguidade muito maior do que a defendida pela Autêntica e assinala surpreendentes analogias com os antigos Mistérios de muitas nações, os quais possuíam claramente nossos símbolos e sinais, com toda a probabilidade ligados a cerimônias análogas às executadas atualmente nas Lojas Maçônicas. Entre os pioneiros neste campo cabe mencionar os Irmãos Albert Chuchward, J. S. M. Ward, e Bernard H. Springett.
III - A Escola Mística. Esta escola encara os mistérios da Ordem de um outro ângulo, isto é, como um plano para o despertar espiritual do homem e seu desenvolvimento interno. Seus adeptos declaram que os graus da Ordem são simbólicos de determinados estados de consciência, que devem ser despertados no iniciado se ele aspira obter os superiores tesouros do espírito. A meta do maçom místico é a união com Deus; para ele a Ordem representa a Senda para essa meta, e oferece, por assim dizer, um guia simbólico capaz de orientar os passos do buscador de Deus. Seus estudiosos estão mais interessados em interpretações do que em pesquisas históricas, e sustentam que a Maçonaria tem pelo menos parentesco com os antigos Mistérios, que visavam precisamente a mesma finalidade. Também deploram o fato de que, a maioria de nossos Irmãos modernos, tenha de tal modo se esquecido da glória de sua herança maçônica, que deixou que os antigos ritos se tornassem pouco mais que formas vazias. Um bem conhecido representante desta escola é o Irmão A. E. White, um dos mais requintados e cultos maçons da atualidade e uma autoridade sobre a história dos graus superiores. Outro, também, é o Irmão W. L. Wilmhurst, que tem produzido algumas formosas e profundas interpretações espirituais do simbolismo maçônico. Muito tem feito esta escola para espiritualizar a Maçonaria, e sem dúvida uma de suas marcas é a mais profunda e cada vez mais destacada reverência por nossos Mistérios.
IV - A Escola Oculta. O objetivo do ocultista, não menos que o do místico, é a união consciente com Deus, porém diferem seus métodos de busca. O método oculto se desenvolve através de uma série de etapas definidas numa Senda de Iniciações, conferindo sucessivas expansões de consciência e graus de poder sacramental. Para o ocultista, é de suma importância a exata observância de uma forma e, por meio do emprego da magia cerimonial, ele cria um veículo através do qual se pode atrair a luz divina e espalhá-la em benefício do mundo, invocando em sua ajuda a assistência dos Anjos, espíritos da natureza e outros habitantes dos mundos invisíveis. Ao passo que o método do místico é pela prece e oração; ambos estes caminhos conduzem a Deus. A escola oculta do pensamento está representada por uma corporação sempre crescente de estudiosos: a Ordem Maçônica Mista Internacional Le Droit Humain, com sede em Paris e dirigida por um Supremo Conselho de âmbito mundial. Ela se distingue, no resto do mundo maçônico, pela admissão de mulheres por meio da iniciação no mesmo nível de igualdade com os homens e gozando ambos, ali, as mesmas prerrogativas, segundo o seu mérito pessoal. Nesse grupo se pode incluir, também, a antiga escola de Pitágoras; a Filosofia Secreta de Henrique Cornélio Agrippa; a Filosofia de Paracelso; a Ordem Rosa-Cruz de Christian Rosenkreutz e a Maçonaria Egípcia de Cagliostro.

A Mulher na Maçonaria
Sob o critério místico-filosófico, tal qual os antigos Mistérios, a Maçonaria se destina igualmente ao homem e à mulher, complementos que são um do outro, pois ambos visam a atingir a mesma meta evolutiva e constituir a família como base celular de uma sociedade bem organizada e, segundo os mandamentos da própria Ordem, em um dos seus antigos Landmarks, todos os seres humanos são fundamentalmente iguais e, portanto, suas diferenças são meramente circunstanciais.
Sobre este ponto não há nenhuma dúvida nas tradições maçônicas baseadas nas legítimas escolas antropológicas, místicas e ocultas. E mais, mesmo nas escolas que atribuem sua origem às Corporações Operativas da Idade Média, os investigadores não encontraram em seus registros e instituições nada de discriminatório contra a inclusão do elemento feminino.
Essa esdrúxula proibição, ao arrepio da tradição, normas e ideais de todas as demais sociedades secretas passadas e contemporâneas, como das anteriores Constituições e Regulamentos da Maçonaria Operativa, foi introduzida pelo presbítero James Anderson no artigo 18º, de sua Constituição de 1723, após a transformação da Maçonaria Operativa em 1717. É justo, porém, ressaltar que tal transformação já havia sido empreendida nos anos 1648-49 pelo célebre e culto Alquimista e Rosa-Cruz Emílio Ashmole (1617-1692) de quem a Universidade de Oxford conserva, com seu nome, um museu de raridades, e é bem sabido que os verdadeiros Rosa-Cruzes jamais nutriam preconceito de sexo, nem por princípio jamais o aprovariam. Sobre a reforma de 1717, comenta o famoso maçom Miguel André Ramsey (1686-1743), contemporâneo dos reformadores: “Muito de nossos ritos e costumes contrários aos preconceitos dos reformadores foram mudados, disfarçados e suprimidos, e assim muitos irmãos lhes esqueceram o espírito e lhes retiveram apenas a casca externa porém, no futuro, a Maçonaria será restaurada em sua pristina glória”. (C. W. Leadbeater, Glimpses of Masonics History, p. 309). Por sua vez, o erudito e alto Maçom e Rosa-Cruz Charles Sotseran, 32º, escreve em 11 de janeiro de 1877: “As Constituições de 1723 e 1738,  do falso Maçom Anderson, foram adaptadas para a recém emplumada primeira Grande Loja de Livres e Aceitos Maçons da Inglaterra, e daí derivaram todas as demais do mundo atual. Anderson compilou estas adulteradas Constituições e, a fim de contestar a chamada ‘história de lixo’ da Ordem, teve a audácia de declarar que quase todos os documentos relativos à Maçonaria, na Inglaterra, haviam sido destruídos pelos reformadores de 1717. Felizmente, no Museu Britânico, na Biblioteca Boldeiana e em outras instituições públicas, Rebold, Hughan e outros descobriram provas suficientes ao molde das antigas Observâncias Maçônicas Operativas, para refutar a assertiva”. Depois de salientar que graças à Maçonaria Especulativa os Estados Unidos lograram obter sua independência política, pois Maçons foram Washington, Lafayette, Franklin, Jefferson e Hamilton, e a Itália obteve sua unidade através do braço executor do Maçom 33º Garibaldi, continua: “A Maçonaria especulativa tem muitas tarefas a executar. Uma delas é a de admitir a mulher como colaboradora do homem nas atuações da vida, segundo o fizeram recentemente Maçons húngaros ao iniciarem a condessa Haiderk. Outra importante tarefa é o reconhecimento prático da fraternidade humana, de modo que a nacionalidade, a cor, crença e posição social não sejam obstáculos ao ingresso na Maçonaria. O negro não há de ser irmão do branco apenas teoricamente, pois Maçons da raça negra não são admitidos nas Lojas norte-americanas. É preciso persuadir a América do Sul, a participar dos deveres para com a humanidade. Se a Maçonaria há de ser, como se pretende, uma escola de ciência e religião progressivas, deve ir na vanguarda e não na retaguarda da civilização”. (H. P. Blavatsky, Isis Unvelled, Vol. II, p. 389, ed. 1931). Nas investigações empreendidas nesse setor, o primeiro Escrito com o nome Freemason que aparece é um ato do Parlamento, do ano de 1530, 25º ano do reinado de Eduardo I, regulamentando a profissão de pedreiro; é minucioso em suas normas e omisso em relação à mulher. Depois, vem o chamado “Manuscrito Régio” ou de “Halliwel”, descoberto por um antiquário não maçom, no Museu Britânico de Dnodez, escrito em 1390 e publicado no Magazine Freemason, de junho de 1815, porém, segundo alguns autores, era cópia de um escrito mais antigo. Trata-se de um pequeno livro em papel de vitela, com 794 versos em inglês arcaico. A primeira parte trata da tradição da Corporação, e a segunda, dos versos 97 a 794, é de estrito teor legal maçônico, mas nada se consigna ali de ser a Maçonaria privativa só para homens. Muito ao contrário, deparam-se provas, no mínimo, da presença e colaboração femininas. Com efeito, em seu artigo 10º, versos 203 e 204, se lê: que nenhum Mestre suplante outro, senão que procedam todos entre si como irmão e irmã. No ponto 9º, versos 351 e 352, se diz: Amavelmente, servindo-nos a todos, como se fossemos irmão e irmã. Em todo esse histórico documento, básico para uma autêntica enumeração dos “Antigos Limites” ou Landmarks, existe apenas uma proibição: a de admitir servos (verso 129) e inválidos (verso 154). Também a Constituição de York, de 926, em seu artigo 11º, assinala a condição obrigatória de o candidato à iniciação não ser servo, inválido ou de maus costumes, e nada expressa contra a mulher.
O mesmo acontece em outros documentos antigos, como o “Manuscrito de Watson”, de 1440, que coincide bastante como “Manuscrito Régio”, levando o nome de quem o descobriu na Biblioteca Boldeiana de Oxford. Afinal, no regulamento elaborado em Londres, em 27 de dezembro de 1663, numa assembléia geral em que o Conde Santo Albano foi eleito Grão-Mestre, consta em seu artigo 2º que ninguém seria admitido na confraria que não fosse são de corpo, de nascimento honrado, de boa reputação e submisso às leis do país. Ainda uma vez nenhuma referência discriminatória à mulher. E segundo o Dr. Chethwode Grawley (A. Q. C. XV, 69), existia em Deneraible, Irlanda, em 1710-12, uma Loja especulativa do tipo inglês, na qual foi iniciada Elizabeth St. Leger, uma famosa dama maçônica. Mais recente ainda são as Constituições da Grande Loja de Hamburgo e os Estatutos da Grande Loja da Dieta Alemã. Foram aceitas e aprovadas, em 10 de março de 1782, sendo Frederico Guilherme II, da Prússia, o Grão-Mestre e Protetor da Ordem. Elas reproduzem, com esmerada exatidão, os “Antigos Limites”, sob a denominação mais moderna de Charges Landmarks, e nenhuma alusão fazem à mulher, nem contra a sua admissão na Maçonaria.
A revista inglesa Hiram, em seu número maio-junho de 1908, publicou na íntegra uma cópia de um “old charge” destinado à Grande Loja de York, cujo original estaria na posse da Loja York nº 236. No Bulletin International du Droit Humain, do mês de maio de 1914 (páginas 390-394), uma Grande Inspetora da Federação Britânica precisou que se trata de um texto datado de 1643, isto é, de uma época em que existia, sem sombra de dúvida, e já há longo tempo, uma Loja maçônica em York, e uma Loja que admitia as mulheres. Ela cita o texto inglês original de um parágrafo do manuscrito, particularmente sugestivo: “Before the spec al charges are delivered, the one of the elderes taking the book and that he or she to be made a Mason shall lay their hands thereon and the charges shall be given”. O que se traduz como: “Antes que as instruções especiais sejam dadas, um dos mais antigos toma o livro e aquele ou aquela que deve ser constituído Maçom lhe coloca as mãos em cima, e as instruções são dadas”. Mas nossa erudita irmã não se restringe a este documento, pois utilizou também outros: “Examinando os registros das antigas corporações - declara-nos ela - encontram-se apenas cinco de cada quinhentos existentes (um por cento), que não estavam igualmente constituídas de homens e mulheres”. E ela acrescenta que há dificuldade de escolha entre a profusão de manuscritos que ela pôde compulsar. Limita-se, todavia, a apresentar três outros, conservando o arcaico texto inglês que respeitaremos. Vem primeiro uma citação tirada da “Corporação de Santa Catarina, de Chartres”, datada de 1494 e assim começa: “Admissão de Irmãos e Irmãs na Corporação de Santa Catarina.... Depois se fará que se aproximem todos aqueles que deverão ser admitidos como Irmãos e Irmãs na Corporação, e o Alderman (dignitário tornado posteriormente “Mestre” ou “Vigilante”) os interrogará desta maneira: “Senhor ou Senhora, desejais tornar-vos Irmãos entre nós, nesta corporação?” E, de sua própria vontade, eles deverão responder “sim” ou “não” (3). Uma segunda citação é tirada das Ordenações da Corporação de Corpus Chisti, York 1408, cujo manuscrito mostra de maneira insofismável que é maçônico: “Ordenação V: Nenhum leigo será admitido na Corporação exceto, apenas, aqueles que exercem uma profissão honesta, mas todos, sejam clérigos ou leigos, e de ambos os sexos, serão recebidos se forem de boa reputação e bons costumes” (4). No mesmo manuscrito se indica que os Irmãos e Irmãs deverão prestar juramento sobre um livro (5), e várias vezes se faz alusão à “Dama”, particularmente no juramento do Aprendiz, onde esta jura obedecer ao “Mestre”, ou à “Dama”, ou a todo outro Franco-maçom (6). Enfim, um último documento nos é apresentado. Na Idade Média havia já desenhos especiais e um modo característico inscritos sobre a campa sepulcral dos Franco-maçons, tal qual ainda se encontram nos velhos cemitérios, e que permitem aos irmãos reconhecerem que ali jaz um dos seus. Ora, um velho testamento apresenta uma perturbadora conexão com este costume. Está datado de 4 de fevereiro de 1482, e emana da falecida Margaret, esposa de John Paston, Escudeiro, e filha e herdeira de John Mauteboy, também Escudeiro (7). Ela ordena ali que uma inscrição coincidente com o moto dos Franco-maçons seja gravada em sua tumba, em respeito às prescrições maçônicas: “Uma placa de mármore conterá escudos nos quatro cantos e, no meio da mesma, desejo ter um escudo só com as armas paternas, encimando esta inscrição: “Em Deus está a minha confiança” (8). E a M. Il. Ir.: termina seu trabalho de investigação com uma pergunta muito judiciosa: “Se os Antigos Mistérios nunca excluíram as mulheres, e se mesmo as Corporações operativas as mais maçônicas as recebiam de muito bom grado, por que, então, a maçonaria especulativa masculina de nossa época persiste tanto na discriminação contra elas?”.
Na longa história da Maçonaria, a primeira vez que aparece a proibição discriminatória contra o elemento feminino é no “Livro das Constituições”, compilado e publicado em 1723, por James Anderson, presbítero anglicano e Gr.: Vig.: da Grande Loja de Londres, que no final de seu artigo 3º diz: As pessoas admitidas a fazer parte de uma Loja devem ser boas, sinceras, livres e de idade madura: não são admitidos escravos, mulheres, pessoas imorais e escandalosas, mas exclusivamente as que são de boa reputação. Esta proibição foi repetida, posteriormente, no 18º Landmark, compilado por Mackey em sua Enciclopédia, donde outros a tem copiado. No entanto, não tardou a reação. A Maçonaria continental jamais se conformou com tão estranha discriminação contra a mulher. E como que por triste ironia da sorte, o golpe lhe foi desferido no exato momento em que se promovia a ampliação dos estreitos horizontes da Maçonaria Operativa para os mais brilhantes e esperançosos da Maçonaria Especulativa. Conseqüentemente, em 1730, esboçou-se na França a Maçonaria de Adoção, destinada às mulheres, em quatro graus. Outras Ordens surgiram depois, como a Moisés, em 1738, fundada por alemães, e a dos Lenhadores, em 1747, derivada dos Carbonários da Itália. Mais associações similares vieram depois, como a Ordem do Machado na França, onde o Grande Oriente acabou criando um novo Rito, em 1774, chamado de Adoção, com seus regulamentos próprios e sob o patrocínio de uma Loja regular. Em 27 de Julho de 1786, o Conde Cagliostro, iniciado por volta de 1770, na antiga Maçonaria Egípcia, pelo Conde de Saint Germain, fundava em Lyon, França, a Loja Mater Sabedoria Triunfante, do Rito da Maçonaria Egípcia, adaptado a homens e mulheres, declarando que desde que as mulheres haviam sido indistintamente admitidas nos antigos Mistérios, não havia nenhuma razão para excluí-las das ordens modernas. A princesa Lamballe aceitou prazerosamente a dignidade de Mestra Honorária de sua sociedade secreta, e sua iniciação foi assistida por membros dos mais importantes da corte francesa. As Lojas de Adoção acabaram por se espalhar por toda a Europa e, depois, pela América do Norte, e o movimento culminou na fundação, em 4 de abril de 1893, em Paris, pelo Dr. Georges Martin e sua esposa, da Ordem Maçônica Mista Internacional Le Droit Humain (“O Direito Humano”), também denominada Comaçonaria Internacional. Essa Ordem outorga iguais direitos a homens e mulheres, e os admite e inicia no mesmo nível de igualdade; hoje está instalada nos cinco continentes.
Importa assinalar que os preconceitos e discriminações contra as mulheres e outras classes e raças sempre existiram, em toda a parte, mas ao Maçom, como a toda pessoa bem informada, cumpre combatê-los e desfazê-los, e não apoiá-los. Já há cinco mil anos, o divino Avatar Shri Krishna os impugnava nas castas da Índia com estas palavras: “Aqueles que em Mim se refugiam, ó Arjuna! Ainda que concebidos em pecado, sejam mulheres, comerciantes ou artífices, também vão para o Eterno.” (Bhagavad Gita, IX, 32). Há 2500 anos, Buda contestava o regime de castas na Índia e aceitava, igualmente, homens e mulheres como seus discípulos no seu Sangha (Confraria). Há 2000 anos,  Cristo  prestigiou as mulheres, dialogando com elas, escolhendo-as para anunciar sua chegada e partida, defendo-as das injustiças dos homens, e escolhendo a maior delas para ser sua Mãe.
Por último, temos as palavras de São Paulo, um Iniciado nos antigos Mistérios e que, por isso, se apresenta como “sábio mestre construtor” (I Cor. 3:10). Assim aconselha ele sobre o trato com as mulheres e os servos: “Porque todos quantos fostes batizados em Cristo, já vos revestistes de Cristo. Nisto não há judeu nem grego, não há servo nem livre, não há macho nem fêmea, porque todos vós sois um, em Cristo” (Gal. III, 27, 28).
Parodiando o grande Apóstolo diríamos: “Quem honra suas insígnias maçônicas perde todo preconceito de nacionalidade, classe social e sexo” (9).
A Maçonaria de Adoção
Aos Irmãos que nos apontam a Loja ou Maçonaria de Adoção, como prova de que ali também se acolhem as mulheres, cabe esclarecer que a Maçonaria de Adoção não é senão um simulacro da verdadeira Maçonaria, quando não uma espécie de engodo. Embora às vezes possa prestar serviços de beneficência social, como qualquer outra associação beneficente, ela não pode outorgar os legítimos privilégios e direitos maçônicos. A propósito, são muito elucidativas as seguintes considerações do Il.: e Pod.: Ir.: Eduard Gesta, 33º, de Paris: “Se o homem ou mulher deseja alcançar a Iniciação pela via maçônica, isto só é possível por meio dos ritos simbólicos tradicionais, com exclusão de todos os demais, achando-se assim condenados todos os sistemas que utilizam ritos e símbolos inventados ou fabricados, que não passam de plágios dos da Franco-maçonaria. É o caso não somente da Maçonaria de Adoção, mas também de todas as instituições  pretensamente iniciáticas que se proveram de um aparelhamento simbólico semelhante ao nosso”. “Limitar-me-ei, simplesmente, a lembrar que não há senão uma forma de iniciação maçônica, e que não pode haver mais que uma. A mulher que deseje obter a iniciação por essa via, deve ser admitida numa Ordem maçônica que mantenha uma filiação autêntica e que pratique e transmita os ritos tradicionais, como, por exemplo, a Ordem Maçônica Mista Internacional”. (Bulletin Internacional nº 8, Paris, dezembro de 1958)
É muito comum as esposas e outras parentes de Irmãos filiados à Maçonaria masculina, solicitarem e obterem admissão na Ordem Maçônica Mista Internacional Le Droit Humain. Ali, as mulheres são normalmente muito eficientes e compenetradas no desempenho de seus cargos e funções, tão bem e não raro melhor que os homens.
Liberdade, Igualdade, Fraternidade
Há séculos a Franco-maçonaria adotou para seu lema o mote Liberté, Égalité, Fraternité, que mais tarde foi incorporado à Revolução Francesa. Todavia, para ser válido, esse elevado ideal deve ser vivido e aplicado integralmente. Mormente na Maçonaria, por seu brilhante passado, tem de ser tão amplo e generoso que inclua indistintamente todos os indivíduos, de ambos os sexos, e não ficar restrito a um pequeno grupo de privilegiados, como vem ocorrendo dentro e fora dela.
A rigor, o ideal expresso nesse conhecido trinômio não nasceu com a Franco-maçonaria; é muito mais antigo. Suas raízes mais profundas remontam à antiga Índia, onde tem sido enunciado e vivido em termos diferentes e com significação mais subjetiva, ou seja, Libertação, União e Compreensão.  Onde quer que se desrespeite esse ideal, ali reinam o caos, a confusão, a discórdia e a desintegração final. Da Libertação nasce a liberdade individual e coletiva, da União a igualdade, e da Compreensão a fraternidade. Mas a iniciativa tem de ser espontânea e partir do interior de cada um, individualmente. No país de Gandhi e Nehru, há milênios, este ideal é fundamental em todas as suas escolas filosóficas, religiões e sistemas de Yoga. Onde houver qualquer tipo de discriminação, mesmo que justificada, ali se estará negando o tão proclamado ideal de Liberdade, Igualdade e Fraternidade, e bloqueando a plena efusão do Amor infinito que, segundo Cristo (Mat. 6:45), “o Pai que está nos céus faz que seu sol se levante sobre justos e injustos”. E o que dizer, então, quando uma discriminação é feita, não por serem as pessoas más ou injustas, mas simplesmente por serem de sexo diferente, o sexo que Deus lhes deu? Liberdade é o anseio nato de todas as criaturas, pequenas ou grandes, de se tornarem livres, subjetiva e objetivamente. Igualdade é o reconhecimento da origem divina comum de todos os seres humanos e a outorga de oportunidades iguais, que o famoso socialista e maçom francês Pierre Joseph Proudhon (1809-1865) assim formulou: “a cada um segundo suas necessidades e de cada um segundo suas capacidades”. Fraternidade é a implantação de uma irmandade de seres humanos livres e justos, isenta de discriminação de raças, sexo, crenças castas e nacionalidades.
A Franco-maçonaria foi idealizada e constituída numa época em que, na Europa, ainda subsistiam leis e costumes, os mais retrógrados, herdados do feudalismo medieval e que mais tarde provocaram a eclosão da revolução francesa e a radical transformação dos sistemas econômicos, políticos e sociais, inaugurando progressivamente uma nova era mais democrática para todos os povos. Desde então, homens e mulheres passaram a se tornar, cada vez mais, livres e auto-suficientes, política e culturalmente, e audazmente abriram novos caminhos e prepararam o terreno para a implantação de uma ampla democracia, capaz de derrubar todas as barreiras separatistas. E a democracia aí está, vicejante e forte, conseguida à custa de muito “suor, lágrimas e sangue”, porém, ainda se encontrando em processo de aperfeiçoamento.
Nesta sua fase de transição, a democracia ainda mostra lacunas, porém são menores que as de outro regimes. Com o tempo e nosso esforço ela atingirá a sua maturidade, tal qual a sonhou Platão, em sua Atlântida; Lorde Bacon, em sua Nova Atlântida; Sir Thomas Moore, em sua Utopia, e o Apocalipse a prenuncia aos cristãos em sua Nova Jerusalém, que “descerá do Céu à Terra” ou seja, a democracia celeste se fundirá com a terrena. Hoje assistimos a uma irreversível evolução social em que as mulheres, antes discricionariamente relegadas a um plano secundário, atuam ativa e altivamente, ombro a ombro com os homens na vida política, econômica, científica, social, artística, militar e administrativamente de seus países. Na Inglaterra, berço da Franco-maçonaria, tanto os homens como as mulheres só atingiram a plenitude de seus direitos democráticos durante o século vinte e, recentemente, esse grande Império esteve sob o governo de duas Damas Ilustres - a Rainha e sua primeira ministra. Por outro lado, em muitos outros países, dos mais civilizados, evidencia-se a brilhante atuação do elemento feminino como suas presidentes, primeiras ministras, diplomatas, magistradas, senadoras, deputadas, cientistas, escritoras, educadoras, esportistas, e exercendo funções militares, tanto na paz como na guerra.
Durante os quase 300 anos que decorreram desde a reforma da Maçonaria, em 1717, as Constituições e leis dos países têm sido profundamente alteradas no sentido de democratizá-las e ajustá-las à evolução do tempo. A escravidão, por exemplo, essa terrível chaga que a Europa herdou de um passado remoto e tenebroso, nos fins do século dezoito começou a levantar na Inglaterra ondas de protestos contra o seu comércio, porém só em 1807 o Parlamento promulgou uma lei proibindo-o. Em 1833, outro decreto liberou cerca de 800.000 escravos nas Índias Britânicas, em 1838, a escravidão foi totalmente abolida na Índia. Depois foi extinta nas colônias francesas em 1848; nas portuguesas em 1856; na Rússia em 1861 e nos Estados Unidos em 1865, depois de vencida a Guerra de Secessão. Finalmente em 13 de maio de 1888, após longa, dura e memorável campanha, foi abolida no Brasil, entre profusão de flores e extensos festejos populares. Também na Inglaterra, a Senhora Millicent Garret (1847-1929), iniciou por volta de 1867sua campanha em prol do sufrágio das mulheres, a qual só culminou em 1918, nos fins da 1ª Grande Guerra Mundial, quando o Parlamento britânico estendeu o direito de voto à cerca de seis milhões de mulheres. Foi o glorioso resultado de um longo e duro prélio em que as sufragistas, tanto nas ruas como nas prisões, mostraram a tenacidade de suas fibras de lutadoras e a acuidade de sua inteligência bem aplicada.
Durante as duas últimas Guerras Mundiais, as mulheres se destacaram e celebrizaram como mártires e heroínas nas frentes de batalha em terra, mar e ar. Na França, lutaram entre os “partisans” nas guerrilhas de resistência e, só depois da Segunda Guerra, adquiriram, ali, o direito de voto e de ingressar na Academia de Ciências e Letras. Na Inglaterra, desempenharam papéis importantes no Real Serviço Naval das Mulheres, no Serviço Territorial Auxiliar, no Serviço Aéreo Auxiliar Feminino, em que milhares de senhoras inglesas, da nobreza e da plebe, auxiliaram, ombro a ombro, as forças combatentes, e mesmo, em alguns casos, assumiram funções combatentes. Por outro lado, na retaguarda, em seus países empenhados na Guerra, elas constituíram verdadeiros exércitos femininos operando nos campos, fazendas e fábricas, para prover recursos vários para a manutenção das forças combatentes, contribuindo notavelmente no esforço nacional em prol da vitória. Terminada a guerra, continuaram as mesmas atividades, porém em escala reduzida. Milhares dessas heroínas perderam suas vidas, saúde ou filhos e pais nas frentes de batalha ou campos de concentração inimigos. Que melhor prova que essa para mostrar o grau de maturidade moral e espiritual atingido pela mulher moderna?
Na Bíblia cristã, nas antigas Escrituras Sagradas de outras religiões, como na história de cada nação, numerosas são as figuras femininas que as ilustram como modelos de virtudes e exemplos de amor, abnegação e lealdade, para glória dessas nações e religiões, a servir de padrão de conduta a seus cidadãos e adeptos.
Nos panteões das divindades e heróis das mais antigas religiões e países, como o Egito, Índia, China, Ásia Menor, Grécia antiga, Roma e outros, ao lado de seus deuses e heróis geralmente está a sua Consorte, diversamente denominada Deusa Mãe, Mãe Divina, Magna Mater, Virgem Mãe, a Consolatrix Afflictorum, como o Divino Arquétipo feminino a que devem aspirar ser todas as dignas esposas e mães.
Em suma, em todos os tempos e regiões os povos cultos sempre reservaram um lugar de relevo para a Dama Arquetípica a ser cultuada, respeitada e imitada, por seus sublimes dotes de ternura, compaixão, proteção, paciência, compreensão, beleza e sabedoria.
Em 24 de outubro de 1945, finda a 2ª Guerra Mundial, com a vitória total das potências democráticas, foi fundada a Organização das Nações Unidas (ONU), com sede permanente nos Estados Unidos, cuja Carta Magna, entre outros objetivos, visa precipuamente garantir o desenvolvimento dos direitos humanos e liberdades fundamentais de todos os povos, sem distinção de raças, sexos, línguas e religiões. Essa carta foi aceita e assinada praticamente por todas as nações do mundo. No Brasil, desde 1981 sua Constituição declara que todos os cidadãos são iguais perante a lei, sendo proibido e passível de punição qualquer discriminação de raça, sexo, cor ou crença. De sorte que, neste país, toda mulher pode livremente concorrer a cargos públicos na Magistratura, Universidades, Governo, Parlamento, escolas, Academia de Ciências e Letras, exército e polícia, bem como no comércio em geral.
Via de regra, em todo o mundo civilizado contemporâneo não mais·se antepõe óbices à admissão e colaboração do elemento feminino, mas, antes, são solicitados, e a tendência é tornar-se cada vez mais atuante a sua participação em todas as atividades, nas mesmas condições do elemento masculino, segundo as aptidões e méritos de cada um. Sendo esse o quadro social imperante no mundo moderno, qualquer discriminação antidemocrática, irracional, que se faça nos dias de hoje contra nossos semelhantes, se chocará inevitavelmente contra as suas leis e costumes, muito mais avançadas no século vinte do que as suas congêneres vigentes no século dezoito e em épocas anteriores.

Notas:
(1) Pequena História da Maçonaria, pp. 13 e 14, Editora Pensamento, São Paulo-SP.
(2) Idem. .
(3) Admission of brothers and sisters in the Guild of St. Catherine. ...They shallbe called forts all those that shall be admitted brethren or sisters of the Guild and the Alderman shall examine them in these wise: ”Sir or Syse, be you willing to be brethren among us in thes Guild? and by their own will they shall answer “Yea” or “Nay”. .
(4) No lay for shall bem admitted to the Ghild save only those belonging to some honest craft but all, as well clerks as lay folk and of both sexes, will be received “of good fance and conversation”.
(5) Brethren and Sisters were sworn upon a book. .
(6) Ghe Master or Dame or any other Free Mason.
(7) Late wiff cf JohnPaston, Sq, daugster and heir to John Mauteboy, Sq, feb. 4th, 1482.
(8) Scochens at the IIII corners, and in middys of the said stoon I will have a scochen sett of Mautaboy’s armes alone, and under the same these words wretyn: “In God is my trust”.
 (9) Mestre construtor é um título usado na tradição oculta bem conhecido dos Maçons; corresponde aos Illuminati (adeptos iniciados dos antigos Mistérios), e aos Rishis da filosofia oriental.
O Autor
Joaquim Gervásio de Figueiredo, 33º, já falecido, escritor, autor do Dicionário de Maçonaria, editado pela Editora Pensamento, São Paulo/SP.
 (Nota: este artigo foi publicado originalmente no livro Panorama Atual  da  Maçonaria  no  Mundo  - Anais  do    Congresso  Internacional  de História  e  Geografia,  realizado   no   Rio   de   Janeiro   de   19   a   21  de  março  de  1981,  III  Volume,   publicado   pela   Academia   Brasileira  Maçônica   de  Letras,  dentro da coleção  Pensamento Maçônico Contemporâneo.)
http://sophia60.org/index.php?option=com_content&task=view&id=75&Itemid=35

sexta-feira, 13 de abril de 2012

O Prólogo do Evangelho de São João - Uma possibilidade interpretativa


Hoje vamos tratar de um texto bíblico muito apreciado no Cristianismo e, também, muito controvertido, que é o 4º evangelho, tradicionalmente atribuído ao apóstolo João, o discípulo amado.
Nesse evangelho, tudo pode ser discutido, desde a sua autoria até a historicidade de sua narrativa e  mensagem que pretende transmitir, porque está escrito numa linguagem eminentemente simbólica e mesmo enigmática, sendo por isso chamado de evangelho esotérico. Muitos pesquisadores dizem ser gnóstico esse texto de quase 2.000 anos. Não seria impróprio chamá-lo de teosófico, porque ele se ocupa da origem do Universo (o macrocosmo) e sua relação com o homem (o microcosmo), um assunto muito ao gosto da teosofia. Enquanto os três primeiros evangelhos se harmonizam quanto à vida de Cristo, o evangelho joanino destoa do aspecto biográfico, fazendo um ensaio filosófico sobre a natureza do fundador do Cristianismo e seu papel no Universo como força criadora e regeneradora. Assim, o Evangelho de São João, além de ser um dos pilares da teologia cristã, é um livro que interessa a não-cristãos em busca de uma sabedoria superior ou divina. Por se tratar do mais profundo e elevado dos evangelhos, é representado na iconografia cristã pela águia, a ave que olha mais de perto o sol e simboliza a contemplação e o conhecimento espiritual.
 A obra foi escrita em grego, no fim do primeiro século, muito provavelmente em Éfeso, uma cidade cosmopolita e próspera, situada na Ásia Menor (hoje Turquia), que, na época de Cristo, pertencia ao Império Romano, mas preservava o estilo de vida grego, sendo um foco da filosofia grega, da gnose e das doutrinas herméticas. Em Éfeso, viviam vários adeptos do Cristianismo e muitos judeus helenizados, ao lado de egípcios, persas e fenícios, também helenizados por força do empreendimento expansionista promovido no Oriente Médio, por Alexandre, o Grande, séculos antes.
O grego era, no século 1º, não só língua da cultura e da filosofia, mas também o instrumento de comunicação de comerciantes e viajantes. O próprio cidadão romano instruído dominava esse idioma e adotava a cultura helênica, dada a superioridade da civilização grega. Mesmo quando o latim foi imposto como língua oficial, esse idioma continuou a ter o prestígio como língua das pessoas cultas. Os judeus, dos quais surgiram os cristãos, valeram-se de muitos conceitos gregos em sua doutrina religiosa. E os cristãos seguiram-lhes as pegadas, incorporando muitos helenismos à sua teologia. Não é exagero dizer que a Igreja Cristã é grega, a começar pelo nome - Christos (em gr., o ungido). O discurso cristão está permeado de helenismos - apóstolo, presbítero, batismo, epifania, evangelho, paráclito, carisma, catecismo e tantos outros. Todos os livros do Novo Testamento, com exceção do Evangelho de Mateus, foram escritos originalmente em grego. Em sendo a língua da filosofia, o grego logo se tornou também a língua das religiões e da ciência, além de ser um idioma literário que produziu grandes poetas até hoje lembrados.
Mas, não vamos falar de todo o 4º evangelho, senão apenas dos versículos introdutórios que compõem o prólogo. Primeiro, porque o prólogo faz uma resenha do evangelho, de sorte que compreendo-se o prólogo, não há necessidade de ler o restante da obra. Segundo, porque o prólogo é o trecho mais importante desse evangelho por relacionar o Cosmo, o Cristo e o homem. É tão importante que chegou a fazer parte da missa católica, recitado no fim do culto para a reflexão dos fiéis. Tem a estrutura de um poema, um bonito poema apesar de integrar uma obra de prosa. Supõe-se que o prólogo tenha preexistido ao evangelho como um hino religioso (cristão ou não) que depois foi adaptado pelo evangelista ou por seu editor como introdução solene ao 4º evangelho. Abre com uma afirmação grandiloquente bastante conhecida: " No princípio era o Verbo e o Verbo estava com Deus e o Verbo era Deus".  Algumas versões da Bíblia em português preferem traduzir: "No princípio era a Palavra e a Palavra estava com Deus e a Palavra era Deus", porque verbo (do latim, verbum) é sinônimo de palavra.
A pergunta que faço é: Será que o verbo ou palavra expressa bem o que o evangelista quis dizer? No original grego, está escrito que no princípio era o Logos, um termo ambíguo de difícil tradução que, no entanto, era usado desde o século 5º a.C, em sentido filosófico de princípio, razão ou lei racional que governa o mundo. Já Heráclito de Éfeso dizia: "Os homens são obtusos com relação ao logos, se bem que tudo aconteça segundo o logos".
Os filósofos estóicos empregaram o termo para designar a razão divina imanente no homem e em todo o universo. Segundo eles, dois princípios regem o Cosmo: um passivo, que é a matéria, e outro ativo, que é a razão divina, a qual atuando na matéria lhe dá qualidade. Sustentavam, portanto, que Deus penetra toda a realidade, incluindo-se a alma humana, de maneira que tudo no Universo é racional, e o homem que quiser viver sabiamente há de seguir a razão, o Logos identificado com a sabedoria eterna ou ordem cósmica.
Ora, o estoicismo predominava no pensamento helenístico do primeiro século, sendo mais que doutrina, uma prática de vida adotada por pessoas das mais variadas crenças, no que tange à moral universalista da igualdade entre todos os homens, ao cultivo das virtudes, à ascese espiritual, à fraternidade humana e à aceitação dos reveses da vida. É de presumir que o evangelista empregou a expressão no sentido filosófico de razão divina e não no sentido de palavra, que é mero elemento lingüístico. Se quisesse referir-se a conjunto de sons articulados, o redator tinha à sua disposição três vocábulos específicos: lalia (fala), phone (som falado) e graphein (som escrito). Por que iria valer-se de um termo metafísico para designar palavra? De certo, o hagiógrafo quis dizer muito mais do que diz o texto latino da Bíblia, adotado como tradução oficial da Igreja.
A tradução de Logos como razão ou mente divina presente no homem casa-se bem com a metáfora da luz mencionada seis vezes no prólogo e outras tantas no corpo do evangelho até a revelação explícita de Cristo, no capitulo 8: "Eu sou a luz do mundo, quem me segue não andará nas trevas, pelo contrario terá a luz da vida". A luz simboliza, de longa data, nas mais antigas culturas como a chinesa, a indiana e a árabe, o conhecimento, a sabedoria, a consciência que percebe com clareza e, portanto, isenta de ilusões. A luz está também relacionada com a experiência mística pela qual o homem amplia a consciência e se transforma em ser divino. Com a alegoria da caverna, Platão diz que no mundo fenomênico os homens estão como que presos em uma caverna iluminada pela luz fraca de um fogareiro, mas quando o homem se liberta e se chega para perto do Sol, experimenta a verdadeira luz. Esse processo transformador, constitui o que se chama de conversão mística. O cristianismo adotou o simbolismo da luz, depois de já o ter feito o judaísmo, por isso que esse símbolo aparece tanto no Novo como no Antigo Testamento.
Vejamos o que diz o prólogo, depois de afirmar que todas as coisas foram feitas pelos Logos. No versículo quarto afirma que o Logos, sendo portador da vida, é a luz dos homens, e as trevas não prevalecem contra essa luz, que é qualificada como "a verdadeira luz que vindo ao mundo ilumina a todo homem". Note-se o pronome indefinido generalizante - todo. O Logos, continua o texto, estava no mundo, pois este fora criado por intermédio dele, mas o mundo não o conheceu. Compreende-se que o ego, nossa consciência ordinária, não percebe o próprio Logos. Daí ter sido necessário que o Logos Divino se materializasse (encarnasse) para despertar os homens para a sua realidade interior. "A todos quantos o receberam, complementa o texto no versículo 12, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus". O Logos, portanto, funciona como um despertador da inteligência divina imanente no homem e produz o surgimento de uma consciência renovada, o segundo nascimento mencionado no célebre diálogo com Nicodemus (3,2) que, por sinal, consta apenas do Evangelho de São João. Jesus de Nazaré, o Cristo, assim como todos os grandes avatares (Sidarta Gautama, Lao-tsé, Confúcio) desempenham o papel de despertadores da consciência superior responsável pelo Reino dos Céus, na linguagem simbólica do cristianismo. Compete ao homem, em seu atual estágio evolutivo, cultivar o Logos que existe nos estratos mais profundos da consciência de cada indivíduo, se quiser viver bem. No século passado, o paleontólogo e teólogo francês Teilhard de Chardin (1881- 1955) sustentou que o Universo caminha para um ponto final de amadurecimento, o Ponto Ômega, que tem como protótipo o Cristo, o que significa que um dia a humanidade toda desenvolverá espontaneamente a sua divindade.
A leitura filosófica do 4º evangelho de modo algum diminui a figura sublime do Cristo, nem infirma a fé cristã. Apenas interpreta a escritura bíblica, além dos ditames da religião, visando a uma compreensão mais ampla desse importante texto da Mística Universal. Não se trata, obviamente, de uma exegese definitiva, pois o texto, qualquer que seja, está sempre aberto a novas interpretações.
Por Sergio Carlos Covello em palestra proferida em 15/08/08
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